quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O mundo mais urbanizado e as cidades virando saunas





O mundo mais urbanizado e as cidades virando saunas, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


“Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos pessoas e mais difíceis e, em última instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas”
David Attenborough

[EcoDebate] O mundo está ficando cada vez mais urbanizado, tanto em termos absolutos, quanto em termos relativos. A população urbana era de 750 milhões de habitantes em 1950, representando 29,6% da população total. Em 2008, a população urbana global chegou a 3,4 bilhões de habitantes, representando 50% da população total. A partir desta data o mundo passou a ter maioria da população vivendo em cidades.

Em 2020, a população urbana chegou a 4,4 bilhões de pessoas (56,2% da população total). Em 2050, deve haver 6,7 bilhões de habitantes urbanas, representando mais de dois terços (68,4%) do total populacional, conforme mostra o gráfico abaixo da Divisão de População da ONU.


A urbanização tem sido o principal vetor da transformação socioeconômica e demográfica do Planeta e do processo de modernização. Nos últimos 2 séculos, as cidades lideraram as inovações econômicas, tecnológicas, científicas e culturais que reconfiguraram as estruturas familiares, a organização social e as relações de trabalho, possibilitando avanços sem precedentes nos direitos de cidadania de parcelas cada vez mais amplas da população.

O processo de urbanização já trouxe muitos ganhos históricos, mas poderá trazer vantagens ainda maiores nas próximas décadas. As transições urbana e demográfica são dois fenômenos fundamentais da modernidade e acontecem de forma sincrônica. como mostraram Martine, Alves e Cavenaghi (2013).

Também de forma sincrônica ocorrem o processo de modernização e de aquecimento global. Entre 1770 e 2020, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. Mas todo o crescimento e enriquecimento humano ocorreu às custas do desequilíbrio climático que prevaleceu no Holoceno (últimos 12 mil anos).

Em função do crescimento das atividades antrópicas, as emissões globais de CO2 que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2019. A concentração de CO2 na atmosfera que permaneceu abaixo de 280 partes por milhão (ppm) durante todo o Holoceno, subiu rapidamente após a Revolução Industrial e Energética. A concentração de CO2 chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 317 ppm em março de 1960 e pulou para 417 ppm em maio de 2020. Em consequência do efeito estufa, as temperaturas do Planeta estão subindo e acelerando as mudanças climáticas e seus efeitos danosos sobre a vida na Terra.
Indubitavelmente, o mundo vai ter um grande crescimento urbano até 2050 e também terá um aumento do aquecimento global. Mas a questão que se coloca é a seguinte: é melhor enfrentar os desafios do crescimento populacional na cidade ou no campo?

Existem muitas pessoas saudosistas que falam em desurbanização ou até mesmo “desmigração”. Alguns sonham com uma volta ao rural e com uma casa no campo, de preferência de “pau-a-pique e sapê, com carneiros e cabras pastando solenes no jardim”, como na música de Zé Rodrix. Mas o próprio mundo rural atualmente é bastante diferente do que foi no passado e a urbanidade já avançou para além das cercas que dividem o campo da cidade.

Diversos estudos mostram que os indicadores sociais e econômicos melhoram com o aumento da urbanização. Os países mais urbanizados tendem a ter maior renda, maior nível educacional, menor mortalidade infantil, maior esperança de vida, maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), menores níveis de violência, menor proporção de pessoas passando fome, menor mortalidade materna, menor desigualdade de gênero, etc. Em geral, a concentração urbana permite ganhos de escala e ganhos do efeito de aglomeração, ao contrário da dispersão rural ou das pequenas cidades.

David Owen, no livro Green Metropolis, mostra que os impactos ambientais (emissões, resíduos, ou consumo de terra per capita) é menor nas cidades densas do que nas cidades espraiadas ou nos países com população rural dispersa. Ele mostra que Nova Iorque, especialmente Manhattan, é muito mais eficiente no uso da energia e tem menor pegada ecológica per capita do que cidades como Washington ou Los Angeles. Por exemplo, a verticalização das moradias e escritórios torna mais eficiente o transporte coletivo, pois seria impossível manter metrôs e trens de alta velocidade em áreas rurais ou mesmo em áreas suburbanas de baixa densidade populacional. O fato é que a urbanização é uma tendência que veio para ficar e vai se expandir nas próximas décadas.

No artigo “Global multi-model projections of local urban climates” de Lei Zhao et. al., publicado na revista Nature Climate Change, em 04/01/2021, os autores usam uma nova técnica de modelagem para estimar que, no ano 2100, as cidades do mundo podem chegar a um aquecimento de 4,4º Celsius em média. Isto, deixaria muito para trás as metas do Acordo de Paris. Em geral, os modelos climáticos globais tendem a desprezar as áreas urbanas, pois estas representam apenas 3% da superfície terrestre do planeta. As cidades são apenas um pontinho do território global. Contudo, o artigo sugere que cidades mais quentes podem ser catastróficas para a saúde pública urbana, que já sofre os efeitos do aumento do calor. Entre 2000 e 2016, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o número de pessoas expostas a ondas de calor saltou 125 milhões e o calor extremo ceifou mais de 166.000 vidas entre 1998 e 2017. Assim, o crescimento das cidades e o aumento do aquecimento global – provocando ilhas de calor nas cidades – podendo gerar uma situação de “cidades saunas”, tornando inabitáveis muitas megacidades do mundo, principalmente nas áreas tropicais. Milhões de pessoas, especialmente idosos e crianças, podem ser vítimas das ondas letais de calor.
Para conter o aquecimento global é preciso haver um decrescimento demoeconômico. Voltar para o meio rural não resolve o problema.

A solução é manter a taxa de urbanização em elevação, mas reduzir o tamanho das cidades por meio da redução demográfica. Assim, o mundo poderia ter maior proporção de habitantes nas cidades, mas as cidades seriam menores em função de um menor número de pessoas em decorrência da transição demográfica e da permanência de taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição.

Artigo de Jim Robbins (BBC Future/Yale e360, 23 novembro 2020) mostra a natureza está passando por um processo de extinção em massa à medida que habitats naturais são alterados pela atividade humana. À medida que o ser humano continua a expandir rapidamente seu domínio sobre a natureza — desmatando e incendiando florestas, exterminando espécies e interrompendo funções do ecossistema — um número cada vez maior de cientistas e conservacionistas influentes acredita que proteger metade do Planeta de alguma forma será a solução para mantê-lo habitável. A ideia ganhou notoriedade pela primeira vez em 2016, quando Edward O. Wilson, o importante biólogo conservacionista, publicou a sugestão no livro “Da Terra Metade: O nosso planeta luta pela vida”.

