terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Árvores baixam temperaturas do solo em cidades em até 12°C


Efeito foi observado em dados coletados por satélites referentes a quase 300 cidades europeias
26/11/2021


Árvores em cidade: efeito significativo em relação às temperaturas nos períodos mais quentes. Crédito: Pxfuel


Já se sabia que as árvores beneficiam os ambientes urbanos ao gerar áreas de sombra e baixar as temperaturas, mas quantificar isso não é muito fácil. Um estudo recente de pesquisadores suíços encontrou evidências que indicam que grupos de árvores podem reduzir as temperaturas da superfície nas cidades em até 12°C. Em seu artigo, publicado na revista Nature Communications, a equipe, do Instituto de Ciência Atmosférica e Climática do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich), relata o que descobriu a partir da análise de imagens de satélite de centenas de cidades pela Europa e suas conclusões a esse respeito.

Como as cidades são normalmente mais quentes do que as áreas circundantes devido às grandes áreas cobertas com asfalto e cimento, que absorvem o calor, há um certo consenso quanto à ideia de que criar e ampliar espaços verdes nos núcleos urbanos ajuda a baixar as temperaturas do ar nas épocas mais quentes. O estudo suíço se concentrou em um aspecto um pouco diferente: eles investigaram os possíveis impactos da temperatura no solo em vez da temperatura do ar. Como a temperatura analisada está abaixo dos pés, e não ao redor, ela não é sentida de forma tão incisiva.
Revista Planeta

A "corrida do ouro" no rio Madeira


Imagens de balsas espalhadas em trecho proibido de um dos principais afluentes do Amazonas correram o mundo. Uma afronta ao Estado, segundo ativistas, e um reflexo do momento que o país vive




Autazes, cidade de 41 mil habitantes a pouco mais de 100 quilômetros da capital Manaus (AM), pode ter entrado para o mapa informal da mineração da Amazônia. Às margens do rio Madeira, o município não tinha um histórico de exploração de ouro até que viu surgir, subitamente, uma cidade flutuante formada por balsas emparelhadas na última semana.

A corrida teria se iniciado a partir de um boato, após uma embarcação ter encontrado ouro na região. A notícia correu e atraiu centenas de balsas para o ponto, como conta à DW um morador das redondezas. Ele passou dois dias com os garimpeiros e prefere não ter o nome identificado na reportagem.

“Lá tem família, tem criança, adulto, jovens, adolescentes. Eu vi todo o processo de extração do minério lá dentro”, disse ele por telefone à DW nesta sexta-feira (26/11), após deixar uma das balsas.


Os garimpeiros começaram a se dispersar. A retirada ocorre depois das declarações do vice-presidente Hamilton Mourão no Palácio do Planalto, que disse que uma operação estava em “processo de planejamento” para fiscalizar a atividade no Madeira. Polícia Federal e Marinha participariam da ação.


No estado do Amazonas, garimpo de ouro no rio Madeira é ilegal.

Para Danicley de Aguiar, porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace, o anúncio prévio de Mourão deu tempo suficiente para que os garimpeiros organizassem uma fuga. “O Estado não foi capaz de colocar de pé uma operação”, disse à DW.

Na última quarta-feira, um avião fretado pela organização sobrevoou o local e divulgou imagens que rodaram o mundo das centenas de embarcações garimpeiras. “A pergunta é essa: vai ficar o dito pelo não dito? Qual vai ser a posição das autoridades federais agora? Os garimpeiros saem do lugar e fica tudo bem?”, questiona Aguiar.

Procurado, o gabinete da vice-presidência não comentou o assunto até o fechamento desta reportagem.
Impacto ambiental da mineração

Segundo relatos de moradores, a presença dos garimpeiros dividiu opiniões na cidade. Alguns comerciantes relataram vendas recordes em poucos minutos para os forasteiros. Houve quem se aproximasse em pequenos barcos das balsas para oferecer produtos.

“A parte contra é por cauda da degradação do ambiente. Nessa parte, fica todo mundo ressabiado. Por que a balsa fica mexendo o solo debaixo da água rio”, disse um morador ouvido pela DW.

Dragas chegavam a trabalhar 48 horas na região ininterruptamente em busca do ouro. “Imagine 400 dragas fazendo isso ao mesmo tempo”, diz o morador que acompanhou os garimpeiros.

Movidas por motores a diesel, as dragas sugam um grande volume de sedimento acumulado no fundo do rio, que é despejado sobre um espécie de carpete. Os fragmentos de ouro sugados junto com a terra são recuperados com a ajuda do mercúrio, que tem a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas.



Após essa etapa, basta o calor de um maçarico para separar os dois metais, já que o mercúrio se liquidifica e evapora numa temperatura inferior do que o ouro. No fim do processo, normalmente, as partes que não interessam, como os restos contaminados, são jogados de volta ao rio.

Um dos maiores problemas do uso mercúrio é o impacto causado no ambiente e na saúde: ele contamina peixes que podem virar alimento e se acumula no corpo humano. Os sistemas nervoso e imunológico podem ser afetados, assim como pulmões e rins, com sintomas que vão de tremores a perda de memória – e, em casos extremos, morte.
Histórico de degradação

Com mais de 3 mil quilômetros de extensão, o rio Madeira é um dos principais afluentes do rio Amazonas, e corta os estados de Rondônia e Amazonas. Ele é uma via de transporte hidroviário importante na região Norte, além de sua importância ambiental e na pesca.

Os relatos de presença de ouro no Madeira datam de 1826, com intensificação da atividade de garimpo registrada a partir da década de 1970. Um relatório publicado em 1982 pelo então Departamento Nacional de Produção Mineral estimava a presença de 1.200 garimpeiros no leito do rio com uma produção de 817 quilos do metal. Naquela época, a operação era semimecanizada, e as balsas dependiam de mergulhadores que posicionavam os tubos sucção.

Nas décadas seguintes, a corrida do ouro atraiu habitantes de outros estados a Rondônia. Com o passar dos anos, a extração do metal em toda a Amazônia passou a ser feita com maquinário pesado: balsas, dragas, pás-carregadeiras e escavadeiras hidráulicas que custam milhões de reais.

“Os índices de ilegalidade na atividade são alarmantes. O ouro, ativo financeiro de enorme importância estratégica para as finanças nacionais, esvai-se pelas fronteiras com pouco ou nenhum controle das agências públicas, ao mesmo tempo que recursos hídricos são contaminados por mercúrio e parcelas da floresta são postas abaixo na busca por novos veios, e o tão prometido desenvolvimento econômico não chega”, ressalta o documento publicado em 2020 produzido pelo Ministério Público Federal.

Em Rondônia, um decreto estadual de janeiro liberou o garimpo no rio Madeira. Segundo o texto, o licenciamento ambiental é feito pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental, e as embarcações devem ter cadastro na Capitania dos Portos ou na Marinha.


No curso do mesmo rio no estado do Amazonas, por outro lado, a atividade é proibida. Em 2017, o governo estadual chegou a liberar a exploração do ouro sem os estudos prévios, concedendo licenças de operação. Naquele mesmo ano, uma liminar caçou as licenças e, em agosto de 2021, a Justiça Federal condenou o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam) a anular as licenças dadas irregularmente.
“Licença política”

Para Danicley de Aguiar, do Greenpeace, a aglomeração das balsas onde elas são proibidas é um reflexo simbólico do momento que o país vive. “Os infratores ficam à vontade pra fazerem o que quiserem porque não serão punidos. Eles não têm licença ambiental, mas têm licença política”, afirma, mencionando o discurso pró-garimpo do presidente Jair Bolsonaro e dos governadores.

Na visão de Aguiar, operações de repressão não são suficientes para resolver a questão. “A crise econômica levou para pobreza milhares de pessoas. Precisamos de um debate sério que promova a reorientação do sistema econômico brasileiro, que considere a floresta e seus rios como um ativo, e não como problema”, argumenta.

Ao que tudo indica, diz Aguiar, as balsas de garimpo que estavam em Autazes e que agora se dispersam estão subindo o rio no sentido de Humaitá, considerada refúgio histórico dessas embarcações no estado. Foi lá que, em 2017, prédios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Icmbio, e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, Ibama, foram incendiados por garimpeiros.

“O que aconteceu em Autazes foi uma afronta ao Estado. Ninguém coloca 300 balsas num lugar sem organização. O Estado tem que entender o que está acontecendo”, finaliza Aguiar.
Revista Planeta

Óleo que atingiu praias do Nordeste veio de petroleiro grego, diz PF


Empresa e comandante do navio são indiciados por crime de poluição; multa inicial seria de mais de R$ 188 milhões




Manchas de óleo em praias do Nordeste: Polícia Federal acusa petroleiro grego de ser o responsável pelo derramamento. Crédito: © Divulgação/Agência Petrobras


As manchas de óleo que apareceram em centenas de praias brasileiras entre agosto de 2019 e março de 2020 vieram de um petroleiro grego. A conclusão foi divulgada nesta quinta-feira (2) pela Polícia Federal (PF).

Segundo a PF, foram encontradas manchas de óleo em mais de mil localidades, em 11 estados litorâneos. Apenas os custos arcados pelos poderes públicos federal, estadual e municipal para a limpeza de praias e oceano foram estimados em mais de R$ 188 milhões, estabelecendo-se assim um valor inicial e mínimo para o dano ambiental.

“A Polícia Federal, a partir das provas e demais elementos de convicção produzidos, concluiu existirem indícios suficientes de que um navio petroleiro de bandeira grega teria sido o responsável pelo lançamento da substância oleaginosa que atingiu o litoral brasileiro. Foram indiciadas pela prática dos crimes de poluição, descumprimento de obrigação ambiental e dano a unidades de conservação a respectiva empresa e seus responsáveis legais, bem como o comandante e o chefe de máquinas do navio”, afirmou a PF em nota.

O valor total do dano ambiental está sendo apurado pela perícia da PF, que deverá encaminhar com brevidade o respectivo laudo às autoridades competentes. O inquérito policial relatado segue agora para o poder judiciário federal no Rio Grande do Norte e o Ministério Público Federal (MPF), para análise e adoção das medidas cabíveis.


