quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O Brasil e o Mapa da Fome

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JOSÉ GRAZIANO DA SILVA
 Diretor-geral da FAO

O maior avanço socioeconômico no Brasil nas últimas décadas foi a retirada de quase 40 milhões de pessoas da pobreza extrema, em razão, sobretudo, de diversos programas de proteção social. Tal feito foi determinante para que o país reduzisse significativamente o número de pessoas sofrendo de fome. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiros em situação de desnutrição crônica caiu 82% entre 2002 e 2013.

Todos os anos, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em parceria com outras agências do sistema da ONU, publica o relatório do Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI, na sigla em inglês), com base, sobretudo, em dados e estatísticas fornecidos pelos países membros com referência ao ano anterior.

Tal relatório – como o próprio nome diz – tem como principal objetivo retratar e mapear a situação da segurança alimentar no mundo, a fim de orientar governos, organizações internacionais, instituições, ONGs e todos os outros atores relevantes na elaboração e implementação de políticas públicas e programas de combate à fome e a todas as outras formas de má nutrição.

Com base nos dados fornecidos à FAO pelo IBGE, o SOFI de 2014 indicou que no Brasil, em 2013, menos de 5% da população padecia de fome. O Brasil atingia níveis semelhantes aos de países desenvolvidos, no que se refere à porcentagem de pessoas desnutridas. Há consenso entre as agências da ONU de que, quando a desnutrição crônica atinge menos de 5% da população de um país, o problema da fome deixa de ter características endêmicas e limita-se a determinados bolsões específicos. O Brasil, portanto, deixava o Mapa da Fome no Mundo.

A partir de 2016, no entanto, líderes nacionais e diversos veículos de comunicação começaram a ventilar a possibilidade de a fome voltar a assolar as famílias brasileiras mais vulneráveis, em razão da crise econômica, do desemprego crescente e da redução dos gastos dos programas de proteção social. 
Tal contexto poderá resultar, de fato, no retorno do Brasil ao Mapa da Fome? Sim, já que a pobreza é um dos principais fatores no mundo que impedem o acesso da população aos alimentos, depois dos conflitos armados e dos impactos da mudança do clima, sobretudo na África Subsaariana.

As estatísticas mostram, contudo, que, até 2016, a fome não havia aumentado de forma significativa no Brasil. Como explicado no início deste artigo, os relatórios SOFI analisam dados referentes ao ano anterior. O SOFI de 2017 (o último a ser publicado pela FAO), em sua versão regional para a América Latina (“Panorama de la Seguridad Alimentaria y Nutricional en América Latina y El Caribe”), indica que a fome no Brasil, em 2016, acometia menos de 2,5% da população, num patamar semelhante a Uruguai e Cuba.

Dados recentes divulgados pela Pnad Contínua, do IBGE, entretanto, sinalizam um aumento da extrema pobreza no país em cerca de 11% de 2016 para 2017 (de 13,3 para 14,8 milhões de pessoas). Tal incremento da pobreza extrema poderá, sim, refletir no aumento do número de pessoas que passam fome no país.

Nos próximos dias, a FAO e suas organizações parceiras publicarão o SOFI 2018, com base nos dados referentes a 2017, fornecidos pelos países membros. Ainda que o Brasil não ultrapasse a simbólica barreira dos 5% da população – e assim esperamos que aconteça –, o momento não é de celebração, mas sim de alerta máximo. O país não pode arriscar as conquistas sociais obtidas nos últimos anos, no momento em que busca sair de uma das maiores crises políticas e econômicas de sua história.

É importante, também, mencionar que o aumento da pobreza traz outras consequências negativas para a sociedade, de efeitos mais duradouros: outras formas de má nutrição, mortalidade infantil, aumento de doenças transmissíveis, baixo rendimento escolar.

O que está em jogo não é se o Brasil voltou ou não ao chamado Mapa da Fome em 2017 (que vai ser refletido no SOFI 2018), mas sim o futuro. Temos de olhar para a frente: o importante é discutir 2018 em diante, e não o passado 2017. É preciso evitar que um eventual avanço da fome aconteça também nos próximos anos e décadas. Para isso, além dos gastos públicos com programas sociais, é fundamental também promover um crescimento inclusivo e substantivo – muito além dos atuais 1% ao ano –, e que gere empregos de qualidade. O governo brasileiro será sempre o primeiro a ter conhecimento da situação da pobreza e da segurança alimentar no país, pois é ele que fornece os dados utilizados pela FAO.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Skid Row: como a maior cracolândia dos EUA se mantém há décadas 'nos fundos' de Hollywood


Ricardo Senra
Enviado da BBC News Brasil a Los Angeles


Direito de imagemAPU GOMES/BBCImage caption
Pelo menos 4 mil pessoas ocupam as ruas da área conhecida como Skid Row, em Los Angeles

"O crack bota você para cima. A heroína derruba. São drogas diferentes, bem diferentes", diz Tonya, enquanto acende o penúltimo Winston Red da carteira na ponta luminosa do cigarro anterior.

Desde os 16 anos, ela alterna momentos de intensidade e apatia pelas ruas da Skid Row, uma área de 54 quarteirões no centro de Los Angeles, a poucos passos dos cinemas e teatros do equivalente local da Broadway e dos arranha-céus de vidro do centro financeiro da cidade californiana.

"Minha irmã me trouxe para cá, essa era a área dela. Ela era um ano mais velha que eu e me deu a primeira droga. Era heroína", diz a descendente de mexicanos, hoje com 50 anos, enquanto ajeita uma manta empoeirada na cadeira de rodas que usa desde 2014, quando perdeu a perna direita por uma infecção vinda de uma agulha contaminada.

Pelo menos 4 mil pessoas dividem as ruas da Skid Row com Tonya - e a metade delas, estimam ONGs da região, usa drogas pesadas todos os dias.

A menos de meia hora de carro das mansões de Hollywood e da Calçada da Fama, a Skid Row reúne a maior concentração de pessoas em situação de rua dos Estados Unidos (a cracolândia de São Paulo, para efeito de comparação, reúne em média 1860 usuários, segundo um levantamento do governo do Estado publicado em 2017).

Depois de anos de predominância do crack, a heroína se tornou a droga mais popular da região, conta Santiago, que aplicou uma seringa com heroína pela primeira vez aos 13 anos. Há dez, ele dorme em uma das centenas de barracas que se aglomeram em frente a muros de transportadoras e grandes depósitos na região.


Por dentro da Skid Row, a maior 'cracolândia' dos EUA

"Eu fui abusado quando criança. Eu fui para as drogas para diminuir a dor. Agora sou um viciado e preciso disso."

Ele mostra uma seringa para a reportagem e fala sobre sua rotina.

"Tem a picada do café da manhã, uma picada no almoço, uma no jantar e um picada à meia noite. Isso me faz funcionar."
'Ímã' para os mais vulneráveis

No início do século 20, a Skid Row já era conhecida por reunir trabalhadores sem emprego fixo, alcoólatras e desempregados em uma das franjas do centro da cidade. O termo (caminho de derrapagem) surgiu no século 17, associado às áreas onde trabalhadores temporários organizavam o escoamento de troncos para a produção de madeira e celulose.

Desde então, áreas urbanas degradadas, em cujas ruas se reúnem pessoas em situação precária, ficaram conhecidas nos EUA como "skid rows" - a mais famosa dos Estados Unidos é a de Los Angeles, mas há outras grandes skid rows no país, como a de Chicago.

No fim dos anos 1980, o termo ficou conhecido internacionalmente por dar nome à banda de hair metal liderada por Sebastian Bach.