Desta forma, a melhor maneira de lutar contra o aquecimento global é concentrar a população global nas cidades, mas em cidades menores, com mais áreas verdes, com agricultura urbana e com uma economia sustentável, aumento das áreas anecúmenas e com regeneração ecológica do mundo.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:
ALVES, JED. A urbanização e o crescimento das megacidades, Ecodebate, 22/04/2015

George Martine, Jose Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi. Urbanization and fertility decline: Cashing in on Structural Change, IIED Working Paper. IIED, London, December 2013. ISBN 978-1-84369-995-8 https://pubs.iied.org/10653IIED/

Lei Zhao et. al. Global multi-model projections of local urban climates. Nature Climate Change, 04 January 2021

JIM ROBBINS. O plano para transformar metade do mundo em reserva ambiental, BBC Future / Yale e360, 23 novembro 2020
Revista Ecodebate

terça-feira, 12 de outubro de 2021

A geopolítica do negacionismo climático



Luiz Enrique Vieira de Souza, Estevão Bosco e Marcelo Fetz

A instrumentalização interessada do princípio de liberdade de expressão para minar consensos científicos favorece a omissão dos governos em áreas críticas e urgentes, onde a inação pode acarretar a destruição potencialmente irreversível de existências e modos de vida em escala global

O debate sobre as mudanças climáticas explicita um caso extremo de politização da ciência. Interesses corporativos, agremiações políticas conservadoras e intelectuais com pouca ou nenhuma credencial no campo de pesquisas da climatologia articularam-se material e discursivamente nos países anglo-saxões para evitar que as conclusões apresentadas pelo IPCC se traduzissem em medidas regulatórias ou políticas públicas voltadas para a mitigação da interferência humana na química atmosférica. Dado que o acúmulo de evidências sobre o caráter antropogênico das mudanças climáticas consolidou sua posição marginal no campo científico, os representantes do “ceticismo” abandonaram a competição por um paradigma alternativo segundo os padrões acadêmicos. Em vez disso, concentraram-se no fortalecimento de uma “máquina negacionista” que, embora tentando preservar a aparência de um debate científico ainda em curso, deturpou sistematicamente as evidências científicas que poderiam fundamentar o debate público sobre as mudanças climáticas (BEGLEY, 2007).

O modus operandi dessa “máquina negacionista” estrutura-se numa série de estratégias que visam manter em circulação e repetir indefinidamente alegações cujos fundamentos perderam validade à luz do acúmulo de conhecimentos proporcionados pela crescente sofisticação dos estudos de impacto ambiental e das pesquisas na área de saúde pública. Seus antecedentes históricos remontam ao auge da Guerra Fria, quando o governo norte-americano se viu forçado pelos movimentos ambientalistas a proibir o consumo doméstico de DDT, após décadas de investidas da indústria química para desacreditar, por meio de pesquisas patrocinadas e com resultados pré-fabricados, as evidências relativas aos prejuízos dos biocidas para a saúde humana e os ecossistemas (CARSON, 2016). De maneira análoga, a indústria do tabaco investiu maciçamente na articulação de lobby político com o trabalho de experts em relações públicas para qualificar como insuficientes os estudos já então conclusivos sobre os malefícios do cigarro. Esse procedimento de “fabricação das incertezas” ganhou força durante a administração de Ronald Reagan, quando setores do movimento conservador norte-americano lançaram uma guerra contra o ambientalismo, substituindo a “ameaça vermelha” em declínio pela emergente “ameaça verde”. Assim, a ênfase artificial nas “incertezas” refletia o aprendizado da indústria de que deslegitimar a ciência era mais fácil do que debater políticas públicas orientadas por conhecimentos validados no campo científico (DUNLAP et McCRIGHT, 2010; ORESKES et CONWAY, 2010).

Embora a adoção de medidas com base em critérios tecnocráticos instaure ou reforce assimetrias nos processos de deliberação democrática, por outro lado a instrumentalização interessada do princípio de liberdade de expressão para minar consensos científicos favorece a omissão dos governos em áreas críticas e urgentes, onde a inação pode acarretar a destruição potencialmente irreversível de existências e modos de vida em escala global. Nesse sentido, Dieter Plehwe (2014) analisou o papel de think tanks como a Heritage Foundation e Heartland Institute, que construíram redes entre interesses corporativos, órgãos de imprensa com viés conservador e pseudocientistas para transmitir à opinião pública a falsa ideia de que existem “dois lados” no debate sobre mudanças climáticas. Com o apoio financeiro de gigantes da indústria de combustíveis fósseis, esses think tanks ofereciam US$ 10 mil para “intelectuais” dispostos a escrever artigos ou pseudorelatórios que semeassem dúvidas na opinião pública sobre as conclusões do IPCC.

Para garantir a aparência de que se tratava de um debate intenso e ainda em curso no campo da ciência, a “máquina negacionista” lançou mão de diferentes estratégias de deslegitimação e uso de informações falsas: 1) publicações que mimetizavam os relatórios do IPCC sem, no entanto, respeitar os padrões acadêmicos de disputa com base em evidências e contraprovas; 2) alegações de conspirações envolvendo o IPCC a interesses obscuros; 3) denúncias de corrupção nos processos de revisão por pares das revistas acadêmicas; 4) ataques ad hominem a cientistas credenciados ou figuras públicas comprometidas com a mitigação das mudanças climáticas (PALIEWICZ McHENDRY JR, 2017; ORESKES et CONWAY, 2010).

Nos casos em que os negacionistas se preocuparam em conferir algum verniz científico à discussão, seus argumentos oscilaram em torno de quatro categorias discursivas. Em primeiro lugar, tratava-se de negar que as mudanças climáticas estavam em curso (“não está acontecendo”). A partir do momento em que esse argumento perdeu eficácia relativa em certas camadas da população, a estratégia concentrou-se em refutar as causas antropogênicas desse fenômeno, remetendo-o a variações na intensidade da radiação solar[1] (“não somos nós”). Um terceiro recurso consistiu na tentativa de rotular como “catastrofistas” os prognósticos do IPCC e realçar supostos benefícios do aumento das temperaturas médias (“não é tão ruim”). Por último, certos discursos apontaram para os custos elevados de uma reorganização global da produção e do consumo para afirmar que os esforços de mitigação seriam inalcançáveis e que o máximo possível seria discutir eventuais políticas de adaptação (“é impossível”). Esse esforço para promover narrativas manipuladas apoiou-se na estratégia consciente de distorcer a lógica de funcionamento da ciência para representar como “opinião” um consenso científico construído ao longo de mais de quatro décadas (BEGLEY, 2007; DUNLAP et McCRIGHT, 2010). “Ao contrário da literatura científica, onde alegações já refutadas não podem continuar sendo empregadas, no campo negacionista os argumentos nunca desaparecem – eles são continuamente reciclados” (ELSASSER et DUNLAP, 2013).

