El Niño já chegou, mas está mais fraco que o habitual
NOAA
Em parte devido à sua fraqueza, além de seu momento incomum, espera-se que o El Niño não tenha muito impacto sobre os padrões climáticos dos Estados Unidos.
Andrea Thompson e Climate Central
Muitos já haviam descartado a possibilidade de ocorrência do evento El Niño, que ficou sumido quase um ano, mas ele finalmente emergiu em fevereiro e poderia atravessar a primavera e o verão boreais, de acordo com o anúncio da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) na quinta-feira (05/03).
Esse não é o mesmo El Niño de 1998 que muitos anteciparam quando os primeiros indícios de um evento iminente emergiram há cerca de um ano. Esse El Niño acabou de aparecer no limiar oficial, então não será um evento forte.
Estamos basicamente declarando o El Niño mas infelizmente, não podemos afirmar que é um El Niño fraco” segundo foi a declaração da meteorologista Michelle L’Heureux.
Espera-se que o El Niño não tenha forte impacto sobre os padrões climáticos dos Estados Unidos, em parte porque está mais brando e ocorre em um momento. Não deve trazer também muito alívio para a seca na Califórnia.
Mas meteorologistas declaram que ele poderia afetar padrões climáticos em outras áreas do globo, especialmente se ele persistir ou se intensificar, e poderia aumentar temperaturas globais – seguindo um 2014 que já foi o ano mais quente já registrado.
“Isso realmente aumenta as chances do calor”, aponta L’Heureux.
NOAA
Animação de anomalias subsuperficiais de temperatura no Oceano Pacífico tropical.
A diferença que um ano faz
Meteorologistas do Centro de Previsão Climática da NOAA e do Instituto Nacional de Pesquisa para o Clima e a Sociedade (IRI), na Columbia University, divulgaram um alerta pela primeira vez no início do ano passado de que um El Niño poderia estar se formando. Essa conclusão foi baseada em uma pluma subsuperficial de água quente, chamada de onda Kelvin, que atravessava o Pacífico tropical de oeste a leste. (Foi essa grande pluma que atraiu comparações com o monstruoso El Niño de 1998, que provocou dilúvios e inundações em muitas partes do mundo e aumentou significativamente as temperaturas globais. O ano de 1998 é o único ano do século 20 entre os 10 mais quentes).
Um El Niño é marcado por águas incomumente quentes nas partes central e leste dessa bacia. Ele é oficialmente considerado um evento pelo CPC quando as temperaturas na superfície do mar em uma região-chave do oceano ficam pelo menos 0,5°C mais quentes que a média.
Múltiplas ondas Kelvin já pulsaram pela bacia oceânica em meses recentes e temperaturas oceânicas ficaram repetidamente quentes o bastante naquela região para qualificar um El Niño.
Mas apenas temperaturas oceânicas não definem um El Niño; meteorologistas do CPC também procuram mudanças correspondentes em padrões atmosféricos, especificamente um enfraquecimento dos ventos alísios na região. Esses ventos alterados podem afetar o clima ao redor do globo, e por isso são cuidadosamente observados todos os meses.
Um ano após o primeiro sinal de um El Niño inevitável atravessar o oceano, outra onda Kelvin está cruzando a bacia. Dessa vez, porém, o oceano já está muito mais quente e, ainda mais importante que isso, a atmosfera parece finalmente ter recebido a notícia, com os ventos alísios enfraquecendo.
A relação entre oceano e atmosfera não está seguindo o roteiro normal, e as mudanças típicas em padrões de chuva ainda não emergiram. Mas L’Heureux apontou a raridade de qualquer resposta da atmosfera nessa época do ano. Na primavera, de acordo com ela, é mais difícil que o oceano e a atmosfera consigam “na prática, ver um ao outro”.
“Estamos bastante impressionados”, adiciona ela.
NOAA
Os impactos climáticos tipicamente associados com um El Niño durante os meses de junho, julho e agosto.
Primavera e verão
Essa emergência do El Niño ao final do inverno boreal significa que os tradicionais impactos sobre os Estados Unidos – condições úmidas e frias no sul do país – não acontecerão.
“Sobre nós, o impacto se tornará muito, muito silencioso” na primavera boreal, declara L’Heureux.
Meteorologistas acreditam que a atual onda Kelvin e as temperaturas oceânicas já mais quentes indicam que o El Niño vai persistir, e esse foi outro fator levando à declaração do evento.
O CPC prevê uma chance de 50 a 60% de que o El Niño atravesse a primavera e o verão boreais. Se isso realmente acontecer, o evento poderia conter a temporada de furacões do Atlântico e intensificá-la no Pacífico leste, como muitos afirmaram ter acontecido no último verão boreal antes que o El Niño fosse oficializado.
Essa designação oficial já provocou muitos debates na comunidade de cientistas do clima, já que o oceano ficou quente o bastante durante a maior parte de 2014 para qualificar um El Niño.
“Eu tenho certeza de que isso será bastante discutido”, comenta L’Heureux.
Mas se essas temperaturas oceânicas significam que um El Niño estava acontecendo, então elas, além de águas quentes em outras bacias oceânicas, ajudaram a elevar temperaturas globais de superfície em 2014, levando ao ano mais quente já registrado.
Ainda não se sabe se isso poderia acontecer novamente em 2015, ainda que o oceano mantenha temperaturas e não responda a mudanças muito rapidamente. Então é provável que esse calor persista, ou até aumente.
“Se o El Niño se intensificar, ele pode ter um impacto maior sobre as temperaturas globais, como foi observado em eventos anteriores”, explica Jessica Blunden, cientista climática da ERT, Inc, no Centro de Dados Climáticos Nacionais da NOAA. “Mas, no momento, estamos esperando para ver”.
Scientific American Brasil
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