Em Los Angeles, apesar do crescimento acelerado nos últimos anos, acompanhando a epidemia de opióides (analgésicos altamente viciantes e derivados do ópio, incluindo heroína) que se espalha pelos EUA, a Skid Row ganhou seu principal impulso há quatro décadas.

Em 1976, o Conselho Municipal de Los Angeles lançou um plano urbanístico que mais tarde ficou conhecido como "política de contenção". A estratégia da prefeitura consistia em concentrar em um único lugar da cidade toda a oferta de abrigos, refeições populares, ONGs de reabilitação e serviços para a população desempregada, sem moradia e com problemas de saúde mental.

Direito de imagemAPU GOMES/BBCImage caption
Depois do predominância do crack, usuários de drogas de Skid Row passaram a usar principalmente heroína

A área da Skid Row passaria a funcionar como um ímã para a população de rua da cidade, que encontraria serviços básicos apenas ali - deixando as outras áreas cidade para a população de classe média e rica.

O resultado, dizem especialistas, foi um perverso ciclo vicioso: com a população mais vulnerável nas ruas, albergues e pequenos hotéis da região, a oferta de drogas cresceu muito mais rápido do que a de empregos ou serviços de saúde.

Assim, o consumo de substâncias pesadas e a população da área explodiram - sobrecarregando as ONGs e órgãos públicos que se instalaram na região com a premissa de contê-lo.
'Eu e você divididos por uma circunstância'

"Ninguém nunca sonhou em ser sem-teto, esse não é o sonho de ninguém. As pessoas que estão vivendo nas ruas somos nós. Não são nós e eles. Só há nós. Eles são você e eu - divididos por alguma circunstância", diz Georgia Berkovich, diretora da Midnight Mission, misto de abrigo e clínica de recuperação que existe há mais de 100 anos.

Quem vê de tailleur vermelho, maquiagem pesada e cabelos escovados caminhando apressada de uma reunião para outra em um dos casarões da região pode questionar seu conhecimento de causa.

Ela própria explica. "Eu era uma criança solitária, criada por uma mãe solteira. Então, comecei a beber muito jovem. A ficar bem louca", diz, enquanto olha, do terraço da ONG, um grupo vendendo isqueiros e cachimbos para crack em uma esquina próxima.

"O que aconteceu comigo também acontece com muita gente, mas, como sou alcoólatra, isso me trouxe, aos 24 anos, para o crack."

Em 2018, ela completa 25 anos sóbria. "O que é algo grande, pelo menos para uma garota como eu", ela diz.

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Assim como na cracolândia, moradores de rua também usam drogas em barracas montadas na rua

Para Berkovich, o poder público erra ao se concentrar em remediar a falta de casas e o abuso de substâncias proibidas.

"Estamos tentando parar o sangramento, em vez lidar com o que causa a falta de moradia, que é nosso sistema de adoções, os sistemas prisional, educacional, de moradia, de doenças mentais, de abusos de drogas e álcool. Todas essas coisas estão alimentando a falta de moradias e precisam ser corrigidas."
Cachimbos e seringas para reduzir danos

Entre os principais desafios para os abrigos e programas sociais locais estão a "tentação" durante a processo de reabilitação, seja pela oferta e ou pela convivência com drogas pesadas, e a escolha, por alguns, de simplesmente continuar consumindo as substâncias nas ruas da área.

Para ter acesso à maioria dos programas de moradia ou desintoxicação da região, os pacientes precisam se comprometer a abandonar completamente a droga antes de iniciar o tratamento - o que afasta muitos potenciais candidatos ou gera desistências e pacientes reincidentes.

Algumas instituições, como a Homeless Health Care Los Angeles, financiada por dinheiro público e de doadores, recorrem a técnicas menos radicais, como a conhecida como "redução de danos".

Desde 1985, a ONG já reverteu mais de 400 overdoses com a aplicação de remédios, e distribuiu milhares de seringas, agulhas, kits de esterilização e piteiras para cachimbos, enquanto mantém serviços de desintoxicação, testes de doenças transmissíveis por sangue ou via sexual e encaminhamento para programas de moradia da prefeitura.

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Programas de assistência concentrou moradores de rua e dependentes químicos na região

"Não queremos que eles usem agulhas sujas ou as dividam com seus amigos, porque elas podem espalhar HIV, hepatite C e outras doenças", explica um funcionário, enquanto prepara um kit para uma jovem de menos de 20 anos com o pescoço, os braços e as pernas cobertos de cicatrizes.

Ele ressalta que a ideia não é manter as pessoas no vício, mas ajudá-los a reduzir sua exposição a doenças e overdoses enquanto eles se preparam para o processo de desintoxicação.

"Nosso serviço não depende da abstinência de drogas. Nós não tentamos subestimar os riscos potenciais delas. Ao contrário, queremos tentar reduzir as consequências negativas que surgem durante o uso de drogas injetáveis para que as metas de reabilitação sejam realistas e alcançáveis."
'Não é que eu ame minhas drogas mais que meu filho'

A BBC News Brasil conheceu Tonya, que abre esta reportagem, na saída da clínica de redução de danos. Ela havia acabado de entregar seringas usadas em troca de outras.

"Eu não peguei HIV graças a eles. Vi muita gente morrer contaminada porque não sabe usar drogas com responsabilidade."

Ela se emociona quando perguntada sobre família.

"Minha mãe veio aqui me procurar no Natal. Ela queria ter certeza de que eu estava bem e veio direto para a minha barraca, eu estava saindo quando ela estava entrado", lembra, sorrindo.

"É difícil lidar com isso diariamente. Especialmente (para) meu filho, meu pequeno menino. Eu digo a ele para não usar drogas para não terminar como a mamãe. Não é que eu ame minhas drogas mais do que ele. Eu sou viciada, entende?"

Segundo o departamento de planejamento da prefeitura, moradias e oferta de serviços de recuperação aos usuários são prioridade central para a cidade - o número total de sem-teto, incluindo regiões fora da Skid Row (como a popular Praia de Venice, que vem se tornando um novo polo) varia de acordo com estimativas oficiais e de ONGs entre 34 mil e 60 mil pessoas.

A população da cidade parece concordar com a urgência e os eleitores aprovaram, por meio de voto, a cobrança de um novo imposto sobre propriedades, que renderá US$ 1,2 bilhão para os cofres públicos - o valor será 100% destinado à construção de 10 mil moradias populares nos próximos 10 anos.

A BBC News Brasil acompanhou uma operação da polícia de LA em busca de traficantes na região e perguntou a um dos oficiais sobre as perspectivas da região na próxima década.

"Em 10 anos… eu não vejo isso melhorando. Para mim, não. Estamos aqui tentando lutar por eles e ajudá-los, mas os números estão crescendo e não há abrigo suficiente", ele responde. "Sabemos que há muitas pessoas aqui usando drogas, e tentamos lidar com isso da melhor maneira, mas não temos agentes suficientes aqui para lidar com todas as situações."

Uma colega policial aponta para a esquina. "Aquela missão ali é uma área de recuperação, você vê? E eles estão vendendo drogas bem na frente."
'Cansado de ficar cansado'

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A região tem o dobro de pessoas da cracolândia, área de consumo e venda de crack no centro de São Paulo

Perto dali, Santiago leva a reportagem até a barraca azul onde dorme há 10 anos.

"Esta é minha casa na Skid Row. Eu durmo, como e uso minhas drogas aqui. É assim que vivo. Em uma barraca."

A BBC News Brasil pergunta como ele consegue dinheiro para se manter.

"Os EUA não são um pais rico para todos. Acho que há interpretação errada. No Brasil, se virem ou ouvirem que LA é rica, que tem ajuda financeira e serviços públicos para todo mundo… nao é tão simples."