Em vez de contribuir para a popularização dos conhecimentos baseados em evidências e provas validadas pelas ciências ambientais, a imprensa veiculou amplamente a retórica negacionista em nome da promoção de uma “cobertura imparcial” das posições em disputa. No caso de redes de televisão, estações de rádio ou jornais de orientação conservadora, essa distorção foi ainda mais acentuada, conferindo maior destaque a céticos sem expertise que aos relatórios da comunidade científica. Tanto nos Estados Unidos como na Europa, essa “câmara de eco” conservadora forneceu subsídios discursivos que alimentaram a “controvérsia” em blogs e redes sociais, promovendo assim a deslegitimação da climatologia por intermédio das mais variadas formas de “barbarismo digital” (FORCHTNER, 2019; PAINTER et GAVIN, 2015; ELSASSER et DUNLAP, 2013).

As pesquisas especializadas em comunicação das mudanças climáticas dedicaram-se não apenas ao estudo sobre as estratégias de construção midiática do campo negacionista, mas também a investigar os nexos entre a exposição aos riscos de eventos climáticos extremos – secas prolongadas, enchentes, ondas de calor – e a percepção pública desses fenômenos. Segundo Dunlap e colaboradores (2016), uma revisão bibliográfica sobre o tema demonstra que tais estudos são divergentes e pouco conclusivos. A despeito disso, as estatísticas apontam que existe uma nítida clivagem partidária nos Estados Unidos, onde o ceticismo climático encontra ressonância maior entre eleitores republicanos que entre apoiadores do Partido Democrata. Os autores explicam essa diferença à luz da antipatia republicana às medidas de regulamentação governamental, combinada com as enormes doações de campanha que esse partido recebe do lobby dos combustíveis fósseis. Suas conclusões sugerem, portanto, que a tendência que os indivíduos possuem de rejeitar seletivamente as informações que contestam suas crenças e identidades[2] seria uma razão importante para que nem mensagens persuasivas nem experiências com fenômenos extremos modifiquem substantivamente a percepção dos cidadãos sobre as mudanças climáticas.
Queimada na aldeia Kuikuro, em Mato Grosso (Foto: Takumã Kuikuro)

Desde meados da década de 1990, as coalizões negacionistas difundiram-se a partir dos Estados Unidos para outras nações anglo-saxãs que também contam com lobbys comprometidos com os interesses de setores industriais e think tanks que promovem o conservadorismo do livre-mercado (HAMILTON, 2010). Contudo, é importante ressaltar que o negacionismo climático é um fenômeno global, e não puramente anglo-saxão e que pouco se discute sobre uma “geopolítica do negacionismo”, particularmente naquilo que diz respeito às suas manifestações específicas naqueles países do Sul Global que contribuem com uma parcela relativamente importante das emissões de CO2.

Uma “geopolítica do negacionismo” deve necessariamente levar em conta a correlação de forças externas e internas a cada país. Tomemos como exemplo três países dos BRICS para analisar a feição peculiar que o negacionismo climático assumiu em cada um deles. No caso brasileiro, o papel da minoria de acadêmicos negacionistas nunca foi completamente irrelevante, pois figuras como Ricardo Felício e Luiz Molion foram convocados pela bancada do agronegócio para apresentar “um outro lado da história”, e assim contribuir para afastar a questão das mudanças climáticas do debate sobre alterações no Código Florestal.[3] Apesar dos impactos negativos dessa flexibilização ambiental, foram estruturadas importantes redes de pesquisas científicas, como o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, onde se discutiam políticas públicas para que o país contribuísse com o esforço global de redução das emissões de CO2. Após a eleição de Jair Bolsonaro, o negacionismo climático converteu-se em ideologia de Estado. Um diplomata brasileiro foi enviado à XIII Conferência Internacional sobre Mudança do Clima, promovida pelo Heartland Institute. Antes disso, o então ministro das Relações Internacionais, Ernesto Araújo, já havia replicado argumentos negacionistas ao dizer que existem equívocos na medição das temperaturas. “Não há um termostato que meça a temperatura global. Existem vários termostatos locais” (apud MELLO, 2019). Em 2019, o Brasil desistiu de sediar a COP25 e o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou que as mudanças climáticas antropogênicas permanecem um “assunto acadêmico controverso” (apud MIGUEL, 2020).

Na Rússia, os discursos negacionistas ganharam novo impulso a partir do terceiro mandato de Vladimir Putin como presidente (2012). Em 2005, a Academia de Ciências da Rússia havia assinado, juntamente com instituições acadêmicas internacionais, uma declaração que reconhecia o caráter antropogênico das mudanças climáticas e a necessidade de medidas de mitigação em nível global. Em 2010, o então presidente Dimitri Medvedev assumiu que as mudanças climáticas acarretariam sérias ameaças ao país. Mesmo que ambientalistas russos questionassem o compromisso efetivo dessas declarações, a terceira campanha presidencial de Putin inaugurou um período de retrocessos, em que se tratou a ideia de governança global do clima como uma “conspiração do Ocidente” para enfraquecer a posição da Rússia no cenário internacional. “Conspirações sobre a ciência climática internacional e sobre os esforços globais para promover medidas de mitigação foram enfatizadas nos artigos do Izvestiya e em todos os documentários televisivos e programas de auditório” (TYNKKYNEN et TYNKKYNEN, 2018: 10). Diferentemente de Medvedev, a estratégia de Putin já não associava as medidas de modernização do setor energético à pauta ambientalista global, incorporando somente aquilo que coincidisse com o propósito de reforçar o status da nação enquanto “superpotência dos hidrocarbonetos”. Nesse sentido, a mensagem de Putin contribuiu para a hegemonia daqueles que priorizam a soberania em detrimento da cooperação internacional e os interesses econômicos de curto prazo da elite russa frente à imagem internacional do país.

Da perspectiva do governo chinês, o combate às mudanças climáticas relaciona-se discursivamente com a promoção de uma “civilização ecológica”. Desde 2007, a China possui um Programa Nacional de Mudanças Climáticas que reconhece o consenso científico sobre as causas antropogênicas e sinaliza para uma posição responsável nas negociações internacionais. Em setembro de 2020, o presidente Xi Jinping anunciou que a China pretende atingir o pico de emissões em 2030 e tornar-se “carbono neutral” até 2060. A estratégia do governo chinês consiste em apresentar-se como liderança global na proteção do clima, tanto para aumentar seu “soft power”, como para assegurar uma posição de destaque no mercado internacional de “tecnologias verdes” (SOUZA, 2021) Isso não quer dizer que inexista um ceticismo climático com características chinesas. John Chung-En Liu (2015) enxerga uma corrente subterrânea de ceticismo climático na sociedade chinesa que ainda é pouco estudada. De acordo com o autor, o ceticismo chinês seria diferente da variante norte-americana, pois seu campo de batalha não é a ciência, mas a perspectiva nacionalista de que as mudanças climáticas seriam uma farsa ocidental para minar o crescimento chinês[4] (“imperialismo climático”). Além disso, os céticos chineses atuam como indivíduos isolados, e não enquanto uma comunidade organizada. Eles não contam com o suporte de think tanks conservadores e não organizam sistematicamente campanhas públicas de desinformação. Sua atuação concentra-se nos fóruns da internet (douban, tianya, guokr e weiming), e o questionamento das mudanças climáticas relaciona-se com questões de identidade e confiança, atribuindo-se às pesquisas realizadas por chineses maior credibilidade que à ciência internacional.

