terça-feira, 26 de julho de 2022

Um "exército fantasma" na guerra na Ucrânia?



Um "exército fantasma" na guerra na Ucrânia?
Tanques militares, sistemas antiaéreos e até aviões - tudo inflável. Uma empresa tcheca se especializou em construir um arsenal inflável no estilo soviético.

A história mostra que tentar enganar o inimigo no campo de batalha é uma das táticas de guerra mais antigas. Equipamento inflável enganou os nazistas durante a Segunda Guerra, por exemplo, e agora alguns especialistas pleiteiam que também seja usado no conflito na Ucrânia.

Como os Emirados Árabes dizem fazer chover no deserto

 



Como os Emirados Árabes dizem fazer chover no deserto
Chuva é algo raro nos Emirados Árabes Unidos, mas um programa multimilionário de semeadura de nuvens tenta aumentar no país a precipitação, por exemplo, em áreas agrícolas. Críticos dizem que método é pouco científico.

Como podemos esfriar o planeta e frear o aquecimento global?



Nos últimos tempos, o aquecimento global e suas consequências devastadoras para a humanidade têm sido assunto em todo o mundo.

Desde 1970, o termômetro do planeta tem disparado. E, segundo cálculos alarmantes de cientistas, o aumento da temperatura pode chegar a quase 4ºC em 2100.

Isso, asseguram eles, levaria a humanidade a uma catástrofe climática que representaria grande ameaça à vida..

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Por que a Lua parece próxima em algumas noites e distante em outras?




A Lua muitas vezes parece enorme ao nascer por causa do que é conhecido como a ilusão lunar. 
Crédito: Roadcrusher/Wikimedia Commons, CC BY-SA

Algumas noites a Lua parece muito próxima e maior que o normal.

Em uma noite de verão, quando eu era criança, lembro-me de ter ficado perplexo e assustado com uma enorme forma redonda se aproximando lentamente atrás da casa de minha amiga Nancy, que ficava em uma colina do outro lado de nossa cidadezinha.
Em algum momento, de repente percebi que era a Lua, e corri gritando pelo jardim para contar ao meu pai e fazer ele vir ver. Era maior que uma casa, cor de laranja profundo e certamente de grande significado. Meu pai murmurou algo sobre perspectiva e voltou a fazer jardinagem ou tocar piano.

Não convencido, continuei observando a Lua. Mais tarde, uma vez que a Lua subiu mais alto no céu, voltou a se parecer com o que era habitual.



Bem-vindo ao que astrônomos como eu chamam de ilusão lunar.

Pode ser difícil acreditar que é apenas uma ilusão quando a Lua parece enorme, mas é verdade. Você pode realmente testar a ilusão e até mesmo capturá-la com uma câmera.



Truque da mente

Os astrônomos discutem a ilusão da Lua há séculos, e há alguns fatos com os quais todos concordam.

As pessoas notam principalmente a Lua parecendo maior e mais próxima quando está cheia e próxima do horizonte. Isso ocorre porque sua mente julga quão grande ou pequeno é um objeto como a Lua comparando-o com outras coisas familiares.

Imagine que você está do lado de fora perto de sua casa. Sua casa parecerá grande e, se a Lua nascer ao lado dela, a Lua parecerá normal. Se você olhar para uma casa de longe, porém, a casa parecerá muito pequena.

A ilusão vem do fato de que a Lua está tão distante que, não importa onde você esteja na Terra, ela sempre parece do mesmo tamanho. Na verdade, são as coisas com as quais sua mente compara a Lua – uma casa, uma montanha ou qualquer outra coisa – que parecem maiores ou menores, dependendo da distância que você está. Assim, quando nasce ao lado de uma casa distante ou de uma montanha distante, a Lua parece enorme.




Os fotógrafos usam esse truque para tirar imagens espetaculares de objetos distantes com a Lua atrás deles. As pessoas geralmente experimentam a ilusão da Lua nas férias quando vão a espaços abertos. Pode ser por isso que as grandes luas se tornam memórias poderosas de tempos felizes.
Zoom atmosférico e órbita elíptica

Existem várias explicações convincentes, mas erradas, para a ilusão da Lua. A maioria está fundamentada em alguma verdade, então elas persistem.

A primeira é a ideia de que a atmosfera age como uma lente e amplia a Lua. Quando a Lua está perto do horizonte, sua luz tem de viajar muito mais pela atmosfera da Terra do que quando a Lua está diretamente acima. É verdade que todo aquele ar age como um prisma gigante e desvia os raios de luz, distorcendo a cor e a forma da Lua. Mas não funciona como uma lupa.

A seguir vem a ideia de que em algumas noites a Lua realmente está mais próxima. A órbita da Lua não é perfeitamente circular – é mais como uma forma oval, chamada de elipse –, então ela se aproxima e se afasta ao longo de um mês.





Quando a parte mais próxima da órbita coincide com uma Lua cheia, é chamada de Superlua. Mas quando a Lua está mais próxima da Terra, está apenas cerca de 12% a 15% mais próxima do que quando está mais distante da Terra – uma diferença muito pequena para explicar a ilusão da Lua. É difícil notar uma diferença de 15% no tamanho apenas olhando para a Lua sozinha no céu.
Testando a ilusão

É fácil testar a ilusão da Lua, e você mesmo pode fazê-lo. Da próxima vez que vir a Lua parecendo enorme e mais próxima do que o normal, estenda a mão com o braço esticado. Então feche um olho e veja qual ponta do dedo mal cobre a Lua – para mim, é meu dedo mindinho. Espere um pouco até que a Lua se mova mais alto no céu e tente o experimento novamente. A Lua pode parecer menor, mas seu mesmo dedo a cobrirá da mesma forma.

* Silas Laycock é professor de astronomia na Universidade de Massachusetts em Lowell (EUA).
Revista Planeta

domingo, 10 de julho de 2022

Amazônia perdeu extensão de 2 mil campos de futebol por dia em 2022


Desmatamento da mata nativa entre janeiro e maio é o maior registrado em 15 anos. Estado do Amazonas foi o que mais perdeu área de floresta no período
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FOTO: NACHO DOCE/REUTERS

 

ÁREA DESMATADA NA REGIÃO AMAZÔNICA DE ITAITUBA, NO PARÁ

A Amazônia perdeu por dia 3.360 km² de mata nativa de janeiro a maio de 2022. A área de floresta devastada diariamente equivale a 2.000 campos de futebol. Essa é a maior destruição observada no local em 15 anos. Os dados foram divulgados pela Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e foram coletados através do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), que monitora a região por meio de imagens de satélite desde 2008.



Em maio foram desmatados 1.476 km², cerca de 44% do acumulado do ano. Em comparação com maio de 2021, quando foram destruídos 1.125 km², pior marca para o mês nos últimos 14 anos, a devastação cresceu 31%.



Dos nove estados que compõem a Amazônia Legal, o Amazonas foi o que mais perdeu floresta no período, com 553 km² desmatados. Só na cidade de Apuí foram 214 km² de desmatamento. Foi o município que mais destruiu a Amazônia no mês de maio.



O segundo estado mais desmatado foi o Pará. Uma das preocupações é o avanço da devastação em áreas de proteção ambiental. Seis das dez UCs (unidades de conservação) e quatro das dez TIs (terras indígenas) ficam no Pará.



A degradação na floresta é identificada no SAD através dos danos que ocorrem no solo, pela ação de madeireiros ou do fogo. O desmatamento é observado quando cortes rasos são feitos na floresta, prática comum em atividades pecuárias, agropecuárias e garimpos.
Jornal NEXO

Planeta anão foi formado na zona mais fria do Sistema Solar e lançado para o Cinturão de Asteroides





Imagens de Ceres feitas pela sonda Dawn: planeta anão veio de longe até se estabilizar no Cinturão de Asteroides. Crédito: Nasa




Estudo que busca reconstituir o processo de formação do planeta anão Ceres foi publicado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaboradores no periódico Icarus.

O trabalho foi conduzido por Rafael Ribeiro de Sousa, professor do Programa de Pós-Graduação em Física, campus de Guaratinguetá. Também assinam o artigo o professor Ernesto Vieira Neto, que foi o orientador de Ribeiro de Sousa em sua pesquisa de doutorado, e pesquisadores da Université Côte d’Azur, na França; da Rice University, nos Estados Unidos; e do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.