O homem continua: "Mensalmente, em drogas, gasto quase mil dólares. O que eu não tenho. Mas o dinheiro vai aparecendo com a colega de material reciclável, bicos no posto de gasolina, limpeza carros ou ajudando uma mulher como esta que está passando a carregar as coisas…"

Santiago está em um dos intervalos do uso de crack e heroína e conversa com a reportagem enquanto penteio o cabelo longo - ele acabou de tomar banho em uma das ONGs locais.

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Em Skid Row, uma ONG de assistência a usuários de drogas distribui seringas e cachimbos a dependentes químicos

"A onda de US$ 15 ou US$ 20 de crack dura por volta de 2 ou 3 horas. É o tempo de quebrar um pedaço da pedra, fumar, depois fumar alguns cigarros, fumar um baseado, beber uma cerveja, e depois fumar outro trago e sentir aquela aceleração, uma sensação de calor, e você sente mais ou menos como se não pudesse pensar, mas você ainda pode se controlar", diz.

Sua droga preferida dos últimos anos é a heroína.

"Se eu não tiver, fico em abstinência. E eu odeio acordar e ter diarreia, não ser capaz de controlar meu vômito. É para aí que a heroína vai te levar. Eu preciso ter pelo menos uma dose para seguir em frente, se não estaria vomitando, com um cheiro ruim, e eu não gostaria que você me visse assim."

Tem vontade de recomeçar?

"Eu estou ficando cansado de ficar cansado. Eu sei que quando eu ficar limpo e sóbrio, não vou precisar olhar para trás, para isso. Vou deixar o passado e caminhar para frente", diz.

"Quero estudar computação gráfica, gestão de pequenos negócios e filosofia e atingir meus objetivos. Vou usar meus objetivos de curto prazo para ajudar meus objetivos de longo prazo de ser produtivo e bem-sucedido."
Fonte: BBC Brasil

Por que os Estados Unidos estão perdendo superioridade militar frente à Rússia e à China


Jonathan Marcus
Correspondente para assuntos de Segurança e Defesa da BBC

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Segundo relatório, margem de superioridade das Forças Armadas americanas está se deteriorando em várias áreas

Um grupo de especialistas independentes publicou uma análise sóbria e implacável da estratégia de defesa nacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

"O papel global que os Estados Unidos têm desempenhado por muitas gerações é baseado em um poder militar inigualável (...) Hoje, no entanto, nossa margem de superioridade tem sido minada em áreas importantes", diz o relatório.

"Há desafios urgentes que devem ser enfrentados caso os Estados Unidos queiram evitar danos permanentes à sua segurança nacional", afirma o documento.

O duro diagnóstico é resultado de uma solicitação do Congresso à sua Comissão de Estratégia Nacional de Defesa, um painel concebido para conduzir estudos independentes sobre a segurança do país - desta vez, foi pedida uma avaliação da estratégia de defesa do governo Trump.

O relatório foi presidido por Eric Edelman, ex-funcionário do Pentágono durante o mandato de George W. Bush, e Gary Roughead, ex-chefe de operações navais. Ambos são conhecedores do orçamento da defesa e do que acontece nos corredores do Pentágono.

"A segurança e o bem-estar dos Estados Unidos enfrentam seus maiores riscos em décadas", afirma o documento. "A superioridade militar dos Estados Unidos diminuiu para um nível perigoso".
A ameaça da China e da Rússia

A chegada de Trump à Casa Branca coincide com uma mudança nas prioridades militares do país: longe de operações contra insurgências e da chamada "guerra ao terror", indo em direção ao preparo para um potencial conflito contra seus principais concorrentes, como a China e a Rússia.

Mesmo aqueles concorrentes não tão diretos, como o Irã ou a Coreia do Norte, apresentam novos e perigosos desafios.

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O porta-aviões americano USS Carl Vinson; os avanços da China e Rússia impõem novos desafios para os EUA

As implicações são enormes para os militares dos EUA.

Algumas características de lugares como Iraque ou Afeganistão, às quais os EUA já estão mais adaptados, não se repetem em um eventual conflito com a Rússia ou a China. O país tem operado, por exemplo, em ambientes sem qualquer ameaça aérea ou sem grandes desafios para suas comunicações, como o uso de GPS.

Enquanto isso, os dois potenciais adversários vêm estudando as Forças Armadas americanas e continuam a modernizar as suas, reforçando suas vantagens tradicionais enquanto exploram novos caminhos para contrabalançar as vantagens dos EUA.

A intervenção da Rússia na Ucrânia demonstrou o extraordinário poder destrutivo da artilharia russa - tributário em parte de sua sofisticada capacidade de combate por meios eletrônicos, que possibilitou encontrar e destruir armas ucranianas e ao mesmo tempo esconder a localização dos equipamentos russos.

Em muitas dessas áreas, os Estados Unidos têm muito a fazer para se colocar no mesmo nível.
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Relatório recomenda esfoço conjunto de órgãos nacionais em questões militares

Isso exige ajustar e reequipar certas áreas, mas muito mais do que isso. Requer um esforço massivo para impulsionar a inovação em inteligência artificial, acesso à banda larga etc.

O relatório soa como um alerta. A partir do documento, se fosse preciso dar uma nota aos planos do Pentágono, diria que ela seria uma avaliação de aprovação - mas não muito mais que isso. O diagnóstico resumido é que as forças militares americanas têm muitas boas intenções e alguma prospecção dos grandes desafios, mas abordagens duvidosas para enfrentá-los e, basicamente, recursos insuficientes para isso.

O documento traz mais de 30 recomendações detalhadas. Aqui apresento alguns dos mais importantes, resumidos e selecionados:
Concentrar os gastos das ações dos EUA e de aliados contra a China e a Rússia;
Reduzir o risco da perigosa dependência de itens importados, como por exemplo aqueles provenientes da China;
Manter a presença militar dos EUA no Oriente Médio, inclusive depois da planejada derrota do Estado Islâmico;
Ampliar as forças para que se possa lutar duas guerras, já que atualmente só são capazes de enfrentar uma;
Aumentar o número de tanques, mísseis de longo alcance e artilharia;
Criar mais unidades de engenharia e de defesa aérea;
Expandir a frota submarina da Marinha e ampliar a capacidade de transporte marítimo;
Aumentar os provimentos à força aérea no que for necessário: em resumo, mais de tudo;
Manter, e não diminuir, o pessoal da Marinha.

O relatório freia a grandiloquência com a qual o presidente Trump apresentou sua estratégia para a defesa. Mas o relatório não tem nada de revolucionário, pois compartilha a visão estratégica que define o pensamento do Pentágono.

Ele destaca os pontos em que os planos oficiais são mal fundamentados ou inconsistentes. É um apelo por maiores gastos, mas também por gastos mais coerentes.

Entrar no ramo de armamentos de alta tecnologia será caro. Habilidades tradicionais terão que ser reaprendidas. Os novos desafios, analisados e redirecionados.

Mas o documento reitera que os EUA continuarão sendo um grande ator militar em todo o mundo.
Diplomacia

Alguns dos problemas fundamentais para as forças armadas estão fora de seu escopo: na indústria e na diplomacia. Na Guerra Fria, por exemplo, o longo domínio dos EUA foi baseado em um extraordinário lastro científico e industrial com o qual ninguém podia rivalizar.

Avanços na pesquisa aeroespacial e outras tecnologias relacionadas ao setor militar se fundiram lentamente na vida civil.

