Os últimos 25 anos foram de semi-estagnação econômica o que se refletiu fortemente no Sudeste, que reduziu seus índices de desenvolvimento econômico do país nos últimos tempos para a casa de 2% ao ano, assinala o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcio Pochmann. O mesmo ocorreu com os indicadores de produção e emprego. A baixa expansão da atividade econômica expulsou a mão-de-obra excedente. "Em sua maioria, são nordestinos que voltaram às suas cidades de origem ou se dirigiram aos estados que mais crescem atualmente, sobretudo Amazonas e Mato Grosso – 7 a 8% ao ano, índices semelhantes ao chinês", constata Pochmann.
A alta taxa de crescimento econômico desses estados se deve a muitos fatores. Um dos principais é a expansão das fronteiras agrícolas, tanto da soja para exportação, quanto da pecuária e do extrativismo mineral. Muitos alagoanos, piauienses e maranhenses que no passado vieram trabalhar no cultivo de café paulista e paranaense, agora estão nas lavouras e na indústria agropecuária do Centro-Oeste. No entanto, Pochmann ressalta que a indústria dessas regiões produz artigos de "baixo valor agregado e de pouco conteúdo tecnológico, derivados do extrativismo mineral e normalmente vinculados à produção de alimentos ou à pecuária. Os empregos são de salário-mínimo".
DESCENTRALIZAÇÃO
A massa de desempregados com o fechamento de empresas, principalmente de São Paulo, começou a migrar para esses novos pólos industriais. No primeiro momento, a migração se restringiu ao eixo Sul-Sudeste, depois se estendeu a outros estados como Goiás e Mato Grosso.
Pochmann ressalta que o padrão migratório de hoje difere do registrado na década de 1970, quando a predominância era de imigrantes com baixa escolaridade, saído da zona rural, que disputavam vagas de trabalho não qualificado. "Agora, o que se observa é uma migração urbana, de cidade para cidade, e não mais do campo para a cidade".
PASÁRGADA DO PASSADO
O processo brasileiro de migração interna se intensificou a partir de 1930 quando muitos países europeus criaram barreiras à emigração de habitantes para a América Latina. Naquela época, São Paulo vivia um período de forte crescimento industrial e extensa agricultura cafeeira que tornava o contingente de trabalhadores da região insuficiente para manter o ritmo acelerado de crescimento. Sem poder contar com os europeus que ocuparam o espaço dos negros escravos na lavoura, a saída do governo paulista foi iniciar uma campanha para atrair migrantes internos. Logo, nordestinos e mineiros do norte de Minas Gerais formaram fluxos migratórios constantes para São Paulo e Rio de Janeiro, então capital do país, que também passava por um processo de industrialização.
Até 1970, a região metropolitana de São Paulo foi a "Pasárgada" brasileira: ali se instalaram as principais indústrias, com os melhores empregos. Com a crise de 1980 e ciclo de expansão econômica do país detido, ocorre uma re-estruturação do mercado de trabalho e o mapa migratório brasileiro começa a apontar para novas direções
MIGRAÇÃO DE RETORNO
É preciso ressaltar, porém, que apesar dos acontecimentos atuais o Sudeste ainda é a região que mais recebe imigrantes em números absolutos (a que mais envia emigrantes também, em um fluxo de mão dupla). É o que afirma a pesquisadora do Núcleo de Estudos Populacionais (Nepo) da Unicamp, Rosana Baenninger, destacando, porém, que o perfil dessa migração mudou bastante. O que mais atrai imigrantes à região metropolitana de São Paulo hoje são os laços sociais estabelecidos. Muitos, principalmente da Bahia e do Ceará, estabelecem-se em São Paulo com a ajuda de parentes que moram na região. São, em geral, jovens que permanecem no Sudeste por alguns anos para fazer seu "pé-de-meia" e depois voltam à terra natal. Com a experiência adquirida no Sudeste, vários conseguem empregos em turismo e serviços em seus estados.
Já no Sul do país, diz Rosana, há um retorno de paranaenses que até pouco tempo estavam no Sudeste, assim como muitas pessoas migram para a região metropolitana de Curitiba e para o litoral catarinense. Alguns sulistas aproveitaram o processo recente de urbanização de regiões metropolitanas do Distrito Federal e de Goiás (pós 1988) para migrarem para esses estados que são atualmente o "Eldorado brasileiro".
Luiz Paulo Juttel
Revista Ciência e Cultura
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