Ciência busca aliados naturais contra supertempestades
HENRY FOUNTAIN
DO 'NEW YORK TIMES'
Quando o tufão Haiyan arrasou as Filipinas, em 8 de novembro, a onda
formada pela tempestade elevou o nível do mar em até quatro metros em
questão de minutos, matando milhares de pessoas e destruindo quase tudo
que estava em seu caminho.
No ano passado, o furacão Sandy, que deixou mais de cem mortos no
nordeste dos EUA, também gerou uma onda de quatro metros que deixou um
rastro de destruição, especialmente em Lower Manhattan.
Quando a inundação gerada por supertempestades acaba e as águas recuam,
chovem sugestões sobre meios de promover a segurança de áreas habitadas
de baixa altitude.
Após a passagem do Sandy, algumas pessoas pediram a construção de muros
mais altos para conter o mar. Outros especialistas propuseram projetos
ainda maiores de engenharia, como barreiras contra elevações incomuns do
mar provocadas por tempestades.
Mas as sugestões mais intrigantes envolvem abordagens naturais. No caso
de Nova York, perguntam algumas pessoas, por que não fazer a cidade
voltar aos tempos de capital das ostras e construir recifes no porto
para ajudar a reduzir as ondas geradas por grandes tempestades?
Por que não converter Lower Manhattan em paraíso aquático, criando uma
frente de marisma (terreno pantanoso) que possa absorver ondas
excepcionalmente altas geradas por tempestades?
Mas, enquanto algumas barreiras naturais, como dunas, são
comprovadamente eficazes para absorver a energia de tempestades, não se
sabe se marismas, recifes de ostras ou florestas de kelp (um tipo de
alga) podem garantir muita proteção.
As interações entre uma tempestade e os elementos naturais são
complexas, e a dinâmica de cada tempestade é diferente, dizem
cientistas, fato que torna difícil quantificar a proteção possível.
"Muitas pessoas andam dizendo que ecossistemas úmidos podem reduzir
ondas marítimas excepcionais", diz o ecologista Rusty Feagin, da
universidade Texas A&M. "Mas não há muitas evidências empíricas
disso."
De acordo com proponentes de uma abordagem natural, pesquisas mostram
que áreas pantanosas e recifes de fato garantem alguma proteção,
especialmente contra ondas.
Eles observam que soluções criadas pela engenharia, como muros contra o
mar, encerram problemas próprios --por exemplo, podem agravar inundações
e a erosão em outros lugares.
Marismas e recifes de ostras beneficiam os ecossistemas de outras
maneiras. As marismas podem se elevar continuamente, acompanhando a
elevação do nível do mar decorrente das mudanças climáticas, porque, à
medida que as gramíneas que crescem nas marismas retardam o avanço da
água, os sedimentos transportados pela água vão para o fundo, elevando o
nível do solo. E ostras filtram impurezas, melhorando a qualidade da
água.
Mas mesmo os maiores proponentes de defesas naturais reconhecem que elas
têm desvantagens. "Apesar das limitações, todas essas ideias podem
garantir alguma redução de riscos", disse Nicole P. Maher, cientista
costeira sênior da Conservação Nacional em Long Island e estudiosa da
baía Jamaica, em Nova York, e outras áreas alagadiças.
Se marismas ou recifes são eficazes para reduzir o avanço de grandes
ondas marítimas, é porque eles dissipam a energia destas à medida que a
água passa sobre gramíneas, raízes, cascas de ostra e outros materiais,
gerando atrito.
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Nicole Bengiveno/The New York Times |
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Gramíneas plantadas em áreas alagadiças na baía Jamaica, em Nova York |
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Para Orton, "é fato que áreas alagadiças constituem barreiras, mas apenas no caso de áreas muito grandes".
Faixas estreitas de marisma, como o que foi proposto para algumas áreas
em volta de Lower Manhattan, teriam quase nenhum efeito sobre ondas
extraordinárias. E boa parte do resto da área de Nova York é tão coberta
de construções que há poucos trechos grandes de áreas alagadiças para
proteção contra tempestades.
Mas, para Orton, um lugar como a baía Jamaica, que se estende por quase 16 quilômetros, pode proporcionar alguma proteção.
De acordo com Joannes J. Westerink, da Universidade de Notre Dame em
South Bend, Indiana, mesmo que uma faixa estreita de marisma tivesse
pouco impacto sobre ondas extraordinárias geradas por tempestades, ela
ainda assim poderia reduzir a energia das ondas.
Folha de S. Paulo
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