Hoje as coisas são diferentes. É a pesquisa civil - como em computação e inteligência artificial - que está impulsionando o progresso tecnológico. E os Estados Unidos, embora sejam um jogador poderoso, não estão sozinhos nesta corrida.

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Xi Jinping comandou uma renovação nas forças armadas chinesas

A China, em particular, está investindo enormemente em tecnologias que podem, um dia, dar-lhe vantagem em batalhas do século 21. A globalização interligou as economias chinesa e americana de maneiras que podem ser prejudiciais à segurança dos EUA.

Segundo as recomendações do Comissão de Estratégia Nacional de Defesa, os programas de aquisição de armas precisam ser mais rápidos e eficientes. Os gastos dos EUA excedem os de seus principais rivais militares, mas o país ainda não consegue obter frutos proporcionais aos investimentos.

Há também o aspecto diplomático.

Os Estados Unidos não treinam para lutar sozinhos, mas com aliados. Trump tem se concentrado apenas em um aspecto desta relação: a partilha de responsabilidades, como a necessidade de países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em especial, gastarem mais na defesa coletiva.

Mas Trump já ofendeu os aliados de maneira ímpar.

A própria Aliança Atlântica enfraqueceu politicamente, mesmo que mais forças dos EUA tenham sido mobilizadas na Europa para reforçar a defesa contra a Rússia.
Uma nova mentalidade?

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Homens verdes' que atuam na Crimeia exemplificam novos desafios na segurança

Talvez o grande desafio apresentado por este relatório seja seu apelo para que os Estados Unidos adotem uma abordagem que envolva todo o governo

Tanto a Rússia quanto a China, destaca o documento, possuem estratégias que integram todas as peças do poder nacional. Os EUA precisam fazer o mesmo.

Não vivemos mais em um mundo onde existe uma clara distinção entre a paz e a guerra. O espaço entre esses pólos é preenchido por uma variedade de desafios e armadilhas: ataques cibernéticos, assassinatos políticos e atividades de forças cuja identidade só se torna clara ao longo do tempo (pense nas tropas russas que operam como os chamados "homens verdes", que lutam sem identificação, na Crimeia).

Enfrentar essa nova realidade requer também novas estratégias, orientações e ferramentas. Por último, e não menos importante, exige uma nova mentalidade do governo - talvez a coisa mais difícil de ser alcançada.
Fonte: BBC Brasil

América Latina é uma das três regiões do mundo onde desmatamento persiste, diz FAO



Andre Penner/AP

A América Latina é uma das três regiões do mundo onde o desmatamento persiste, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) publicado nesta sexta-feira (6).

A superfície florestal na região diminuiu de 51,3% em 1990 a 46,4% em 2015, de acordo com o relatório "O Estado dos Florestas no Mundo 2018", publicado pela FAO, que tem sua sede regional em Santiago.

Além da América Latina e Caribe, só em duas outras regiões do mundo a superfície de florestas também diminuiu nos últimos 25 anos. Na África Subsaariana, a proporção de área florestal caiu de 30,6% em 1990 para 27,1% em 2015, enquanto no Sudeste Asiático passou de 3,9% a 3,8% no mesmo período.

Nos últimos 25 anos a superfície florestal total do planeta diminuiu de 31,6% para 30,6%, embora o ritmo da perda tenha desacelerado nos últimos anos.

Nas regiões da África Subsaariana, Sudeste Asiático e América do Sul, a extensão das florestas se vê pressionada pela alta da demanda de carvão vegetal. "Sua produção exerce pressão nos recursos florestais e contribui para a degradação e desmatamento, em especial quando o acesso às florestas não está regulamentado", diz o relatório da FAO.

O relatório acrescenta que o desmatamento é a segunda causa principal das mudanças climáticas - depois da queima de combustíveis fósseis - e representa quase 20% de todas as emissões de gases de efeito estufa, o que é mais que todo o setor de transportes do mundo.
Fonte: UOLNotícias

Desmatamento ameaça áreas protegidas da Bacia do Rio Xingu


Leandro Melito 

Lalo de Almeida/ Folhapress
Desmatamento e seca ameaçam índios do Xingu

De janeiro a setembro deste ano, uma área superior a 100 mil campos de futebol, cerca de 100 mil hectares de floresta foram destruídos na Bacia do Rio Xingu, segundo o Sistema de Indicação por Radar de Desmatamento (Sirad X), monitoramento mensal feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) com base nas informações do satélite Sentinel-1. Apenas em setembro, 4.410 hectares de floresta foram derrubados. Uma das áreas de maior biodiversidade do mundo, a Bacia do Rio Xingu engloba 21 Terras Indígenas e dez Unidades de Conservação (UCs) entre os estados do Pará e Mato Grosso e abrange 21 municípios.

Nas áreas protegidas, mais de 32 mil hectares foram desmatados de janeiro a setembro. Na Terra do Meio, foram desmatados 25 mil hectares no período, dentro dos 8,5 milhões de hectares de extensão. O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta 6.947 quilômetros quadrados de corte raso de agosto de 2016 a julho de 2017.

"A pressão por novas áreas para a expansão agropecuária, grilagem de terras, retirada ilegal de madeira e a expansão do garimpo são os principais fatores de derrubada da floresta", aponta Juan Doblas, especialista em geoprocessamento do ISA.

O município de Altamira (PA) lidera o ranking desde junho de 2018, com uma área de aproximadamente 1.600 hectares de floresta derrubada em setembro. "O desmatamento registrado nos distritos mais afastados da sede municipal - entorno da Vila Canopus, no interior da Terra do Meio - é o grande responsável por esses números", diz o boletim do ISA.

A Agência Brasil percorreu de carro a distância entre o centro urbano de Altamira e a área protegida da Terra do Meio, cerca de 300 quilômetros em sete horas. Foram aproximadamente 200 quilômetros pela Transamazônica até chegar ao trecho mais crítico do trajeto: os 90 km finais pela Transiriri, que consumiram quatro horas por causa das más condições da estrada de terra - que liga a Transamazônica ao Rio Iriri e foi aberta de forma clandestina na década de 1990 para escoamento de madeira.

Ao entrar na Terra Indígena Cachoeira Seca do Iriri, a reportagem viu uma caminhonete carregada com troncos de ipê - madeira nobre ilegalmente explorada - sendo transportada do interior da área de proteção em direção à cidade de Uruará. Parte do mosaico de proteção da Terra do Meio, Cachoeira Seca abriga os índios Arara e é considerada a mais desmatada hoje no país. De janeiro a setembro, foram 1.296 hectares de floresta derrubada na área protegida. Em 2016, considerado pico do desmatamento, foi retirado o equivalente a 1,2 mil caminhões de madeira ilegal da área. 
Plano de vigilância

Na TI Cachoeira Seca do Iriri, estão previstas a construção de duas bases de vigilância - Base Operativa Cachoeira Seca e o Posto de Vigilância Rio das Pedras - nas proximidades da rodovia BR-230 para evitar o desmatamento e como uma das condicionantes estipulada em 2009 para instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Passados oito anos da instalação da usina, as bases não foram construídas. O mesmo ocorre com a Terra Indígena Ituna/Itatá, localizada a menos de 70 quilômetros do sítio Pimental, principal canteiro de obras de Belo Monte, e onde vivem índios isolados, que sofrem com o aumento do desmatamento desde 2011, ano em que a região ficou entre as mais desmatadas. De três hectares desmatados em maio, o número pulou para 880 hectares em agosto e caiu para 365 hectares em setembro, totalizando 2.228 hectares de floresta destruídos este ano.

