segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

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A China vai à Lua
Motivados pelo crescimento econômico e com um empurrão involuntário dos Estados Unidos, os chineses desenvolvem tecnologias em tempo recorde e avançam a passos largos para se tornar os donos do espaço
André Julião



PARA O ALTO
Foguete sobe com a sonda Chang’e, parte do projeto chinês de conquista da Lua


Num futuro não muito distante, ao apontar seus telescópios para a Lua, os astrônomos vão encontrar uma bandeira vermelha fincada ali. Esse é o objetivo final de um documento divulgado pelo governo chinês no fim do ano passado. Na comunidade científica, ninguém duvida que marcas de botas asiáticas vão fazer companhia às americanas em solo lunar. Nos últimos anos, o país tem aproveitado seu desenfreado crescimento econômico para dar vários saltos em tecnologia aeroespacial. E até agora tudo tem saído de acordo com o planejado. Apesar de investir na exploração do espaço desde os anos 1950, só em 2003 a China deu o primeiro grande passo simbólico, quando pôs um taikonauta – designação dos astronautas do país – na órbita da Terra. Desde estão, os avanços são cada vez mais rápidos, com a primeira caminhada espacial em 2008 e o lançamento de sondas lunares que poderão proporcionar, em 2020, o pouso no satélite natural de uma missão não tripulada chinesa.

O documento do governo não estipula um prazo, mas os cientistas chineses estimam que, até 2025, um conterrâneo passeie pela Lua. É um ato que vai mostrar ao mundo quem é o novo dono do espaço. Nos anos 1960 e 1970, os Estados Unidos já mandaram missões tripuladas à Lua, mas não têm condições de repetir a façanha tão cedo. Até porque, desde a aposentadoria dos ônibus espaciais em julho de 2011, estão a pé. Os russos, que nunca pisaram em nosso satélite, demonstram ter fôlego para chegar, no máximo, até a Estação Espacial Internacional, que fica a 400 quilômetros da Terra. A Lua está a uma distância superior a 356.000 quilômetros.

O medo que a concorrência tem dos asiáticos é antiga. Nos anos 1950, o chinês Qian Xuesen era um dos mais respeitados cientistas aeroespaciais trabalhando nos EUA. Chegou a ser um dos fundadores do Jet Propulsion Laboratory, até hoje um dos centros de pesquisa mais importantes da Nasa, a agência espacial americana. O país vivia o macartismo, período de intensa paranoia em torno de uma nunca concretizada “invasão comunista”. Xuesen foi demitido e voltou para a China, onde desenvolveu os primeiros foguetes do país. Daí por diante, os chineses aprenderam rápido.

Nos anos 1990, adquiriram conhecimento em tecnologia aeroespacial graças a acordos comerciais com companhias dos EUA, particularmente quando satélites americanos foram lançados da China em foguetes baratos. Mas o maior impulso veio quando os EUA vetaram a participação chinesa no consórcio de 15 países da Estação Espacial Internacional, estrutura que começou a ser montada em 1998. Em vez de desistir dos seus planos espaciais, os chineses resolveram criar sua própria estação, que já tem um módulo em órbita e deve estar funcionando plenamente em 2016. “Não estou convencido se o que aprenderam naquele momento fez uma grande diferença, mas a verdade e que eles estão fazendo muitos progressos por conta própria”, disse à ISTOÉ Jonathan McDowell, astrônomo do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, especialista em programas espaciais.

Os chineses têm muito mais a ganhar com seu programa espacial do que simplesmente ter a bandeira vermelha fincada na Lua. A corrida ao espaço entre Estados Unidos e União Soviética promoveu um avanço tecnológico sem precedentes na história da humanidade. Muitas das tecnologias que usamos até hoje são frutos dessa disputa. Isso acontece porque, para garantir o sucesso de missões tão ousadas, é necessário produzir componentes eletrônicos extremamente confiáveis e precisos. No caso chinês, a aventura espacial pode melhorar a qualidade de todos os seus produtos. E aí o país chegará mais perto de consolidar sua supremacia. Assim na Terra como no céu.

Revista ISTOÉ

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