Investigações

As investigações, realizadas em parceria com diversos órgãos e instituições nacionais e internacionais, foram centradas em três frentes. A primeira diz respeito à investigação das características da substância, por meio de análises químicas que buscaram determinar o tipo de material que chegou à costa brasileira, suas características e, especialmente, sua procedência, se nacional ou estrangeira, e qual país.

“Isso se fazia necessário, uma vez que surgiram diversas teorias sobre a origem do material (vazamento de oleodutos, plataformas ou reservas naturais, navios em trânsito ou naufragados, costa da África, etc.)”, explicou a PF.

A segunda frente diz respeito ao local exato onde ocorreu o vazamento/lançamento do óleo, na qual priorizou-se o uso de técnicas de geointeligência, que incluem imagens de satélite e modelos e simulações realizadas por softwares específicos. A terceira foi realizada com base em dados, documentos e informações que pudessem esclarecer os fatos, por meio de cooperação nacional e internacional, inclusive com apoio da Interpol.
Revista Planeta

Desmatamento na Amazônia não traz progresso social, diz estudo


Índice de Progresso Social aplicado à Amazônia Legal mostra que cidades que mais desmatam têm as piores colocações



Na Amazônia Legal, as condições sociais e ambientais das pessoas que vivem em seus 772 municípios estão se deteriorando. O cenário é capturado pelo Índice de Progresso Social (IPS) feito para a região, que atingiu a pontuação de 54,59 para todos os nove estados – abaixo dos 54,64 verificados no último levantamento, de 2018.

O IPS Amazônia 2021 é baseado numa metodologia internacional e realizado no país pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Os resultados, divulgados pelos pesquisadores na noite desta segunda-feira (06/12), mostram que a nota da região é inferior à média do Brasil, que é de 63,29.

As cidades onde o desmatamento mais avançou nos últimos anos têm as piores colocações no índice. “Isso mostra que o desmatamento em geral é acompanhado de pobreza e baixo progresso social. Desmatamento não melhora a vida das pessoas. Isso o estudo mostra de forma categórica”, comenta um dos autores do relatório, Adalberto Veríssimo.

Altamira e São Félix do Xingu, campeãs de destruição florestal, receberam pontuação abaixo da média da Amazônia: 52,95 e 52,94, respectivamente. No ranking dos 772 municípios listados, elas aparecem nas colocações 509 e 513.


Entre as cidades nas últimas posições, muitas são marcadas pela degradação florestal e conflitos sociais, como Pacajá (771º) e Pau D’Arco (763º); e o garimpo ilegal, como Jacareacanga (762º). Todas estão localizadas no Pará.

“A Amazônia é muito importante para o Brasil e para o mundo em termos de recursos naturais. Mas ela sofre com um quadro grave em termos sociais. Isso é incompatível e insustentável em relação à sua importância ambiental para o planeta”, pontua Veríssimo.
Dados sociais, nada de economia

Ao contrário de outros índices, o IPS exclui de propósito dados econômicos. Desenvolvida por pesquisadores da organização Social Progress Imperative, baseada em Washington, nos Estados Unidos, a ferramenta analisa apenas indicadores sociais e ambientais.


Segundo seus fundadores, os critérios rigorosos do índice têm sido aplicados para que países possam entender seus desafios sociais e acelerar esforços para a construção de sociedades inclusivas, igualitárias e sustentáveis.

O novo IPS Amazônia trabalha com 45 indicadores organizados em três dimensões. O grupo “necessidades humanas básicas” analisa componentes como mortalidade infantil, coleta de lixo e homicídios. Em “fundamentos para o bem-estar”, são analisadas informações referentes à qualidade da educação, densidade internet banda larga, desmatamento e emissões de CO2, entre outros.

Já em “oportunidades”, são considerados dados como mobilidade urbana, violência contra indígenas e contra a mulher, empregados com ensino superior.

No ranking de pontuação dos noves estados amazônicos, que vai 0 a 100, Mato Grosso tem a melhor colocação (57,94). Pará (52,94) e Roraima (52,37) ficam com as piores posições.

Quanto às cidades, Cuiabá (74,42), em Mato Grosso, e Palmas (70,23), em Tocantins, são as bem avaliadas. No geral, as capitais e parte dos municípios mais populosos obtiveram notas mais altas.



“São variações dentro de uma realidade difícil. A Amazônia está muito abaixo; e o Brasil já está muito atrás do resto do mundo”, afirma Veríssimo.

No ranking global do Social Progress Index, a Noruega tem a melhor avaliação, com 92,63.
Os empecilhos ao progresso social

Dentre os fatores que mais influenciam o progresso social e, portanto o IPS, estão acesso à saneamento básico, segurança pública, capacidade de atrair e reter mão de obra com ensino superior.

Segundo o relatório, a pontuação da componente segurança pessoal (56,25) demonstra que a violência se tornou um problema crônico em toda a Amazônia. “Isso é atestado pela alta taxa de homicídios nos municípios”, conclui o documento.



Acesso à internet rápida também é visto como um ponto crítico. “Essa é uma componente importante para o progresso social. Se não tem internet, não tem cidadania plena no século 21. Não tem como fazer trabalho remoto, ter acesso a serviços públicos e ao ensino”, argumenta Veríssimo.

Dos 12 componentes do IPS Amazônia, a metade (água e saneamento, segurança pessoal, acesso à informação e comunicação, direitos individuais, liberdades individuais e acesso à educação superior) possui um baixo índice médio, ou seja, menor que 60.

A Amazônia Legal é um conceito criado ainda na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso que, além da Floresta Amazônica, há uma parte de Cerrado e do Pantanal em seu mapa.


Segundo dados atualizados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de habitantes.

Estados da região ocupam também posições inferiores em diversos outros indicadores sociais e econômicos: os que menos contribuem para o Produto Interno Bruto nacional, por exemplo, são Roraima, Acre e Amapá.

Por outro lado, a Amazônia tem sido nos últimos anos o epicentro da destruição ambiental no planeta, com aumento do desmatamento, invasão de terras indígenas e áreas protegidas, aumento do garimpo ilegal e grilagem.

“Desde o início do ciclo de ocupação da Amazônia com base no desmatamento, na década de 1970, até os dias atuais, os resultados sociais, econômicos e ambientais têm sido desastrosos”, alerta o relatório. Um exemplo é o fato de, em 2020, a Amazônia ter contribuído com apenas cerca de 9% do PIB nacional, mas ter gerado 52% das emissões de gases de efeito estufa do país.

Para Veríssimo, o que é visível aos olhos de quem vive na Amazônia fica evidente nas análises científicas. “Desmatamento não compensa, não melhora as condições sociais. Ao contrário. A gente tem visto que desmatamento tende a agravar a situação de desigualdade, de conflito, de violência”, conclui.
Revista Planeta

Terras-raras: pesquisas indicam caminho para criar cadeia produtiva no Brasil


Terras-raras são abundantes no país, mas custo tecnológico da separação de minérios é obstáculo para produção nacional; estudos incluem catalisadores, células solares, ímãs e lasers




Óxidos de terras-raras refinados são pós pesados e arenosos, geralmente marrons ou pretos, mas podem ser de cores mais claras, conforme mostrado aqui. A partir da esquerda: gadolínio, praseodímio, cério, samário, lantânio, neodímio. Crédito: Peggy Greb, Departamento de Agricultura dos EUA/Wikimedia Commons



As terras-raras são um conjunto de elementos químicos, normalmente encontrados na natureza misturados a minérios, de difícil extração – daí o nome –, mas com características peculiares, como magnetismo intenso e absorção e emissão de luz. Essas propriedades especiais fazem com que sejam usadas numa infinidade de aplicações tecnológicas, como lâmpadas de LED, lasers, superímãs presentes nos discos rígidos de computadores e motores de carros elétricos, e na separação de componentes do petróleo. Atualmente, o Brasil tem a segunda maior reserva mundial conhecida de terras-raras, porém essa riqueza não é explorada, devido ao custo da tecnologia de extração e separação, o que obriga o país a importar esses elementos para usar como matéria-prima nas indústrias, principalmente da China, maior produtor do mundo.

Na USP, grupos de pesquisa realizam estudos com terras-raras, obtendo resultados promissores, como um método de separação não poluente, baseado em nanotecnologia, além de aplicações em iluminação, lasers, produção de aço, células solares, filtros de raios ultravioleta e catalisadores automotivos. A Universidade também coordena um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) voltando ao domínio de todas as etapas da cadeia produtiva da fabricação dos superímãs de terras-raras, da mina ao ímã, e no momento colabora com a instalação de uma fábrica de ímãs em Minas Gerais.

As maiores reservas mundiais comprovadas de terras-raras estão na China, com 44 milhões de toneladas. O Brasil vem logo a seguir, com 22 milhões, mesma quantidade do Vietnã, e à frente da Rússia, com 12 milhões, da Índia, com 6,9 milhões, e da Austrália, com 3,4 milhões, de acordo com dados de 2018 do United States Geological Service (USGS).

“No Brasil, as terras-raras são encontradas nas areias monazíticas do litoral e principalmente em jazidas próximas a vulcões extintos, como nas cidades de Araxá e Poços de Caldas, em Minas Gerais, e Catalão, em Goiás, e também em Pitinga, no Amazonas. É provável que as reservas brasileiras sejam muito maiores do que está comprovado atualmente, em especial na Amazônia”, relata ao Jornal da USP o professor Fernando Landgraf, da Escola Politécnica (Poli) da USP. “No entanto, na cadeia produtiva das terras-raras, o Brasil tem o minério, tem o consumo final, pois importa superímãs para geradores eólicos e motores elétricos, mas não domina as etapas intermediárias do processo, ou seja, a separação dos elementos e a fabricação de superímãs.”