Em 2011, a Funai concluiu o Plano Emergencial de Proteção às Terras Indígenas do Médio Xingu sob Influência da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e sua implementação foi incluída como condicionante da licença de instalação naquele ano.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF) no Pará, a concessionária Norte Energia, responsável pela construção e operação da usina, não cumpriu a obrigação, mas obteve a licença de instalação naquele ano "com as imensas áreas de floresta vulneráveis, sem qualquer sinalização de início da construção das bases".

No final de 2015, a Norte Energia repactuou o plano com a Funai para obter a licença de operação. O acordo é objeto de investigação do MPF, que considera que a condicionante deveria ter sido reavaliada. "Nesse contexto, de uma condicionante descumprida, o Ministério Público Federal avalia a situação atual das áreas indígenas, para auferir as responsabilidades por uma situação extrema em que praticamente todas as terras apresentam relatos de invasões e desmatamento, sem a resposta necessária que o sistema de vigilância deveria oferecer", afirmou o MPF do Pará em nota à Agência Brasil.

Procurada pela reportagem, a Norte Energia afirmou, em nota, que construiu um complexo de monitoramento, "formado por oito bases de vigilância - além de outras três em processo de instalação e cuja operação está, hoje, a cargo de órgãos do governo federal". No texto, a empresa afirma que treinou todo o quadro de pessoal para a operação do complexo e diz que está cumprindo todas as condicionantes previstas no licenciamento ambiental.

"A Norte Energia reitera seu compromisso em atender todas as obrigações previstas na implantação e operação da UHE Belo Monte, com respeito às pessoas, ao meio ambiente e à região em que está inserida", conclui a nota.

Procurada, a Fundação Nacional do Índio (Funai) não se manifestou até a publicação da reportagem.
Extração ilegal e fraudes

A extração ilegal de madeira em áreas protegidas é um dos principais crimes combatidos na região pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), que conta com equipes sediadas em Altamira e Santarém.

"A gente tem feito ação rotineira na região buscando impedir isso. A despeito disso você vai encontrar por ali caminhão rodando com toras de forma irregular no meio de uma rodovia federal, que é a Transamazônica. O que acontece infelizmente nessa questão? O Ibama atua, a gente consegue identificar as pessoas, a gente multa as pessoas, leva para delegacia, só que o crime ambiental não deixa ninguém preso", afirma Rodrigo Cabral, coordenador de operações do Ibama.

Cabral ressalta que a exploração ilegal de madeira abre caminho para o desmatamento das áreas. "Dificilmente alguém desmata uma área sem antes retirar dessa área as árvores de maior valor econômico. Essa exploração ilegal, cujas árvores são roubadas de vários locais e levadas para as serrarias, é um prelúdio do que acontece", afirma.

Segundo o Ibama, cada metro cúbico de ipê em tora extraído legalmente por meio de planos de manejo é vendido por cerca de R$ 850. Após serrado e beneficiado, o metro cúbico da espécie é exportado por até R$ 9,5 mil, valor que pode variar de acordo com a cotação do dólar.

Nos últimos três anos, o ipê representou 38,7% do volume de madeira exportado para os Estados Unidos e para Europa e 56% das exportações de produtos florestais, segundo dados do Sistema do Documento de Origem Florestal (DOF).

No entanto, o Ibama alerta para fraudes nos planos de manejo, quando empresas de fachada negociam madeira ilegal e sonegação fiscal. Segundo o instituto, são apresentados planos de manejo com estimativa superestimada para o volume de madeira disponível para corte dentro de uma determinada área, ou, por exemplo, adição de árvores de alto valor comercial, como o ipê, ao inventário florestal. Com essa estimativa, os responsáveis pelos planos de manejo conseguem créditos para extração e transporte da madeira emitidos por órgãos estaduais. Os créditos são utilizados para "esquentar" a contabilidade de serrarias que processam árvores ilegalmente extraídas de florestas em terras indígenas, áreas protegidas ou terras públicas.

"A partir do momento que eu tenho crédito em excesso rodando no mercado, eu tenho crédito para acobertar a madeira retirada. Eu tenho uma determinada serraria que compra só crédito numa área de um plano de manejo florestal, que já comprou crédito de ipê, mas aquilo vem só no papel. Então, a serraria compra ipê real de pessoas que roubaram essa madeira de dentro de terra indígena ou unidade de conservação", explica o coordenador de operações do Ibama. Cada metro cúbico de crédito é comercializado ilicitamente por até R$ 800.

Um levantamento feito pelo Greenpeace Brasil sobre 586 planos de manejo florestais do Pará, no período de 2013-2017, aponta que 76,68% dos inventários para exploração de ipê no estado apresentam densidade (quantidade de metro cúbico por hectare) superior aos prováveis níveis máximos naturais na comparação com pesquisas anteriores e inventários de cinco florestas nacionais no estado.

A ONG analisou todas as Autorizações para Exploração Florestal (Autef), de 2016 a 2019, para Unidades de Produção Anual (UPAs), que continham espécies de ipê autorizadas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Pará. A fraude foi constatada em uma série de vistorias feitas por agentes do Ibama, conjuntamente com o Greenpeace e engenheiros florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo.

"Esses planos de manejo foram colocados como alvo das nossas operações e a gente foi em campo fazer essas análises e constatamos que realmente havia fraude na quantidade de madeira que existiria ali naquele local a ser retirado", afirma Cabral.

Um relatório publicado em março deste ano pelo Greenpeace Brasil, com base nessas ações, aponta que a descentralização e a falta de integração dos sistemas de controle e licenciamento florestal dos principais produtores de madeira na Amazônia - Mato Grosso e Pará - dificultam o combate à fraude. A publicação aponta também que há relutância do mercado madeireiro em adotar medidas próprias dentro da cadeia de fornecimento para evitar o desmatamento ilegal.

"O presente relatório fornece evidências de que um processo fraco de licenciamento e uma exploração madeireira indiscriminada e ilegal de ipê estão causando danos à floresta e seus habitantes. Alguns dos efeitos desse crime ambiental já são visíveis, incluindo uma invasão mais profunda das estradas ilegais e a crescente degradação da floresta", aponta o documento.

Na última semana, o Ibama identificou 22 pessoas envolvidas na exploração ilegal de ipê nas terras indígenas Aripuanã, Roosevelt e Parque do Aripuanã, no noroeste do Mato Grosso, em operação conjunta com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Gerência de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil.

Segundo o Ibama, nas terras fiscalizadas, o metro cúbico do ipê extraído ilegalmente era negociado por menos de R$ 50 e foram encontrados mais de 2,5 mil metros cúbicos de madeira em toras, equivalentes ao carregamento de 150 caminhões.
Fonte: Uol Notícias

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Amazônia perdeu 20% desde 1970 e Cerrado, 50%, aponta relatório


Amazônia perdeu 50 mil km² de terra nos últimos 7 anos

DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA, EM FOTO DE 2007 (FOTO: GETTY IMAGES VIA BBC NEWS)



O Fundo Mundial para a Natureza (WWF, da sigla em inglês), ONG de defesa do meio ambiente, acaba de divulgar a versão 2018 do seu relatório Planeta Vivo. E as conclusões não são nada boas, principalmente para o Brasil.

A análise, feita por 50 pesquisadores em todo o mundo com base em pesquisas de 19 organizações, apontou para um desmatamento intenso, que reduziu, de 1970 para cá, 20% da Floresta Amazônica e 50% do Cerrado, biomas bastante representativos do país.

A redução das áreas verdes acaba trazendo uma implicação direta na vida de espécies, aumentando ainda mais a lista daquelas que estão ameaçadas de extinção.

O relatório atual, que traz um cenário desolador, confirma uma curva de desgaste ambiental que vem se acentuando nos últimos anos.