Esse breve panorama da geopolítica do negacionismo permite duas conclusões importantes. A primeira diz respeito às afinidades eletivas entre o neoliberalismo e o negacionismo climático. Tanto nos países anglo-saxões como no Brasil de Jair Bolsonaro, as críticas aos “excessos” de regulamentação econômica impedem que o Estado desempenhe o seu protagonismo na governança do clima. Nesse sentido, o Green New Deal proposto por Joe Biden é mais um sintoma de que o recrudescimento das mudanças climáticas expressa a falência do modelo neoliberal. Por outro lado, o princípio da soberania nacional relaciona-se de maneira seletiva com o negacionismo climático. No caso da estratégia russa de se afirmar como “superpotência dos hidrocarbonetos” é mais do que evidente que o Estado não possui interesse em cooperar com os esforços globais de mitigação, mas o exemplo da China aponta na direção oposta, ou seja, que o protagonismo na governança do clima pode ao mesmo tempo beneficiar a imagem internacional de um país e projetá-lo como “global player” no setor de tecnologias verdes.

Luiz Enrique Vieira de Souza é professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia.

Estevão Bosco é professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e Pesquisador do Grupo de Estudos em Geografia Política e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo.

Marcelo Fetz é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo.



Referências

BEGLEY, S. (2007). The truth about denial. Newsweek, 13 August, p. 20-9.

CARSON, R. (2016). Primavera Silenciosa [Silent Spring]. São Paulo: Editora Gaia.

DUNLAP, R. E.; McCRIGHT, A. M. (2010). Climate change denial: sources, actors and strategies. IN: LEVER-TRACY, C. Routledge Handbook of Climate Change and Society. Abingdon: Routledge.

DUNLAP, R. E.; McCRIGHT, A. M.; YAROSH, J. H. The Political Divide on Climate Change: Partisan Widens in the U. S. Environment: Science and police for Sustainable Development, 58:5, p. 4-23.

ELSASSER, S. W,; DUNLAP, R. E. (2013). Leading voices in the denier chor: Conservative columnists’ dismissal of global warming and denigration of climate science. American Behavioral Science, 57 (6), p. 754-76.

FORCHTNER, B. (2019). Climate Change and the Far Right. WIREs Climate Change, DOI: 10.1002/wcc.604.

HAMILTON, C. (2010) Requiem for a Species. London: Earthscan.

LIU, J. C. (2015). Low-carbon plot: Climate change skepticism with Chinese characteristics. Environmental Sociology, DOI: 10.1080/23251042.2015.1049811.

McCRIGHT, A. M.; DUNLAP, R. E. (2011). Cool dudes: The denial of climate change among conservative white males in the United States. Global Environmental Change, 21 (4), p. 1163-72.

MELLO, P. (2019). “Governo brasileiro participa de reunião com negacionistas do clima” [Brazilian Government Participates in Meeting with Climate Denialists]. Folha de São Paulo, 30 July, www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/07/governo-brasileiro-participa-de-reuniao-com-negacionistas-do-clima.shtml.

MIGUEL, J. C. H. (2020). Negacionismo Climático no Brasil [Climate Denialism in Brazil]. Revista Coletiva (27), ISSN 2179-1287.

ORESKES, N.; CONWAY, E. M. (2010). Merchants of doubt. How a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming. New York: Bloomsbury Press.

PAINTER, J.; GAVIN, N. T. (2015). Climate Skepticism in British Newspapers, 2007-2011. Environmental Communication, DOI: 10.1080/17524032.2014.995193.

PLEHWE, D. (2014). Think tank networks and the knowledge-interest nexus: the case of climate change. Critical Policy Studies, 8:1, p. 101-15.

SOUZA, L. E. V. (2021). Civilização ecológica ou colapso ambiental [Ecological Civilization or Environmental Collapse?]. MUSSE, R. (ed.) China Contemporânea: Seis Interppretações [Contemporary China: Six Interpretations]. Belo Horizonte: Autêntica.

TYNKKYNEN, V.; TYNKKYNEN, N. (2018). Climate Denial Revisited: (Re)contextualising Russian Public Discourse on Climate Change during Putin 2.0. Europe-Asia Studies, DOI: 10.1080/09668136.2018.1472218.

[1] “A Física nos conta que se o sol fosse o responsável pelo aquecimento global – como alguns céticos continuam insistindo – nós esperaríamos que tanto a troposfera como a estratosfera se aqueceriam, dado que o calor chega à atmosfera vindo do espaço sideral. Mas se o aquecimento for causado pelos gases responsáveis pelo efeito estufa emitidos da superfície e aprisionados na baixa atmosfera, então esperaríamos que a troposfera se aqueceria, mas que a estratosfera se resfriasse” ORESKES et CONWAY, 2010).

[2] Em outro estudo, McCright e Dunlap (2011) debruçaram-se sobre pesquisas de opinião realizadas entre 2001 e 2010 nos Estados Unidos que demonstravam uma maior tendência de homens brancos e conservadores a abraçarem as teses negacionistas. Essa tendência seria ainda maior entre os homens brancos conservadores que afirmavam “conhecer muito bem” os temas relacionados às mudanças climáticas [“cool dudes”]. Para explicar esse fenômeno, os autores articularam os pressupostos da “teoria cognitiva da motivação” à “tese da vulnerabilidade”, segundo a qual homens brancos se sentem menos vulneráveis que mulheres e não brancos em virtude de sua posição dominante na estrutura social, e por isso estariam mais dispostos a aceitar esses riscos.

[3] Esse projeto almejava restringir as medidas de proteção ambiental para favorecer a expansão da pecuária extensiva e das monoculturas de soja e cana-de-açúcar. O deputado Aldo Rebelo, que em 2009 ainda pertencia ao Partido Comunista do Brasil e atuava como relator da comissão que discutia a implementação dessa nova legislação, classificou o diagnóstico sobre as mudanças climáticas como “ideologia norte-americana (…) [que visava] conter o avanço do setor agropecuário no Brasil” (apud MIGUEL, 2020).

