quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Aumento da obesidade no Brasil chega a nível alarmante


O Brasil é líder mundial em sedentarismo e tem índices alarmantes de aumento da obesidade, segundo o Ministério da Saúde. A simples adoção de um estilo de vida mais saudável pode evitar doenças como hipertensão e diabetes




Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, abre o debate, alertando que é necessário balancear o gasto calórico com a ingestão de alimentos(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Com índices alarmantes de aumento da obesidade, sobretudo entre crianças, o Brasil está prestes a conquistar a incômoda liderança como o país mais sedentário do mundo em estudo que ainda será divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O alerta é do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao chamar a atenção para a necessidade de a população brasileira buscar o equilíbrio entre gasto calórico e ingestão de alimentos.

Ao abrir o Correio Debate Desafios da Alimentação Saudável, Mandetta ressalta que a obesidade avança de forma preocupante no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, 12,9% das crianças entre 5 e 9 anos são obesas e 17% das menores de 5 anos estão com excesso de peso. “Isso provoca, no longo prazo, aumento de diabetes, hipertensão, acidentes cardiovasculares, doenças oriundas do padrão alimentar”, sentencia.


O aumento da obesidade, avisa o ministro, não é um problema só no Brasil. “O fenômeno é global”, afirma. México e Estados Unidos têm índices ainda mais alarmantes, assim como na Europa. “Países africanos que não tinham nada de obesidade experimentam aumento significativo de peso da população. A China, após a migração do campo para a cidade, está fazendo investimentos enormes por conta da preocupação com o estilo de vida”, afirma.

Fórmula

Mandetta ressalta que a fórmula para reduzir o problema da obesidade é simples. “Usar o tempo de maneira útil, saudável e com qualidade de vida está embasado em dois pilares: alimentação e atividade física. Desde sempre, a humanidade vem se utilizando do que a natureza lhe oferta”, destaca. No entanto, pontua, quando o equilíbrio entre ingestão e o gasto é desfeito, são percebidas inúmeras situações e problemas de saúde. “As pessoas consomem, cada vez mais, alimentação industrializada com excesso de açúcar e de sódio. Somado a isso, temos o tempo medido por hora-tela (que representa o sedentarismo em frente ao computador) aumentando significativamente.”


Apesar de ter alta incidência solar e grande parte da população estar próxima da costa, o que deveria propiciar a prática de exercícios, o Brasil caminha para a liderança em sedentarismo, revela Mandetta. “As pessoas trabalham sentadas, vão de carro para o escritório, chegam em casa e vão para o computador. Estudo da OMS, que ainda deve sair, vai mostrar que o Brasil conquistou essa posição incômoda”, antecipa. “Somos mais sedentários do que países que passam meses sob neve, que tiveram que criar verdadeiros bunkers indoors e desenvolver esportes de inverno”, compara.

O ministro lembra hábitos de consumo de gerações passadas para mostrar que as mudanças recentes levaram à evolução da obesidade no país. “O Brasil vem do arroz com feijão, do carboidrato com proteína vegetal. Tem uma terra extremamente generosa com frutas e verduras e, nessa base, atravessamos 500 anos de história com bom ponto de equilíbrio. Hoje há uma ruptura”, alerta.

Numa volta ao passado, Mandetta conta um pouco da própria história para ilustrar as mudanças de hábitos. “Nasci em Campo Grande, na minha infância, a cidade devia ter 200 mil habitantes. A porta da casa era aberta, com bicicletas no jardim. As famílias dos vizinhos tinham vários filhos, a minha mãe teve cinco. Então, era uma verdadeira praça de atividades físicas com todas brincadeiras típicas de uma infância do interior do Brasil, todas envolvendo corrida, saltos, pulos, árvore, futebol. Toda uma socialização em torno da atividade física”, recorda.


Perfil

Além da valorização do esporte no colégio e na rua, a seleção de alimentos era mais criteriosa, diz o ministro. “Minha mãe era dona de casa, selecionava os alimentos da família. Nosso almoço era feito dentro de casa, o pão era caseiro, o jantar feito em casa. Meu avô era fabricante do Guaraná Tupi, mas só tomávamos o refrigerante nos aniversários ou dias extremamente selecionados”, conta. O perfil das gerações passadas, portanto, era de atividade física e base alimentar saudável.

Quando o país entra na década de 1980, recorda Mandetta, as pessoas se tornam mais dependentes dos automóveis, há popularização dos alimentos industrializados. “O que antes era uma exceção, uma criança obesa, agora é uma constelação”, diz. Paralelamente ao aumento de peso, o país experimenta expansão das doenças ligadas aos padrões alimentares, como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares. “Há uma correlação, que precisamos combater. Por isso, o debate sobre alimentação saudável é fundamental”, acrescenta. 


Mudança de hábito

Para reverter o avanço da obesidade no país, é preciso travar estratégias. No âmbito da indústria, é necessário reduzir o padrão hipercalórico dos alimentos. No campo dos hábitos de vida, a saída é estimular alimentação saudável e prática de exercícios. “O Ministério da Saúde está desenvolvendo políticas de saúde, sobretudo, voltadas para as crianças, população na qual a educação é capaz de reverter hábitos”, diz o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta.

Ao olhar as políticas públicas, o ministro reconhece que, dentro do sistema de saúde, um dos profissionais menos aproveitados na caminhada de construção do SUS foi o profissional de educação física. “A saúde se utilizou muito da enfermagem, muito dos médicos, psicólogos e dentistas, mas praticamente não se utilizou do educador físico. Nossa população de meia-idade desperta, a um ritmo muito baixo, para as praças e parques, para a caminhada, quase por orientação médica”, ressalta.

Programas

Alguns números, sublinha o ministro, apontam que a estratégia de focar nas crianças está no caminho certo. “Mais de 4 mil municípios, de 5,5 mil, aderiram ao programa Crescer Saudável, que visa intensificar ações de controle, prevenção e tratamento da obesidade infantil, levando a um padrão alimentar mais saudável”, sustenta. “Este ano, vamos fazer, pela primeira vez, o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enane), que consiste em pesquisas para entender como o mãe atua como provedora alimentar”, explica.

O objetivo é trabalhar 15 mil domicílios em 123 municípios selecionados, para avaliar o consumo alimentar, antropometria e indicadores bioquímicos. “Vamos fazer questionário sobre consumo alimentar, medir peso e altura. Saber o que essas crianças comem, como comem, qual a periodicidade. Entender se a propaganda dos alimentos na hora dos programas infantis tem o padrão que o Conar (Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária) exige e se há ou não relação com os hábitos alimentares das crianças”, detalha.

O foco na atenção básica também faz parte da estratégia do ministério. “A atenção básica é espinha dorsal de qualquer programa de saúde que queira trabalhar o modo de vida, promoção de saúde, medidas de prevenção. E estamos promovendo uma reestruturação no nosso sistema de saúde, vindo da atenção primária. Começamos com aumento de horas de porta aberta das nossas unidades básicas de saúde, de 40 horas semanais para 75 horas”, conclui.

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