A WWF divulga o relatório a cada dois anos. Nesta edição, o levantamento cita animais brasileiros entre os ameaçados em função dessa perda de ambiente natural. Na lista estão a jandaia-amarela (Aratinga solstitialis), o tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), o uacari (Cacajao hosomi), o boto (Inia geoffrensis) e o muriqui-do sul (Brachyteles aracnoides).

No caso dos botos, a exploração é tida como involuntária: os animais acabam sendo presos em redes de pesca, mesmo não sendo alvo de pesca predatória.

De acordo com a WWF, que monitora, desde 1970, 16.704 populações animais, declínio de populações de vertebrados no período em todo o mundo é de 60% - mamíferos, peixes, aves, répteis e anfíbios. De lá para cá, houve um declínio de 83% das populações de água doce. No caso dos mamíferos, a redução total foi de 22%.

Para efeitos comparativos, entre 1970 e 2010, esse declínio foi de 52%. Ou seja: não estamos conseguindo conter o estrago, quanto menos recuperá-lo. Um dos exemplos mais críticos trazidos pelo relatório é a população de elefantes na Tanzânia, que reduziu em 86% desde os anos 1970.

Para se recuperar sozinha do estrago causado pela humanidade, a natureza precisaria de 6 milhões de anos, diz o documento.

Nos trópicos, principalmente nas Américas Central e do Sul, a deterioração do ecossistema é ainda mais grave - com redução de 89% dessas populações.

A região entre os trópicos é onde está a maior parte da vida do planeta, justamente por conta da questão climática. Ao mesmo tempo, é nesta faixa onde estão também as maiores áreas de uso de solo e dos recursos naturais - as áreas cultivadas para a produção de alimentos.

O desmatamento para o uso intenso da terra tem afetado drasticamente os ecossistemas do planeta.
AMAZÔNIA PERDEU 50 MIL KM² DE TERRA NOS ÚLTIMOS 7 ANOS (FOTO: AFP - VIA BBC NEWS)

Segundo a WWF, a taxa de extinção das espécies hoje - número que indica o risco de desaparecimento das mesmas - é de 100 a 1.000 vezes maior do que era antes de as atividades humanas começarem a alterar a biologia e a química do planeta.

Isso significa que a Terra vive seu sexto processo de extinção em massa nos últimos 500 milhões de anos. Desta vez, o culpado é uma espécie que habita o planeta - nós, os humanos.

"Preservar a natureza não é apenas proteger os tigres, pandas, baleias e animais que apreciamos. É muito mais: não pode haver um futuro saudável e próspero para os homens em um planeta com o clima desestabilizado, os oceanos sujos, os solos degradados e as matas vazias, um planeta despojado de sua biodiversidade", declarou o diretor-geral da WWF, Marco Lambertini.

Ambientes brasileiros
Em junho, dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente indicavam que a devastação do Cerrado, a savana brasileira, era 60% a mais do que a perda na Amazônia nos últimos sete anos.

No total, foram 80 mil km² de terras devastadas, contra 50 mil km² da Amazônia.

A região do Cerrado é onde mais se expande o agronegócio brasileiro. Em coletiva de imprensa realizada em junho, o pesquisador Claudio Almeida, responsável por divulgar os dados, ressaltou que na parte mais ao norte do bioma, em especial nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, foi observada a maior incidência do desmatamento nos últimos anos - os Estados respondem por 62% do total perdido.

E é justamente essa região apontada como a nova fronteira do agronegócio brasileiro - dedicada sobretudo à produção de soja, óleo de palma e criação de gado.

Os números são do monitoramento chamado Prodes do Cerrado, feito por satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Quando os dados foram divulgados, o Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia divulgou nota afirmando que a "savana consolida-se como o bioma mais ameaçado do Brasil atualmente".

O desmatamento ocorrido no Brasil tem afetado, de acordo com o WWF, não só a vida dos animais. Mas também a oferta de água doce - o que ajuda a explicar as recorrentes crises hídricas que têm ocorrido, como a que deixou em risco o abastecimento da região Sudeste nos últimos anos.

Isto porque as regiões mais afetadas, onde estão Cerrado e Amazônia, são justamente as que abrigam os principais mananciais da malha hidrográfica brasileira.

De acordo com as metas da convenção da Organização das Nações Unidas para a biodiversidade, pelo menos 17% dos ecossistemas de cada país precisariam estar em áreas protegidas para a conservação.

O Brasil, país que tem a maior biodiversidade do planeta, está distante desse número. Apenas 8% do cerrado está protegido. No Pantanal, apenas 2% das áreas estão protegidas.

MACACO NA AMAZÔNIA - MEIO AMBIENTE - FAUNA (FOTO: AFP - VIA BBC NEWS)

Planeta
O relatório mostra que três quartos do planeta já foi impactado pela ação humana. Há uma projeção que, em 2050, apenas 10% da Terra esteja livre da interferência humana.

O WWF aponta que os seres humanos já ultrapassaram os limites de segurança quanto às mudanças climáticas e níveis de interferência no sistema terrestre. Integridade da biosfera e fluxos biogeoquímicos de fósforo e nitrogênio também já sofreram interferências humanas tidas como irreversíveis - sobretudo por conta do uso de fertilizantes na agricultura e do manejo da pecuária intensiva.

Segundo o texto, isto representa um declínio acentuado da "saúde da planetária", da "natureza" e da "biodiversidade". "Prejudicando a saúde o bem-estar das pessoas, espécies, sociedades e economias em todos os lugares", ressalta.

A organização emitiu um alerta vermelho para a degradação do solo e ressaltou que está perto de fazer o mesmo em relação à acidificação das reservas de água doce e dos oceanos.

Uma possível solução apontada para tentar reduzir esses estragos seria o emprego mais eficiente de tecnologias já disponíveis para a produção de alimentos. Embora tenha havido avanços por conta dos equipamentos e técnicas mais modernas, a WWF acredita que as melhorias cresceram de forma menor do que o potencial de dano.

A pegada ecológica do homem, conclui o relatório, está hoje três vezes mais degradante do que era em 1970.

Um exemplo está no desperdício. Atualmente, cerca de 40% do que é produzido acaba sendo descartado por conta de falhas no processo de produção, transporte e mesmo dentro das residências.

O relatório frisa que é preciso "elevar o nível de alerta" para provocar um amplo e consciente movimento, chamando a atenção "suficiente dos líderes mundiais".

Segundo a ONG, é preciso uma ação consistente antes de 2020, porque, ao contrário, "uma porta sem precedentes se fechará rapidamente".

"Somos a primeira geração que tem uma visão clara do valor da natureza e do nosso impacto nela. Poderemos também ser a última capaz de inverter esta tendência", adverte o relatório.
Revista Época Negócios

Brasil é o país com maior índice de desmatamento nos últimos 34 anos, diz estudo


País perdeu 399 mil quilômetros quadrados de área coberta por árvores entre 1982 e 2016; no mundo, tendência é a diminuição do desmatamento
Agência Brasil
Enquanto o mundo reduz índices de desmatamento nos últimos anos, cresceram no Brasil e em áreas tropicais

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, revela que o Brasil foi o país que mais apresentou índices de desmatamento entre os anos de 1982 e 2016. Os resultados do estudo, feito a partir da análise de fotos de satélites, foram recentemente publicados na revista Nature 

Ao todo, o Brasil perdeu 399 mil quilômetros quadrados de superfície arborizada nos últimos 34 anos, o que representa mais do que a perda da Rússia, Canadá, Paraguai e Argentina juntos. A pesquisa mostra, contudo, que a tendência brasileira dedesmatamento não se repete no mundo: ao longo do mesmo período, as áreas cobertas por árvores cresceram 7,1% no planeta.

