Rompendo os Limites do Planeta
Desafios do controle populacional e da produção de alimentos precisam ser vencidos de forma conjunta
por Jeffrey Sachs
Matt Collins
Desafios do controle populacional e da produção de alimentos precisam ser vencidos de forma conjunta
por Jeffrey Sachs
Matt Collins

A revolução verde, responsável pelo aumento da produtividade dos grãos, deu à humanidade um certo tempo para respirar, mas o crescimento populacional contínuo e a demanda maior por carne abreviam essa fase. O pai dessa revolução, Norman Borlaug, morto em setembro do ano passado, aos 95 anos, ressaltou em 1970 exatamente essa ideia, ao aceitar o Prêmio Nobel da Paz: “Não haverá progresso duradouro na batalha contra a fome se as agências que lutam pelo aumento da produção alimentar e aquelas pró-controle populacional não unirem forças”.
Porém, essa união de forças é, na melhor das hipóteses, inconsistente e, por vezes, inexistente. Desde 1970, a população saltou de 3,7 bilhões para 6,9 bilhões e continua a crescer a uma
taxa anual de 80 milhões de pessoas. A produção de alimentos por habitante do planeta diminuiu em algumas grandes regiões, especialmente na África subsaariana. Na Índia, a duplicação
populacional absorveu quase totalmente o aumento da produtividade dos grãos.
A produção alimentar é responsável por um terço de toda a emissão de gases do efeito estufa; isso inclui os poluentes gerados pelos combustíveis fósseis utilizados na preparação e transporte dos alimentos, o dióxido de carbono liberado pela aragem da terra para a agricultura e pastagem, o metano produzido pelos arrozais e rebanhos de ruminantes, bem como o óxido nitroso proveniente do uso de fertilizantes.
Por devastar as matas, a produção de alimentos também responde por muito da perda de biodiversidade. Os fertilizantes químicos formam grandes depósitos de nitrogênio e fósforo, que agora destroem esteiros – trecho de rio ou mar que adentra na terra – de centenas de sistemas fluviais e ameaçando a química oceânica. Cerca de 70% do consumo mundial de água é destinado à produção alimentar, causando o esgotamento dos lençóis freáticos e uso ecologicamente predatório de água doce, desde a Califórnia até a planície indo-gangética, passando pela Ásia central e norte da China.
A revolução verde, em suma, não neutralizou os perigosos efeitos colaterais de um boom populacional humano, que se potencializarão ainda mais quando a população ultrapassar os 7 bilhões em 2012 e não parar de crescer, prevendo-se chegar aos 9 bilhões, em 2046. O consumo per capita de carne também aumenta. A carne bovina é uma das maiores ameaças, pois o gado
precisa consumir até 16 kg de grãos para produzir 1 kg de carne e emite grandes quantidades de metano. Além disso, o fertilizante utilizado nas plantações destinadas à alimentação desses animais contribui em muito para a produção de óxido nitroso.
Não basta somente produzir mais alimentos; devemos, ao mesmo tempo, estabilizar a população mundial e reduzir as consequências ecológicas da produção alimentar – um desafio triplo. Uma queda brusca e voluntária nas taxas de fertilidade de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento - proporcionada por um maior acesso ao planejamento familiar, diminuição do índice de mortalidade infantil e educação de meninas – poderiam, em 2050, firmar a população em cerca de 8 bilhões de pessoas.
Incentivos financeiros a comunidades carentes, a fim de impedir o desmatamento, poderiam salvar hábitats de espécies. Sistemas de plantio direto e outros métodos preservariam não só o solo, mas também a biodiversidade. O uso de fertilizantes mais eficientes reduziria o transporte excessivo de nitrogênio e fósforo. Aperfeiçoamentos na irrigação e nas variedades de sementes poupariam água e reduziriam outras premências ecológicas. E uma dieta pobre em carne bovina conservaria os ecossistemas ao mesmo tempo em que melhoraria a saúde humana.
Essas mudanças exigirão um grande empenho (ainda a ser instigado) não só do setor público como do privado. Ao rememorarmos as grandes conquistas de Borlaug, devemos também redobrar nossos esforços para solucionar suas premonições. Está passando a oportunidade de alcançarmos um desenvolvimento sustentável.
Jeffrey Sachs é diretor do Earth Institute da Universidade de Columbia (www.earth.columbia.edu).
Scientific American Brasil
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