domingo, 9 de agosto de 2009

Corais brasileiros ameaçados

Avanço de doenças pode provocar extinção de espécie endêmica em menos de 100 anos

Coral-cérebro (Mussismilia braziliensis) doente pela praga branca, que pode levar à extinção da espécie entre 2057 e 2077 (fotos: Ronaldo Francini-Filho).

Uma espécie de coral tipicamente brasileira corre o risco de desaparecer das águas. É o que mostra uma pesquisa realizada no banco de Abrolhos, na Bahia, o complexo de recifes que concentra a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. O estudo detectou pelo menos seis doenças em diversas espécies de corais, principalmente o coral-cérebro (Mussismilia braziliensis), que pode ser praticamente extinto nos próximos 70 anos se essas enfermidades continuarem a se intensificar.

A doença mais representativa encontrada foi a chamada praga branca, caracterizada pela exposição de pedaços do esqueleto calcário do animal. Ela não deve ser confundida com o fenômeno do branqueamento, em que os corais perdem as microalgas que vivem em seus tecidos, responsáveis por seu colorido vivo.

“Com a perda dessas microalgas, vemos o esqueleto calcário branco do coral encoberto por seu tecido vivo transparente”, afirma o biólogo Ronaldo Francini-Filho, da Universidade Federal da Bahia, que coordena a pesquisa. “No caso da praga branca, não se trata de um tecido vivo, mas uma área morta com o esqueleto exposto.”

Além da praga branca, os cientistas identificaram outras cinco doenças em diversas espécies de corais do banco de Abrolhos, como a gorgônia orelha-de-elefante (Phyllogorgia dilatata).



O monitoramento do recife de Abrolhos é realizado desde 2001, mas somente em 2005 começaram a ser observadas doenças nos corais. Para avaliar a progressão da praga branca no coral-cérebro, os pesquisadores fotografaram colônias doentes em intervalos de 90 dias. “Afixávamos pregos nas áreas brancas para que pudéssemos tirar a foto do mesmo ângulo no período seguinte”, conta Francini-Filho. “Com isso, calculamos quanto tecido a doença matava por dia, o que nos permitiu fazer as projeções da progressão dessa enfermidade.”

As previsões apontam a perda de 60% da cobertura de corais-cérebro até 2100, se o cenário atual for mantido. Porém, se a proliferação da praga branca se intensificar, as conseqüências serão desastrosas, com a espécie praticamente extinta entre 2057 e 2077.

Os autores do estudo são pessimistas quanto à progressão das doenças. “Com o contexto de aquecimento global, sua intensificação é esperada”, prevê Francini-Filho. A elevação da temperatura da água e da quantidade de nutrientes trazidos pela poluição causada pelo ser humano criou um ambiente mais propício para a proliferação dos agentes causadores das doenças dos corais.

A ameaça põe em risco todo o ecossistema em que esses corais estão inseridos. “O coral-cérebro é um dos principais construtores dos recifes de Abrolhos”, explica Francini-Filho. “Os peixes dependem da estrutura rígida dos recifes. Se a principal espécie responsável por isso morrer, as conseqüências para eles serão muito sérias.” Sem os peixes, a própria reprodução dos corais estaria comprometida, já que eles se alimentam das algas e liberam espaço para a fixação de corais recém-nascidos.

Os peixes herbívoros são essenciais para a recuperação dos recifes, pois eles se alimentam das algas e deixam o espaço livre para a fixação de novos corais.

Como evitar a extinção?
Os autores do estudo acreditam que é possível reverter esse quadro de extinção anunciada: a recuperação depende basicamente da reprodução dos corais. Mas isso não adiantará se fatores como a poluição e o aquecimento global não forem combatidos. Para isso, é fundamental a implantação de políticas públicas que assegurem a recuperação dos corais.

A ameaça aos corais põe em risco todo o ecossistema do banco de Abrolhos, que apresenta a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul.

“São necessárias ações em diferentes escalas”, enumera o biólogo Rodrigo Leão de Moura, coordenador do programa de Ciência da ONG Conservação Internacional e co-autor do estudo. “Em nível local, é preciso que haja a implementação adequada das áreas protegidas, o melhor uso da zona costeira, a recuperação de bacias hidrográficas e a ocupação ordenada da faixa litorânea. E, em nível mundial, precisamos combater o aquecimento global.”

Leão destaca que a ameaça aos corais de Abrolhos é um alerta para a situação dos oceanos. “Os corais são um termômetro da saúde do oceano, pois sofrem antes de outros grupos os efeitos do aquecimento global e da poluição”, explica. “Estamos levantando o problema e convidando para o debate. É o primeiro passo para que sejam tomadas medidas concretas e ações políticas.”

A próxima etapa da pesquisa consiste em identificar os agentes responsáveis pelas doenças que ameaçam os corais, que se dividem entre bactérias, fungos e vírus. O levantamento já está sendo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, outra instituição participante do estudo, que conta também com pesquisadores da Universidade de Boston (Estados Unidos) e da Conservação Internacional.


Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
14/08/2008

2 comentários:

FaBiaNa GuaRaNHo disse...

Desculpe-me o incômodo, mas venho convidar-lhe para participar da Passeata Fora Sarney, confira aqui os locais. Abçs. http://fabiguaranho.blogspot.com/2009/08/fora-sarney.html

EDUARDO POISL disse...

De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!

Fernando Sabino

Hoje passei pra deixar um poema para refletir e desejar uma semana linda com muito amor e carinho.
Abraços.

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