Com mais 2,24 milhões de quilômetros de superfície arborizada, o equivalente aos estados americanos do Texas e Alasca juntos, o mundo passou a ter 33 milhões de área com vegetação arbórea durante o período. Os maiores aumentos foram observados nos países temperados e nas zonas polares, que conseguiram “compensar” a perda nas áreas tropicais.


O estudo aponta um grande aumento nas florestas temperadas continentais, seguido pelas florestas boreais de coníferas e florestas úmidas subtropicais. Enquanto isso, as áreas mais desmatadas foram aquelas localizadas em regiões tropicais , como florestas úmidas, florestas pluviais e florestas secas.

Pesquisa contradiz dados de desmatamento da ONUDivulgação/Conservation ONG
Para a ONU, os casos de desmatamento são apenas as perdas em florestas, enquanto o novo estudo usa outra análise

Os responsáveis pelo estudo apontaram que os resultados contradizem aqueles apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, conhecida pela sigla FAO, em inglês.

Para a ONU, houve uma grande perda florestal entre 1990 e 2015, o que se deve às análises que levam em conta apenas as florestas. A Universidade de Maryland, por outro lado, leva em consideração a totalidade da área coberta por árvores .

No Brasil, por exemplo, as plantações de madeireiras e palmeiras para a obtenção de óleo de palma são vistos como casos de desmatamento para a FAO, o que não acontece na pesquisa americana.

*Com informações da Agência Ansa

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

"A natureza não tem voz, precisa de advogados"


Fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, descontrole sobre desmatamento e saída do Acordo de Paris seria um desastre, diz especialista

R. Alves/AFP/Getty Images

"Desmatamento sem ou com pouco controle da Amazônia vai mudar o clima global", alerta pesquisador



Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito Jair Bolsonaro fez declarações relacionadas ao meio ambiente que preocuparam especialistas. O militar da reserva defendeu, por exemplo, a saída do Brasil do Acordo de Paris sobre o clima, que visa limitar o aumento da temperatura global em até 2ºC.

Outro ponto que preocupa é a provável fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, pasta que poderia ter um ministro próximo da bancada ruralista.


O termo "meio ambiente" apareceu apenas uma vez no programa de governo do presidente eleito, justamente para se referir à essa eventual fusão.

"A natureza não tem voz, precisa de advogados. Sem ministério próprio, essa fusão prediz um desastre para a natureza. É muito míope", afirma em entrevista à DW Brasil Manfred Nitsch, professor da Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim e especialista em economia, desenvolvimento e meio ambiente.

O plano de governo de Bolsonaro também não citou o desmatamento ou a Amazônia, além de defender um afrouxamento para licenciamentos ambientais.

"Deixar a proteção desse precioso patrimônio nas mãos dos donos da riqueza, da terra e com empresas em busca de lucro poderia acabar com a Floresta Amazônica", comenta Nitsch.

O acadêmico alemão integrou o Programa Piloto do G7 e do Brasil para a Conservação das Florestas Tropicais do País, uma tentativa de encorajar o desenvolvimento sustentável no Brasil. Financiada pela comunidade internacional, a iniciativa durou quase 20 anos e foi encerrada em 2009, tendo produzido estudos que ajudaram a construir políticas públicas ambientais no país.

DW Brasil: Quais são as suas preocupações em relação ao governo de Jair Bolsonaro e à futura gestão do presidente quanto à Floresta Amazônica?

Manfred Nitsch: A primeira preocupação é o desprezo que Bolsonaro mostra pelos valores universais dos direitos humanos e da democracia. Seu elogio à ditadura militar e à tortura – e à tortura de Dilma Rousseff em particular – já lhe desacreditou enormemente no mundo.

Sobre a Floresta Amazônica, temo que haja um desmatamento sem ou com pouco controle. Isso vai mudar o clima global, porque a Floresta Amazônica é essencial para a circulação de ar, água e calor em todo hemisfério americano e além. Já se notam os resultados do desmatamento nas últimas décadas, com secas e inundações.

Seria um desastre não apenas para a Amazônia, mas para todo Brasil com suas estruturas naturais de água em nuvens, rios e aquíferos. Facilitar o avanço da fronteira agrícola e da mineração na Amazônia vai mudar o clima do Brasil e do mundo para pior. Assim dizem todos os estudos sérios pertinentes.

Ainda tenho esperança de que a comunidade internacional e a sociedade civil nacional com missão ecológica, se unidas, possam inibir o pior no Brasil. 

DW: Deutsche WelleQual seria o impacto global de uma eventual saída do Brasil do Acordo de Paris? 

MN: Seria outra medida nociva para o país e para o mundo. A saída, ou quase, dos Estados Unidos do Acordo de Paris isolou Donald Trump no G20. Com o Brasil seguindo o mesmo exemplo, a comunidade internacional dos protagonistas perderia um aliado importante, que desde os tempos de José Lutzenberger [secretário nacional do Meio Ambiente no governo de Fernando Collor] havia sido um pioneiro.

DW: Como o senhor enxerga uma eventual fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente na gestão de Bolsonaro? 

MN: A natureza não tem voz, precisa de advogados. Sem ministério próprio, essa fusão prediz um desastre para a natureza. É muito míope. A Constituição de 1988 declara a Floresta Amazônica como Patrimônio Nacional. Deixar a proteção deste precioso bem nas mãos dos donos da riqueza, da terra e com empresas em busca de lucro poderia acabar com este valioso tesouro nacional. Deixar invadir essa área é inconstitucional, mas provavelmente vai haver impunidade. E internacionalmente, não se pode fazer quase nada, porque os interessados sempre gritam "internacionalização da Amazônia" e "integrar para não entregar".

DW: Como o senhor analisa as ameaças feitas por Bolsonaro de interromper demarcações de terras indígenas?

MN: Demarcação e consolidação jurídica precisam de várias etapas. Por isso, pode ser que muitas demarcações ainda preliminares ou em processo sejam ameaçadas. Um certo colonialismo interno sempre se manteve vivo no Brasil. O anúncio de Bolsonaro [sobre as terras indígenas] é um retrocesso à época colonial e do império. Mas pelo menos seria uma promessa de manter as áreas já demarcadas, que são bastante grandes. Com o slogan "Muita terra para pouco índio", sempre existiram pressões para invadir esses áreas indígenas já demarcadas.

DW: Outra promessa de Bolsonaro é privatizar até 50 empresas estatais em seu primeiro ano de gestão. Isso é possível?

MN: Não é difícil vender essas empresas se houver vontade. Há inclusive a possibilidade de se privatizar dezenas de prisões, o que não será saudável para os detentos. Porém, entre os militares sempre houve uma facção nacionalista, que defende a empresa pública. Pode ser que o ajuste seja como no Chile de Augusto Pinochet: algumas empresas públicas com participação de militares e privatização e venda de outras, seja para oligarcas nacionais ou investidores nacionais e internacionais. 

DW: Quais outros desafios econômicos o senhor destacaria?

MN: Acabar com o "Custo Brasil", ou seja, os gargalos na infraestrutura, na burocracia e na educação pública. É preciso também reduzir o custo do crédito produtivo sem incentivar o endividamento de consumidores, reformar a legislação trabalhista após as novas regras controversas do governo Temer, combater a inflação e superar o ceticismo dos investidores estrangeiros sobre a retórica autoritária e inflamatória do novo presidente. Na era Lula, o Brasil foi um ator importante na política internacional. Com Bolsonaro, será difícil restabelecer múltiplas boas relações, tanto econômicas quanto político-diplomáticas. Com ele, creio que o Brasil não entrará para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Carta Capital

sábado, 17 de novembro de 2018

Por que incêndios tão grandes continuam acontecendo na Califórnia?