Como explicam os autores, Ceres é um integrante do Cinturão de Asteroides, coleção de corpos celestes localizada entre as órbitas de Marte e Júpiter. De formato aproximadamente esférico, é o maior objeto do Cinturão, concentrando um terço de sua massa total. Seu diâmetro, com quase mil quilômetros, é pouco maior do que um terço do diâmetro da Lua. Com excentricidade de 0,09, tem órbita quase circular. E a inclinação de sua órbita em relação ao plano invariante do Sistema Solar, inferior a 10 graus, é bem maior que a inclinação da órbita da Terra, que é de 1,57 grau.


A massa de Ceres é pequena demais para poder segurar, por atração gravitacional, uma atmosfera. Mas um fato notável é que os gelos de amônia e de água existentes sob sua superfície evaporam com a incidência da luz solar. E a névoa formada dispersa-se no espaço exterior. Os depósitos de gelo brilham muito no fundo das crateras. Não está excluída a hipótese de que possam abrigar alguma forma primitiva de vida. A Missão Dawn, da Nasa, a agência espacial norte-americana, que se aproximou bastante dos asteroides Ceres e Vesta, mapeou essas crateras. Um vídeo muito interessante da cratera Occator, composto com imagens captadas pela espaçonave, pode ser visto no site da missão.


O núcleo do planeta anão é composto provavelmente por material pesado: ferro e silicatos. Mas o que diferencia Ceres dos objetos vizinhos é seu manto de gelo de amônia e água. Como a maioria dos corpos do Cinturão de Asteroides não tem amônia, a hipótese é a de que Ceres tenha sido formado fora, na região mais fria que se estende além da órbita de Júpiter e, depois, lançado para a zona média do Cinturão devido à grande instabilidade gravitacional provocada pela formação dos planetas gasosos gigantes Júpiter e Saturno.

“A presença de gelo de amônia é uma forte evidência observacional de que Ceres possa ter sido formado na região mais fria do Sistema Solar, além da chamada Linha de Gelo, onde as temperaturas eram baixas o suficiente para ocorrer condensação e fusão de água e substâncias voláteis, como monóxido de carbono [CO], dióxido de carbono [CO2] e amônia [NH3]”, diz Ribeiro de Sousa.

Hoje, a Linha de Gelo está localizada muito próxima da órbita de Júpiter. Porém, quando o Sistema Solar estava em formação, há 4,5 bilhões de anos, a posição dessa zona variou de acordo com a evolução do disco de gás protoplanetário e a formação dos planetas gigantes. “A forte perturbação gravitacional provocada pelo crescimento desses planetas pode ter alterado a densidade, a pressão e a temperatura do disco protoplanetário, o que teria deslocado a Linha de Gelo. Essa perturbação no disco de gás protoplanetário teria feito com que planetas em crescimento, enquanto adquiriam gás e sólidos, migrassem para órbitas mais próximas do Sol”, explica o professor Vieira Neto.



“Em nosso trabalho, propusemos um cenário para explicar o porquê de Ceres ser tão diferente dos asteroides vizinhos. Nesse cenário, Ceres teria iniciado a sua formação em uma órbita além de Saturno, onde a amônia era abundante. Durante o crescimento dos planetas gigantes, foi puxado para o Cinturão de Asteroides, como um retirante do Sistema Solar externo, e sobreviveu até hoje, por 4,5 bilhões de anos”, afirma Ribeiro de Sousa.

Para comprovar tal hipótese, Ribeiro de Sousa e colaboradores realizaram um grande número de simulações computacionais da fase de formação dos planetas gigantes dentro do disco de gás protoplanetário que circundava o Sol. No modelo, foram consideradas no disco as presenças de Júpiter, Saturno, embriões planetários (precursores de Urano e Netuno) e uma coleção de objetos similares em tamanho e composição química a Ceres. A suposição foi a de que Ceres seria um objeto de tipo planetesimal. Estes são considerados os “blocos de construção” dos planetas e de outros corpos do Sistema Solar, como asteroides, cometas, etc.

“Em nossas simulações, verificamos que a fase de formação dos planetas gigantes não foi nada tranquila. Caracterizou-se por colisões gigantescas entre os precursores de Urano e Netuno, pela ejeção de planetas para fora do Sistema Solar e até mesmo pela invasão da região interna por planetas com massas maiores do que três vezes a massa da Terra. Além disso, a forte perturbação gravitacional espalhou objetos similares a Ceres por toda a parte. Alguns, com uma certa probabilidade, alcançaram a região do Cinturão de Asteroides e adquiriram órbitas estáveis, capazes de sobreviver a outros eventos”, conta o pesquisador.

Segundo Ribeiro de Sousa, três mecanismos principais atuaram para preservar esses objetos na região: a ação do gás, que amorteceu as excentricidades e as inclinações de suas órbitas; as ressonâncias de seus movimentos médios com Júpiter, que os protegeram de ejeções e colisões causadas por esse planeta gigante; e encontros próximos com os planetas invasores, que espalharam os planetesimais para regiões mais internas e estáveis do Cinturão de Asteroides.

“Nosso principal resultado indica que, no passado, houve no mínimo 3.500 objetos do tipo Ceres, além da órbita de Saturno. E que, com esse número de objetos, nosso modelo mostrou que um deles conseguiu ser transportado e capturado no Cinturão de Asteroides, em uma órbita muito similar à órbita atual de Ceres”, destaca o pesquisador.



Esse número, de 3.500 objetos de tipo Ceres, já havia sido estimado por outros estudos, a partir da observação de crateras e de tamanhos de outras populações de astros, situadas além de Saturno, como aquelas que compõem o Cinturão de Kuiper, onde orbitam Plutão e outros planetas pequenos. “Com nosso cenário, fomos capazes de confirmar tal número e explicar as propriedades orbitais e químicas de Ceres. Esse trabalho conta um ponto a favor dos modelos mais recentes de formação do Sistema Solar”, resume Ribeiro de Sousa.

Um pouco sobre a formação planetária

Um cenário sobre a formação planetária do Sistema Solar, composto a partir das informações mais atualizadas disponíveis, permite entender melhor o estudo em pauta, situando Ceres no quadro geral.

“A partir de evidências observacionais, sabe-se que qualquer sistema planetário – não apenas o Sistema Solar – é formado a partir de um disco de gás e poeira que circunda uma estrela recém-formada. O evento que forma a estrela ainda é objeto de estudo, mas o consenso até o momento é que ela nasce a partir do colapso gravitacional de uma nuvem molecular gigante”, afirma Ribeiro de Sousa.

A existência dos discos protoplanetários não é mera suposição. Ao contrário, respalda-se em observações robustas. É o caso das imagens obtidas pela Agência Espacial Europeia por meio do rádio-observatório Alma (Atacama Large Millimeter Array), um sistema constituído por 66 antenas situado no deserto do Atacama, no Chile. Com impressionante resolução e riqueza de detalhes, essas imagens mostram discos protoplanetários ao redor de estrelas bem jovens.

“No caso do Sistema Solar, os dados de que dispomos sugerem que o disco protoplanetário fosse constituído por 99% de gás e 1% de poeira. Esta seria proveniente de estrelas mais antigas, que encerraram seu ciclo de vida e lançaram material pesado no espaço. A poeira que se acumulou ao redor do Sol foi suficiente para formar ao menos os pequenos corpos, os planetas terrestres e os núcleos dos grandes planetas gasosos. Os primeiros sólidos que se condensam no disco protoplanetário são chamados de CAIs (do inglês Calcium Aluminium rich-Inclusions). Como o próprio nome informa, eram ricos em cálcio e alumínio. Foram encontrados como inclusões em meteoritos. E suas idades mais antigas foram datadas em 4,568 bilhões de anos”, informa o pesquisador.

Diversas estrelas jovens, observadas em ambientes caracterizados como berços de formação planetária, foram datadas com idades variando entre 1 e 10 milhões de anos. Esse dado forneceu uma informação muito importante, porque mostrou que a formação de planetas gasosos (como Júpiter e Saturno) ou que possuam ao menos um envelope gasoso (como Urano e Netuno) deve ocorrer, no máximo, nos primeiros 10 milhões de anos de vida da estrela. Depois disso, os discos protoplanetários não possuem mais gás suficiente.

