domingo, 26 de setembro de 2021

Imagens de sobrevoo mostram que sul do AM é nova fronteira do desmatamento

Expedição conduzida pela Aliança Amazônia em Chamas entre 13 e 17 de setembro reforça indícios do avanço de queimadas e da pecuária no bioma3 min de leitura

Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, no sul Amazonas. (Foto: © Victor Moriyama / Amazônia em Chamas)


Caminhões carregados de toras de árvores gigantescas e rebanhos de gado pastando em áreas recém-queimadas estão entre as imagens flagradas por sobrevoos realizados entre 13 e 17 de setembro no sul do Amazonas. Divulgados nesta quinta-feira (23) pela Aliança Amazônia em Chamas, os registros reforçam os indícios de que a região, integrante do maior e mais conservado estado em meio à floresta, é a nova fronteira do desmatamento.


A rota dos ambientalistas partiu de Porto Velho, em Rondônia, e seguiu até Lábrea, no sul do Amazonas, passando por áreas como a Terra Indigena Jacareúba (AM) e o Parque Nacional Mapinguari (AM e RO). Foram observadas extensas áreas desmatadas, com polígonos medindo de 1.550 a 2450 hectares. O valor equivale a cerca de 2 mil a 3 mil campos de futebol.

“Essa região tem se destacado pelo avanço veloz do desmatamento, que adentra cada vez mais em territórios bem conservados e vitais para mitigar a crise climática e evitar o colapso da biodiversidade no planeta”, avalia Cristiane Mazzetti, gestora ambiental do Greenpeace, organização que compõe a aliança ao lado de Amazon Watch e Observatório do Clima, em comunicado enviado à imprensa.

Árvore ainda em chamas em área recém queimada, em Porto Velho, Rondônia. (Foto: Victor Moriyama / Amazônia em Chamas)

Focos ativos de calor, pistas de pouso clandestinas e sinais de garimpo em áreas protegidas também foram mapeados pelo grupo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) referentes ao período da expedição mostram que, entre 1º de janeiro a 18 de setembro de 2021, o município de Porto Velho apresentou 2.700 focos de queimada e o de Lábrea, 2.946. Esse último é, até o momento, o que mais apresentou focos de incêndio na Amazônia em 2021.

Soja, gado e especulações de terra pública

Em Candeias do Jamari, segundo município mais desmatado em Rondônia, também foram encontradas serrarias e muitos caminhões cheios de toras de árvores. A abundância de bois pastando em áreas recém-desmatadas na região preocupa os especialistas. Ali, já há registros de invasão até em Unidades de Conservação (UCs): a Flona Jacundá e a Estação Ecológica de Samuel.Essa situação é atribuída pela equipe à aprovação pelo governador Marcos Rocha de um projeto de lei que reduziu em 80% os limites da reserva extrativista Jaci-Paraná, o que pode ter impulsionado a exploração de outras UCs."Vimos lado a lado todas as etapas do processo de desmatamento: a extração da madeira mais valiosa, o desmatamento e posterior queima da vegetação que fica secando ao sol para o plantio de pasto e o gado ocupando áreas que até pouco tempo eram cobertas pela floresta. É uma incongruência derrubar e queimar a floresta com a maior biodiversidade do mundo, para dar lugar a duas espécies: o gado e a grama”, avalia Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Gado em pastagem, ao lado de área desmatada e recém queimada, em Candeias do Jamari, Rondônia. (Foto: Victor Moriyama / Amazônia em Chamas) A equipe avistou ainda grandes áreas preparadas para o cultivo de grãos no norte de Rondônia. A atividade avança cada vez mais na região e, segundo os pesquisadores, já adentrou o sul do Amazonas, com plantio de soja em Humaitá.Além disso, territórios devastados em anos anteriores que se encontram abandonados no presente, sem nenhuma atividade agropecuária, são vistos pelos especialistas como indícios de um outro problema na região. “Estão usando o desmatamento para especular com terra pública”, avalia Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).saiba maisPovos indígenas são essenciais para conservação e bioeconomia da floresta95% das espécies da Amazônia já foram afetadas por queimadas, diz estudo Os dados obtidos pela expedição vão na contramão do que apregoou o presidente Jair Bolsonaro na última terça-feira (21), em discurso na ONU: a Amazônia continua, sim, a queimar — e muito. “Desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo acontecem na ilegalidade, não geram desenvolvimento para a região nem distribuem riqueza para os povos da floresta. Estamos literalmente queimando o futuro a troco de nada”, diz Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.
Revista Galileu

Poluição do ar mata 7 milhões de pessoas por ano, estima OMS


Órgão atualiza diretrizes para a qualidade do ar pela primeira vez desde 2005 e alerta que os impactos da poluição se tornaram tão graves quanto tabagismo e dietas não-saudáveis3 min de leitura

Poluição do ar mata 7 milhões de pessoas por ano, estima OMS (Foto: Photoholgic/Unsplash)


A poluição atmosférica já é responsável por 7 milhões de mortes prematuras por ano em todo o mundo, sendo mais de 300 mil na região das Américas, segundo estimativa divulgada nesta quarta-feira (22) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que atualizou suas diretrizes para a qualidade do ar pela primeira vez desde 2005.