Em 2017, o Thomas devastou uma área de 281.893 acres. Agora, o Camp e o Woolsey somam uma área de 218.314 acres de destruição e já deixaram 42 mortos15/11/2018 - 08H11/ ATUALIZADO  MARILIA MARASCIULO

PARA CALIFORNIANOS, INCÊNDIOS NÃO SÃO NOVIDADES — MAS A INTENSIDADE DOS MAIS RECENTES, SIM (FOTO: FLICKR/KSUWILDKAT)

Desde semana passada, a Califórnia está pegando fogo. O estado tem dois grandes incêndios ativos há mais de cinco dias: o Camp, no norte, que já queimou 125 mil acres e causou a morte de 42 pessoas; e o Woolsey, na região metropolitana de Los Angeles, que se espalha por 96,3 mil acres e não deixou vítimas fatais. Até terça feira (13), o primeiro estava 30% contido e o segundo, 35%. Mais de 250 mil pessoas foram obrigadas a evacuar a área.

Embora já seja considerado o pior da história da Califórnia, o fato de haver locais pegando fogo não é nenhuma surpresa para os moradores do estado. É que as queimadas praticamente fazem parte do ecossistema local: em parques como o Parque Nacional das Sequoias, por exemplo, eles são cuidadosamente controlados para permitir que novas árvores cresçam, visto que as sementes dependem do calor para florescer.

O que chama a atenção é que nos últimos anos eles têm se tornado cada vez maiores e descontrolados. Nove dos dez maiores incêndios da Califórnia ocorreram nos últimos 20 anos, cinco deles desde 2010. Em 2017, o incêndio Thomas queimou 281,8 mil acres nos condados de Ventura e Santa Bárbara, matou duas pessoas e deu um prejuízo de mais de US$ 2 bilhões. Entenda por que os incêndios ocorrem — e o que pode estar acontecendo para piorá-los:

Os ventos Santa Ana
A maioria dos incêndios tem alguma relação com os ventos Santa Ana, sejam eles a causa ou o “empurrãozinho” que faz o fogo se alastrar. Trata-se de ventos extremamente secos, quentes e fortes, que surgem de massas de ar frio e seco na região do deserto conhecida como Grande Bacia, separada da costa pela Serra Nevada. O fenômeno ocorre principalmente no outono e cria a condição ideal para fogos: a umidade relativa em geral fica abaixo de dois dígitos e basta uma faísca para a vegetação — que está ressecada — pegar fogo.

A faísca inicial costuma ser causada por fatores humanos, como o escapamento ainda quente de um carro estacionado na grama, uma bituca de cigarro, ou fios de eletricidade derrubados pelos fortes ventos. E são eles, depois, que carregam as chamas que se espalham de forma rápida. Um estudo do Instituto de Pesquisa da Michigan Tech concluiu que fogos que ocorrem em dias de ventos Santa Ana afetam áreas mais de duas vezes maiores. O período de duração do fenômeno vai de horas a dias.

Por que tem ficado pior
Mas, se o fenômeno é bem conhecido, por que incêndios de proporções tão grandes não só continuam acontecendo, como parecem ter piorado? Há muitas teorias e possíveis explicações. A mais frequente é a das mudanças climáticas. Com temperaturas cada vez mais altas e menos chuvas (a Califórnia sempre teve problemas de falta de água, mas recentemente também passou por uma das maiores secas da história), a vegetação fica ainda mais ressecada e propensa a pegar fogo. E mesmo se chover, o calor excessivo não ajuda: significa que mais vegetação vai crescer e depois ressecar, criando ainda mais combustível para as queimadas.

Para completar, o aumento da população, que cada vez mais se movimenta em direção às florestas — seja para viver ou só para visitar — não ajuda em nada. O Carr Fire, por exemplo, que ocorreu em julho deste ano no norte do estado e deixou oito mortos, começou porque o pneu de um caminhão furou e o contato da lataria com o asfalto provocou faíscas.

Um estudo da Universidade Villanova mostrou que cerca de sete milhões de casas foram construídas em áreas com risco de incêndio, mais de dez vezes mais que as cerca de 600 mil em áreas de risco em 1940. Isso não só aumenta o risco de faíscas, como as próprias construções se transformam em combustível para as queimadas.
Revista Galileu

Camada de ozônio pode estar totalmente regenerada até 2060


Apesar da boa notícia, atenção ainda deve ser mantida para que tal previsão não seja 


COM A REGENERAÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO A PREVISÃO É QUE O AQUECIMENTO GLOBAL CAIA 0,5°C (FOTO: FLICKR/SINEAD FENTON)

Uma boa notícia para o meio ambiente: a camada de ozônio, que protege a Terra contra os raios ultravioleta solares, vem se recuperando a uma taxa de cerca de 2% ao ano desde 2000 e pode estar completamente regenerada até 2060, segundo um estudo da ONU.

A novidade se dá em razão do sucesso do Protocolo de Montreal, de 1987, que proibiu os clorofluorcarbonetos (CFCs), usados em aerossóis e refrigeradores, e outras substâncias destruidoras da camada de ozônio.

Segundo o estudo, se o bom andamento da medida continuar, o Hemisfério Norte poderá estar recuperado por volta de 2030, e o Hemisfério Sul, até 2050, prevê o relatório. Já o buraco sobre a Antártida – que chegou a ter o tamanho da América do Norte - pode estar completamente fechado até a década de 2060, constatou o estudo da ONU.


Segundo os pesquisadores, se não fosse pelo Protocolo de Montreal, a câmada de ozônio da Terra seria totalmente destruída até 2065. Isso significa que sofreríamos consequências devastadoras, já que o planeta não teria, por exemplo, sua proteção contra raios ultravioletas que causam câncer de pele e outras doenças.

Atenção deve ser mantida

Apesar das boas notícias, ainda é preciso manter o cuidado. De acordo com a Agência de Investigação Ambiental(EIA), alguns países ainda emitem grandes quantidades de gases tóxicos na camada atmosférica. O principal dele é a China, que teve, inclusive, 18 fábricas poluentes clandestinas descobertas. A EIA disse que várias empresas chinesas admitiram exportar CFCs, etiquetando-os falsamente como compostos de hidrofluorcarbono (HFC). Desde a descoberta, o governo chinês prometeu fechar os locais.

"Se essas emissões de CFC-11 continuassem nesse nível, a recuperação do buraco na camada de ozônio na Antártida seria adiada por sete a 20 anos", afirmou Paul Newman, um dos autores do estudo da ONU e geocientista-chefe no laboratório de pesquisas espaciais Goddard Space Flight Center da Nasa.

Segundo eles, qualquer aumento nos produtos químicos pelo mundo que sejam capazes de reduzir a camada de ozônio pode prejudicar todo um trabalho realizado nos últimos 30 anos.
"Embora as mudanças climáticas e a redução da camada de ozônio sejam problemas distintos, existem algumas sobreposições interessantes. Se as nações cumprirem o Protocolo de Montreal, o controle dos HFCs reduzirá o aquecimento global em cerca de 0,5°C até 2100", afirma Newman.

Vale dizer que a recuperação da camada de ozônio pode trazer consequências que não são tão boas assim. De acordo com os pesquisadores, as temperaturas podem subir na região da Antártida, por exemplo, já que o ozônio tem o poder de reter calor. Isso afetaria o clima em regiões que já sofrem com mudanças climáticas provocadas pelo homem.

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