Planetas rochosos, de tipo terrestre, poderiam surgir antes ou depois – não se sabe. Mas outras informações disponíveis mostram que a formação da Terra e da Lua foi um dos eventos mais tardios na gênese do Sistema Solar, ocorrido por volta de 4,543 bilhões de anos atrás. Quanto aos pequenos corpos que compõem o sistema (planetas anões, satélites, cometas, asteroides, poeira, etc.), eles são resultados do resto da formação dos planetas e evoluíram física e dinamicamente antes e depois da fase de gás, por processos como interações com o gás, colisões, capturas gravitacionais e outros.

O processo de formação planetária é bastante complexo. Os estágios vão da poeira, com tamanhos da ordem do mícron (10−6 m), até planetas várias vezes maiores do que Júpiter. “A poeira se acumula por adesões e colisões dentro do disco protoplanetário. A atração gravitacional entre essas partículas não é relevante. Mas a atração gravitacional exercida pelo Sol faz com que o gás gire mais devagar do que a poeira. E isso produz um arrasto aerodinâmico muito forte sobre a poeira. A força de arrasto leva as partículas para o plano do disco de gás e as desloca radialmente em direção ao Sol. Quando a poeira alcança tamanhos da ordem de alguns centímetros, formam-se seixos, que fazem toda a diferença no processo de crescimento planetário, pois influenciam a velocidade de rotação do gás. Quando as velocidades do gás e dos seixos se igualam, o arrasto do gás torna-se praticamente nulo, o que oferece aos seixos a chance de se concentrarem o suficiente para originarem planetesimais – corpos com tamanhos variando de 10 a 1.000 quilômetros, que se tornam os blocos de construção dos planetas e os precursores dos pequenos corpos”, narra Ribeiro de Sousa.

No estágio seguinte, formam-se objetos cada vez maiores, por captura gravitacional de seixos e poeira ou por colisões. Quando um objeto cresce o suficiente para ter a massa de três a dez Terras, a perturbação gravitacional que produz no disco de gás faz com que ele migre para órbitas mais próximas da estrela. Quando cresce acima de dez Terras, passa a acumular ao seu redor um envelope de gás. E, a partir da acumulação do gás, seu crescimento torna-se muito rápido.

“A formação dos planetas gigantes Júpiter e Saturno produziu uma perturbação gravitacional tão grande que modelou o disco de gás e provocou um novo tipo de migração planetária. Essa fase violenta fez planetas colidirem e planetas serem ejetados para fora do Sistema Solar, até que o balanço gravitacional possibilitou que o sistema como um todo adquirisse certo grau de estabilidade”, conclui Ribeiro de Sousa.

O estudo recém-divulgado contou com financiamento da Fapesp por meio de Bolsa de Doutorado e de Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior concedidas a Ribeiro de Sousa. E também recebeu apoio por meio do Projeto Temático “A relevância dos pequenos corpos em dinâmica orbital”.

O artigo Dynamical origin of the Dwarf Planet Ceres pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0019103522000549?dgcid=author#!.
Revista Planeta

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Mudanças na vegetação moldaram temperaturas globais nos últimos 10 mil anos






Crédito: Unsplash/CC0 Public Domain



Siga o pólen. Registros da vida vegetal passada contam a história real das temperaturas globais, de acordo com a pesquisa de um cientista climático da Universidade de Washington em St. Louis (EUA). Temperaturas mais quentes trouxeram plantas – e depois vieram temperaturas ainda mais quentes, de acordo com novas simulações de modelos publicadas na revista Science Advances.

Alexander Thompson, pesquisador associado de pós-doutorado em ciências da terra e planetárias em Artes e Ciências da Universidade de Washington em St. Louis, atualizou as simulações de um importante modelo climático para refletir o papel da mudança da vegetação como um fator-chave das temperaturas globais nos últimos 10 mil anos.

Thompson há muito se preocupava com um problema com modelos de temperaturas atmosféricas da Terra desde a última era glacial. Muitas dessas simulações mostraram temperaturas subindo consistentemente ao longo do tempo. Mas os registros de variáveis climáticas contam uma história diferente. Muitas dessas fontes indicam um pico acentuado nas temperaturas globais que ocorreu entre 6 mil e 9 mil anos atrás.


Expansão subestimada

Thompson teve um palpite de que os modelos poderiam estar ignorando o papel das mudanças na vegetação em favor dos impactos das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono ou da cobertura de gelo.


“Os registros de pólen sugerem uma grande expansão da vegetação durante esse período”, disse Thompson. “Mas os modelos anteriores mostram apenas uma quantidade limitada de crescimento da vegetação”, disse ele. “Então, embora algumas dessas outras simulações tenham incluído vegetação dinâmica, não foi uma mudança de vegetação suficiente para explicar o que os registros de pólen sugerem.”

Na realidade, as mudanças na cobertura vegetal foram significativas. No início do Holoceno, a época geológica atual, o deserto do Saara, na África, ficou mais verde do que hoje – era mais uma pastagem. Outras coberturas vegetais do hemisfério norte, incluindo as florestas de coníferas e caducifólias nas latitudes médias e o Ártico, também prosperaram.

Thompson pegou evidências de registros de pólen e projetou um conjunto de experimentos com um modelo climático conhecido como Community Earth System Model (CESM), um dos mais conceituados em uma ampla classe de tais modelos. Ele fez simulações para explicar uma série de mudanças na vegetação que não haviam sido consideradas anteriormente.


Interesse multidisciplinar

“A vegetação expandida durante o Holoceno aqueceu o globo em até 1,5 grau Fahrenheit [quase 1 grau Celsius]”, disse Thompson. “Nossas novas simulações se alinham de perto com variáveis paleoclimáticas. Portanto, é empolgante que possamos apontar a vegetação do hemisfério norte como um fator potencial que nos permite resolver o controverso enigma da temperatura do Holoceno.”

Compreender a escala e o tempo da mudança de temperatura ao longo do Holoceno é importante porque é um período da história recente, geologicamente falando. A ascensão da agricultura e da civilização humana ocorreu durante esse período, por isso muitos cientistas e historiadores de diferentes disciplinas estão interessados ​​em entender como o clima do início e do meio do Holoceno diferia dos dias atuais.

Thompson conduziu este trabalho de pesquisa como pós-graduando na Universidade de Michigan. Ele continua sua pesquisa no laboratório da cientista climática Bronwen Konecky na Universidade de Washington.

“No geral, nosso estudo enfatiza que a contabilização da mudança da vegetação é crítica”, disse Thompson. “As projeções para as mudanças climáticas futuras são mais propensas a produzir previsões mais confiáveis ​​se incluírem mudanças na vegetação.”
Revista Planeta

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Estudos apontam o degelo do permafrost como uma séria ameaça





1 de 2 Pico sul do maciço de Kebnekaise, em 26 de agosto de 2021 ao norte da Suécia - AFP/Arquivos







O desgelo do permafrost no Ártico, que pode liberar grandes quantidades de gases de efeito estufa, ameaça a infraestrutura local, mas também o planeta, de acordo com estudos publicados esta semana na revista Nature.

O permafrost, um solo que permanece congelado por mais de dois anos consecutivos, cobre 30 milhões de km2 do planeta, dos quais cerca de metade está no Ártico. Ele contém o dobro do CO2 presente na atmosfera e três vezes o que a atividade humana emitiu desde 1850.

Devido às mudanças climáticas, as temperaturas no Ártico aumentam muito mais rapidamente do que no resto do mundo: 2º a 3ºC em relação aos níveis pré-industriais. A região também registra uma série de anomalias meteorológicas.

A temperatura do próprio permafrost esquentou, em média, 0,4°C entre 2007 e 2016, “o que aumenta a preocupação sobre a rápida taxa de degelo e o potencial de liberação de carbono”, diz um estudo liderado por Kimberley Miner, pesquisadora do Centro de Pesquisa Espacial JPL da NASA.



O estudo prevê a perda de cerca de quatro milhões de quilômetros quadrados de permafrost até 2100, mesmo que o aquecimento global seja contido.

Os incêndios também desempenham um papel, enfatiza o estudo. Eles podem aumentar de 130% para 350% até meados do século, liberando cada vez mais carbono do permafrost.

