sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mudanças na indústria automobilística

Somente uma parceria entre os setores público e privado pode ajudar as Big Three (Três Grandes) a sobreviver
por Jeffrey Sachs

FOTOS POR BRUCE GILBERT/EARTH INSTITUTE; ILUSTRAÇÃO POR MATT COLLINS


A indústria automobilística americana, nos últimos meses, tem sido largamente aviltada, com toda a opinião pública contra uma ajuda financeira do governo. A indústria caiu na armadilha de altos custos, incluindo benefícios impossíveis, uma situação extremamente confusa de obrigações contratuais e ações normativas, que permitiram a produtores estrangeiros tomar uma parcela cada vez maior do mercado. Pior, as Big Three (Chrysler, Ford e General Motors) continuaram a promover os utilitários esportivos (SUVs) “sedentos de gasolina”, enquanto aumentavam os riscos ao clima e à conservação da energia. Até certo ponto, a indústria também está pagando pelo aumento do custo na saúde nacional, que deveria estar sob um controle público melhor, e por diretrizes inadequadas de rendimento do combustível e baixos impostos sobre a gasolina (se comparados aos da Europa e leste da Ásia), que facilitaram a demanda de consumo para veículos maiores. Porém, muitos dos problemas da indústria resultam de seus próprios erros estratégicos.

Não obstante, o desdém por essa indústria falha ao não entender quatro pontos cruciais. O primeiro, um colapso das Big Three, somaria outra calamidade econômica à já perturbada crise. Milhões de empregos seriam perdidos em lugares com altas taxas de desocupação e não haveria compensação para a criação de novos postos. O segundo, a má situação dos fabricantes de carros, é o resultado de um colapso dramático de todas as vendas de veículos, antes de ser uma redução da parcela americana dessas vendas. As Big Three não se encontrariam à beira do precipício da insolvência se não fosse pela pior recessão desde a Grande Depressão. O terceiro, a liderança pública e política que traz uma enorme co-responsabilidade na mal orientada era dos SUVs, com sua flagrante negligência de segurança energética, riscos climáticos e empréstimos domésticos insustentáveis.

O quarto e mais crítico, foi a mudança para automóveis de alta milhagem, que demanda esforços públicos e privados. A principal mudança tecnológica, máquinas de combustão interna para veículos elétricos recarregáveis numa grade elétrica limpa, ou com combustível de hidrogênio, requer uma infusão massiva de diretrizes e investimentos públicos. As pesquisas e seu desenvolvimento dependem de enormes desembolsos, e grande parte desse P&D deveria, sob qualquer circunstância, tornar-se propriedade intelectual pública antes de privada. Essa é a razão por que durante um século o governo americano subvencionou a área de P&D em muitas indústrias, incluindo aviação, computação, telefonia, internet, desenvolvimento de medicamentos, geração de indústrias avançadas, satélites e GPS.

O que se pode lamentar é que a apresentação do híbrido elétrico Chevy Volt terá um preço de tabela no primeiro ano de US$ 40 mil. Os custos nos primeiros estágios, inevitavelmente, são bem mais elevados que no decorrer de um período mais longo. As diretrizes públicas deveriam ajudar a promover essa transição através de recursos como a aquisição pelo setor público de frotas de veículos de modelos novos, taxação especial e incentivos de financiamento para os primeiros compradores, e uma taxação da gasolina mais elevada com a finalidade de incorporar os custos das modificações climáticas e a dependência da importação de petróleo.

O financiamento americano de tecnologias de energia sustentável, como as baterias de alto rendimento, o fator limitante das velas de ignição em híbridos, foi reduzido desde que Ronald Reagan inverteu os investimentos iniciados por Jimmy Carter. De acordo com os dados da International Energy Agency, os gastos federais americanos em toda a área de energia, de P&D, alcançaram aproximadamente US$ 3 bilhões anuais nos últimos anos – menos que dois dias de gastos do Pentágono. Essa negligência está finalmente mudando com o compromisso de US$ 25 bilhões em empréstimos para aumentos na área tecnológica, aprovados pela legislação de energia de 2007, mas essa quantia ainda não foi mobilizada e pode chegar demasiado tarde para ajudar. As verbas diretas de P&D para laboratórios do governo, empresas e universidades deveriam ser aumentadas.

Os Estados Unidos precisam de uma diretriz público-privada, e não simplesmente acusar o setor privado. Os veículos Chevy Volt, da GM, os novos Extended-Range Electric Vehicles, da Chrysler, e os esforços em grande escala para produzir, dentro de uma década, um veículo de célula de combustível demandam suporte público, com P&D para tecnologias básicas, apoio para as demonstrações e disseminação dos primeiros estágios. Impostos mais altos sobre a gasolina, que espelhem custos de segurança e climáticos, e investimentos públicos em tecnologias complementares, como uma grade energética limpa. Seria um erro de proporções históricas deixar a indústria morrer no limiar de uma transformação vital.



Jeffrey Sachs é diretor do Earth Institute da Universidade de Columbia (www.earth.columbia.edu).

Scientific American Brasil

Nenhum comentário:

Geografia e a Arte

Geografia e a Arte
Currais Novos