quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Não existe planeta como o nosso

Plantas são responsáveis pelas geleiras e rios que criaram a paisagem característica da Terra
Mark Fischetti
©Mikhail Markovskiy/Shutterstock

Os astrônomos estão descobrindo muitos exoplanetas que orbitam estrelas como o Sol, incrementando substancialmente as chances de encontrarmos um mundo semelhante. Mas se isso acontecer, a chance de a superfície desse planeta ter um aspecto semelhante à do nosso é muito pequena, graças a um “culpado” improvável: as plantas.

Todos nós sabemos como a paisagem da Terra emergiu, certo? Oceanos e massas de terra se formaram, montanhas ergueram-se e a precipitação pluviométrica varreu sua superfície; rios desgastaram as rochas nuas, criando o solo, e as plantas se enraizaram. Bem, uma nova pesquisa indica que a última fase desse roteiro não está correta. Plantas vasculares — aquelas com estruturas como xilema e floema, que podem conduzir água, entre outras substâncias — são o que criou os rios e lamaçais que construíram os solos que produziram florestas e terras cultiváveis.

A evidência de que as plantas vasculares foram uma das principais forças que moldaram a superfície da Terra é apresentada em uma edição especial da Nature Geoscience, publicada on-line. No artigo, Timothy Lenton, um cientista especializado em sistemas da Terra na Universidade de Exeter, na Inglaterra, apresenta dados do registro biogeoquímico mostrando que a evolução de plantas vasculares em torno de 450 milhões de anos atrás é o que realmente começou a absorver dióxido de carbono da atmosfera, mais do que os organismos nos oceanos. Em consequência, as temperaturas da Terra caíram, iniciando um ciclo de glaciação e derretimento generalizados que, ao longo de outros milhões de anos, provocaram uma abrasão substancial na superfície da Terra.

Talvez ainda mais surpreendente, plantas vasculares formaram os tipos de rios vemos hoje ao nosso redor, segundo outro artigo, de Martin Gibling, da Universidade Dalhousie, em Nova Scotia, e Neil Davies, da Universidade de Ghent, na Bélgica, que analisaram a deposição de sedimentos remontando a centenas de milhões de anos. Antes da era das plantas, a água lavava as massas terrestres da Terra em amplas extensões, sem cursos definidos. Somente quando suficiente vegetação cresceu, a ponto de desagregar as rochas em minerais e lama, e então manter essa lama fixa em seu local, é que se formaram as margens dos rios, que começaram a canalizar a água. Essa canalização resultou em inundações periódicas que depositaram sedimentos sobre grandes áreas, criando solos ricos. O solo, por sua vez, permitiu que árvores se enraizassem. Seus detritos lenhosos tombaram nos rios, criando “engarrafamentos” dessas substâncias que rapidamente criaram novos canais e causaram ainda mais enchentes, estabelecendo um ciclo realimentador que terminou por dar sustentação a florestas e planícies férteis.

"As rochas sedimentares, antes das plantas, quase não continham lama", explica Gibling, professor de ciências da Terra na Dalhousie. "Depois que as plantas se desenvolveram, o conteúdo de lama aumentou enormemente. Paisagens lamacentas expandiram-se bastante. Foi criado um novo tipo de ecoespaço antes inexistente.”

Isso nos leva às consequências cósmicas. "As plantas não são passageiros passivos no sistema da superfície do planeta", diz Gibling. "Elas criam o sistema da superfície. Organismos moldam o ambiente: a atmosfera, as paisagens, os oceanos, todos se desenvolveram com incrível complexidade depois que a vida vegetal se desenvolveu." Assim, conforme dizem os editores da Nature Geoscience em editorial para sua edição especial, mesmo que haja alguns planetas que possam suportar placas tectônicas, água corrente e os ciclos químicos que são essenciais à vida como a conhecemos, parece improvável que qualquer um desses planetas seja parecido com a Terra. Porque mesmo que plantas brotem, elas evoluirão de forma diversa, moldando uma superfície distinta sobre o orbe que denominam lar.
Scientific American Brasil

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