De acordo com outro estudo liderado por Jan Hjort, pesquisador da Universidade Finlandesa de Oulu, uma ameaça mais imediata paira sobre quase 70% das estradas, oleodutos, cidades e fábricas construídas sobre o permafrost.


A Rússia corre um risco particular: quase metade dos campos de petróleo e gás do Ártico russo estão localizados em zonas de risco pelo permafrost.

Em 2020, um tanque de combustível se rompeu quando suas fundações afundaram subitamente no solo perto de Norilsk, na Sibéria, derramando 21.000 toneladas de diesel em rios próximos.



Na América do Norte, há também uma ameaça às ruas e oleodutos.

Embora se saiba cada vez mais sobre o permafrost, algumas questões permanecem sem resposta, principalmente em relação aos volumes de carbono que podem ser liberados.

Também não se sabe se o degelo levará a uma região ártica mais verde, onde as plantas poderão absorver o CO2 liberado, ou a uma região mais seca, onde os incêndios aumentarão.
Revista Isto é

Países africanos têm dificuldades para erguer ‘Muralha Verde’ e conter desertificação





Crédito: Makewaves/UNCCD


A Grande Muralha Verde, projeto da ONU para proteger e recuperar um corredor de vegetação de mais de 8 mil km ao sul do deserto do Saara, é visto como uma das grandes esperanças do continente africano para combater o avanço da desertificação, aumentar a absorção de carbono e gerar emprego e renda sustentável para muitos dos países mais pobres do mundo. A cada ano que passa, no entanto, a falta de avanços concretos na implementação do projeto traz frustração e temores de que a região seja deixada para trás na luta contra a crise climática.

Quinze anos depois de seu lançamento, a proposta voltou aos holofotes internacionais nas últimas semanas com a realização da 15ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção da ONU sobre o Combate à Desertificação (UNCCD), que termina nesta 6a feira (20/5) na Costa do Marfim. Mais do que o tempo acumulado sem avanços, o que preocupa mais os países africanos é a falta de sinais de doadores internacionais de que esse cenário possa mudar nos próximos anos. De fato, o resultado da Grande Muralha Verde até pouco tempo atrás é desanimador: apenas 4% da meta de restaurar 100 milhões de hectares tinha sido cumprida até 2020.

“Não é apenas plantar árvores, é plantar esperança para milhões de jovens”, afirmou Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da UNCCD, citado pelo Climate Home, em defesa da Grande Muralha Verde. “A esperança ainda não está se transformando em ação na escala ou no ritmo que desejamos. Porque, coletivamente, estamos lutando para transformar essas promessas em projetos e investimentos”.


Adaptações curiosas

A RFI destacou como as dificuldades de financiamento e articulação política acabaram criando adaptações curiosas no projeto da Grande Muralha. Inicialmente, a ideia era a de um corredor verde propriamente dito, se estendendo por milhares de quilômetros. Agora, a proposta é mais descentralizada, com a criação de pequenos oásis verdes no entorno de vilarejos e cidades, aproximando as pessoas das áreas vegetais e potencializando oportunidades de geração de renda por meio da vegetação. Um exemplo de sucesso para esse modelo é o de Dor, uma cidade no nordeste de Burkina Faso: por meio de um modelo de governança descentralizado, que envolve a participação de toda a comunidade, diversos projetos de recuperação de solo e reflorestamento foram implementados nos últimos anos, com ganhos ambientais e de expertise.



Em tempo: Em julho, terminará o mandato da mexicana Patricia Espinosa como secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), depois de seis anos. Com isso, abre-se espaço para uma disputa pelo comando da UNFCCC, um dos espaços mais destacados da diplomacia ambiental. A seleção já começou, com a ONU divulgando na semana passada as condições e o perfil da pessoa desejada para suceder Espinosa: alguém sênior, com uma “visão estratégica e uma compreensão íntima” de questões climáticas e de desenvolvimento, preferencialmente com experiência governamental. O salário? US$ 207 mil anuais. Como assinalado pelo Climate Home, a expectativa é de que o novo nome venha da Ásia ou da África, já que os secretários-executivos mais recentes da UNFCCC eram da Europa e da América Latina.
Revista Planeta

Intoxicação por agrotóxicos mata um brasileiro a cada dois dias, diz relatório





Texto por:Deutsche Welle



A cada dois dias, uma pessoa morre por intoxicação de agrotóxicos no Brasil – cerca de 20% dessas vítimas são crianças e adolescentes de até 19 anos. O dado consta num relatório publicado nesta quinta-feira (28/04) pela rede ambientalista Friends of the Earth Europe.

A pesquisa da entidade europeia, que reúne uma série de organizações, mapeia a aliança entre empresas agroquímicas europeias – como Bayer e Basf – e o lobby do agronegócio brasileiro.

Segundo o texto, os esforços conjuntos desses dois atores para promover o livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) "causaram danos significativos à saúde das pessoas e ao meio ambiente no Brasil".

"Corporações europeias como Bayer e Basf, que são os principais fabricantes europeus de pesticidas, têm promovido o acordo comercial UE-Mercosul por meio de grupos de lobby. Seu lobby tem procurado aumentar o acesso ao mercado de alguns de seus agrotóxicos mais nocivos ao unir forças com associações do agronegócio brasileiro. Ao fazer isso, eles apoiam uma agenda legislativa que visa minar os direitos dos indígenas, remover salvaguardas ambientais e legitimar o desmatamento", diz a Friends of the Earth Europe no documento.


Segundo o relatório, grupos que representam a Bayer, a Basf e a Syngenta já gastaram cerca de 2 milhões de euros para apoiar o lobby do agronegócio no Brasil.

E esse lobby financiado por empresas europeias deu frutos: o uso de agrotóxicos em território brasileiro se multiplicou por seis nos últimos 20 anos, afirma o relatório.

Somente em 2021, foram aprovados 499 novos pesticidas no país, um número recorde. Além disso, a Bayer e a Basf tiveram, juntas, 45 novos agrotóxicos aprovados no Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro, sendo que 19 deles contêm substâncias proibidas na UE.


"Como se bastasse manchar os pratos europeus com glifosato, a Bayer vem operando uma ofensiva agressiva de lobby no Brasil para promover pesticidas que são mortais demais para a União Europeia", afirma Audrey Changoe, especialista em comércio da Friends of the Earth Europe e uma das autoras do estudo, ao lado da brasileira Larissa Bombardi, professora da USP e especialista em agrotóxicos no Brasil.
"Licença para envenenar"

O relatório assinado pelas duas especialistas afirma que grandes corporações europeias fabricantes de agrotóxicos se beneficiam das "regulações ambientais fracas do Brasil" e, além disso, também trabalham com o agronegócio brasileiro para moldar como essas leis são escritas.

Segundo o texto, a agenda do agronegócio se reflete no Congresso brasileiro por meio da bancada ruralista, "notória por pressionar para enfraquecer a legislação ambiental e de pesticidas e desmantelar órgãos governamentais responsáveis pela proteção do meio ambiente". "As empresas da UE estão apoiando esse bloco e, por sua vez, facilitando sua agenda", diz o relatório.

"Nossas descobertas são alarmantes: uma legislação ainda mais fraca no Brasil dará à Bayer uma licença para envenenar a natureza e as comunidades rurais que já sofrem com a agricultura intensiva de pesticidas", completa Changoe.

O documento lembra que a bancada ruralista é aliada próxima do governo Bolsonaro e endossou sua candidatura em 2018. A organização também acusa o atual governo de criminalizar a sociedade civil e os movimentos sociais que lutam contra o uso de agrotóxicos – o que faz aumentar ainda mais o poder político de grandes corporações europeias.

Acordo UE-Mercosul

Dessa forma, o relatório se posiciona de forma contrária à ratificação do acordo comercial UE-Mercosul – fechado após duas décadas de negociações –, que aumentaria as exportações de produtos agrícolas para a Europa e as importações de agroquímicos para os países do Mercosul – especialmente para o Brasil, que é o maior exportador mundial de soja.