[4] Donald Trump inverteu o sinal dessa equação ao publicar um tweet com a acusação de que “o conceito de aquecimento global foi criado pelos e para os chineses para fazer tornar o setor industrial dos EUA não competitivo” (6/11/2012).
Revista Le Monde Diplomatique

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

África e América do Sul: O futuro passa pela biodiversidade

 


Paulo Roberto Feldmann

Introdução

Os países sul-americanos - especialmente o Brasil - foram os primeiros a serem povoados por imigrantes africanos em todo o continente americano. A imigração africana para as Américas pode ter tido início no século XVI, mas mesmo antes de 1500 os negros já tinham navegado com Cristóvão Colombo em sua primeira viagem em 1492, e é provável que os primeiros exploradores espanhóis e portugueses também tiveram a companhia de negros africanos nascidos e criados na Península Ibérica. Nos 500 anos seguintes, milhões de imigrantes africanos foram trazidos para o Novo Mundo como escravos. Hoje seus descendentes são minorias étnicas expressivas em vários países da América do Sul. Ao longo dos séculos, a população negra contribuiu para a diversidade cultural de suas respectivas sociedades e, dessa forma, influenciaram profundamente todos os aspectos da vida na América do Sul. Mas há outros aspectos importantes que os dois continentes possuem em comum: juntos, África e América do Sul são responsáveis por 50% da biodiversidade global: aproximadamente 2 milhões de km2 da África são cobertos por florestas tropicais, enquanto a Amazônia, na América do Sul, abrange 6 milhões de km2.

Existe consenso geral de que a América do Sul e a África deveriam conservar melhor e administrar de forma sustentável sua biodiversidade, porém, a fim de alcançar esses objetivos, ambos os continentes devem encontrar maneiras de gerar receitas com a mesma. Vale lembrar que compostos à base de plantas desempenham um papel crucial na síntese de algumas das moléculas mais complexas produzidas pela indústria farmacêutica e, portanto, uma parte importante dos medicamentos atualmente disponíveis provém de produtos naturais como plantas, micro-organismos e animais, direta ou indiretamente.

Biodiversidade é o conjunto de todos os seres vivos existentes ou que já existiram no planeta. A biodiversidade, ou diversidade biológica, lida com todas as variedades de vida na terra (flora, fauna e micro-organismos), ou seja, todas as variações genéticas de populações e espécies, os diferentes impactos ecológicos desses organismos e a enormidade de comunidades, hábitats e ecossistemas formados pelos seres vivos. Estima-se que o número de espécies conhecidas, incluindo plantas, animais e micro-organismos, ultrapassa os cinco milhões, mas pelo menos 20% desse número entrarão em extinção nas próximas décadas.

A biodiversidade é de suma importância por ser responsável por todos os nossos alimentos e grande parte das roupas e dos medicamentos que utilizamos. A destruição da biodiversidade provoca, dentre outros efeitos adversos, o aquecimento global. Para efeitos deste artigo, daremos ênfase ao fato de que a biodiversidade representa uma enorme fonte de informações que podem ser utilizadas pela biotecnologia. Isso diz respeito às aplicações tecnológicas utilizadas por sistemas biológicos ou organismos vivos na fabricação ou alteração de produtos ou processos para fins específicos.

A biotecnologia é o ramo da ciência que pesquisa a transferência de genes de um organismo para outro a fim de dar ao último características do primeiro. Na verdade, ela é apenas o capítulo mais recente na longa história da produção de alimentos pelo homem. A agricultura organizada teve seus primórdios há cerca de dez mil anos quando os primeiros agrupamentos humanos começaram a se fixar em determinadas áreas e a cultivar lavouras de subsistência. Nesse momento, o homem iniciou seu aprendizado de seleção, reprodução e colheita de sementes, buscando sempre aumentar e melhorar a produção.

Riqueza que poderia ser gerada com a biodiversidade

Nas antigas civilizações egípcia e grega a fabricação de queijos, cervejas e vinhos já era uma forma primitiva de biotecnologia, baseada em processos de fermentação da uva macerada e cevada, além de outros produtos que eram submetidos à exposição de micro-organismos no ar. Podemos dizer que há séculos, desde que o homem aprendeu a domesticar as plantas e usá-las em benefício próprio, o melhoramento genético vem sendo feito com o objetivo de conseguir plantas mais resistentes e alimentos mais saudáveis. A diferença é que até meados do século XX apenas cruzavam-se espécies de melhor qualidade entre si, o que levava ao melhoramento, mas também levava à transferência das características indesejadas de uma planta para outra. A partir das últimas décadas do século XX com o avanço da biotecnologia e da engenharia genética passou a ser possível transferir para a planta apenas o gene desejado, e isso com muita segurança. Ou seja, agora se tornou possível obter plantas mais saudáveis e alimentos mais abundantes e nutritivos. A modificação genética é uma maneira de inserir genes que conferem às plantas resistência às pragas, fungos e vírus que seriam nocivos ou exigiriam a aplicação de agrotóxicos. Os organismos geneticamente modificados também podem ser resistentes aos pesticidas, o que quer dizer que as ervas daninhas poderão ser facilmente exterminadas. Tudo isso deve elevar muito a produtividade da agricultura e, espera-se, reduzir os preços. No futuro a biotecnologia poderá agregar valor nutricional às safras. Sem dúvida, no século XX foi a química que permitiu os maiores avanços havidos na agricultura e na produção de alimentos. Mas, provavelmente, a química já deu à agricultura tudo o que podia com os fertilizantes, os fungicidas, os inseticidas e os herbicidas. Hoje ela custa muito caro em termos de energia e acabou poluindo o solo e as águas. A química agora está sendo substituída pela biotecnologia como o grande fator de avanço na agricultura.

As tentativas de curar as principais doenças que assolam a humanidade datam dos primórdios da civilização, e são facilmente confirmadas quando examinamos registros e dados das primeiras civilizações, entre elas a egípcia, a hebraica, a chinesa e a grega.

No início do século XIX, a morfina pura era extraída das folhas da papoula (Papaver Somniferum). No final desse mesmo século a invenção da aspirina, ou ácido acetilsalicílico, foi resultado direto do conhecimento prévio de que a casca de salgueiro era bastante eficaz para aliviar febre e dores físicas. A descoberta e o isolamento da substância ativa, o ácido salicílico, possibilitaram a fabricação da aspirina.

Um exemplo interessante de informação captada na Floresta Amazônica refere-se ao medicamento conhecido como Captopril, que é indicado para o tratamento de hipertensão e foi patenteado nos Estados Unidos pela Bristol-Myers Squibb. O ingrediente ativo desse medicamento foi descoberto durante estudos sobre o veneno extraído da jararaca, um tipo grande e feroz de cobra brasileira que habita a Floresta Amazônica.

E por que fala-se tanto que a América Latina e a África poderão ter sua grande chance de desenvolvimento por meio da biotecnologia? A resposta se deve ao fato de que a matéria-prima básica da biotecnologia são os genes e o conhecimento que se tem a respeito desses. E por sua vez esses se encontram abrigados, mais do que em qualquer outra parte do planeta, dentro das Florestas Amazônica e Subsaariana. Isso significa que essas florestas têm uma vantagem competitiva inigualável que é a riqueza da suas respectivas biodiversidades.