O professor Henrique Elsi Toma, do Instituto de Química (IQ) da USP, relata que o Brasil chegou a ter protagonismo no campo, ao desenvolver a tecnologia de separação e purificação. “A primeira jazida foi descoberta em 1886, na praia de Cumuruxatiba, na Bahia, e em 1915 o Brasil era o maior fornecedor mundial de monazita, um mineral extraído da areia que contém terras-raras, e na época era usado para produzir mantas incandescentes, que permitem aos lampiões de gás emitirem luz branca.” Em 1946, o químico Pawell Krumholz, que depois se tornou professor da USP, criou a técnica de separação das terras-raras da monazita e a aplicou na empresa Orquima, que tinha fundado cinco anos antes. “Em 1957, foi criada uma linha de pesquisa sobre química de terras-raras na USP, coordenada pelo professor Ernesto Giesbrecht”, relata.

Na década de 1950, o foco da exploração de monazita passou a ser a extração de tório e urânio, usados na produção de energia nuclear. “O Brasil dominava a tecnologia de extração de terras-raras, mas elas tinham poucas aplicações tecnológicas significativas. A situação mudou com o surgimento da televisão em cores, no final dessa década, quando as telas passaram a ser pintadas com európio para produzir as imagens coloridas. Posteriormente, as principais aplicações das terras-raras passaram a ser em ímãs de alta potência e em lasers, com uso do neodímio extraído da monazita, mas aí o Brasil já havia perdido espaço no mercado mundial”, explica Toma. “Em 1962, a Usina Santo Amaro (Usam), pertencente à Orquima, foi estatizada e passou a fazer parte da empresa Nuclemon, que teve o nome mudado em 1992 para Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Em 2004, o país deixou de produzir terras-raras e, em 2012, foram interrompidas as exportações de monazita para a China, que passou a monopolizar o mercado mundial com sua produção interna. Embora o Brasil seja considerado um ‘pais mineral’ pela abundância das jazidas, o foco é a exportação de minério bruto, especialmente de ferro, que não exige tecnologias sofisticadas ou muito custosas de extração.”


Locais de maior incidência do extrativismo de terras-raras no Brasil. Crédito: Reprodução

De acordo com Fernando Landgraf, o mercado mundial de terras-raras é relativamente pequeno em termos financeiros, movimentando cerca de 5 bilhões de dólares por ano, mas a sua importância estratégica é enorme. “Por exemplo, os ímãs de terras-raras são indispensáveis para os carros elétricos. A China investiu em toda a cadeia produtiva das terras-raras, começando pela extração, passando pela separação, produção de ímãs e por fim a produção de carros elétricos. É evidente que ela vai querer vender o carro, não o ímã”, afirma. “Hoje, no Brasil, não há ninguém que faça a extração do concentrado de terras-raras separado de outros elementos, logo, elas não são comercializadas. O custo de obtenção não é compensador frente ao produto importado. Há planos para que a Mineração Serra Verde, em Minaçu, no estado de Goiás, comece a produzir e exportar o concentrado, mas só a partir do ano que vem.”



Os dados do USGS indicam que a China é o maior produtor mundial de terras-raras, com 120 mil toneladas extraídas em 2018, seguida pela Austrália, com 20 mil toneladas, e Estados Unidos, com 15 mil.

Crédito: Arte por Rebeca Alencar com imagens de Flaticon
Extração e cadeira produtiva

No IQ, o grupo de pesquisa do professor Henrique Toma, especializado em nanotecnologia, desenvolveu uma técnica chamada de hidrometalurgia magnética para a separação de terras-raras, simplificando e barateando o processo. “O método usa nanopartículas magnéticas modificadas com um agente químico que captura as terras-raras que estão misturadas ao minério, colocado em um pequeno reator. Depois de as nanopartículas serem resgatadas com um ímã de neodímio, sua acidez é modificada, liberando as terras-raras”, descreve. “No processo tradicional, feito em reatores gigantescos, essa separação requer milhares de litros de solvente, que só podem ser usados uma única vez e poluem o ambiente. Com as nanopartículas, assim que as terras-raras são separadas, elas podem voltar a ser usadas.”

Segundo Toma, o processo é automatizado, não poluente, facilita a separação de elementos químicos distintos e pode ser utilizado na recuperação de terras-raras em lixo eletrônico. “Para limpar o meio ambiente, o ideal não é explorar, mas apenas reciclar os minérios, como acontece com as latinhas de alumínio. Por exemplo, calcula-se que um carro elétrico possua um quilo de neodímio. Quando o veículo virar sucata, se não for reciclado, o neodímio se transformará em poluente. Por essa razão, é fundamental o desenvolvimento de técnicas avançadas que permitam fazer a reciclagem no futuro”, ressalta. “Essa ainda é uma técnica nova, que vem rendendo publicações e trabalhos científicos, mas que para chegar ao mercado precisa de apoio – a pesquisa quase parou por falta de recursos. O Brasil tem terras-raras e tecnologia, poderia avançar bastante, porém as empresas não têm tradição de desenvolvimento tecnológico, quase tudo é importado”, diz.

A pesquisa teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e um dos artigos que descrevem a técnica de hidrometalurgia magnética foi publicado em 2019, na revista científica Hidrometallurgy, e pode ser acessado neste link.

Resultados promissores em extração e aplicações das terras-raras



Trabalhos recentes de pesquisadores da USP sobre o tema estratégico para a economia brasileira

Crédito: Arte por Rebeca Alencar com imagens de Flaticon

Juntamente com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), a USP coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Processamento e Aplicações de Ímãs de Terras-Raras para Indústria de Alta Tecnologia (INCT Patria), que tem colaborado com a instalação de uma fábrica-laboratório de ímãs de terras-raras em Minas Gerais, a LabFabITR. A fábrica, uma iniciativa da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), será instalada no município de Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, a partir do projeto elaborado por um grupo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

“As duas primeiras etapas do processo, a concentração e separação das terras-raras para obter o óxido de neodímio usado nos ímãs, foram coordenadas pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), do governo federal, com a colaboração da Poli e da mineradora CDMM, que fornece as terras-raras usadas no projeto”, descreve Landgraf. “Pesquisadores do IPT e da Poli conduziram as etapas seguintes, a transformação do óxido de neodímio em neodímio metálico, usado na produção de uma liga metálica com boro e ferro. Esses elementos são fundidos e passam por um processo de solidificação controlada, do qual são obtidas tiras muito finas, para melhor controle da estrutura da liga. As tiras são moídas e o pó resultante serve para fabricar o ímã.”

O IPT também colaborou com estudos de proteção do ímã contra corrosão. Os equipamentos da fábrica já foram adquiridos e as instalações devem começar a produzir em abril do ano que vem. “Com o LabFabITR será formada uma cadeia produtiva desde a extração do neodímio até a fabricação de ímãs para empresas que produzem motores e geradores elétricos”, observa o professor da Poli. “A ideia é que, em dez anos, a fábrica faça 100 toneladas de ímãs por ano. Esse número é inferior à demanda do mercado brasileiro, que é de 2.000 toneladas anuais, mas há a expectativa de que, quando a produção estiver consolidada, empresas entrem no projeto, permitindo aumentar a quantidade de ímãs produzidos”. As pesquisas do INCT Patria envolvendo o LabFabITR têm apoio da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), CNPq e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


Uma luz, várias aplicações

Também no IQ, o grupo coordenado pelo professor Hermi Felinto de Brito pesquisa materiais luminescentes conversores de luz, contendo terras-raras, que atuam tanto como emissores de luz eficientes, quanto podem ser aplicados como marcadores ópticos. “As terras-raras vêm sendo empregadas como conversores de luz em lasers, displays, lâmpadas fluorescentes, LEDs e OLEDs”, conta o professor. “Nós desenvolvemos novos materiais luminescentes como centros emissores, cujas aplicações têm crescido significativamente nos últimos anos, em estudos avançados de fotônica, dispositivos optoeletrônicos, marcadores biológicos fluorescentes, dispositivos emissores de luz branca, pigmentos multicolores e filmes transparentes emissores. Esses elementos possuem grande importância na área da biomedicina, por exemplo. Alguns testes de sangue utilizam o fenômeno da luminescência de complexos de európio como marcador de doenças, como é o caso do PSA, que detecta câncer de próstata”, conta o professor ao Jornal da USP.

Brito exemplifica a atividade dos pesquisadores do grupo, descrita em artigos publicados em revistas científicas internacionais, como o Journal of Material Chemistry e a ACS Applied Material & Interfaces, com o desenvolvimento recente de compostos de terras-raras que atuam como marcadores ópticos em documentos, como RG, passaporte, diploma, carteira de habilitação e selos, bem como em cédulas de dinheiro. “O objetivo principal desses marcadores é comprovar a autenticidade por meio da luminescência do material”, destaca.

O professor lembra que o Brasil sempre contribuiu com a pesquisa de terras-raras no mundo, dominando o processo de separação e até exportando óxido de európio puro na metade do século passado. “Porém, nas décadas de 1970 e 1980, o Brasil já tinha perdido a competitividade no mercado. Hoje, apesar de o país ter enormes reservas de terras-raras, um dos maiores gargalos da produção é a necessidade de novas tecnologias de separação desses elementos, porque as terras-raras apresentam propriedades químicas semelhantes, dificultando a sua produção em grande escala e com alta pureza.”


A pesquisa sobre marcadores ópticos conta com a colaboração do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE) e Paraíba (UFPB) e do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), além do apoio financeiro da Capes, CNPq e Fapesp.

“Nosso grupo desenvolve atualmente pesquisas em catálise de fuligem automotiva, fotocatálise para decomposição de antibióticos e poluentes em água, recuperação de terras-raras de lâmpadas e catalisadores exauridos, e polímeros inorgânicos para termômetros de faixa fisiológica”, relata o professor Osvaldo Antônio Serra, coordenador do Laboratório de Terras-raras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). “Nós usamos diversas terras-raras, como cério em catálise, európio e térbio para luminescência, neodímio e itérbio para termometria. Existem algumas empresas no Brasil que fazem mineração de terras-raras, em Minas Gerais e Goiás, mas a quantidade é pequena e os custos de produção são elevados, comparados aos da China. Além disso, há o problema ambiental, que surge na abertura do minério com ácidos e bases concentrados; alguns deles podem conter elementos radioativos, como tório e urânio, dificultando ainda mais a mineração.”