"Embora o acordo traga oportunidades para as empresas agroquímicas que operam na UE, incluindo a Bayer e a Basf, também corre o risco de exacerbar os danos devastadores causados à natureza e às comunidades locais, incluindo os povos indígenas, cujo modo de vida e os direitos à terra são atacados pelo agronegócio brasileiro", diz o texto.

Segundo o relatório, o acordo vem num momento em que "os sinais da perda dramática da biodiversidade global relacionada ao uso de pesticidas se tornam cada vez mais evidentes".

A organização ressalta que, se o pacto comercial for ratificado, as tarifas sobre agroquímicas serão reduzidas em até 90%, levando a um provável aumento da exportação de pesticidas perigosos da UE aos países do Mercosul, incluindo alguns proibidos na Europa devido ao risco que representam à saúde humana e ao meio ambiente.

Segundo o texto, o acordo também deve impulsionar as exportações de produtos como soja, cana-de-açúcar e etanol derivado da cana, que dependem fortemente de agrotóxicos, bem como de carne bovina e aviária, que dependem da soja como ração animal, aumentando ainda mais o uso de pesticidas. "Esses produtos agrícolas também estão ligados ao desmatamento e à destruição da biodiversidade, bem como à violação dos direitos indígenas", reitera o relatório.

A Friends of the Earth Europe afirma, assim, que o comércio promovido pelo pacto está "fundamentalmente em desacordo" com outras metas ambientais do bloco europeu, e pede que os Estados-membros da UE rejeitem o acordo com o Mercosul, "se afastem de promover o modelo de monocultura com uso intensivo de pesticidas" e "apoiem abordagens de agricultura mais sustentáveis, amigas da natureza e centradas em pessoas".

O relatório pede ainda que a União Europeia introduza uma proibição imediata das importações de itens com resíduos de produtos químicos que já são proibidos na própria UE.

"A União Europeia tem a responsabilidade de parar o comércio tóxico UE-Mercosul agora", conclui Audrey Changoe, uma das autoras do relatório.
Revista Planeta

Novas pesquisas ressaltam impactos do desmate e do aquecimento na Amazônia






Desmatamento na Amazônia: perspectivas de futuro sombrias. Crédito: © Op VERDE BRASIL/17


Crescem as evidências científicas de que a ação humana direta (por meio do desmatamento) e indireta (pelas mudanças climáticas) está provocando um ciclo vicioso de destruição da maior floresta tropical do planeta. Ciclo também perigoso, já que a Amazônia pode estar se aproximando de seu ponto de inflexão. Dois estudos sobre os impactos da fragmentação de florestas e do desmatamento na vegetação foram publicados em prestigiadas revistas científicas internacionais nos últimos dias.

Um deles, publicado no Journal of Ecology na terça-feira (22/2) e destacado pelo Estadão, trouxe o resultado da análise de 15 mil árvores da borda sul da Floresta Amazônica, envolvendo os estados de Pará e Mato Grosso, onde a degradação florestal é intensa. Na borda, a mortalidade é maior do que em qualquer outra parte da Amazônia, indicando o que poderá ocorrer se o desmatamento avançar em direção à floresta profunda. A falta de água e a força dos ventos foram as principais causas da mortalidade das árvores. Na engrenagem da destruição, as mudanças climáticas fazem com que o número de dias mais quentes e secos aumente, reduzindo a umidade e as chuvas. O desmatamento, por sua vez, deixa as árvores da borda mais expostas aos ventos, que aumentam com as temperaturas mais altas na região, destruindo mais árvores. O processo empurra a floresta rumo ao temido ponto de desequilíbrio e de savanização, com estudos apontando isso há décadas.

Outra pesquisa, liderada por pesquisadores da Universidade de Helsinque e publicada na Nature Communications, reforça que a fragmentação florestal na Amazônia está aumentando ainda mais os efeitos negativos, nas árvores altas, do aquecimento da temperatura em florestas menores e fragmentadas, remanescentes do desmatamento.
Revista Planeta

A caixa preta do Permafrost



O agravamento do aquecimento global pode liberar na atmosfera um gigantesco volume de metano e dióxido de carbono retido no permafrost, o solo perenemente congelado do Ártico


Permafrost é uma palavra cujo significado é conhecido apenas por cientistas e ambientalistas, mas pode cair na boca do povo em um espaço de tempo relativamente curto. O motivo é que essa camada de terra, gelo e rochas, em tese permanentemente congelada, presente nas regiões árticas (ver quadro na página 37), também está sentindo o avanço do aquecimento global.



Além de inclinar árvores, rachar a pavimentação de estradas e colocar em risco obras de infraestrutura, a elevação das temperaturas nessas áreas causa uma enorme liberação de gases de efeito estufa (GEE), sobretudo metano, cuja capacidade de reter calor é 25 vezes maior do que a do dióxido de carbono.

O permafrost recobre 13 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a 25% das terras do Hemisfério Norte. No total, o ecossistema representa 20% da superfície emersa da Terra, espalhando-se pelo Ártico, sub-Ártico e Antártida. Por volta de 63% do território russo é ocupado por ele. O solo abriga restos de plantas e animais, acumulados ao longo de milênios. Com o degelo nos meses mais quentes do ano, esses materiais orgânicos começam a se decompor, injetando metano e dióxido de carbono na atmosfera.

Cientistas integrantes do Permafrost Carbon Research Network calculam que, nos próximos 30 anos, cerca de 45 bilhões de toneladas métricas de carbono originado do metano e do dióxido de carbono chegarão à atmosfera quando o permafrost degelar ao longo dos verões. O volume é equivalente à emissão global de GEE durante cinco anos por queima de combustíveis como petróleo, carvão e gás.



Por volta de 2100, os pesquisadores preveem um cenário ainda mais sombrio: daqui até lá, 300 bilhões de toneladas métricas de carbono deverão ser liberados do permafrost. Para Edward Schuur, da Universidade da Flórida (EUA) e membro do Permafrost Carbon Research Network, toda essa emissão significa um aquecimento entre 20% e 30% mais rápido do que o produzido apenas pela liberação de combustíveis fósseis.

Ressaltando a gravidade da situação, a Organização Mundial de Meteorologia anunciou, em novembro, que o calor mais acentuado em 2011 ocorreu exatamente nas regiões setentrionais onde se concentra o permafrost, principalmente na Rússia. Desde 1970, o Ártico vem se aquecendo num ritmo duas vezes maior do que o do restante do mundo. De acordo com Schuur, até mesmo o carbono aprisionado antes da aurora da civilização humana já está sendo liberado na atmosfera.Nas regiões árticas como o Alasca, o degelo e a decomposição da matéria orgânica, como restos de plantas e animais, emitem vasta quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera

As florestas da taiga crescem e se decompõem sobre o permafrost. Seu degelo envia toneladas de gases de efeito estufa para a atmosfera. Abaixo, cientistas do Instituto de Estudos do Permafrost, em Yakutsk, na Sibéria, monitoram o solo.


Impacto duradouro


O degelo ártico no verão está mudando a profundidade do solo examinada pelos cientistas. Em áreas pesquisadas do Alasca o degelo ia de alguns centímetros a menos de um metro, mas agora observam-se derretimentos de até três metros. O permafrost pode se estender por centenas de metros abaixo da superfície, mas por enquanto o problema se limita aos níveis superiores.

No quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), divulgado em 2007, a questão do permafrost nem sequer foi abordada. O assunto, porém, torna-se inevitável num momento em que a emissão de GEE não para de subir e a concentração de CO2 na atmosfera se aproxima perigosamente do nível de 400 partes por milhão (teto para que a elevação média de temperatura se limite a 2°C).

De acordo com a equipe de 41 cientistas do Permafrost Carbon Research Network, que publicou um estudo sobre o tema na revista Nature em novembro, as quantidades de GEE emitidas a partir do permafrost estão crescendo a cada ano. “Calculamos que o degelo do permafrost liberará a mesma ordem de magnitude de carbono que o desmatamento, se os atuais índices de desmatamento continuarem”, escrevem os autores no texto.

Para ressaltar a ameaça do permafrost, a professora Katey Walter Anthony, da Universidade do Alasca em Fairbanks, participante do grupo e coautora do estudo, divulgou mundialmente uma fotografia tirada no campus da universidade, na qual ateia fogo numa fresta de vazamento de metano em uma lagoa congelada no campus da universidade. As chamas se elevam até um ponto acima de sua cabeça. “Lugares com vazamentos como esse estão em toda parte. Estamos atingindo carbono antigo, que ficou armazenado no solo por 30 mil ou 40 mil anos”, disse ela.