A indústria farmacêutica é relativamente recente tendo surgido nos Estados Unidos e em alguns países europeus, especialmente a Suíça na metade do século XX. A partir de então, o setor farmacêutico começou a utilizar química sintética para tratar doenças.

Essa época também coincide com o início da interação entre indústrias farmacêuticas e universidades de vários países, que consolidaram as várias etapas necessárias para a descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos.

Assim, as grandes empresas farmacêuticas imediatamente concluíram que precisariam construir grandes laboratórios de pesquisa, empregando milhares de pesquisadores ao redor do mundo.

Hoje, a indústria farmacêutica é o setor que mais investe em pesquisa e desenvolvimento no mundo, e esse valor chega a representar 20% de suas vendas, enquanto a indústria eletrônica e a indústria automobilística investem 6% e 5%, respectivamente.

De acordo com Calixto e Siqueira (2008), um terço dos remédios mais vendidos no mundo foi desenvolvido a partir de produtos naturais. No caso daqueles ligados ao tratamento de câncer e antibióticos, essa porcentagem sobe para 70%.

O fato é que a terapia moderna com esses medicamentos não seria possível sem a contribuição de produtos naturais, principalmente as plantas.

A próxima onda tecnológica será a onda da biotecnologia

Joseph Schumpeter foi um dos economistas mais importantes de todos os tempos e a sua grande contribuição para a Teoria Econômica foi a de relacionar o papel do empreendedorismo e da inovação com o desenvolvimento econômico. Foi um grande defensor da teoria dos ciclos tecnológicos a qual foi concebida inicialmente pelo economista russo Nicolai Kondratiev em 1925. A teoria dos ciclos tecnológicas diz que o crescimento econômico ocorre em ondas, onde cada uma delas tem uma duração aproximada entre 55 e 65 anos. Cada uma dessas ondas está associada a alguma importante mudança tecnológica. Já aconteceram quatro ondas e estamos agora na metade da quinta onda a qual é denominada onda da tecnologia de informação. Kondratiev e Schumpeter diziam que a mudança tecnológica que caracteriza cada onda tem um impacto enorme sobre toda a economia e a sociedade no período da sua vigência. Ao longo dos seus sessenta anos de duração aproximada, cada onda apresenta várias fases que começam com muita euforia e terminam com decadência. Assim sendo, inicialmente a nova onda provoca um grande crescimento econômico e enormes mudanças na sociedade, incluindo quebra de paradigmas e mudanças culturais. A economia mundial passa a depender de forma crescente da nova onda. No entanto, ao final do período a demanda começa a cair, além de haver uma saturação em razão do grande número de empresas que entraram no negócio na fase inicial de sucesso e que acabam competindo fortemente entre si. Nesse momento os investimentos também diminuem, as empresas se concentram em racionalização e o desemprego aumenta. É quando começa a surgir a próxima onda com base no surgimento de alguma nova tecnologia revolucionária. Esse comportamento foi registrado nos últimos 250 anos quando tivemos cinco ondas incluindo a atual, a da tecnologia da informação; as anteriores foram a onda da mecanização, seguida pela onda da força a vapor que terminou em meados do século XIX quando surgiu a onda da eletricidade sucedida no século XX pela onda do automóvel e da produção em massa. A onda atual iniciou-se em meados do século XX e já se encontra em sua etapa final. Para muitos autores a segunda metade do século XXI será dominada pela sexta onda que será a onda da biotecnologia onde predominarão as áreas de medicina, genética, farmacêutica e outras relacionadas.

Dicken (2015), ao analisar os ciclos de Kondratiev, ressalta que em cada uma das fases uma dada mudança tecnológica predominou e permitiu que algumas nações crescessem bem mais que outras. Concluindo assim que só esse fator já seria suficiente para que a questão geográfica fosse mais bem compreendida no sentido de se tentar entender como surgem as inovações tecnológicas. Dicken enfatiza a questão do porquê as inovações tecnológicas serem muito frequentes em algumas regiões e escasseiam ou não existem em outros espaços geográficos. Segundo ele existe uma relação direta entre condições geográficas e surgimento de inovações tecnológicas. Nessa linha, a nossa visão é de que justamente na próxima onda, a onda da biotecnologia ou das ciências da vida, tanto a América do Sul como a África terão finalmente a sua grande oportunidade de se desenvolver graças ao conhecimento embutido na enorme biodiversidade que sediam.

Importância da biodiversidade para o desenvolvimento das duas regiões

Setecentos e cinquenta milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia em áreas rurais e frequentemente dependem de uma ampla variedade de recursos naturais e serviços ecossistêmicos para seu bem-estar. Portanto, elas se tornam mais vulneráveis quando a diversidade é degradada ou destruída. Grande parte da população pobre do mundo vive na América do Sul e na África.

Em razão da Amazônia, a América do Sul é a região do planeta que contém o maior número de espécies conhecidas no planeta. Nesse aspecto, o Brasil é o país mais importante do continente. A África ocupa a segunda posição em termos de biodiversidade.

Ela abriga uma biodiversidade incrivelmente diversa e rica, que fornece serviços ecossistêmicos essenciais, com potencial para impulsionar a economia do continente. Seus organismos vivos constituem-se aproximadamente num quarto da diversidade global e incluem o maior conjunto intacto de grandes mamíferos da terra, que vivem livremente em muitos de seus países. Porém, estima-se que até 2100 a mudança climática poderá provocar a extinção de mais da metade das espécies de pássaros e mamíferos da África e uma grande parcela das espécies de plantas.

A abundante biodiversidade da Amazônia confere a ela uma vantagem competitiva imbatível. A variedade de espécies de animais e plantas que existem no ecossistema da Amazônia representa o maior arquivo biológico conhecido de genes, moléculas e micro-organismos. Isso significa que a biodiversidade da Amazônia é a chave para o desenvolvimento de diversos produtos, como medicamentos, alimentos, fertilizantes, pesticidas, plásticos, solventes, cosméticos, tecidos e fermentos. A Floresta Amazônica abrange nove países - Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela - e possui aproximadamente 26% do material genético do planeta, ou seja, 26% de todas as sequências de DNA combinadas na natureza.

De um ponto de vista ético, a indústria farmacêutica vem sendo criticada por obter sua matéria-prima mediante pesquisas das regiões mais pobres do mundo - embora seus medicamentos sejam utilizados predominantemente nos países mais desenvolvidos - e por quase nada ser feito para combater as doenças tropicais.