Recentemente, os pesquisadores da FFCLRP conseguiram desenvolver um método que emprega materiais luminescentes para detecção de resíduos de arma de fogo, em colaboração com o professor Marcelo Firmino de Oliveira, da área de Química Forense do Departamento de Química da FFCLRP. “Nosso grupo também trabalha há 15 anos com desenvolvimento de protetores solares à base de terras-raras, especificamente com cério. Temos uma patente licenciada e vários artigos científicos sobre o tema”, observa Serra. “Em novas colaborações com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), iniciamos os testes de toxicidade em pele. Espera-se que no futuro essa formulação possa estar nos protetores solares disponíveis no mercado.”

A emissão de luz por meio das terras-raras é também pesquisada pelo grupo do professor Euclydes Marega Junior, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. Os elementos mais estudados são o érbio, o itérbio e o túlio, que emitem luzes de cores distintas. “Muitas vezes, a presença das terras-raras no dia a dia nem é notada. Sabe qual é a semelhança entre um lampião de gás e uma lâmpada de LED?”, questiona o professor. “Eles não produzem luz branca, somente azul. No lampião, uma manta incandescente recebe a luz azul e a transforma em branca, na verdade uma junção de luzes das três cores básicas, azul, verde e vermelho, emitidas pelas terras-raras. A lâmpada de LED é recoberta por uma camada de óxido de cério, uma terra-rara, com a mesma função de emitir luz branca.”

Usando uma combinação de érbio, térbio e túlio, os pesquisadores do IFSC criaram um LED que produz luz branca. “Esse LED emite uma luz infravermelha, que não é visível. As terras-raras fazem parte de um mecanismo de conversão dentro do LED, elas absorvem o infravermelho e o transformam em uma luz visível. Cada material emite luz de uma cor básica diferente, e como estão juntos, formam a luz branca”.

Marega Júnior aponta que, sem terras-raras, seria impossível ter fontes de iluminação de baixo consumo. “Uma lâmpada de LED consome 90% menos energia que as lâmpadas incandescentes, isso demonstra a importância das terras-raras. O grande desafio do Brasil é purificar terras-raras em larga escala, mas não há uma política de incentivo à indústria, tudo é comprado pronto; se há um problema na importação, as fábricas param.”

Lasers, células solares, aço, catalisadores

Além dos ímãs, o neodímio é empregado na produção de dispositivos laser por permitir emissões de luz com maior qualidade e pureza de cor. “A maioria dos lasers emite um feixe de luz em apenas uma direção, mas hoje se estuda uma nova classe, a dos lasers aleatórios, em que a luz se propaga em várias direções, e que podem, por exemplo, aumentar o poder de iluminação de lâmpadas ou a eficiência de tratamentos de câncer, ao atingir vários pontos do tecido doente”, afirma o engenheiro Josivanir Gomes Câmara, que pesquisou materiais espalhadores de luz para lasers aleatórios na Poli. “O neodímio é misturado a um vidro feito com óxidos de telúrio e zinco, um material simples de fazer e de grande solubilidade, o que possibilita aumentar a quantidade de terras-raras na mistura, tornando o laser mais eficiente.”

As conclusões da pesquisa, apresentadas em tese de doutorado defendida na Poli em 16 de dezembro do ano passado, também estão reunidas em artigo publicado no Journal of Luminescence, no último mês de maio. Câmara pretende prosseguir os estudos aplicando a tecnologia em dispositivos de microeletrônica.

Elementos das terras-raras e seus espectros. Crédito: Wikimedia Commons

As propriedades de emissão de luz das terras-raras também são pesquisadas para aplicação em células solares, ou dispositivos fotovoltaicos, que convertem luz solar em energia elétrica, em um estudo realizado no Ipen, que atua na pós-graduação em parceria com a USP. “O objetivo é desenvolver e modificar materiais com luminescência persistente, isto é, onde ocorre emissão de minutos até horas após cessada a excitação da fonte de luz, com emissão visível, especificamente na região verde, análoga ao máximo de emissão do espectro solar, usando ainda a faixa ultravioleta (UV) para conversão de energia”, relata Leonardo Francisco, pesquisador responsável pelo trabalho. “O material usado é uma matriz de aluminato de estrôncio combinada com európio e disprósio, duas terras-raras. O európio emite luz na região do verde e aumenta a absorção de luz UV, ao mesmo tempo em que o disprósio atua como ‘armadilha’ para o armazenamento de energia no material, o que origina a luminescência persistente.”

De acordo com o pesquisador, o material já é fabricado em grande escala, porém é necessário produzi-lo em forma de nanopartículas, mais adequadas às dimensões das células solares. A pesquisa, descrita em dissertação de mestrado orientada por Maria Claudia França da Cunha Felinto, do Centro de Química e Meio Ambiente (CQMA) do Ipen, defendida em 1º de março, é relatada em artigo do Journal of Alloys and Compounds, publicado em 3 de junho. O estudo teve a colaboração do IQ, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da UFPE, além do apoio financeiro da Capes, CNPq, Fapesp e Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Também no Ipen, o uso de terras-raras foi testado em tratamentos superficiais de metais, comumente empregados na indústria para a proteção contra o desgaste, a corrosão e a oxidação. “Foram experimentados ítrio, lantânio, neodímio, samário e gadolínio, na forma de óxidos e nitratos, na boretação do aço, um processo que endurece a superfície do metal com a adição de boro, realizada em fornos a temperaturas entre 900 e 1000 graus Celsius (°C)”, diz o pesquisador Cesar Roberto Kiral Santaella, autor do trabalho, descrito em tese de doutorado defendida no Ipen em 16 de junho de 2020, orientada por Marina Fuser Pillis, do Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais (CCTM) do Ipen. “Misturados aos reagentes do processo, as terras-raras aceleraram a difusão do boro, resultando em um aumento da espessura das camadas superficiais formadas, o que abre a possibilidade para a redução do tempo de tratamento do metal e, consequentemente, do consumo de energia.”

A pesquisa teve a colaboração do CQMA, das Universidades Federais do Grande ABC (UFABC) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), e do Leibniz Institut, em Bremen (Alemanha).

Outra aplicação das terras-raras é em catalisadores automotivos, que filtram o carbono e o material particulado (fuligem) produzidos pelos veículos, reduzindo a emissão de poluentes. Na FFLCRP, um estudo do Laboratório de Terras-raras testou o uso de um filtro de material cerâmico (cordierita), já empregado em escapamentos, impregnado com um composto de terras-raras, o óxido de cério (ceria). “Os escapamentos de veículos movidos a diesel e biodiesel eliminam grande quantidade de fuligem, que gera diversos problemas à saúde do ser humano e tem sido alvo de medidas restritivas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para o ano de 2022”, diz Viviane de Carvalho Gomes, que realizou a pesquisa, com orientação do professor Osvaldo Antonio Serra. “As terras-raras promovem a combustão completa do material particulado sob temperatura inferior à da combustão da fuligem. Quando sozinho, o carbono elementar se decompõe a 600°C, e com a presença destes catalisadores esta temperatura caiu para 370°C.”

O trabalho, que teve a colaboração do IFSC, da UFPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Warwick University (Reino Unido), foi apresentado no 1° Congresso Fronteiras da Nanociência e Nanotecnologia: Avanços, realizado por jovens cientistas brasileiros no final de outubro. Atualmente, o grupo da FFCLRP está escrevendo artigo para futura publicação. Viviane comenta que para a técnica chegar ao mercado, é necessária a finalização dos testes em motores estacionários de sistemas a diesel e biodiesel, além da parceria com a iniciativa privada para a elaboração de testes em sistemas móveis a diesel, “isto é, veículos que circulam com os combustíveis”.
Revista Planeta

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A contribuição do campo


Irrigação com água tratada de esgoto diminui a retirada dos mananciais e economiza fertilizantes



Irrigação por aspersão: volume grande de gasto com água na agriculturaEsalq

Desde quando a crise hídrica se tornou mais grave, em meados do ano passado, tem se falado que dentre as atividades humanas a agricultura é a que mais consome água doce. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% do total disponível – que já não é muito, apenas 3% da água existente no planeta – usada para irrigação. No Brasil, esse índice chega a 72%. Só na cana-de-açúcar, uma das maiores culturas do país e da qual o estado de São Paulo é responsável pela metade da produção nacional, são necessários pelo menos 1.500 litros por metro quadrado de área cultivada por ano. Diante desse quadro e da maior seca dos anos recentes que os paulistas enfrentam, e mesmo antes de esse problema aparecer de forma mais dramática, pesquisadores das três universidades estaduais desenvolvem pesquisas em busca de alternativas. A mais promissora é o uso do esgoto doméstico tratado para irrigação. Chamada de água de reúso, essa opção aumenta a produtividade da cana e traz ganhos ambientais, porque deixa de ser jogada nos rios e em outros mananciais.

Um desses projetos é desenvolvido pela equipe do engenheiro agrônomo Edson Eiji Matsura, professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nosso objetivo principal era saber como poderíamos produzir cana-de-açúcar com ajuda da irrigação de forma sustentável, considerando os aspectos econômico, ambiental e social, porque toda a sociedade ganha com a diminuição do consumo de água”, explica. O resultado indicou que a redução da utilização de água em um plantio de cana experimental foi de 50%. “O principal desafio foi utilizar água de reúso proveniente de um tratamento do esgoto doméstico da nossa própria faculdade.”

Para fazer o experimento, a equipe da Unicamp armazena o esgoto da Feagri e faz três tipos de tratamento, o primeiro em reatores anaeróbicos (tanques fechados com bactérias), depois com plantas macrófitas aquáticas que possuem grandes sistemas de raízes que filtram o esgoto. Por último, o líquido passa por filtros de areia. Depois, a água residuária é transportada até a lavoura por meio de bombas e tubulações. Em seguida, ela é distribuída na plantação por tubos gotejadores, enterrados em profundidades de 20 centímetros (cm) ou 40 cm, técnica chamada de irrigação subsuperficial ou subterrânea. “É a forma mais segura de fazer a irrigação com esse material, porque evita a contaminação das pessoas e da própria planta acima do solo”, explica Matsura. “Além disso, também é a mais eficiente, porque não há perda por evaporação.”

