Em 2017, o Thomas devastou uma área de 281.893 acres. Agora, o Camp e o Woolsey somam uma área de 218.314 acres de destruição e já deixaram 42 mortos15/11/2018 - 08H11/ ATUALIZADO MARILIA MARASCIULO
PARA CALIFORNIANOS, INCÊNDIOS NÃO SÃO NOVIDADES — MAS A INTENSIDADE DOS MAIS RECENTES, SIM (FOTO: FLICKR/KSUWILDKAT)
Desde semana passada, a Califórnia está pegando fogo. O estado tem dois grandes incêndios ativos há mais de cinco dias: o Camp, no norte, que já queimou 125 mil acres e causou a morte de 42 pessoas; e o Woolsey, na região metropolitana de Los Angeles, que se espalha por 96,3 mil acres e não deixou vítimas fatais. Até terça feira (13), o primeiro estava 30% contido e o segundo, 35%. Mais de 250 mil pessoas foram obrigadas a evacuar a área.
Embora já seja considerado o pior da história da Califórnia, o fato de haver locais pegando fogo não é nenhuma surpresa para os moradores do estado. É que as queimadas praticamente fazem parte do ecossistema local: em parques como o Parque Nacional das Sequoias, por exemplo, eles são cuidadosamente controlados para permitir que novas árvores cresçam, visto que as sementes dependem do calor para florescer.
O que chama a atenção é que nos últimos anos eles têm se tornado cada vez maiores e descontrolados. Nove dos dez maiores incêndios da Califórnia ocorreram nos últimos 20 anos, cinco deles desde 2010. Em 2017, o incêndio Thomas queimou 281,8 mil acres nos condados de Ventura e Santa Bárbara, matou duas pessoas e deu um prejuízo de mais de US$ 2 bilhões. Entenda por que os incêndios ocorrem — e o que pode estar acontecendo para piorá-los:
Os ventos Santa Ana
A maioria dos incêndios tem alguma relação com os ventos Santa Ana, sejam eles a causa ou o “empurrãozinho” que faz o fogo se alastrar. Trata-se de ventos extremamente secos, quentes e fortes, que surgem de massas de ar frio e seco na região do deserto conhecida como Grande Bacia, separada da costa pela Serra Nevada. O fenômeno ocorre principalmente no outono e cria a condição ideal para fogos: a umidade relativa em geral fica abaixo de dois dígitos e basta uma faísca para a vegetação — que está ressecada — pegar fogo.
A faísca inicial costuma ser causada por fatores humanos, como o escapamento ainda quente de um carro estacionado na grama, uma bituca de cigarro, ou fios de eletricidade derrubados pelos fortes ventos. E são eles, depois, que carregam as chamas que se espalham de forma rápida. Um estudo do Instituto de Pesquisa da Michigan Tech concluiu que fogos que ocorrem em dias de ventos Santa Ana afetam áreas mais de duas vezes maiores. O período de duração do fenômeno vai de horas a dias.
Por que tem ficado pior
Mas, se o fenômeno é bem conhecido, por que incêndios de proporções tão grandes não só continuam acontecendo, como parecem ter piorado? Há muitas teorias e possíveis explicações. A mais frequente é a das mudanças climáticas. Com temperaturas cada vez mais altas e menos chuvas (a Califórnia sempre teve problemas de falta de água, mas recentemente também passou por uma das maiores secas da história), a vegetação fica ainda mais ressecada e propensa a pegar fogo. E mesmo se chover, o calor excessivo não ajuda: significa que mais vegetação vai crescer e depois ressecar, criando ainda mais combustível para as queimadas.
Para completar, o aumento da população, que cada vez mais se movimenta em direção às florestas — seja para viver ou só para visitar — não ajuda em nada. O Carr Fire, por exemplo, que ocorreu em julho deste ano no norte do estado e deixou oito mortos, começou porque o pneu de um caminhão furou e o contato da lataria com o asfalto provocou faíscas.
Um estudo da Universidade Villanova mostrou que cerca de sete milhões de casas foram construídas em áreas com risco de incêndio, mais de dez vezes mais que as cerca de 600 mil em áreas de risco em 1940. Isso não só aumenta o risco de faíscas, como as próprias construções se transformam em combustível para as queimadas.
Revista Galileu
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