Isso é motivo suficiente para a América do Sul e a África prestarem mais atenção na biotecnologia, apesar de os objetivos dos países mais avançados em relação aos resultados dos estudos de biotecnologia divergirem bastante dos objetivos e das necessidades dos países dos continentes pobres. Muitos autores, como Silveira et al. (2005), consideram que as aplicações no setor agrícola seriam importantíssimas para reduzir os custos na indústria alimentícia, aumentar a produção ou desenvolver o setor rural. Nos países mais desenvolvidos, esses aspectos raramente são prioridade. Suas prioridades são a produção de medicamentos para atender demandas específicas, como aquelas relacionadas ao câncer ou à produção de insulina humana. Em outras palavras, podemos dizer que os países mais desenvolvidos priorizam o aspecto farmacêutico e de assistência médica da biotecnologia. Mesmo assim, eles não possuem referência sobre as questões que afligem a América do Sul e a África. Nesses continentes, em termos de assistência médica, a biotecnologia pode ser vital para diagnósticos, vacinas e prevenção contra doenças transmissíveis nos trópicos, que geralmente afetam as classes mais baixas de suas populações.

Muitos cientistas concordam com a tese de Lovejoy (2006) de que a África e a América do Sul, tendo controle de quase metade da biodiversidade mundial, deveriam investir para aproveitar essa herança natural em prol da economia de seus países.

Descobertas e pesquisas biomédicas, bem como o desenvolvimento de medicamentos frequentemente buscam utilizar materiais naturais em produtos e aplicações. Bioprospecção é o nome desse processo bastante utilizado pelas empresas farmacêuticas. Portanto, muitos medicamentos em potencial provêm do ambiente biodiverso e do conhecimento de nativos de países em desenvolvimento. É exatamente isso que acontece em ambas as regiões, onde nenhum país - nem na América do Sul nem na África -, em razão dos elevados custos de parques tecnológicos, consegue competir no mercado de medicamentos sintéticos. Não há nenhum país sul-americano ou africano atuante na indústria farmacêutica e, se observarmos os nomes das 50 maiores empresas do mundo nesse setor, não encontraremos nenhuma dessas regiões. Isso se deve porque o desenvolvimento de um medicamento sintético demanda investimentos muito altos em pesquisa e desenvolvimento, algo que acaba não sendo viável para os laboratórios farmacêuticos africanos e sul-americanos. Estima-se que entre 40% e 50% dos medicamentos disponíveis no mundo foram desenvolvidos a partir de produtos naturais provenientes de pesquisas realizadas na natureza. É nesse ponto que a biodiversidade da América do Sul e da África poderia reduzir as respectivas despesas de seus países com saúde. É essencial para esses continentes estabelecer políticas que as favoreçam em casos em que os principais ingredientes ativos dos medicamentos são derivados de plantas, micro-organismos ou mesmo animais que fazem parte de seu hábitat.

A biopirataria prejudica tanto a América do Sul quanto a África

A bioprospecção vem sendo amplamente utilizada pelos laboratórios farmacêuticos na obtenção dos ingredientes ativos necessários para produzirem seus medicamentos. No entanto, a bioprospecção quase nunca resulta em benefício para as comunidades em que as plantas são descobertas ou o conhecimento necessário para a produção dos ingredientes ativos é obtido. Isso é a biopirataria.

De forma simplificada, entende-se por biopirataria a utilização de recursos naturais e conhecimento tradicional sem autorização governamental prévia para tanto. O tráfico de animais, a extração de ingredientes ativos de plantas e a utilização do conhecimento de povos indígenas sem autorização prévia são exemplos de biopirataria.

Em razão de sua grande biodiversidade, a África e a América do Sul normalmente são vítimas da biopirataria. Essa prática também aumentou com o avanço da biotecnologia, pois o transporte de recursos genéticos, por exemplo, é mais fácil e rápido que o transporte de animais ou plantas.

Becker (2006) descreve a biopirataria como pesquisadores disfarçados de turistas ou estudantes que vão para a África ou a América do Sul a fim de coletar elementos de sua biodiversidade. Às vezes eles se passam por representantes de Organizações Não Governamentais (ONG) ou por missionários religiosos. Também existem os contrabandistas que chegam à região com um único objetivo: roubar recursos naturais para a produção de novos produtos, que podem ser medicamentos - os mais comuns -, alimentos, maquiagens ou produtos agrícolas.

Em resumo, biopirataria é o roubo de materiais biológicos, tais como genes, sementes e plantas. Algumas importantes multinacionais farmacêuticas obtêm lucros enormes com a biodiversidade da África e da América do Sul, mas não partilham esses lucros com as comunidades que descobrem e transmitem o conhecimento.

O impacto do protocolo de Nagoya em ambas as regiões

Após um intenso debate que durou quase duas décadas, a ECO 92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em 1992 no Rio de Janeiro, lançou a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). A CBD é uma convenção internacional que visa conservar a biodiversidade e promover seu uso sustentável, bem como repartir de forma justa e igualitária seus benefícios. Foi acordado durante essa convenção que os países são soberanos sobre os recursos genéticos encontrados em seus territórios, e estabeleceu-se o direito aos benefícios pelo uso de sua biodiversidade.

Cento e noventa e quatro países assinaram a convenção. A fim de implementar diretrizes e estabelecer regras e sanções operacionais, foi criado e aprovado durante uma conferência da CBD em 2010, no Japão, um Protocolo sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição de Benefícios, conhecido como Protocolo de Nagoya.

De acordo com a CBD, o “Protocolo de Nagoya sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição Justa e Equitativa dos Benefícios Derivados de sua Utilização para a Convenção sobre Diversidade Biológica” é um acordo internacional que visa repartir os benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos de forma justa e igualitária. Ele foi celebrado em 12 de outubro de 2014, noventa dias após a data de depósito do quinquagésimo instrumento de ratificação.

O Protocolo de Nagoya gerou maior segurança jurídica e transparência para fornecedores e aqueles que utilizam recursos genéticos:

  • Estabelecendo condições mais previsíveis de acesso aos recursos genéticos.

  • Ajudando a garantir a repartição de benefícios quando os recursos genéticos deixarem seu país fornecedor.

Ao ajudar a garantir a repartição de benefícios, o Protocolo de Nagoya cria incentivos para a conservação e a utilização sustentável dos recursos genéticos, melhorando assim a contribuição da biodiversidade para o desenvolvimento e o bem estar da humanidade.

O principal objetivo do Protocolo de Nagoya foi criar um sistema internacional de repartição de benefícios entre os países signatários. Dessa forma, os benefícios gerados em qualquer nação deveriam ser encaminhados ao país de origem dos recursos genéticos naturais. Antes do Protocolo de Nagoya, os países de origem desses recursos não dispunham de mecanismos para obter os benefícios derivados do produto final comercializado em outro país. Como resultado do Protocolo de Nagoya, é possível estarmos testemunhando o surgimento de uma nova era, onde países pobres finalmente podem obter vantagens com sua biodiversidade.