Estação de tratamento de esgoto em Piracicaba. Quanto mais perto da lavoura, melhor o aproveitamentoEsalq

O experimento foi realizado com o plantio de cana numa área de meio hectare, equivalente a 5 mil metros quadrados (m2), no campo experimental da Feagri, que tem no total cerca de 10 hectares. A cultura da cana começa com um plantio, que é colhido 18 meses depois. Uma pequena parte da planta cortada é deixada na lavoura e brota. Desde então, já foram realizadas três colheitas. Numa boa plantação comercial pode haver até sete delas. Depois, a lavoura deve ser refeita, com novo plantio. Com irrigação de água residuária, Matsura espera chegar a 10.

O otimismo vem da eficiência da irrigação com esgoto doméstico testado em blocos na área de cultivo da Feagri, com nove tipos de tratamento: sem irrigação, irrigação com esgoto aplicado a 20 cm de profundidade com e sem fertirrigação, quando há acréscimo de adubos químicos à água residuária, esgoto a 40 cm com e sem fertirrigação, irrigação com água de reservatório superficial (lago ou rio) a 20 cm e água de reservatório a 40 cm. Para cada um foi avaliado, entre outros parâmetros, produtividade, desenvolvimento vegetativo, trocas gasosas, diagnóstico nutricional das folhas e dos colmos e fertilidade do solo na primeira e segunda colheitas”, explica Ivo Zuiton, orientando de Matsura, em sua tese de doutorado defendida na Feagri, no início de fevereiro.

Entre os principais resultados do projeto está a economia em fertilizantes. A concentração de nutrientes nos efluentes permitiu a redução de até 100% na necessidade do uso de nitrogênio e fósforo na segunda colheita, e mais de 50% para o fósforo, nitrogênio e potássio na primeira em comparação com os tratamentos irrigados com a água de reservatório. Quanto à produtividade, ela chegou a mais de 200 toneladas por hectare nas parcelas irrigadas com esgoto, o dobro das sem irrigação, apenas com a água da chuva.


Segundo Matsura, em todos os tratamentos irrigados a pegada hídrica, que é o volume total de água consumido direta e indiretamente no processo de produção de bens e serviços, foi inferior ao não irrigado. Isso acontece porque a irrigada gasta menos água proporcionalmente, já que produz mais cana. Assim, ao se dividir a produção pelo consumo de água, a pegada hídrica é menor na irrigada. No caso da irrigação com esgoto e fertirrigação, a redução chegou a mais de 50% em comparação com a área não irrigada. “A pegada hídrica da cana nos cultivos irrigados foi inferior à estimada nos cultivos não irrigados, com redução variando de 35,3 metros cúbicos (m³) a 23,1 m³ por tonelada para os tratamentos com esgoto e fertirrigação e águas de rios e lagos sem esse adicional de adubo”, diz Matsura. “Os resultados confirmam a proposição da irrigação por gotejamento subsuperficial em reduzir a pegada hídrica no cultivo de cana-de-açúcar.”

O trabalho de Matsura é uma continuidade de uma outra pesquisa coordenada pelo professor Adolpho José Melfi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba. Os pesquisadores liderados por Melfi também testaram, entre 2005 e 2010, o uso de esgoto doméstico tratado na irrigação de cana-de-açúcar (ver Pesquisa FAPESP nº 166). Um dos principais resultados obtidos foi um aumento de 60% na produtividade da cultura. “Além disso, demonstramos que é possível, dependendo do manejo da irrigação, proporcionar o fornecimento completo de nitrogênio, potássio e cálcio em atendimento à necessidade da cana”, conta Melfi. “A irrigação com efluentes tratados se mostrou uma prática viável para a agricultura, do ponto de vista econômico, com a redução do uso de fertilizantes minerais, e ambiental, ao propiciar uma melhor gestão dos recursos hídricos”, diz Célia Regina Montes, pesquisadora do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, que também participou do trabalho. “Outra vantagem é que em épocas de estiagem a cultura não sofreria com a falta de umidade, porque o esgoto é produzido continuamente e poderia ser utilizado.”


Matsura começou a trabalhar com água de reúso em 1999. “O objetivo era estudar a utilização de água residuária tratada por meio de leitos cultivados com plantas macrófitas e seu impacto sobre o sistema solo-planta, além da irrigação por aspersão, gotejamento superficial e subterrâneo. Depois de 12 anos, no entanto, percebi que pouco tínhamos evoluído em termos de uso e de legislação adequada no emprego desse material na agricultura.” A situação começou a mudar em 2010, quando ele recebeu um convite para conhecer o projeto coordenado pelo professor Melfi, em Piracicaba. “Nesse momento compreendi a possibilidade de retomarmos os estudos anteriores e ampliarmos os conhecimentos na área, principalmente em sistemas produtivos sustentáveis”, conta. “Além disso, com a cana-de-açúcar, podíamos explorar a tecnologia existente na produção de etanol, o que facilitaria o uso de esgoto tratado por não ser alimento.”

Em linha de pesquisa semelhante, mas com outra planta, o pesquisador Rogério Faria, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do campus de Jaboticabal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), estudou o uso dos efluentes domésticos com fertirrigação no cultivo da Brachiaria brizantha, uma gramínea perene originária da África que se adaptou ao Brasil e é usada na alimentação animal. “O aumento populacional concentrado em áreas urbanas incrementa significativamente a produção de esgoto”, diz Faria. “Devido ao custo elevado dos sistemas de tratamento da água, há necessidade de se promover o uso do esgoto.” Por isso, segundo ele, a utilização desse material para irrigação é uma alternativa cada vez mais atraente. A aplicação de águas residuárias por meio da fertirrigação supre as necessidades hídricas da cultura, irrigando e aplicando os resíduos com alta taxa de micro e macronutrientes. “No nosso trabalho, o efluente de esgoto tratado forneceu até 1.000 quilos por hectare (kg/ha) de nitrogênio e até 600 kg/ha de potássio por ano, além de outros nutrientes essenciais para a forrageira”, explica. Esse suprimento corresponde às quantidades de fertilizantes minerais que o agricultor pode economizar, diminuindo o custo de produção. Constatou-se também aumento da receita bruta da cultura, uma vez que a braquiária apresentou aumento de produção de forragem em cerca de 60%.

Na primeira colheita de um cultivo de cana irrigada com água de reúso, a necessidade de adubação foi, no mínimo, menor em 50% em fósforo, nitrogênio e potássioEduardo Ce sar

Irrigação com esgoto doméstico tratado não é a única forma de reduzir o consumo de água na agricultura brasileira, principalmente no setor sucroalcooleiro. É o que mostra um trabalho realizado pelos pesquisadores Fábio César da Silva, da Embrapa Informática Agropecuária, uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, de Campinas, e Alexei Barban do Patrocínio, da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo, de Piracicaba. Realizada em quatro usinas – três de São Paulo e uma do Paraná, – a pesquisa demonstrou que algumas tecnologias simples como a limpeza a seco da cana para a queima da palha nas caldeiras de alta pressão fazem o consumo de água diminuir entre 11% e 13%, em relação à lavagem úmida usual. “Outra medida, a substituição do spray (sistema de refrigeração por aspersão) pela torre de resfriamento reduziria as perdas de 5% a 8% para 1,5% a 3%, no total do balanço hídrico”, diz Silva.

Com essas ações, as quatro usinas em conjunto, que têm capacidade de processar 2.400 toneladas de cana por hora, poderiam economizar, em números absolutos, 32.895 m³ de água por dia. Segundo Silva, os critérios da certificação internacional das usinas estabelecem hoje que o consumo seja inferior a 20 litros por quilo de açúcar produzido e 30 litros por quilo de etanol. “Os valores obtidos no nosso trabalho demonstram que existe a possibilidade de se obter um consumo hídrico menor que 10 litros por quilo de açúcar”, diz. “Por isso, os resultados da pesquisa auxiliam no desenvolvimento de soluções sustentáveis para as produções de etanol e de açúcar.”

Além dos ganhos econômicos, esses estudos mostram os benefícios ambientais que as alternativas apontadas nos trabalhos podem trazer. Um deles é a preservação dos lagos, rios e outros reservatórios, além das águas subterrâneas, porque o esgoto usado na irrigação deixa de ser lançado nesses mananciais. “Isso significa utilizar essas fontes para usos mais nobres, como o consumo humano e animal, dado que essas águas estão ficando mais escassas.”

Apesar dos bons resultados obtidos experimentalmente até agora e das perspectivas que eles abrem, ainda há alguns obstáculos para a utilização em larga escala do esgoto doméstico tratado na irrigação – nenhum deles intransponível. Melfi lembra, por exemplo, que os efluentes podem conter em sua composição metais pesados, organismos patogênicos, alta quantidade de sódio e nitrogênio. “Tratando-se de esgotos domésticos, no entanto, os metais pesados não impedem sua utilização na irrigação, porque os teores, quando presentes, estão abaixo dos valores restritivos impostos pela legislação e pela Organização Mundial da Saúde [OMS]”, garante.

Em relação aos riscos com organismos patogênicos, Melfi diz que eles podem ser minimizados se forem escolhidas culturas para irrigação que sejam processadas industrialmente, como é o caso da cana-de-açúcar. Para outras culturas há a possibilidade de desinfetar o esgoto tratado antes de sua utilização na irrigação com cloro, por exemplo. “Quanto ao sódio, no nosso projeto verificamos que a alta concentração deste elemento, que pode causar efeitos negativos sobre as propriedades físicas do solo, foi naturalmente reversível após períodos de chuva”, conta. “Além disso, é possível, se necessário, escolher manejos para correção do solo com a aplicação do gesso agrícola. Com relação ao nitrogênio, adequar às lâminas de irrigação, ou seja, fornecer a quantidade exata exigida pela cultura, evita, principalmente, a lixiviação de nitrato para o lençol freático.”