Expansão para baixo


Permafrost, ou pergelissolo em português, significa solo permanentemente congelado, sendo o “permanente” definido como a continuidade, por dois ou mais anos, do registro de temperaturas abaixo de zero grau centígrado na superfície.

O principal fator formador de permafrost é o clima: nas áreas onde ele incide a temperatura média do ar é igual ou inferior a 0°C. Típico de altas latitudes, esse clima se caracteriza por invernos longos e gelados, com pequena precipitação de neve, e verões curtos, frios e relativamente secos.

Além de manterem o permafrost sólido, as baixas temperaturas impedem a decomposição de matéria orgânica e o movimento descendente de água. Nas áreas de temperatura abaixo de 0°C, uma parte do solo congelado durante o inverno não descongela ao longo do curto verão. Com isso, novas camadas de permafrost se formam e se expandem para baixo a cada ano, a partir do solo congelado no inverno. O resultado é que em algumas áreas há camadas de até mais de 700 metros de profundidade.

O congelamento e o descongelamento cíclico das águas subterrâneas situadas nas camadas superficiais fazem o solo se deslocar e se mexer, o que resulta em modificações estruturais consideráveis, um problema sério para a segurança e a construção de edifícios, estradas e obras de infraestrutura no Canadá e na Sibéria.



A previsão do Permafrost Carbon Research Network é dramática, considera o pesquisador brasileiro Jean Ometto, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Na realidade”, explica ele, “a estimativa de emissões do metano do permafrost nos próximos 30 anos baseia-se na premissa de que o aquecimento global é um processo contínuo e crescente.

Assim, parte do solo congelado nas regiões boreais descongelaria e a decomposição intensa da enorme quantidade de matéria orgânica liberaria uma quantidade muito grande de metano. Caso isso realmente aconteça, a concentração de metano na atmosfera aumentaria signifi cativamente, o que retroalimentaria o processo, provocando um maior aquecimento da atmosfera.”


Segundo a equipe do Permafrost Carbon Research Network, já entramos num ciclo de retroalimentação. Fatores determinados pelas emissões de combustíveis fósseis estão aquecendo o planeta. Isso faz o permafrost degelar, liberando mais GEE, o que incrementa a elevação de temperatura. “É importante controlarmos os níveis de emissões atuais para que o aquecimento global não extrapole os 2°C, em relação ao período pré-industrial. Se conseguirmos, parte do problema do degelo do permafrost seria contornada”, observa Ometto.


Mantendo-se o atual ritmo de emissões, entretanto, interromper o processo de retroalimentação será bastante difícil. A alternativa mais viável para amenizar a ameaça do permafrost, segundo Edward Schuur, é controlar as emissões originárias de combustíveis fósseis e reduzir o desmatamento – duas atitudes que a humanidade ainda reluta muito em tomar.
Revista Planeta

PELA VALORIZAÇÃO DOS OCEANOS NA EDUCAÇÃO



Pesquisas revelam a pequena representatividade da temática oceânica nos currículos escolares do Brasil e o pouco conhecimento da população sobre o assunto. Esses resultados indicam a necessidade de se investir em estratégias para familiarizar as pessoas sobre o papel e a relevância do oceano para a sociedade, assim como para a sobrevivência do planeta. É nesse contexto que entra em cena a cultura oceânica, também chamada de alfabetização oceânica ou mentalidade marítima, que usa a informação para combater a degradação desse ambiente.




Quem já teve a oportunidade de se sentar na areia da praia e contemplar o mar que se perde na linha do horizonte sabe o quanto essa imagem impressiona. A imensidão azul, no entanto, fez (e ainda faz) o oceano pagar um alto preço, uma vez que, por muito tempo, se associou essa vastidão a uma resiliência infinita. É como se esse corpo de água salgada que cobre grande parte do planeta tivesse a capacidade de resistir a tudo o que nele for lançado, bem como tolerar a retirada de seus recursos como se estes fossem ilimitados.

Embora essa visão de infinitude seja ainda muito comum, hoje é crescente a noção de que, apesar de sua resiliência, o oceano já dá sinais de que não é capaz de suportar todas as agressões resultantes de atividades humanas. Um exemplo disso foi o grande vazamento de óleo, em 2019, no litoral do Nordeste, que se espalhou para outras regiões do país e teve efeitos negativos sobre a pesca e o turismo, apenas para citar os setores mais afetados. Outra demonstração de enfraquecimento é o branqueamento de corais no litoral do Nordeste, resultado do aumento da temperatura da água, fenômeno cada vez mais comum no Brasil e no mundo e que pode causar danos irreversíveis a um dos ecossistemas mais produtivos do planeta.


Ações para proteger a vida e o ambiente marinho

Diante dos claros sinais de uso descontrolado do oceano e suas consequências, algumas iniciativas têm sido propostas no sentido de estabelecer um uso mais racional do ecossistema e de seus recursos. Uma delas é a Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), que, entre seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), conta com um (o número 14) voltado para “proteger a vida marinha”. Também foi proclamada, entre 2021-2030, a ‘Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável’, que tem como objetivo unir esforços de todos os setores relacionados ao mar para frear a degradação desse ambiente e criar condições para o seu uso sustentável, trazendo o lema: ‘A ciência que precisamos para o oceano que queremos’. Essas e outras iniciativas demonstram o reconhecimento internacional da importância dos oceanos para os países e suas economias.


Em pesquisa sobre a visão que os brasileiros têm desse ecossistema, encomendada pelo Centro de Excelência para o Mar Brasileiro e realizada em 2011, 73% dos entrevistados disseram que o mar é importante porque é fonte de alimento (67%) e lazer (39%)



No Brasil, essa percepção ainda é pequena. Em pesquisa sobre a visão que os brasileiros têm desse ecossistema, encomendada pelo Centro de Excelência para o Mar Brasileiro e realizada em 2011, 73% dos entrevistados disseram que o mar é importante porque é fonte de alimento (67%) e lazer (39%). Pelas respostas dos entrevistados, fica evidente um conhecimento limitado da importância desse meio para sociedade. Um resultado importante, no entanto, foi que 93% dos brasileiros concordaram que o maior conhecimento dos oceanos pode trazer benefícios para a humanidade.

O Brasil tem um dos maiores litorais do planeta: a extensão marítima de seu território é de aproximadamente 4,5 milhões de Km2, um pouco mais de 50% da sua extensão territorial. É na zona costeira que se concentra a maior parte da população brasileira, com cerca de 80% das pessoas morando a uma distância máxima de 200 km da costa. Por isso, os resultados dessa pesquisa não deixam de ser surpreendentes, mas pesquisas ao redor do mundo têm mostrado que, de fato, as pessoas apresentam um conhecimento incipiente sobre o oceano.

Sem o oceano, grande parte da biodiversidade do planeta seria perdida. À exceção dos anfíbios, todos os outros grupos de seres vivos têm representantes no ambiente marinho e alguns grupos são, inclusive, mais diversos nesse ambiente. Além disso, grande parte da precipitação que ocorre em terra vem da evaporação da água do oceano. Sem contar os recursos minerais que existem em seu fundo e que ainda não foram explorados. Somente com relação ao Brasil, 95% do comércio exterior são feitos por via marítima e 91% do petróleo são extraídos do mar.

Diante do pouco conhecimento a respeito do oceano e da sua alta relevância para a vida e o bem-estar da humanidade, torna-se evidente que é preciso se fazer alguma coisa. Uma medida necessária, certamente, é ampliar o conhecimento da sociedade sobre como funciona esse ecossistema e a relação disso com sua importância para o planeta.

Para preencher essa lacuna, foi criado no Brasil, em 1997, o Programa de Mentalidade Marítima (PROMAR), que visa desenvolver “a convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a nação brasileira e o desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamentos ou vontade de agir no sentido de utilizar, de forma sustentável, as potencialidades do mar”. Nesse sentido, por exemplo, foi cunhada, em 2004, a expressão ‘Amazônia Azul’, para ressaltar a importância do território marítimo brasileiro.


