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Entenda a onda de protestos na Ucrânia
BBC BRASIL
O premiê ucraniano Nikolai Azarov afirmou ver todos os sinais de um golpe de Estado na intensificação dos protestos pelo país. Milhares de manifestantes estão ocupando prédios públicos e a praça central da capital Kiev.
Os manifestantes são contrários à decisão do governo de desistir de um acordo para estreitar os laços do país com a União Europeia (UE).
Eles pedem a renúncia do premiê Azarov e do presidente Viktor Yanukovich, que segundo analistas, é apoiado pela Rússia. O governo ucraniano sofreu forte pressão econômica de Moscou para desistir do acordo com o bloco europeu.
Políticos de oposição tentam colocar o governo à prova neste terça-feira submetendo-o a um voto de desconfiança. Entenda a seguir quais são as causas da atual onda de protestos na Ucrânia.
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O que causou os protestos?
O gatilho foi a decisão do governo de não assinar uma parceria abrangente com a União Europeia, apesar de anos de negociações destinados a integrar a Ucrânia com os 28 países do bloco.
A decisão foi anunciada em 21 de novembro e causou grande frustração em uma reunião da UE com ex-repúblicas soviéticas no final de novembro.
Milhares de ucranianos favoráveis à adesão à União Europeia tomaram as ruas da capital --em 24 de novembro o número de manifestantes foi estimado em 100 mil. Eles exigiam que o presidente Viktor Yanukovich voltasse atrás na sua decisão e retomasse as negociações com o bloco europeu.
Contudo, o mandatário se recusou e os protestos se intensificaram. Agora, os manifestantes exigem a renúncia de Yanukovych e seu gabinete.
Quem são os manifestantes?
Provavelmente o manifestante mais conhecido é Vitali Klitschko, um campeão de boxe que se transformou em líder opositor. Ele lidera um movimento chamado Udar (soco) e planeja concorrer à Presidência em 2015.
Sua principal bandeira de campanha é "um país moderno com padrões europeus" --o que significa, na prática, significa diminuir as relações com a Rússia e estreitar os laços com a União Europeia.
Outro grupo opositor que participa dos protestos é chamado Svoboda (liberdade). O movimento é considerado ultranacionalista e seu líder é Oleh Tyahnybok.Também tomou parte dos protestos o o ex-premiê polonês e atual líder de oposição Jaroslaw Kaczysnski.
A Polônia tem laços históricos com a Ucrânia. O leste ucraniano já foi parte do território da Polônia e os dois países compartilham de fortes laços culturais e religiosos (ambos são católicos).
A maior parte dos ucranianos ocidentais se sentem próximos do Ocidente e suspeitam da Rússia. A Polônia é uma voz forte na União Europeia na luta para incluir a Ucrânia no bloco.
Um dos mais importantes manifestantes ucranianos é Arseniy Yatsenyuk, líder do segundo maior partido ucraniano, chamado Pátria. Ele é aliado de Yulia Tymoshenko, uma ex-premiê atualmente na cadeia cumprindo pena por abuso de poder e principal rival política do presidente Yanukovich.
Por que Yulia Tymoshenko é importante?
Tymoshenko é reconhecida internacionalmente como símbolo da oposição a Yanukovich e virou causa célebre na Europa.
Ela foi presa em 2011 acusada de uso indevido de poder em um acordo sobre gás com a Rússia em 2009. Muitos políticos europeus aceitaram sua versão de que sua condenação a sete anos de prisão foi motivada politicamente.
A Corte Europeia de Direitos Humanos não foi tão longe, mas concluiu que a prisão provisória dela antes do julgamento foi "arbitrária e fora da lei".
A União Europeia determinou a libertação dela como pré-condição para a assinatura do acordo com a Ucrânia --mas Yanukovich resistiu à pressão.
A ex-premiê, que deseja receber tratamento de saúde na Alemanha, defendeu que o acordo fosse assinado mesmo sem sua libertação.
Nos protestos de agora há um forte eco da Revolução Laranja de 2004 na Ucrânia. Tymoshenko foi uma figura importante naquela revolução pró-Ocidente.
Naquela ocasião, a líder também enfrentou Yanukovich. Ele foi retirado do poder em 2004, depois que sua eleição foi julgada fraudulenta. Na época a Russia o apoiou - e ainda apóia.
Até onde vai a influência da Rússia no país?
Para analistas, a decisão do governo de suspender a negociações pela entrada na UE se deve diretamente à forte pressão da Rússia.
A Rússia adotou medidas como inspeções demoradas nas fronteiras e o banimento de doces ucranianos, além de ter ameaçado com várias outras medidas de impacto econômico.
A Ucrânia está em uma longa disputa com Moscou sobre o custo do gás russo. Além disso, no leste do país --onde ainda se fala russo-- muitas empresas dependem das vendas para a Rússia.
Yanukovich ainda tem uma grande base de apoio no leste da Ucrânia, onde ocorreram manifestações promovidas por seus aliados. Por séculos, a Ucrânia foi dominada por Moscou e muitos russos entendem que o vizinho do leste ainda é vital para seus interesses.
Folha de S. Paulo
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