Um obstáculo mais sério é a inexistência de uma legislação específica que regulamente o assunto. O que existe hoje é apenas a Resolução nº 375, de 29 de agosto de 2006, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que trata do lodo de esgoto doméstico, que é a parte sólida, subproduto do tratamento, além da Resolução 121/2010 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), que estabelece as diretrizes e os critérios para a prática de reúso direto de água não potável para as modalidades agrícola e florestal. “O Brasil tem pouca experiência com a utilização de efluentes em irrigação, por isso a legislação não é específica”, diz Faria. Ele acredita que esses estudos servem de base para a elaboração de uma legislação específica, assim como para a instalação de protótipos em cidades-teste.

“O protótipo seria testado em estações de tratamento de esgoto de cidades pequenas e médias, com até cerca de 500 mil habitantes, evitando o escoamento dessa água para os mananciais”, explica. “Em cidades médias e pequenas essa questão pode ser facilmente resolvida prevendo-se a incorporação de áreas para aplicação do efluente junto ao projeto das futuras estações de tratamento, uma vez que a área demandada é pequena.” Assim, numa cidade de cerca de 80 mil habitantes, como Jaboticabal, no interior paulista, o volume de efluentes gerado possibilitaria irrigar 240 a 320 hectares, enquanto para a vizinha Ribeirão Preto, de cerca de 600 mil habitantes, a área irrigada seria de 1.800 a 2.400 hectares.

Projetos
1. Uso de efluentes de esgotos tratados por processos biológicos (lagoas de estabilização e reatores Uasb/lodos ativados) em solos agrícolas (nº 2004/14315-4); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Adolpho José Melfi (USP); Investimento R$ 1.055.509,45 e US$ 227.031,64 (FAPESP).
2. Impacto da aplicação de esgoto tratado via gotejamento subsuperficial sobre a nutrição e fisiologia da cultura da cana-de-açúcar (nº 2012/03588-6); Modalidade Bolsa de Doutorado (Ivo Zution Gonçalves); Pesquisador responsável Edson Eiji Matsura (Unicamp); Investimento R$135.512,52 (FAPESP).
3. Aplicação de esgoto tratado em sistema de irrigação subsuperficial na cultura da cana-de-açúcar (nº 2011/07301-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável Edson Eiji Matsura (Unicamp); Investimento R$ 158.751,89 e US$ 65.387,10 (FAPESP).
4. Efeitos da aplicação de efluente de esgoto tratado, via fertirrigação, no solo e no cultivo de Brachiaria (nº 2012/12923-3); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável Rogerio Teixeira de Faria (Unesp); Investimento R$ 67.686,75 (FAPESP).
Revista Fapesp

Acidificação dos oceanos ameaça espécies que vivem em recifes de coral



Simulações em tanques artificiais sugerem que diminuição do pH da água do mar nas próximas décadas ameaça organismos da meiofauna

Rodrigo de Oliveira Andrade



Acidificação dos oceanos poderá causar impactos significativos, alguns ainda desconhecidos, em algumas espécies da meiofauna de recifes de coralProjeto Coral Vivo

Projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) estimam que o processo de acidificação dos oceanos deve se acelerar com o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que em parte é absorvida pelo mar. No melhor dos cenários, a queda no pH — indicador de acidez, neutralidade ou alcalinidade — será entre 0,06 e 0,07 até o ano de 2100. No pior, entre 0,30 e 0,32. Em um estudo publicado na revista Coral Reefs, um grupo de pesquisadores do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) analisou como comunidades de organismos da chamada meiofauna de recifes de coral responderão à acidificação dos oceanos. Por meio de simulações em tanques artificiais, eles verificaram que exemplares jovens de minúsculos crustáceos da ordem Harpacticoida tiveram alta mortalidade devido à diminuição induzida do pH da água.

A meiofauna é composta por animais que vivem em estreitos e úmidos labirintos entre os grãos da areia e entre as algas das praias do litoral do Brasil. Nesse ambiente aparentemente inabitado, esses organismos, em geral com menos que 1 milímetro, desempenham um papel importante no ciclo de nutrientes e no fluxo de energia nos ecossistemas aquáticos, contribuindo com a transformação de matéria orgânica decomposta em nutrientes que ficam disponíveis para outros animais.

No estudo, os pesquisadores da UFPE usaram uma estrutura que busca reproduzir as condições naturais em aquários. Neste sistema, chamado mesocosmo marinho, eles coletaram a água do mar por um tubo subterrâneo com cerca de 500 metros de comprimento e a depositaram em tanques que buscam reproduzir a dinâmica da vida marinha. Cada tanque conta com um sensor de temperatura e recebe uma quantidade de CO2, ajustada de acordo com cada experimento. Para este estudo, os pesquisadores analisaram 20.371 organismos da meiofauna, todos coletados nos recifes de coral do Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, em Porto Seguro, Bahia.

Os organismos — entre eles crustáceos, poliquetas, tardigrádos e moluscos — foram distribuídos pelos tanques e expostos à acidificação por até 30 dias. A água do mar usada, com pH em torno de 8,1, teve o pH diminuído em 0.3, 0.6 e 0.9 unidades por meio de injeção controlada de CO2. Como o ciclo de vida desses animais é curto, foi possível observar os efeitos da acidificação também nos descendentes produzidos durante o experimento. Apesar de os adultos de algumas espécies de poliquetas e crustáceos não sofrerem fortes impactos, os jovens dos copépodes da ordem Harpacticoida tiveram alta mortalidade.

“Considerando a importância da meiofauna na cadeia alimentar nos ecossistemas de recifes de corais, os resultados sugerem que a acidificação dos oceanos poderá causar impactos significativos — alguns ainda desconhecidos — em algumas espécies da meiofauna”, diz a bióloga Visnu Sarmento, pesquisadora da UFPE e uma das autoras do artigo. “Organismos adultos parecem conseguir lidar mais facilmente com a acidificação. No futuro, porém, poderá ocorrer uma mudança na dinâmica dessas populações porque a fisiologia dos indivíduos mais jovens é muito mais sensível”, diz a bióloga, que também é membro da Rede de Pesquisas Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Segundo estimativas do IPCC, as últimas três décadas foram as mais quentes desde 1850. As concentrações atmosféricas de CO2 aumentaram em 40% desde os tempos pré-industriais, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra. Os oceanos absorveram cerca de 30% desse gás que, em contato com a água, desencadeia uma série de reações químicas que levam a diminuição do pH da água do mar, processo que é popularmente conhecido como acidificação dos oceanos.

Artigo científico
SARMENTO, V. C. et al. Effects of seawater acidification on a coral reef meiofauna community. Coral Reefs. v. 34, n. 3, p. 955-66. set. 2015.
Revista Fapesp

Mais desmatamento, menos chuva e menor produção agrícola


Em 20 anos, precipitação caiu à metade em áreas que perderam 60% da vegetação nativa, com prejuízo anual estimado em R$ 5,7 bilhões
Área desmatada de Rondonópolis, leste do estado de Mato Grosso, preparada para o plantio de soja: perda de vegetação nativa reduz a quantidade de chuva e a produtividade agrícola

James Martins

Aquantidade anual de chuva caiu à metade ao longo dos últimos 20 anos em regiões de Rondônia, norte de Mato Grosso e sul do Pará onde a agropecuária ocupou até 60% de áreas antes florestadas, de acordo com análises da equipe do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Publicado em 10 de maio na revista científica Nature Communications, esse trabalho indicou que as áreas mais atingidas pela redução da precipitação são grandes produtoras de soja.

“Financeiramente não compensa desmatar para produzir, porque em poucos anos a perda causada com a redução de chuvas será maior que o ganho de produção decorrente do aumento da área plantada”, conclui o engenheiro florestal Argemiro Teixeira Leite-Filho, da UFMG, principal autor do trabalho. “O desmatamento de um ano faz a produtividade cair já no ano seguinte.”

Causada pelo aumento do albedo (capacidade de refletir a luz solar) e pela queda na umidade liberada pela vegetação nas áreas desmatadas em comparação com a das florestas, a redução de chuva pode causar uma perda de produtividade estimada em US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) por ano na produção de soja e carne na região amazônica, de acordo com esse estudo.

“Neste ano ainda está chovendo bastante no sul da Amazônia, por causa do La Niña [esfriamento das águas da região equatorial do oceano Pacífico], mas em anos de El Niño [aquecimento do Pacífico equatorial] a diminuição da chuva pode intensificar a seca”, diz Leite-Filho.

As análises da equipe da UFMG, coordenadas pelo geólogo Britaldo Soares-Filho, se apoiaram em informações do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Brasileira por Satélite (Prodes) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, de 1999 a 2019.

Os pesquisadores avaliaram a perda de vegetação nativa e a redução da precipitação em células de 28, 56, 112 e 224 quilômetros quadrados (km2) em uma área total de 1,9 milhão de km2, do sul da região amazônica, do Acre ao Tocantins (ver mapa). O trabalho contou com apoio do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (CNPq), Banco Mundial e Fundação de Pesquisa da Alemanha (DFG).

“A ciência já alerta para a possibilidade há mais de 10 anos, mas esse trabalho é o primeiro a quantificar o prejuízo econômico decorrente da diminuição da chuva”, diz o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), que não participou do estudo. Especialista na pesquisa sobre aerossóis e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), ele foi um dos autores do trabalho que em 2016 mostrou como partículas de aerossóis influenciam a formação e o desenvolvimento de nuvens na Amazônia.

De imediato, em escala local, o desmatamento pode aumentar a quantidade de chuva, de acordo com um estudo publicado em junho de 2003 na Remote Sensing of Environment. “As áreas desmatadas ficam mais quentes, o albedo muda e surgem circulações de correntes de ar que favorecem o aumento da chuva”, diz um dos autores do trabalho, o meteorologista Luiz Augusto Machado, filiado ao Instituto Max Planck da Alemanha e ao IF-USP, após se aposentar no Inpe.

Esse efeito desaparece, porém, quando a área sem vegetação nativa se amplia. “Quando o desmatamento alcança grandes proporções, com a perda da vegetação nativa em centenas de hectares, o efeito da circulação atmosférica local torna-se muito limitado e ocorre claramente uma redução da precipitação”, acrescenta Machado. Ele alerta: “O prejuízo é muito maior se considerarmos que o desmatamento na Amazônia reduz drasticamente a chuva nas regiões Sul e Sudeste”.