Obtenção de vantagem competitiva por países pobres, porém ricos em biodiversidade

Conforme mencionado por Sofia Faruqui (2007) em seu artigo na SSIR - Stanford Social Innovation Review, “mais empresas precisam compreender os efeitos positivos da biodiversidade sobre seus resultados líquidos - e mais governos precisam aprovar leis que protejam a biodiversidade…”. Faruqui também mencionou que o turismo, de forma geral, é a segunda fonte de renda dos países da América do Sul e da África devido às grandes áreas relacionadas à biodiversidade e ao ecoturismo, que geraram US$ 77 bilhões para ambas as regiões em 2016. Entretanto, esse valor é muito baixo quando comparado aos lucros obtidos por vários outros setores que utilizam o conhecimento da biodiversidade. A indústria farmacêutica, por exemplo, teve uma renda global de US$ 1,3 trilhão em 2017. É muito difícil estimar quanto desse volume deriva do conhecimento da biodiversidade, mas o valor com certeza é bastante significativo. O mesmo ocorre com os fabricantes de pesticidas, cujos ganhos somaram mundialmente US$ 52 bilhões no mesmo ano.

No início do século XXI, o surgimento de novas tecnologias químicas combinatórias e de triagem molecular de alta velocidade nas indústrias farmacêuticas indicou o fim da biodiversidade como uma importante fonte de conhecimento. Entretanto, após utilizar essas novas tecnologias por aproximadamente quinze anos, laboratórios e setores farmacêuticos concluíram que a biodiversidade continua sendo vital. Eles entenderam que a aplicação do conhecimento de produtos naturais junto com as tecnologias químicas combinatórias é o caminho para a descoberta de novos medicamentos. Os produtos naturais estão sendo utilizados como modelos para a química combinatória em razão de sua estrutura especial. Como resultado disso, hoje é possível criar grande número de moléculas análogas que permitiriam descobrir de forma mais rápida o princípio ativo de medicamentos. Essa é uma ótima notícia para os países ricos em biodiversidade, principalmente após a assinatura do Protocolo de Nagoya.

Porém, os países sul-americanos e africanos ainda têm muitos desafios pela frente antes de começarem a lucrar com sua biodiversidade. Antes de tudo, é necessário que esses dois continentes juntem forças para que possam trocar experiências e, especialmente, definir mecanismos consoantes com o Protocolo de Nagoya a fim de obter lucros reais. Para tanto, existem alguns dados operacionais e práticos que devem ser estabelecidos:

  • Quanto cobrar das empresas farmacêuticas nos países produtores e de que forma tal cobrança deve ser realizada.

  • Qual metodologia ou processo deve ser utilizado para que as grandes empresas farmacêuticas e de pesticidas transmitam sua tecnologia para as empresas africanas e sul-americanas desses mesmos setores. Isso terá oposição das empresas farmacêuticas no início, mas esse é um dos aspectos mais importantes a serem negociados.

  • Implementação de um processo de intercâmbio entre universidades importantes na área de biotecnologia de países em desenvolvimento e universidades da África e da América do Sul a fim de treinar professores para essas regiões.

  • Desenvolvimento de recursos humanos e criação de infraestrutura na África e na América do Sul para tornar essas regiões competidoras importantes na produção de medicamentos, pesticidas, cosméticos, alimentos e outros produtos agrícolas. A cooperação entre os países dessas regiões é um fator fundamental para atingir esse objetivo.

  • Criação de um fórum para discutir e definir mecanismos de troca de informações entre os dois continentes para que haja um desempenho coletivo na defesa, proteção e preservação da biodiversidade e, principalmente, na obtenção de resultados econômicos dela derivados.

  • Incentivo à criação de pequenas empresas voltadas à exploração da biodiversidade para encontrar novos conhecimentos a partir de plantas, micro-organismos e animais e que poderiam ser vendidos para empresas farmacêuticas.

  • O financiamento de todas essas atividades e processos é um grande desafio para os países dessas duas regiões e será necessário o envolvimento das mais importantes instituições internacionais, como o Banco Mundial, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e outras.

Considerações finais

A América do Sul e a África enfrentam alguns problemas em comum: Ambos continentes têm uma competitividade muito baixa e precisam combater e reduzir a pobreza e a fome. Várias estratégias diferentes foram utilizadas para resolver esses problemas, mas em nenhuma delas foi considerado utilizar como vantagem competitiva uma importante fonte de riqueza disponível em ambas regiões: a biodiversidade.

Tentamos demonstrar que, sem o conhecimento da biodiversidade, não é possível o desenvolvimento de medicamentos, pesticidas, cosméticos e muitos outros produtos. Mesmo com os avanços das tecnologias químicas combinatórias e de triagem molecular de alta velocidade, a biodiversidade continua sendo uma fonte vital de informações. Não é justo que as nações que abrigam tal biodiversidade não possam se beneficiar disso. Essa riqueza deve ser transformada em negócios que garantirão o desenvolvimento econômico e social desses países.

É interessante notar que um dos maiores erros cometidos no passado pelos países africanos e sul-americanos foi ter como base de seu desenvolvimento os vastos recursos naturais de suas regiões. No entanto, por mais contraditório que pareça, é no começo do século XXI que uma enorme janela de oportunidades se abre para boa parte dos países da África e da América do Sul, exatamente por causa de seus recursos naturais. Boa parte do conhecimento que será importante para aprimorar esses novos temas está presente no conhecimento que podemos extrair da flora e da fauna dos dois continentes. A África e a América do Sul nunca foram atores importantes no cenário econômico internacional, mas essas duas regiões jamais tiveram uma oportunidade como essa.

Em suma, esperamos ter demonstrado a existência de muitas possibilidades de medidas e de políticas públicas que deveriam ser consideradas por especialistas de ambas as regiões para que se promova negócios e comércio que poderiam derivar da biodiversidade. Além disso África e América do Sul deveriam trabalhar conjuntamente incentivando discussões e estabelecendo medidas, o que também contribuirá para a criação de oportunidades comerciais a partir de suas respectivas biodiversidades. As indústrias de pesticidas, cosméticos, farmacêutica e alimentícia que quase sempre estão concentradas nos países mais desenvolvidos tiveram grandes benefícios com o conhecimento decorrente da biodiversidade, mas isso não ocorre nas regiões que possuem essa biodiversidade, que em sua maioria são de países pobres. Algumas importantes multinacionais farmacêuticas obtêm lucros enormes com a biodiversidade da África e da América do Sul, mas não partilham esses lucros com as comunidades que detêm, descobrem e transmitem o conhecimento. Em outras palavras, podemos dizer que os países mais desenvolvidos priorizam o aspecto farmacêutico e de assistência médica da biotecnologia. Mesmo assim, eles não possuem referência sobre as questões que afligem a América do Sul e a África. Nas ondas tecnológicas anteriores esses dois continentes não conseguiram um papel de protagonistas, mas dessa vez eles possuem a riqueza da biodiversidade que certamente será um fator fundamental para que ambos passem a ter um papel mais ativo e com isso poderão resolver seus graves problemas de estagnação e pobreza.

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