Para implementar a cultura oceânica

No mundo, um movimento iniciado em 2002 nos Estados Unidos e que vem ganhando força em outros países é a chamada ocean literacy, que, em tradução livre, significa alfabetização oceânica. Esse movimento começou refletindo sobre o que todas as pessoas deveriam saber sobre o oceano e como esse conteúdo poderia ser inserido nos documentos oficiais da educação.

A iniciativa é descrita como “uma compreensão da influência dos oceanos na vida do ser humano, bem como a influência do ser humano nos oceanos” e apresenta sete princípios essenciais, divididos em 44 conceitos que todos deveriam conhecer (figura 1).


Figura 1. Diagrama dos princípios da ocean literacy, ou cultura oceânica, como é chamada no Brasil. Adaptado de French et al. 2015



A ocean literacy ganhou o mundo e influenciou a formação de grupos de trabalho que visam aumentar o conhecimento sobre o oceano, tornando a sociedade ‘alfabetizada’ nas questões relacionadas a esse ambiente. Exemplos são o programa ‘Conhecer o oceano’, em Portugal; a Associação de Educadores em Ciências Marinhas da Europa (EMSEA, na sigla em inglês); e a Rede Canadense para a Educação Oceânica (CaNOE, na sigla em inglês).


O foco da cultura oceânica é ampliar o conhecimento do público sobre a importância do oceano por meio da educação formal e não formal, criando experiências positivas e conexões entre as pessoas e esse ambiente



O movimento ocean literacy também desembarcou no Brasil e foi traduzido, em 2019, como ‘cultura oceânica’. O foco também é ampliar o conhecimento do público sobre a importância do oceano por meio da educação formal e não formal, criando experiências positivas e conexões entre as pessoas e esse ambiente, de forma a alcançar uma sociedade consciente e capaz de tomar decisões informadas e responsáveis sobre seus recursos e a sua sustentabilidade. Assim, a cultura oceânica incorpora a ideia de que o respeito ao oceano está diretamente relacionado ao conhecimento, destacando a importância da escola e dos currículos nesse processo.


Um deserto na Base Nacional Curricular Comum

Para investigar o enfoque dado aos conteúdos relacionados ao oceano e aos ambientes marinhos, bem como analisar como a cultura oceânica está inserida nos documentos oficiais de educação do Brasil, foi feita uma leitura crítica da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que traz os conteúdos obrigatórios que devem ser apresentados em cada disciplina ao longo de cada ano de escolaridade da educação básica, que é dividida em três segmentos: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

Na leitura crítica da BNCC, buscaram-se palavras relacionadas ao oceano e a ambientes marinhos. O que ficou evidente foi que os conteúdos sobre o oceano estão longe de terem destaque. Foram encontradas, ao todo, seis palavras que se referem à temática do oceano (aquática, mar, marítima, oceânica, oceano e tsunami) no que se refere ao segmento do ensino fundamental, que contempla do 1º ao 9º ano de escolaridade. E essas seis palavras foram citadas no documento apenas 10 vezes, tendo sido encontradas nas disciplinas de ciências, geografia e história. Esse resultado pode ser considerado irrisório para um documento que apresenta 600 páginas e contempla os três segmentos da educação básica. Portanto, parece que muito ainda precisa ser feito para aumentar o conhecimento da população em relação ao oceano.

Além dos conteúdos previstos na BNCC, cada estado brasileiro deve produzir o seu próprio referencial curricular incorporando conteúdos relacionados à sua cultura. Nesse sentido, a análise foi estendida aos referenciais curriculares do ensino fundamental de todos os estados brasileiros. Nesses documentos, foram encontradas outras palavras, além daquelas já descritas na BNCC: costeira, litoral/litorânea, mangue/manguezais, maremoto, marinha, marinheiro, maritimidade, praia, restinga, transmarina e ultramarina. Foi possível observar, assim, um aumento na variedade de palavras que se relacionavam ao oceano, bem como no número de citações dessas palavras (figura 2).


Figura 2. Variedade de palavras citadas e quantidade total de citações das palavras relacionadas ao oceano presentes nos referenciais curriculares de cada estado brasileiro
CRÉDITO: CEDIDO PELOS AUTORES



Seria de se esperar uma ênfase maior nos conteúdos relacionados aos ambientes marinhos nos estados costeiros, já que, devido à sua proximidade com o mar, as atividades econômicas ligadas a esse ambiente ficam mais evidenciadas, assim como a relação da população local com a região litorânea. No entanto, os estados que apresentaram referenciais curriculares com maior variedade e citações de palavras referentes ao oceano foram Acre e Mato Grosso do Sul. Ou seja, os estados brasileiros que mais abordam os conteúdos relacionados aos ambientes marinhos não fazem divisa com o mar.

Ainda que esses dados possam trazer uma surpresa, a cultura oceânica propõe que, próximos ou afastados do oceano, todos precisam se familiarizar com o tema. Nesse sentido, uma meta para todos aqueles interessados na promoção da cultura oceânica deve ser fazer pressão para que esses conteúdos tenham maior presença na grade curricular da educação básica e, ainda, que sejam incorporados alguns dos princípios e conceitos da cultura oceânica nos documentos oficiais relativos à educação formal no Brasil.


Para além dos documentos ofi ciais, é preciso investir na formação e na capacitação de professores em relação às temáticas ligadas ao oceano



Para além dos documentos oficiais, é preciso investir na formação e na capacitação de professores em relação às temáticas ligadas ao oceano, bem como engajar professores e alunos em iniciativas como a Olimpíada Nacional de Oceanografia. Outras estratégias importantes dizem respeito a mecanismos de divulgação científica, como livros paradidáticos, jogos didáticos, vídeos, exposições etc. Independentemente de as iniciativas ocorrerem dentro ou fora da escola, para frear o ciclo de degradação dos ambientes marinhos que está em curso, é preciso que a sociedade invista na cultura oceânica.

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Carmen Edith Pazoto Mauricio, Michele Rezende Duarte e Edson Pereira da Silva
Laboratório de Genética Marinha e Evolução,
Universidade Federal Fluminense
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Registros históricos revelam que eventos meteorológicos-oceanográficos intensos vêm aumentando em número, intensidade e tempo de duração nos últimos anos, o que vem ameaçar a existência das praias





Há cerca de 1,9 milhão de anos os ancestrais da espécie humana já ocupavam as zonas costeiras. Certamente sobreviveram e prosperaram graças aos numerosos recursos naturais e benefícios oferecidos pelos ecossistemas costeiros, como abrigo, proteção, alimento, água e materiais para ferramentas, utensílios e adornos. Nos muitos milhares de anos que se seguiram, os humanos evoluíram, superando e se adaptando a quatro grandes ciclos de mudanças climáticas drástica de resfriamento (períodos glaciais) e aquecimento (períodos pós e interglaciais) do planeta, respectivamente acompanhados de descidas e subidas do nível médio do mar.

Durante as fases de resfriamento e regressão marinha, a costa avança paulatinamente sobre o mar, deixando para trás extensas áreas emersas. E foi esse um dos processos que permitiu a migração do homem moderno e o povoamento de todos os continentes. Milhares de anos se passaram até o advento da agricultura, que possibilitou o abandono da vida nômade e o surgimento dos primeiros assentamentos humanos, em sua maioria junto ao litoral. Com o tempo, as populações e suas atividades econômicas foram se expandindo, e surgiram as cidades costeiras. A exploração dos recursos naturais se intensificou, acarretando perda dos inúmeros serviços ecossistêmicos que tanto beneficiaram nossos ancestrais. Também se alastrou a ocupação de áreas vulneráveis à ocorrência de ameaças naturais, aumentando a suscetibilidade aos perigos geodinâmicos que podem desencadear desastres.

Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo, essas ameaças estão relacionadas à atuação de eventos meteorológicos intensos, como fortes tempestades e ciclones, que trazem grande volume de chuvas, frentes frias e eventos meteorológicos-oceanográficos conhecidos como ressacas do mar e marés altas anômalas. Os perigos decorrentes dessas ameaças são materializados em vários processos geodinâmicos, entre eles: erosão aguda nas praias, inundações costeiras, inundações continentais e escorregamentos nas encostas.