Estação chuvosa mais curta
Leite-Filho observou outro efeito do desmatamento: o adiamento do início e o encurtamento em cerca de 30 dias da estação chuvosa no sul da Amazônia, de acordo com um trabalho que publicou em setembro de 2019 na International Journal of Climatology. As chuvas, que nessa região normalmente começam em setembro e seguem até abril, indicam o que e quando plantar.

Em dezembro de 2020, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que as chuvas irregulares e em uma quantidade 50% menor que a média desde agosto já haviam causado uma perda de 7,3 milhões de toneladas de grãos, principalmente soja, milho e arroz, em todo o país na safra 2020/21.

“O desmatamento também tem aumentado a frequência e a duração dos veranicos”, diz o pesquisador. Veranicos são períodos secos em meio à estação chuvosa que prejudicam o desenvolvimento das culturas agrícolas.

Artaxo ressalta: “Se o desenvolvimento brasileiro depender da venda de carne, soja e outras commodities agrícolas a serem produzidas no Brasil Central, é melhor preservar a Amazônia para continuar a ter chuva abundante na região”.

Artigos científicos
LEITE-FILHO, A. T. et al. Deforestation reduces rainfall and agricultural revenues in the Brazilian Amazon. Nature Communications. v. 12, 2591, p. 1-7. 10 mai. 2021.
DURIEX, L. et al. The impact of deforestation on cloud cover over the Amazon arc of deforestation. Remote Sensing of Environment. v. 86, n. 1, p. 132-40. 30 jun. 2003.
LEITE-FILHO, A. T. et al. The southern Amazon rainy season: the role of deforestation and its interactions with large scale mechanisms. International Journal of Climatology. v. 40, n. 4, p. 2320-41. 30 set. 2019.
Revista Fapesp

Sob a força dos Andes


Mapa expõe uma visão abrangente do relevo da América do Sul, agora dividido em 35 unidades
Aconcágua, a montanha mais alta do continente, na Argentina: cordilheira pressiona as estruturas rochosas a leste

Jorge Díaz

“São dunas!”, admirou-se o geógrafo Jurandyr Ross, professor da Universidade de São Paulo, diante das elevações de solo arenoso ocupadas por raros tufos de plantas espinhosas, ovelhas e lhamas, próximas às chapadas conhecidas como mesetas do deserto da Patagônia, no sudoeste da Argentina, logo depois do Natal de 2015. Sob sol intenso, em uma viagem de 16 dias e 9 mil quilômetros, Ross e outros geógrafos tiravam as dúvidas finais sobre as imagens de radar e satélite usadas para preparar o mapa de relevo da América do Sul em que ele e sua equipe trabalharam ao longo do ano. Publicado como parte de um artigo na edição de agosto de 2016 da Revista Brasileira de Geografia, o novo mapa substitui o anterior, bastante simples, da década de 1940, e destaca em 35 unidades distintas as particularidades dos três grandes blocos formadores do continente: a Cordilheira dos Andes a oeste, a grande planície central adjacente às montanhas e os planaltos de baixa altitude que formam a quase totalidade do território brasileiro. As divisões, algumas com centenas de quilômetros quadrados, oferecem uma visão integrada do continente e refletem a vinculação do relevo brasileiro com a cordilheira andina.

“Embora as estruturas que sustentam o relevo brasileiro sejam muito antigas, as formas atuais resultam de fortes influências da atividade tectônica dos Andes, que é geologicamente bem mais recente”, diz Ross. O soerguimento da cordilheira, como resultado da pressão de placas tectônicas sobre o assoalho marinho, determinou a mudança da direção – de oeste para leste – do rio Amazonas e de outros da Bacia Amazônica. Além disso, segundo o pesquisador, as serras do Mar e da Mantiqueira, ao longo do litoral, e o Vale do Paraíba, na região de Taubaté, formaram-se como resultado da pressão e do enrugamento da cordilheira sobre a estrutura rochosa a leste.



“Hoje vivemos uma época de calmaria tectônica, mas a reconfiguração do relevo já foi muito mais intensa, em decorrência dos Andes”, diz o geógrafo Silvio Rodrigues, professor da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais. Segundo ele, os Andes ainda influenciam o continente porque estão sobre duas placas tectônicas ativas, a de Nazca e a Sul-americana, que geram energia, por meio de processos tectônicos, que pode chegar ao litoral do Atlântico. “Como o relevo brasileiro já é bastante conhecido, o que mais interessa neste mapa é a análise dos Andes e da depressão central, entre os Andes e o território brasileiro.”


Depois de fazer o mapa do relevo brasileiro na escala 1:5 milhões (de 1 para 5 milhões; 1 centímetro no mapa equivale a 50 quilômetros), publicado em 1996 no livro Geografia do Brasil (Edusp), e o do relevo do estado de São Paulo na escala 1:500.000, dois anos depois (ver Pesquisa Fapesp no 35), Ross resolveu fazer uma síntese do relevo da América do Sul porque não encontrava nenhum mapa atualizado para usar em suas aulas. O único que achou, já com seu trabalho avançado, era de 1942, feito pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos. Ele usou principalmente as imagens de radar do satélite Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, complementadas pelas do Google Earth, pelo mapa geológico da América do Sul produzido pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), empresa pública do Ministério de Minas e Energia, e por trabalhos acadêmicos.

Na escala de 1:8 milhões, o novo mapa pode ser útil no planejamento ambiental e econômico. “O relevo, os solos e o clima condicionam a ocupação humana e o agronegócio”, diz Ross, associando os terrenos planos de Mato Grosso ao cultivo de soja e de cana-de-açúcar, e os vales do Chile, em meio às montanhas, com a produção de frutas. As formas do relevo, ele observa, expressam tanto as forças internas da Terra, como os movimentos do magma, quanto as externas, como a erosão e as intempéries.

O mapa delimita as unidades dos três blocos fundamentais do continente com base em diferenças da constituição geológica, solos e formas de relevo.


O bloco a leste reúne planaltos de baixa altitude, com as bacias dos principais rios brasileiros, delimitadas pelas áreas em azul no mapa, as depressões em laranja, as serras litorâneas em vermelho. É a parte mais antiga do continente, com mais de 1 bilhão de anos, formada na era geológica conhecida como pré-Cambriano.

Esse bloco fazia parte, com as atuais África e Índia, do supercontinente Gondwana, que começou a se fragmentar cerca de 150 milhões de anos atrás, no período Jurássico, marcado também pela abertura do Atlântico Sul. O cráton amazônico, a norte e sul das planícies do rio Amazonas, forma as estruturas rochosas mais antigas do continente, com cerca de 2,5 bilhões de anos. Em vermelho, os morros e serras representam os resquícios já bastante erodidos de cordilheiras mais antigas que os Andes. “Quando se formaram, entre 550 milhões e 1,5 bilhão de anos, eram tão altas quanto os Andes”, diz Ross.

A oeste encontra-se a Cordilheira dos Andes, bloco geologicamente mais recente do que a porção leste. Ross destacou o trecho mais antigo e mais alto, a Cordilheira Oriental, com cerca de 100 milhões de anos de idade e altitudes de 4 mil metros, na Bolívia e na Argentina.

A Montanha Mais Jovem
A cadeia montanhosa predominante, estendendo-se de norte a sul do continente, com altitudes de 1.500 a 2.600 metros, é a Cordilheira Ocidental, formada em duas fases, uma há cerca de 85 milhões de anos e outra há 40 milhões de anos. A Cordilheira Costeira é ainda mais recente, do final do período Cenozoico, entre 1,7 milhão e 23 milhões de anos. Entre as montanhas há vales ocupados por cidades como Santiago, a 800 metros de altitude, e o deserto de Atacama, que Ross visitou em novembro, em outra viagem de checagem de campo, impressionando-se com a película branca de sal sobre o solo árido vermelho.

Entre as montanhas e os planaltos baixos do Brasil estende-se a Depressão Central Sul-americana, formada por planícies com trechos alagáveis como as dos rios Orenoco na Venezuela, do Mamoré-Beni na Bolívia e do Paraguai no Brasil, Paraguai e Argentina. A idade média da superfície dessa área (em amarelo no mapa) varia de 10 mil a 3 milhões de anos, com altitude máxima de 200 metros na região entre o Paraguai e a Bolívia. “Toda essa área muito baixa, com colinas de topo plano, vales levemente entalhados, planícies e pantanais chamadas de chaco, era um grande mar, há milhões de anos, antes de os Andes emergirem”, diz Ross.

A geógrafa Isabel Cristina Gouveia, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Presidente Prudente, comenta que dois grandes geógrafos brasileiros do século passado, Aziz Ab’Saber e Fernando de Almeida, contribuíram bastante para o conhecimento sobre o território nacional mesmo sem imagens de satélites, hoje de fácil acesso. “Curiosamente”, diz ela, “mesmo com imagens de alta resolução e recursos de Sistemas de Informação Geográfica, ainda são poucos os estudos que valorizam o mapeamento geomorfológico como método de análise e sistematização do conhecimento sobre o relevo”.

Artigo científico
ROSS, J. L. S. Compartimentação do relevo da América do Sul. Revista Brasileira de Geografia. v. 61, n. 1, p.21-58, 2016.
Revista Fapesp

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Simulado 2 Geografia Hoje - SEDUC-RJ 2021



Professor de Geografia

Professor Eduardo Marculino

1 A charge e o trecho do Jornal O Globo denunciam o aumento do desmatamento na Amazônia.


Áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia batem recorde em janeiro, aponta Inpe

O total de áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia bateu recorde em janeiro de 2020. De acordo com os dados do Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter-B), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram emitidos alertas para 284,27 km² de floresta – maior índice para o mês desde que começou a série histórica, em 2016.

