segunda-feira, 10 de março de 2014

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Parar com o desmatamento é bom para os negócios
Reduzir a derrubada de árvores também pode impulsionar lucros, diz CEO da Unilever

Sebastian Derungs/World Economic Forum/Wikimedia Commons
Paul Polman, CEO da Unilever, Reino Unido, fala durante a sessão “Perspectiva do Desenvolvimento Gliobal”, na Reunião Anual 2013 do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, em 24 de janeiro de 2013

  Tiffany Stecker e ClimateWire

Negócios são a solução para o progresso ambiental e não seu inimigo, declarou o presidente de uma das maiores corporações do mundo.

Na noite de 11 de fevereiro, Paul Polman, CEO da Unilever, recebeu o prêmio 2013 de “Compromisso com o Desenvolvimento ‘Ideias em Ação’” conferido pelo Centro para o Desenvolvimento Global, [uma “usina de ideias” (tink tank, em inglês) sem fins lucrativos, com sede em Washington, D.C]. Na ocasião, a Unilever foi reconhecida por seu trabalho na redução do desmatamento por meio de sua exploração sustentável de dendezeiros (ou palmeiras-de-óleo-africanas) e produtos de papel e celulose.

“Primeiro, e antes de tudo, sou um homem de negócios, não posso negar isso”, declarou Polman, em seu discurso de aceitação. Como a maioria dos líderes empresariais, ele se destaca em rastrear progresso e medir sucesso, ferramentas importantes tanto para construir uma empresa bem-sucedida quanto para erradicar a causa da degradação ambiental.

“Do contrário é impossível avançar as coisas e acredito que essa é uma dessas coisas nas quais empresas são boas”, acrescentou.

Proprietária de marcas como Ben & Jerry’s, Dove e maionese Hellmann’s, a Unilever extraiu com sucesso 100% do seu óleo de palma de fontes sustentáveis certificadas três anos antes do previsto, de acordo com o relatório anual 2012 da empresa. Só a Unilever compra cerca de 3% da produção global de óleo de palma. A companhia estabeleceu como meta rastrear 100% do produto até as plantações de origem até 2020.

Polman não apenas demonstrou liderança nessa questão através da Unilever, mas também por meio de seu trabalho no Fórum de Bens de Consumo e na Tropical Forest Alliance, grupos industriais cujos membros se comprometeram a explorar fontes sustentáveis de materiais.

“O capitalismo”, discursou Polman, tem sido “uma enorme força positiva nesse mundo”.

Mas o colapso financeiro de 2008 também mostrou as limitações do capitalismo para ajudar a sociedade. Dívidas imensas, agravadas pelo consumo excessivo,deixaram grande parte da população mundial marginalizada e ignoraram o “capital natural”, ou o valor dos ecossistemas.

Tirando vantagem da escala

A empresa arrecada cerca de US$ 67 bilhões em receitas anuais. É essa dimensão e escala que lhe permitiram influenciar a política do desmatamento.

“Tome a Unilever como exemplo: temos 2 bilhões de consumidores que nos usam todos os dias; estamos presentes em sete de cada 10 domicílios globalmente”, exemplificou Polman. “Se você tem essa escala e esse alcance, isso é uma imensa possibilidade de transformar os mercados”.

O óleo de palma pode ser encontrado em uma variedade de alimentos, produtos de higiene pessoal, como sabonetes, e biodiesel. Sua rápida expansão, impulsionada pela crescente demanda mundial de alimentos e combustíveis, tem sido associada a um vasto desmatamento no Sudeste Asiático, fonte de aproximadamente 85% de todo o óleo de palmas. Cerca de 10% das emissões globais de carbono estão ligadas ao desmatamento.

Nas duas últimas décadas, a área de plantações de palmas de óleo expandiu quase oito vezes só na Indonésia de acordo com um recente relatório do Serviço de Agricultura Estrangeira do Departamento de Agricultura. Os produtores têm sido acusados de desmatar florestas nativas, remover o habitat de espécies ameaçadas e violar os direitos de habitantes florestais.

A Unilever também desempenhou um papel-chave no recente acordo da comerciante gigante de óleo de palma Wilmar para adotar uma política de não-desmatamento, que proíbe seus fornecedores de estabelecer plantações em terras com grandes quantidades de carbono, como solos de turfeiras, ou em terras com um alto valor de conservação (ver ClimateWire, 8 de dezembro de 2013 [em inglês]). A Wilmar controla aproximadamente 45% do mercado de óleo de palma.

Tornando todo desmatamento “ilegal”

“O compromisso da Wilmar estabelece um novo padrão global para a indústria e cria novos círculos eleitorais no setor privado em prol de políticas melhores de uso da terra e uma aplicação de leis aprimoradas em países ricos em florestas”, opinou Frances Seymour. Ela é uma fellow sênior do Centro para o Desenvolvimento Global e especialista em política florestal. “As ações do Sr. Polman nos dão esperança de que a transformação do mercado pode ser alcançada e que podemos por fim ao desmatamento tropical”.

Polman organizou um programa de assistência com empresas que, juntas, são responsáveis por 10% do produto interno bruto global.

“Entre CEOs, Polman é visto como a pessoa certa a ser procurada para assumir a liderança da sustentabilidade”, explicou Glenn Hurowitz, um militante em prol do óleo de palma e diretor executivo do grupo de assessoria de sustentabilidade Catapult. Ele “sabe como usar o poder de compra, alavancagem e influência da Unilever para ajudar a transformar, na íntegra, as cadeias de fornecimento de algumas das matérias-primas (commodities) mais ambientalmente intensivas do mundo”.

A linguagem é fundamental para gerar uma resposta. Polman desenvolveu o hábito de usar a palavra “ilegal” na frente de desmatamento.

“A razão pela qual (o desmatamento) é ilegal é porque tudo o que fazemos agora não pode ser revertido, e ao denominá-lo ilegal convenço muito mais pessoas a concordar comigo”, admitiu.

“Ainda há algo em nossa humanidade, em nossos valores, que é não gostarmos de fazer coisas ilegalmente. Deveríamos ter chamado tudo isso ‘mudança climática ilegal’ e teríamos resolvido o problema”.

Polman está ansioso para que outros grandes comerciantes de óleo de palma assumam compromissos semelhantes aos da Wilmar.

“Se conseguirmos fazer com que a Sime Darby, a Sinar Mas ou a Cargill, ou uma ou duas outras se unam a nós, teremos 70% e isso é um ponto de virada”, ponderou, citando alguns dos maiores comerciantes depois da Wilmar. “Reitero, mais uma vez, que se não fizermos isso, nosso negócio estará em jogo”.

Reproduzido do site ClimateWire com permissão da Environment & Energy Publishing, LLC. www.eenews.net, 202-628-6500
Scientific American Brasil

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