O registro histórico de eventos meteorológicos-oceanográficos intensos/extremos que atingiram a costa paulista entre 1928 e 2016, revela que, somente nos primeiros 16 anos do século 21, o número total de eventos dobrou, o número de ressacas triplicou, e o número de eventos por ano deu um salto de 1,3 (século passado) para 8,6. Além disso, a intensidade dos eventos também aumentou, pois 66% dos 50 eventos extremos (aqueles que combinam ressacas e marés altas anômalas) registrados ocorreram neste século. A magnitude dos eventos, que pode ser medida pela média de dias de duração dos mesmos, também aumentou, passando de 1,8 dia no século passado, para 2 dias entre 2000 e 2016. É muito provável que esses resultados estejam associados aos efeitos das mudanças climáticas em curso, porque comportamentos similares estão ocorrendo em outras regiões do Brasil e do planeta.

Além desses fenômenos de curta duração, outra importante ameaça é a elevação do nível do mar pelo aquecimento global. Essa elevação tende a provocar erosão crônica nas praias, que vão se tornando cada vez mais estreitas e podem até desaparecer, sobretudo quando atingidas por sucessivos eventos meteorológicos-oceanográficos intensos (erosão aguda). Projeções mundiais indicam que o nível do mar deve se elevar em cerca de um metro até 2100.

Mas a erosão das praias também pode ser causada, ou acelerada, pelas intervenções humanas na linha de costa. As de maior impacto são: avanço da urbanização sobre a praia, remoção das dunas frontais, retirada de areia das praias (para limpeza pública e outros propósitos) e artificialização da orla com obras de engenharia inadequadas, projetadas para tentar “proteger” as estruturas urbanas.

As soluções mais eficazes para mitigar ou reduzir a erosão nas praias e, assim, minimizar os impactos dos eventos intensos e extremos, hoje e futuramente, são as medidas de adaptação baseadas na natureza. Estamos falando de políticas públicas com inserção dos riscos costeiros e climáticos, programas de educação ambiental para conscientização sobre os perigos do oceano, engajamento das comunidades locais na tomada de decisões e na fiscalização das praias, criação de zonas de amortecimento para minimizar os impactos dos eventos extremos e da elevação do nível do mar (uma faixa frontal sem edificações, que inclua remoção e/ou realocação das estruturas antrópicas e recuperação das dunas frontais), além de recuperação da praia com soluções baseadas na natureza (alimentação/engorda/alargamento artificial com areias trazidas de fora da praia).

É necessário e urgente mudarmos o paradigma estabelecido e entender que a função mais importante das praias é proteger as cidades e os demais ecossistemas costeiros dos perigos do oceano.


Celia Regina de Gouveia Souza
Instituto de Pesquisas Ambientais
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Geografia Física
Universidade de São Paulo
Revista Ciência Hoje

A OBSERVAÇÃO DO OCEANO


Investimento público em serviços de informação sobre questões oceanográficas pode resultar em retorno econômico e social, além de contribuir para a proteção de ecossistemas marinhos


Rede Amazônia Azul



O conceito de ‘economia azul’ compreende uma gama de atividades econômicas relacionadas ao mar, bem como políticas públicas para buscar o uso sustentável dos recursos marinhos. A disponibilidade pública de informações sistemáticas em tempo real e de longo prazo sobre o oceano, mares e zonas costeiras é um motor da economia azul, impulsionando o crescimento econômico sustentável, o emprego e a inovação. O investimento público em serviços de informação acessíveis sobre o oceano pode ter um alto retorno econômico e social, contribuindo para a proteção de ecossistemas marinhos.

Uma série de Variáveis ​​Climáticas Essenciais (do inglês, Essential Climate Variables – ECV) podem caracterizar a variabilidade local das propriedades físicas e biogeoquímicas do oceano e fornecer informações relevantes para entender e prever o estado dos ecossistemas e o impacto de fenômenos naturais e/ou interferências antrópicas no ambiente marinho. À medida que a série de ECV se torna mais longa, podem ser feitas inferências sobre os efeitos climáticos de longo prazo.

O Global Ocean Observing System (GOOS), programa da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, visa a fornecer informações essenciais para serviços operacionais, clima e saúde oceânica, ligando iniciativas locais, nacionais e globais de monitoramento de propriedades físicas, químicas e biológicas, do oceano aberto à zona costeira. Sistemas integrados de observação são implementados por alianças regionais, com foco em áreas costeiras e mares regionais, atendendo aos requisitos locais.

Os sistemas de observação e modelagem da zona costeira (observatórios costeiros), ligados a sistemas de observação regionais e globais, melhoram a qualidade das informações e previsões para uma gestão eficaz de atividades marítimas seguras e sustentáveis. A ampliação da economia azul no Brasil depende do desenvolvimento de uma rede integrada de observatórios costeiros, seguindo uma tendência mundial, já bem estruturada na Europa e nos Estados Unidos.

A componente europeia do GOOS (EuroGOOS) coordena e apoia o desenvolvimento e a integração de serviços nas regiões marítimas europeias. Recentemente, o EuroGOOS e o European Marine Board estabeleceram o European Ocean Observing System (EOOS) para alinhar e conectar as iniciativas existentes, buscando eficiência, otimização de recursos e preencher as lacunas na capacidade de observação europeia. O EOOS atua como uma estrutura que reúne usuários, implementadores de sistema e financiadores para definir prioridades e facilitar o intercâmbio de conhecimento e tecnologia.

Nos Estados Unidos, o Integrated Ocean Observing System (IOOS), componente estadunidense do GOOS, objetiva combinar e transmitir os dados existentes de forma integrada e padronizada para garantir a máxima interoperabilidade, vinculando observações à modelagem via gerenciamento e comunicação de dados, permitindo o desenvolvimento de produtos aprimorados, serviços e ferramentas de apoio à tomada de decisão. Associações regionais complementam o sistema federal, por exemplo, fornecendo observações de alta resolução, informações e produtos sob medida para as necessidades regionais, facilmente acessíveis em portais online.

A área oceânica sob jurisdição brasileira, denominada Amazônia Azul, totaliza atualmente 4,4 milhões de km², aproximadamente metade da área terrestre brasileira. A componente brasileira do GOOS é uma comissão executiva subordinada à Subcomissão do Plano Setorial dos Recursos do Mar (PSRM), coordenada pela Comissão Interministerial dos Recursos do Mar (CIRM), que é responsável por programas de monitoramento com dados publicamente disponíveis como PIRATA – rede de observação in situ composta por boias fundeadas para monitorar processos de interação oceano-atmosfera no oceano Atlântico Tropical – e PNBoia – Programa Nacional de Boias que visa a fornecer dados meteo-oceanográficos através de boias atracadas e derivadores. A operação contínua desses e outros sistemas de observação é um desafio devido ao vandalismo, problemas de manutenção ou aquisição de novos sensores produzidos no exterior, além das restrições orçamentárias impostas ao setor de ciência, tecnologia e inovação nos últimos anos.

A estrutura atual do GOOS Brasil, em contrapartida ao EuroGOOS e IOOS, não inclui uma rede integrada de observatórios costeiros e associações regionais, que contribuiriam para uma compreensão mais clara das necessidades das partes interessadas, incluindo gestores públicos, tomadores de decisão, usuários finais e comunidades locais. A reestruturação do GOOS Brasil e a criação de um Instituto Brasileiro do Mar (INMAR) financiado pelo governo federal poderiam contribuir para a coordenação entre iniciativas nacionais e regionais, bem como com programas internacionais, de forma a aumentar a capacidade nacional de observar e prever o oceano, maximizando o retorno do investimento público e os benefícios econômicos e sociais.

A Década do Oceano é uma grande oportunidade para incentivar um arranjo institucional para apoiar e articular uma rede integrada de observatórios costeiros no Brasil, promovendo a aquisição, compartilhamento e uso de dados ao longo da Amazônia Azul. Ao disponibilizar o mecanismo correto para permitir uma melhor interação entre iniciativas, com uma infraestrutura oceânica robusta, o Brasil estaria dando um passo decisivo na coordenação dos esforços de observação costeira, para que os sistemas se tornassem interoperáveis com dados facilmente acessíveis para uso público.


Guilherme Augusto Stefanelo Franz
Centro de Estudos do Mar
Universidade Federal do Paraná
Revista Ciência Hoje

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