domingo, 15 de novembro de 2009

20 anos depois do Muro: Romênia vive crise econômica e política



20 anos depois do Muro: Romênia vive crise econômica e política

Raúl Sánchez Costa
Em Bucareste (Romênia)
Embaixo, um bar, e no primeiro andar, uma creche. Cerca de 30 crianças da localidade de Bagaciu, na província de Mures, norte da Romênia, estudam em condições deploráveis em um edifício insalubre onde há uma loja que vende bebidas alcoólicas. "Estamos preocupados; não podemos permitir que pessoas que consomem álcool rondem a escola e utilizem os mesmos banheiros que os estudantes", exclama Iustina Halmaciu, uma professora do centro escolar Iernut.

Mergulhados em uma crise econômica e sem governo desde meados de outubro, muitos romenos tentam sobreviver na penúria 20 anos depois da queda do regime ditatorial de Nicolas Ceausescu. Diversas escolas não recebem verbas nem para aquecer as classes. Em Vaslui, nordeste do país, os menores tremem porque não restam recursos econômicos para comprar lenha, por causa das dívidas. "Não recebemos nenhuma ajuda econômica, e por isso teremos de cortar as árvores para abastecer a escola de calefação", afirmou o jovem prefeito de Coroiesti, Cristian Lungu.

Mas os radiadores também não dão sinais de vida em alguns hospitais do país. Os pacientes que decidem continuar no centro hospitalar precisam se cobrir com várias mantas para suportar as baixas temperaturas, embora o principal problema seja a falta de material e de medicamentos. O chefe da seção de cardiologia do hospital de Giurgiu, Mihai Petre, conta que a situação é desastrosa: "Nunca sofremos uma crise dessas características. Temos de mandar os pacientes para as farmácias para que comprem seus próprios remédios".

Entretanto, a Romênia está há várias semanas com um primeiro-ministro interino, Emil Boc; outro designado pelo presidente, Lucian Croitoru - embora sua nomeação tenha fracassado ontem ao ser rejeitada pelo Parlamento -, e outro informal, o prefeito independente de Sibiu, Klaus Johannis, o favorito da maioria política e, segundo as pesquisas, também dos cidadãos, mas que o presidente romeno, Traian Basescu, ignora completamente. Assim, a Romênia continua na incerteza e espera o resultado das eleições presidenciais convocadas para 22 de novembro, o que aumenta a precariedade da situação.

"Há uma clara luta pelo poder enquanto o Estado precisa urgentemente de 3,5 bilhões de euros (R$ 9 bilhões)", salienta um editorial do jornal "Ziarul Financiar". O estancamento político ameaça deixar em suspenso o empréstimo de 20 bilhões de euros (R$ 51 bilhões) que o país deve receber até o fim do ano do Fundo Monetário Internacional, da UE e do Banco Mundial, que não têm interlocutor com quem negociar. O FMI já anunciou que a Romênia não receberá mais ajuda enquanto não elaborar os orçamentos de 2010, que deverão ser aprovados pelo novo governo.

Caso não venha a ajuda econômica do FMI e da UE, a Romênia teria de recorrer ao mercado interno, o que afetaria gravemente o financiamento do setor público. O vice-presidente do Partido Democrata Liberal, Theodor Stolojan, afirma que "os funcionários públicos terão seus salários reduzidos e as aposentadorias deverão ser congeladas" e acrescenta que "a solução passa por atrair novamente o investimento estrangeiro".

"A crise política solapa a recuperação econômica", adverte o ex-ministro das Finanças Ilie Serbanescu. "Para o próximo Executivo também não será fácil; a maioria das empresas que estão na Romênia pertence a investidores estrangeiros, de modo que dependemos deles para conseguir uma recuperação econômica", aponta. Calcula-se que a Romênia terá um crescimento zero, contra 7,8% no ano passado.

A esta situação de crise acrescenta-se o principal problema endêmico do país: a corrupção. Somente nos países pobres e parcialmente desenvolvidos o suborno e a influência indevida sobre as políticas públicas têm um custo de bilhões e são um obstáculo para o crescimento econômico sustentável. Na Romênia, a politização da função pública, devido à diminuição da pressão que a UE exercia, e a sucessão de campanhas eleitorais provocaram um aumento dos casos de corrupção. "Vemos que a legislação das compras públicas foi modificada cinco vezes ao longo de 2009 para responder às necessidades dos diferentes ministérios", denuncia o presidente da Transparência Internacional Romênia, Victor Alistar.

Durante a última legislatura, os parlamentares se opuseram às investigações dos fiscais anticorrupção, dando a impressão de que a luta contra esse problema não passa de simples retórica. Desde a criação da Agência Nacional contra a Corrupção, cerca de 20 autoridades - "peixes gordos", como os chamam em Bruxelas - têm processos abertos, mas ainda não houve qualquer condenação. A lista é encabeçada pelo ex-primeiro-ministro Adrian Nastase, que, para a opinião pública, é o político romeno mais corrupto. Segundo uma pesquisa encomendada por um veículo de comunicação, mais de 80% da população afirmam conhecer alguém que praticou suborno.
El País

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