terça-feira, 26 de março de 2019

Desmatamento brasileiro pode elevar temperaturas em até 1,45ºC até 2050


Até 2050, a temperatura global poderá aumentar até 1,45ºC em razão da devastação das floretas brasileiras, mostra estudo conduzido por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e dos Estados Unidos

Vilhena Soares


Florestas liberam mais água para a atmosfera do que a vegetação aberta: impacto da derrubada é disseminado(foto: Minervino Junior/CB/D.A Press )

O desmatamento de florestas no Brasil pode ter impacto significativo no aquecimento do planeta Terra. Um estudo conduzido por cientistas brasileiros e americanos mostra que, mantidos os ritmos atuais de degradação, a atividade será responsável por um aumento de 1,45ºC na temperatura global até 2050. No trabalho, divulgado na última edição da revista Plos One, os autores também reforçam que o reflorestamento pode ser a resposta para evitar esse cenário preocupante.

Os cientistas explicam que as florestas refletem menos luz solar e têm maior evapotranspiração (perda de água da vegetação para a atmosfera) do que a vegetação aberta, mantendo o ambiente do clima ameno. Dessa forma, o desmatamento afeta diretamente a temperatura da superfície terrestre local. Até recentemente, havia dados globais limitados sobre esse aspecto mais localizado do problema, o que impedia interpretações e previsões mais detalhadas.

Diante de novas informações acessíveis, a equipe utilizou um conjunto de dados globais, contemplando o período de 2000 a 2010, sobre cobertura florestal, taxas de evapotranspiração, reflexão solar e temperatura da superfície da Terra para construir um modelo que pudesse quantificar a relação entre a destruição da mata e as mudanças de clima em regiões tropicais, temperadas e boreais. “Nosso estudo surgiu do conhecimento gerado por estudos anteriores feitos por outros pesquisadores de diferentes países, aliado às experiências de cada autor do presente trabalho”, conta ao Correio Gisele Winck, uma das autoras e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho contou com a participação de cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores descobriram que a natureza do efeito de desmatamento e de florestamento e a magnitude da mudança de temperatura dependeram da latitude. Nas regiões tropicais e temperadas, a degradação levou ao aquecimento, enquanto o florestamento teve efeito de resfriamento. Nas regiões boreais, o desmatamento levou a um leve resfriamento, embora a magnitude do efeito fosse menor. A magnitude dos impactos da mudança florestal foi maior nas regiões tropicais, com, por exemplo, desmatamento de aproximadamente 50%, levando a um aquecimento local de mais de 1°C.

Combinação de impactos 


Também chamou a atenção da equipe o tamanho do impacto da devastação em um território pequeno. “Nos impressionou a magnitude do efeito que a mudança da cobertura florestal em uma área de 5 x 5 quilômetros (que foi a escala do nosso estudo) tem sobre a temperatura, e como o efeito se propaga de uma área desmatada para outras intactas ao redor”, detalha Gisele Winck. “Isso é alarmante, ainda mais quando pensamos que esse efeito que detectamos é adicional ao do aumento da temperatura devido às mudanças ambientais globais.”

O trabalho não resultou apenas em conclusões alarmantes. Segundo a autora, a boa notícia é que a magnitude do efeito da volta da floresta é o mesmo, mas de forma positiva, diminuindo o aumento da temperatura. “Nesse quesito, o que mais nos impressionou foi que o reflorestamento feito em um intervalo de apenas 10 anos foi suficiente para reverter os efeitos do desmatamento sobre o clima”, complementa Gisele Winck.

Os pesquisadores ressaltam que os resultados entram em concordância com uma série de pesquisas recentes voltadas para o aumento da temperatura global. “Segundo o quinto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), já estamos experimentando o efeito do aumento da temperatura em 1°C, com consequências locais e regionais graves, como ondas de calor, seca, aumento de focos de incêndio e da incidência de eventos extremos”, diz a autora. “Estamos em uma corrida contra o tempo para restringir o aquecimento global em 1,5°C nas próximas décadas. Soma-se a isso os até 1,5°C de aumento devido ao desmatamento. É imprescindível que cada um de nós esteja ciente desses dados e que saiba que, mesmo individualmente, podemos ajudar a minimizar esses impactos. Cada ação conta”, ressalta a cientista brasileira.


“O reflorestamento feito em um intervalo de apenas 10 anos foi suficiente para reverter os efeitos do desmatamento sobre o clima”

Gisele Winck, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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