quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Folclore: o saber por trás das brincadeiras



A sociologia a partir do jeito de falar infantil

Flávia Roberta Costa
Com seis anos, Florestan Fernandes começou a trabalhar como engraxate para ajudar a família. Depois, como auxiliar de barbeiro, alfaiate e cozinheiro. Impedido de seguir seus estudos formais, o filho de lavadeira analfabeta de origem portuguesa que vivia no bairro paulistano do Brás construiu seu saber por meio da experiência, com a convivência humana e a sociedade. Dessa forma, edificou o saber dos outros, revolucionou as ciências sociais no Brasil e ainda estabeleceu um novo estilo de pensamento no país.

É a origem do político, professor universitário e intelectual que apreciamos com a leitura de Folclore e Mudança Social na Cidade de São Paulo (Martins Fontes), compilação de suas primeiras investigações como estudante da USP, realizadas a partir de 1941. Nelas, Florestan estudou a influência do sistema sociocultural urbano sobre o folclore em seu próprio ninho: os bairros populares e de imigração da cidade de São Paulo, como Brás, Belém ou Lapa, num momento em que a cidade buscava um estilo de vida característico da modernidade.

Dito assim, parece meio difícil. Mas não é nada disso: o olhar de Florestan está mais interessado em registrar os diferentes falares das crianças dos bairros paulistanos. Por exemplo: como decidir quem será o pegador em um jogo de esconde-esconde. Na Lapa, alguém cantava: “Lá em cima do piano tem um copo de veneno, quem bebeu morreu”. A cada sílaba da sentença, a criança que fazia o sorteio (que no meu bairro, aliás, se chamava “xiniqueiro”) apontava para outra, uma de cada vez. E ai do infeliz em que “caísse” a última sílaba.

Se você tem mais de 30 anos, certamente vai se lembrar de coisas assim. As brincadeiras, jogos, ditados e até palavrões e xingamentos que marcaram nossa infância registram também a transformação de uma São Paulo e de um Brasil rural num lugar predominantemente urbano.
Revista Aventuras na História

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