quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dados do IBGE confirmam que violência mata mais homens jovens


Para cada mulher de 20 a 24 anos vítima de causas violentas, país perde quatro rapazes
ALESSANDRA DUARTE

Por causa da violência, para cada mulher entre 20 e 24 anos que morre no Brasil, o país perde quatro homens na mesma faixa etária. Em Alagoas, o primeiro do ranking, morrem oito homens nessa faixa para cada mulher. O registro de óbitos foi uma das principais novidades do Censo de 2010, divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pela primeira vez, o órgão incluiu no questionário a pergunta sobre se algum integrante da família havia morrido.
A pesquisa registrou um total de 1.034.418 óbitos no país de agosto de 2009 a julho de 2010. Foram 133,4 mortes de homens para cada 100 de mulheres. É, porém, nas faixas de 15 a 19 anos, 20 a 24, e 25 a 29 que o número de óbitos de homens é bem maior. No grupo de 20 a 24 anos, 80,8% dos que morrem são homens.
- Todas as políticas voltadas para a redução da violência devem mudar esse quadro, porque os jovens do sexo masculino morrem em número muito maior pelas chamadas causas externas (homicídios e acidentes de trânsito). Políticas, por exemplo, como um maior controle para se evitar que pessoas alcoolizadas dirijam - afirmou a presidente do IBGE, Wasmália Bivar.
Alagoas é o estado em que mais homens morrem, em relação às mortes de mulheres: enquanto a média do Brasil é de 419,6 óbitos de homens para 100 de mulheres de 20 a 24 anos de idade, em Alagoas são 798 óbitos de homens para cada 100 de mulheres. A Paraíba vem em segundo, com 581,6 mortes de homens para cada 100 de mulheres. No Sudeste, estão acima da média nacional o Rio (476,7 por 100) e o Espírito Santo (466,9 por 100).

Subregistro de mortes de crianças
Além de medir o impacto da violência nas famílias brasileiras, o registro de óbitos do Censo também mostra a evolução do quadro socioeconômico do país, ao contabilizar as mortes das crianças menores de 1 ano, grupo considerado o mais vulnerável a condições de vida precárias. A comparação do Censo com os registros de óbitos do Registro Civil de 2009, também do IBGE, mostra ainda que os dados do Censo, em regiões como o semiárido do Nordeste, chegam a ser quase 300% maiores, apontando o subregistro das mortes de crianças no país.
O Censo registrou 3,4% de mortes de crianças menores de 1 ano no país - queda de 85,4% em relação aos dados do Registro Civil de 1980, quando esse percentual era de 23,3%. Segundo o IBGE, a redução foi devido à melhora no acesso à saúde, por exemplo. No entanto, apesar da queda, o Censo de 2010 aponta que morrem por dia, em média, 96 crianças menores de 1 ano.
Além disso, todos os estados do Norte estão acima da média nacional - enquanto todos os das regiões Sudeste e Sul estão abaixo. A distância entre as áreas urbana e rural também é grande: no grupo de 1 a 4 anos, o percentual rural é 118,9% maior.
Na comparação com os óbitos do Registro Civil, o Censo registrou, no Maranhão, número de mortes de bebês menores de 1 ano 276% maior. No Amapá, a diferença é de 92%. Em todo o país, no grupo de 1 a 4 anos, o Censo traz um registro 30,6% maior.
- A discrepância é maior em áreas de população ribeirinha e no semiárido. É pelo baixo registro das mortes em cartório, que é o que baseia o Registro Civil. Mas, no Norte, um cartório cobre uma área média de 6 mil quilômetros quadrados, enquanto, no Sudeste, um cartório cobre 324 quilômetros quadrados. Nas regiões pobres e mais distantes, a criança nasce e não é registrada, morre e continua sem registro. É como se não tivesse existido - diz o pesquisador do IBGE Fernando Albuquerque. - É claro que esse subregistro prejudica, por exemplo, as políticas de saúde para essas áreas.

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Jornal O Globo

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