De lá para cá, um corpo robusto de evidências científicas compiladas pelo órgão indicam que os impactos da poluição do ar sobre a saúde humana se tornaram tão graves quanto aqueles associados a problemas como tabagismo e dietas não-saudáveis. Por esse motivo, as novas recomendações do órgão sugerem limites mais restritivos para a emissão desses inimigos invisíveis — os chamados “poluentes clássicos”.

Formado pelos principais poluentes atmosféricos, esse grupo inclui as partículas transportadas pelo ar (PM), o ozônio (O₃), o dióxido de nitrogênio (NO₂), o dióxido de enxofre (SO₂) e o monóxido de carbono (CO). Com base em seis revisões sistemáticas que consideraram mais de 500 artigos, todos os limiares de referência que se referem a emissão dessas substâncias foram ajustados para baixo pelas novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar (AQGs).

A exposição a longo prazo a esses poluentes impacta diferentes aspectos da saúde. Entre as crianças, por exemplo, a exposição excessiva a esses poluentes pode afetar o desenvolvimento dos pulmões, causar infecções respiratórias e agravar a asma. A doença cardíaca isquêmica e o derrame cerebral, por sua vez, são as causas mais frequentes de mortes prematuras atribuídas à poluição atmosférica entre os adultos. E mais: de acordo com a OMS, também estão surgindo evidências de que os poluentes podem estar na origem de casos de doenças neurodegenerativas e diabetes.


O órgão internacional chama atenção particularmente para os riscos associados aos materiais particulados (PM), gerados principalmente pela combustão de combustíveis fósseis em diferentes setores, como transporte, energia, indústria e agricultura. Minúscula o suficiente para atravessar os pulmões, uma dessas partículas, a chamada PM 2.5, que é menor do que 2,5 mícrons de diâmetros (20 vezes menor do que um único grão de areia), pode até adentrar a corrente sanguínea, causando danos cardiovasculares e respiratórios. Em 2019, mais de 90% da população global vivia em áreas onde as concentrações desse material particulado excediam a diretriz de qualidade do ar da OMS de 2005.SAIBA MAIS


Gráfico compara as Diretrizes Globais de Qualidade do Ar (AQGs) da OMS para os "chamados poluentes clássicos" em 2005 e os atuais (Foto: OMS)

“O ar puro deve ser um direito humano fundamental e uma condição necessária para sociedades saudáveis ​​e produtivas”, defende Hans Henri P. Kluge, diretor regional da agência para a Europa. “No entanto, apesar de algumas melhorias na qualidade do ar nas últimas três décadas, milhões de pessoas continuam a morrer prematuramente, frequentemente afetando as populações mais vulneráveis ​​e marginalizadas”, avalia o médico, em comunicado.

Embora a poluição atmosférica seja uma ameaça à saúde em todos os países, a entidade reforça que as nações de média e baixa renda são atingidas com mais força. Para o órgão, isso é uma consequência direta do avanço do crescimento das cidades e do desenvolvimento econômico baseado na combustão de combustíveis fósseis.

De acordo com a agência, das 7 milhões de mortes anualmente causadas pela poluição atmosférica, mais de 2 milhões estão concentradas no sudeste da Ásia. A região é seguida pelo Pacífico Ocidental (mais de 2 milhões), a África (1 milhão), o Mediterrâneo Oriental (500 mil), a Europa (500 mil) e as Américas (mais de 300 mil).

Melhorar a qualidade do ar traz benefícios não só à saúde das populações, mas também ao combate global às mudanças climáticas, e vice-versa. Segundo a OMS, a poluição e as alterações no clima impulsionadas pelas atividades humanas representam, juntas, as maiores ameaças ambientais à saúde humana.

Se os países adotarem as novas diretrizes, o órgão estima que as mortes relacionadas às partículas PM 2.5, por exemplo, seriam reduzidas em quase 80%. “As novas Diretrizes de Qualidade do Ar da OMS são uma ferramenta prática e baseada em evidências para melhorar a qualidade do ar do qual toda a vida depende", avalia Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Exorto todos os países e todos aqueles que lutam para proteger nosso meio ambiente a colocá-los em uso para reduzir o sofrimento e salvar vidas”, disse.
Revista Galileu

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