Se comparado com os dados de janeiro de 2019, quando os alertas somaram 136,21 km², houve um aumento de 108%. O número mantém a tendência já verificada de aumento no desmate: no ano passado, os alertas subiram 85% na comparação com 2018.

https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/02/07/alertas-de-desmatamento-na-amazonia-batem-recorde-para-janeiro-em-2020-aponta-inpe.ghtml

Sobre as consequências do desmatamento na Amazônia, assinale a alternativa incorreta:

A) Aumento do Assoreamentos dos rios

B) Redução da biodiversidade

C) Maior permeabilização do solo

D) Compactação do solo

2. A Revolução Técnico-científico-informacional ou Terceira Revolução Industrial entrou em vigor na segunda metade do século XX, principalmente a partir da década de 1970, quando houve uma série de descobertas e evoluções no campo tecnológico. Das evoluções tecnológicas em questão, podemos apontar o surgimento:

A) dos motores a combustão.

B) da máquina a vapor.

C) da informática, robótica e a microeletrônica.

D) das máquinas movidas à eletricidade

3. As imagens abaixo representam a ideia de movimentação da crosta terrestre que foi responsável pela separação dos continentes, segundo uma teoria elaborada no início do século XX.


Aponte a alternativa, que corretamente apresenta o nome da teoria e seu respectivo autor.

A) Teoria da Tectônica das Placas/ Alfred Wegener.

B) Teoria da Deriva Continental/ Alfred Wegener.

C) Teoria da Deriva Continental/ Jason Morgan.

D) Teoria da Tectônica das Placas/ Arno Peters.

4. Analise os conceitos abaixo.

I - Áreas extensas planas em que há mais sedimentação que erosão. Áreas chatas e mais baixas, geralmente, no nível do mar. Porém, podem ficar em terras altas, como as várzeas de um rio num planalto.

II - Áreas situadas abaixo do nível do mar ou das outras superfícies planas.

III - Terras mais altas que o nível do mar, razoavelmente planas delimitadas por escarpas íngremes. Há mais erosão que sedimentação.

Assinale abaixo, a alternativa que apresenta as unidades de relevo corretas, conforme os conceitos dos números I, II e III, respectivamente.

A) Planície, Depressão e Planalto.

B) Planalto, Depressão e Planície.

C) Planície, Depressão e Montanha.

D) Depressão, Planície e Planalto

5. A destruição da camada de Ozônio é um dos graves impactos ambientais causados pela sociedade industrial moderna. O uso do gás CFC (clorofluorcarbono) é responsável por reduzir o Ozônio, localizado na estratosfera; a redução do referido gás pode trazer graves danos à manutenção da vida na Terra. Diante do problema em questão, um documento com adesão de cerca de 150 países entrou em vigor na década de 1990, com o objetivo de reduzir o uso do gás CFC, e assim reduzir as agressões à camada de Ozônio, que segundo cientistas da ONU, a suspensão do uso do CFC fará com que o buraco formado possa ser naturalmente reconstituído até o final do século XXI.


O documento em questão é chamado de:

A) Protocolo de Montreal.

B) Protocolo de Kyoto .

C) Tratado de Roma.

D) Tratado de Maastrich.

6. A inversão térmica é um fenômeno atmosférico muito comum nos grandes centros urbanos industrializados, sobretudo naqueles localizados em áreas cercadas por serras ou montanhas. Esse processo ocorre quando o ar frio (mais denso) é impedido de circular por uma camada de ar quente (menos denso), provocando uma alteração na temperatura. Outro agravante da inversão térmica é que a camada de ar fria fica retida nas regiões próximas à superfície terrestre com uma grande concentração de poluentes. Sendo assim, a dispersão desses poluentes fica extremamente prejudicada, formando uma camada de cor cinza, oriunda dos gases emitidos pelas indústrias, automóveis, etc. Esse fenômeno se intensifica durante o inverno, pois nessa época do ano, em virtude da perda de calor, o ar próximo à superfície fica mais frio que o da camada superior, influenciando diretamente na sua movimentação. O índice pluviométrico (chuvas) também é menor durante o inverno, fato que dificulta a dispersão dos gases poluentes.


Podemos apontar que, as principais consequências desse fenômeno são:

A) deslizamentos de terras, principalmente em áreas de morros ocupados.

B) enchentes e contaminação dos mananciais.

C) doenças respiratórias, irritação nos olhos e intoxicações.

D) aumento da temperatura em regiões centrais de grandes cidades

7. O mapa abaixo mostra a presença de Hotspots, presentes em todos os continentes, exceto a Antártida.

O termo Hotspot foi criado na década de 1980, e tem por objetivo apontar:


A) os locais do planeta com grande biodiversidade, mas com grande ameaça de extinção. Para ser considerado um hotspot, a região tem que possuir mais de 1500 espécies endêmicas e mais de 75% da vegetação destruída.

B) os pontos de mais elevadas temperaturas do mundo, como, por exemplo, os desertos quentes.

C) as áreas onde existem as maiores quantidades anuais de erupções vulcânicas no planeta.

D) os pontos onde existem no planeta grandes explorações de petróleo, onde o risco de vazamentos no mar é muito grande.

8. A projeção cartográfica abaixo, mostra uma deformação típica para apontar uma variável a ser analisada em relação a países, continentes, e até mesmo o mundo. A variável em questão mostra a superioridade tecnológica e econômica dos países destacados em relação ao resto do planeta.


Esse tipo de projeção é denominado:

A) Anamorfose.

B) Descontínua.

C) Afilática.

D) Plana.

9. . O Determinismo Geográfico é um conceito sobre as influências que as condições naturais exerceriam sobre a humanidade, sustentando a tese de que o meio natural seria uma entidade definidora da fisiologia e da psicologia humanas, ou seja, o homem seria muito marcado pela natureza que o cerca. O geógrafo responsável por defender tal conceito foi:

A) Heródoto.

B) Paul Vidal de La Blache.

C) Friedrich Ratzel.

D) René Descartes.

10. A Terra é conhecida como um “radiador” de corpo frio que emite energia em comprimentos de onda longos de sua superfície e atmosfera em direção ao espaço. No entanto, parte dessa radiação em ondas longas é absorvida por dióxido de carbono, vapor d’agua, metano, óxido nitroso, entre outros, e posteriormente é emitida de volta para a Terra.

Esse processo é denominado de Efeito:

A) Smog.

B) Coriolis.

C) Estufa.

D) Radioativo.

11. A partir da distribuição geográfica dos principais desertos do planeta, afirma-se que eles:

I- Apresentam biodiversidade fitogeográfica reduzida.

II- São influenciados diretamente pelos efeitos da longitude.

III- Caracterizam-se por apresentarem baixas amplitudes térmicas.

IV-Estão associados à dinâmica de circulação atmosférica.

Estão corretas apenas as afirmativas

A) I e III

B) I e IV.

C) II e III.

D) II e IV

12. Acordei quando ainda estava escuro. De pura excitação. Também porque o avião chegava às seis da manhã, e aeroporto, como se sabe, é sempre longe [...]

Ao chegar ao aeroporto, olhei para o alto do saguão e decifrei um daqueles painéis farfalhantes, com os números, os horários e as procedências dos voos. O avião vindo de Paris estava atrasado uma hora.

LACERDA, Rodrigo. O Fazedor de Velhos. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 135.

Considerando que a duração do voo Paris-São Paulo é de 11 horas e que a viagem atrasou na decolagem, quando o avião partiu de Paris, em São Paulo, eram

A) 18 horas.

B) 19 horas.

C) 20 horas.

D) 21 horas.

13. Analise as pirâmides etárias do Brasil (2012 e 2018).


As mudanças apresentadas entre as pirâmides etárias de 2012 e de 2018 demonstram uma redução do(a)

A) saldo migratório.

B) rendimento médio.

C) expectativa de vida.

D) taxa de natalidade.

14. Observe o mapa da África.


A elaboração desse mapa teve como objetivo representar a

A) diversidade da composição étnica do continente.

B) variedade de biomas encontrados no espaço africano.

C) pluralidade de tipos climáticos existentes no território.

D) multiplicidade de conflitos apaziguados pelos colonizadores.

15. Observe a fotografia aérea da cidade de Oyster Bay, na África do Sul.


Essa foto refere-se ao fenômeno urbano, comum nos países em desenvolvimento, denominado

A) conurbação.

B) segregação espacial.

C) verticalização do solo.

D) metropolização regional.

16. O cartograma a seguir apresenta uma das maiores reservas de água do Brasil, englobando os estados do Pará e do Amazonas.


Essa reserva é denominada de:

A) Aquífero Guarani.

B) Bacia do Tocantins.

C) Aquífero Alter do Chão.

D) Bacia do Madeira.

17. O mapa a seguir apresenta, em destaque, o país africano que sofreu intenso conflito na última década do século XX.


A principal característica do conflito foi:

A) genocídio dos tutsis promovido por hutus.

B) invasão do Burundi para ter acesso à água.

C) divisão territorial entre mulçumanos e cristãos.

D) controle das jazidas de ouro por etnias de Uganda.

18. Embora aí seja verão, pode haver noites frias no navio. Aqui na floresta, como é de seu conhecimento, faz calor o ano inteiro. E chove muito. Por isso, traga também a gabardine. O guarda-chuva o senhor pode deixar em casa, pois os tenho aos montes. Não preciso dizer-lhe que aqui não se usam as mesmas roupas que aí.

STIGGER, Veronica. Opisanie Świata. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 10.

O clima da região na qual se encontra o narrador do texto acima é o

A) Tropical.

B) Semiárido.

C) Equatorial.

D) Subtropical.

19. No Nordeste brasileiro, vários grupos de trabalhadores se dirigem para o Sudeste, em busca de trabalho no corte de cana para as usinas de açúcar e álcool, quando chegam no interior do Estado de São Paulo estes trabalhadores se alojam em galpões, onde moram por aproximadamente 4 meses , pois quando termina a colheita da cana eles retornam a sua terra natal.

Esse movimento migratório é conhecido como

A) Pendular.

B) diário.

C) transumância.

D) êxodo rural.

20. O mapa a seguir mostra a área de produção de um mineral energético muito importante na Região Sul.


Assinale a alternativa que indica o mineral representado no mapa

A) petróleo.

B) gás natural.

C) carvão mineral.

D) urânio.

Gabarito simulado 2 1C 2C 3B 4A 5A 6C 7A 8A 9C 10C 11B 12C 13D 14A 15B 16C 17A 18C 19C 20C

Geografia e a Arte

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