Greg Asner
Aeronave Carnegie Airborne Observatory realizando levantamento na Amazônia peruana.
Vista do céu, a vasta cobertura vegetal de floresta da Amazônia parece tapete verde contínuo, mas satélites e outros instrumentos de alta tecnologia podem fornecer uma visão muito mais detalhada ao nível do solo.
Isso pode soar como algo em que a CIA estaria interessada, mas há outros públicos que podem se beneficiar ainda mais, como gestores florestais e cientistas buscando o armazenamento da maior quantidade possível de carbono. Estudo recente oferece informações sob essa perspectiva ao criar o mais detalhado mapa de carbono da Amazônia já produzido.
A Amazônia atualmente armazena aproximadamente 120 bilhões de toneladas de carbono e surpreendentemente retém 25% do dióxido de carbono emitido por fontes naturais e por atividades humanas. Mas as ameaças de extração de madeira, desmatamento seguido de queimadas, agricultura e exploração de petróleo e gás ameaçam interromper esses processos cruciais que ajudam a manter o clima em equilíbrio.
Para fornecer informações detalhadas sobre exatamente como a floresta está mudando e onde estão as áreas mais densas em carbono, cientistas descreveram uma nova técnica de mapeamento de alta resolução usando imagens de satélite e uma tecnologia de sensoriamento remoto aerotransportado chamado Lidar em artigo publicado no Proceedings of National Academy of Science no último dia 10 de novembro. Cientistas e governos podem usar os mapas para avaliar que áreas da Amazônia precisam ser mais protegidas do desmatamento.
As ameaças à Amazônia no Peru são significativas: mais de 19,6 milhões de hectares - 75.676 km2, ou aproximadamente o tamanho de Nebraska - já têm autorização para prospecção ou desenvolvimento de atividades relacionadas [extração de] petróleo e gás, diz o estudo.
Outros estudos sugerem que até 65% da biomassa da Amazônia poderá estar perdida em 2060. Mineração e plantações de palmeiras de óleo de dendê também ameaçam florestas, muitas delas altamente densas em carbono.
Greg Asner, do Carnegie Institution for Science, em Stanford, na Califórnia, autor principal do novo estudo, examinou com sua equipe as florestas amazônicas e andinas do Peru. Sua pesquisa foi capaz de encontrar as áreas de Peru que continham a maior concentração do carbono e as áreas ricas em carbono que estavam em maior risco de ocupação.
O gradiente de carbono nas regiões pesquisadas variou de quase zero, perto da costa do Pacífico, a 150 toneladas por hectare, ou 2,47 acres, no interior da floresta tropical.
A equipe estima que 0,8 bilhões de toneladas de carbono armazenado poderão ser liberadas na atmosfera por causa do desmatamento. Mas se boa parte das terras do Peru com o maior potencial de armazenamento de carbono forem protegidas, elas poderiam armazenar até 3 bilhões de toneladas métricas de carbono em todo o país.
Em outras palavras, se a floresta tropical do Peru for deixada sem proteção, quase um terço do carbono aprisionado nas árvores e plantas seria liberado para a atmosfera, ajudando a alimentar as alterações climáticas e impedindo que ali ocorra o armazenamento de futuras emissões.
"Este estudo é o primeiro no mundo a fornecer alta resolução em escala nacional e contabilidade geograficamente precisa dos estoques de carbono da vegetação nos trópicos", aconselha Asner. "Assim, permite o avanço em dois aspectos extremamente importantes no uso da terra - mitigação das mudanças climáticas e conservação ecológica".
Greg Asner
Mapa do carbono no Peru: as áreas com maior concentração de carbono estão representadas em vermelho
As técnicas de mapeamento que sua equipe usou ajudam os pesquisadores a descobrir as regiões das florestas tropicais mais ameaçados pelo desmatamento e as regiões das florestas que contêm a maior parte do carbono – terras que mais precisam de proteção sob a perspectiva da mudança climática, minimamente.
A precisão e resolução do mapa são tão altas que é possível aplicar [os registros] a propriedades individuais e permitir que os donos de terras comparem o conteúdo de carbono de suas propriedades com o de seus vizinhos.
"Isso permite que todas as partes interessadas, grandes e pequenas, participem do diálogo para finalmente colocar o carbono florestal na vanguarda do esforço para reduzir a mudança climática", disse Asner. "Isso é extremamente importante para fazer carbono florestal valer alguma coisa em comparação com outras formas de uso da terra, tais como mineração ou exploração de óleo de dendê, que são grandes emissores de carbono."
A técnica de mapeamento também pode ser usada para mapear o armazenamento de carbono em outras partes do globo mas o equipamento Lidar de sensoriamento remoto teria que ser recalibrado para ser usado fora das florestas tropicais, advertiu ele.
A técnica e as estimativas de emissão de carbono que ela permite produzir também poderiam ser usadas para ajudar os cientistas a determinar como o uso da terra pode afetar as mudanças nos padrões de precipitação na Amazônia, complementa Rong Fu, geocientista da Universidade de Texas-Austin que estuda conexões entre chuvas e queimadas na Amazônia.
Outra pesquisa recente mostrou que chuvas na Amazônia estão diminuindo em até 25% nos últimos 14 anos, em parte por causa do desmatamento na região. Desmatamento é considerado como um dos fatores nesse declínio.
Os resultados da pesquisa sugerem que, se a tendência continuar, partes da Amazônia podem se tornar cerrado, impedindo os pulmões da Terra de atuar como um dos mais importantes locais de armazenamento natural de carbono do mundo.
Scientific American Brasil
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