Entenda os cultos brasileiros inspirados em rituais que atravessaram o Atlântico
Angélica Moura | 06/07/2010 04h14
Os 3,5 milhões de africanos que vieram para o Brasil como escravos ao longo de 300 anos deixaram marcas profundas. Uma das heranças mais marcantes desse encontro é a religiosidade de origem afro. Ao desembarcar em estados tão distantes entre si como Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, os escravos criaram diversos novos nichos da religião originada do outro lado do oceano Atlântico.
Os africanos acreditam que o mundo é constituído de forças. Tudo e todos, sejam seres vivos ou inanimados, possuem uma força vital (chamada de "ntu" pelo povo bantu, originário da África subsariana, e "axé" pela nação ioruba, vinda da região de Nigéria, Benin e Guiné). De acordo com essa fé, os seres humanos podem manipular essas forças. Graças à mediunidade, eles estabelecem a comunicação entre a força visível (o homem) e a força não visível (os orixás ou os antepassados).
"Nos povos iorubas, a força vital é movida através da incorporação de forças da natureza, representadas pelos orixás. Nos povos bantus, a força vital é manipulada pela incorporação da força humana dos antepassados", afirma Dilma de Melo Silva, professora de Cultura Brasileira da USP. Segundo Eduardo Oliveira, no livro Cosmovisão Africana no Brasil, "as religiões africanas são eminentemente comunitárias. O importante é o bem-estar de todos os membros do grupo". Ou seja, tanto aqui como na África, o culto religioso visa a harmonia espiritual e social.
Os mais famosos
A rota de oito cultos praticados por aqui
Os mais famosos
Catimbó
Mais comum na Amazônia, é marcado pela influência indígena. As entidades cultuadas são caboclos e um instrumento dos índios, o maracá, está sempre presente.
Tambor de Mina
Nome dado no Maranhão à religião africana praticada de acordo com a tradição jeje-nagô. Os filhos de santo incorporam voduns, orixás e caboclos.
Xangô
Praticado principalmente em Pernambuco. As diferenças com relação ao candomblé são sutis: o dia de oferenda ao orixá ou a fixação do couro no atabaque.
Candomblé
Comum principalmente na Bahia, segue a tradição ioruba e cultua os orixás. Cada um contém uma qualidade específica da natureza.
Culto aos Egunguns
Praticado sob direção de um sacerdote mais velho, que evoca as almas dos mortos. Encontrado principalmente na ilha de Itaparica, na Bahia.
Islamismo
Trazido pelas nações Haussás, Malês e Fula (vindas do reino muçulmano do vale do Niger), em 1835 o Islã negro liderou a Revolta dos Malês em Salvador.
Umbanda
Nome dado em vários estados, em especial Rio e São Paulo, para a fé que assimila várias linhas religiosas: culto aos ancestrais, culto aos orixás, kardecismo e cristianismo.
Batuque
Fruto de religiões dos povos da costa da Guiné e da Nigéria, de nações Jeje, Ijexá, Oyó e Oba, cultua os orixás e é encontrado principalmente no Rio Grande do Sul.
Iorubas
Várias nações ocupavam essa área: Mina, Níger, Fanti-Aschanti, Oyo, Jeje, Ketu e Ijexá. Seus moradores cultuavam voduns e orixás.
Bantu
Na região que comportava as nações de Benguela, Angicos, Macuas e Cabinda, praticava-se o culto aos ancestrais.
Palavras de crença
Expressões marcantes da religiosidade africana
Banto: grupo etnolinguístico localizado principalmente ao sul do deserto do Saara.
Ioruba: idioma da família linguística que habitava a região que hoje corresponde a Nigéria, Benin e Guiné.
Eguns: mortos.
Orixás: ancestrais divinizados.
Exu: mensageiro dos orixás e dos homens.
Macumba: significa "o tambor".
Padê: despacho oferecido antes de começar os rituais religiosos.
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