sábado, 30 de novembro de 2019

Ser vizinho de parques reduz o risco de morte por todas as causas possíveis


Estudos sobre essa temática sugerem que espaços verdes dentro das cidades têm efeito positivo na saúde das pessoas, incluindo redução de estresse, do risco de doenças cardiovasculares, de síndrome metabólica e de morte prematura



(foto: Edilson Rodrigues/CB/D.A Press)


Viver perto de áreas verdes pode impedir a morte prematura por todas as causas, segundo o maior estudo sobre o tema, divulgado na revista The Lancet Planetary Health. A análise envolveu nove estudos feitos em sete países, com um total de mais de 8 milhões de pessoas. Segundo os autores, o resultado serve de alerta para as populações cada vez mais carentes desses biomas — metade dos habitantes do planeta vive em cidades onde frequentemente há falta de espaços verdes.

Estudos sobre essa temática sugerem que espaços verdes dentro das cidades têm efeito positivo na saúde das pessoas, incluindo redução de estresse, do risco de doenças cardiovasculares, de síndrome metabólica e de morte prematura, além de melhora da saúde mental. No entanto, muitas dessas investigações analisam apenas um período curto e usam maneiras distintas de medir a exposição ao verde.


Por esse motivo, os cientistas buscaram estudos longitudinais — que acompanham um número amplo de indivíduos durante um período mais extenso. Eles utilizaram informações sobre moradores de Canadá, Estados Unidos, Espanha, Itália, Austrália, Suíça e China. Também recorreram a uma medida simples de exposição ao espaço verde, o Índice de Vegetação por Diferenças Normalizadas (NDVI), feito com base em imagens de satélite.


Os cientistas concluíram que ter uma área verde perto de casa está significativamente associado à redução da mortalidade prematura por todas as causas possíveis. “Essa é a maior e mais abrangente síntese até hoje sobre espaços verdes e mortalidade prematura”, destaca, em comunicado, David Rojas, pesquisador da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo.
Políticas públicas
Para os cientistas, a conclusão é suficiente para incentivar mudanças que promovam a longevidade. “Os resultados apoiam intervenções e políticas para aumentar os espaços verdes como uma estratégia de melhoria da saúde pública. Além disso, esse estudo fornece informações importantes, que já podem ser usadas em trabalhos futuros de avaliação de impacto na saúde”, defende Rojas.


O cientista chama a atenção para outros benefícios que podem ser atingidos com a adoção dessas medidas. “Os programas de incentivo a áreas verdes em ambientes urbanos não são apenas essenciais para promover a saúde pública, mas também aumentam a biodiversidade e mitigam os impactos das mudanças climáticas, tornando nossas cidades mais sustentáveis e habitáveis.”

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Estudo brasileiro aponta que incêndios na Amazônia afetam geleiras andinas


Levados pelo vento, o carbono preto e partículas de poeira gerados pela queima da floresta dificultam que a neve reflita a luz solar, acelerando o seu derretimento. Resultado de estudo brasileiro reforça a necessidade de pensar as questões climáticas de forma global

Vilhena Soares





(foto: Daniel Beltra/Greenpeace/Divulgação)

A grande quantidade de queimadas na Amazônia recentemente fez com que o mundo virasse os olhos para o Brasil, desencadeando, inclusive, crises políticas e diplomáticas. Isso porque os danos ocorridos na floresta — boa parte dela em território brasileiro — podem desencadear problemas para todo o planeta. Em um estudo publicado na revista Scientific Reports, pesquisadores brasileiros mostram que os incêndios nos trópicos estão ligados ao derretimento das geleiras andinas. Por meio de uma série de cálculos e projeções, os investigadores mostram que aerossóis gerados pela queima de biomassa podem intensificar o derretimento do gelo.

Newton de Magalhães Neto, pesquisador do Instituto de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e principal autor do estudo, explica que a pesquisa foi motivada por dados que revelaram como emissões geradas pela queima de combustível fóssil em regiões vizinhas eram transportadas para o Ártico e para a Groenlândia, contribuindo para o derretimento do gelo nessas áreas. “Imaginamos que as queimadas geradas na Amazônia também poderiam gerar efeito nas geleiras dos Andes devido a sua proximidade”, conta ao Correio.

No estudo, Newton de Magalhães Neto e sua equipe, que contaram com a participação de cientistas franceses, usaram dados coletados entre 2000 e 2016 sobre incêndios, movimento da fumaça pelo vento, precipitação e derretimento de geleiras. Eles descobriram que os aerossóis gerados pela queima de biomassa, como o carbono preto, podem ser transportados pelo vento para as geleiras andinas tropicais. Lá, são depositados na neve e têm o potencial de aumentar o derretimento das geleiras. Isso acontece porque a neve que é escurecida pelo carbono preto ou pelas partículas de poeira reflete menos luz — o que compromete um fenômeno chamado albedo. “O albedo é o que impede que as geleiras derretam. Se ele diminui, é muito mais fácil que elas se deteriorem”, detalhou o pesquisador brasileiro.

Fase crítica

Os pesquisadores resolveram dar foco aos anos de 2007 e 2010, períodos em que a região amazônica mais sofreu com as queimadas. “Analisamos uma base de dados oficiais. Com ela, identificamos as regiões que mais queimavam na Amazônia. Usamos um modelo de transporte que consegue prever o quanto do material gerado pelas queimadas pode ser depositado sobre as geleiras e, dessa forma, contribuir para o seu derretimento”, detalha o cientista brasileiro.

A análise mostrou que apenas o carbono preto ou a poeira tem o potencial de aumentar o derretimento anual das geleiras em 3% a 4%. Quando ocorrem juntos, a taxa sobe para 6%. Em situações de alta concentração, a poeira sozinha pode aumentar o fenômeno em 11% a 13%. O carbono preto, em 12% a 14%. “Escolhemos essa região para ser analisada porque ela está próxima da Amazônia, mas também porque é uma das áreas que mais temos dados. Então, podemos trabalhar com um número mais amplo de informações. Vimos, por meio dessa análise, que, realmente, o efeito nessa área pode ser muito grande”, destaca.

Segundo a equipe de pesquisadores, há a possibilidade de o aumento da demanda global por alimentos agravar o problema. Ele pode resultar em maior expansão da agricultura e do desmatamento da floreta amazônica, culminando na ampliação das emissões de carbono preto e CO2, que, como mostra a pesquisa, impactam as geleiras andinas. “A mensagem que o estudo passa é mais uma vez a necessidade de preservação desses territórios. Precisamos preservar as florestas e evitar sua queima de todas as formas possíveis”, frisa Newton de Magalhães Neto.
Invasores na Antártica A excessiva presença do homem pode prejudicar a rica biodiversidade da Antártica, segundo um estudo britânico divulgado, nesta semana, na revista Science Advances. De acordo com autores, com as mudanças climáticas, atividades como o turismo facilitam que espécies invasoras se estabeleçam na região. A grande quantidade de espécies é preservada por um equilíbrio entre o frio extremo e o isolamento de uma massa terrestre cercada por correntes oceânicas poderosas.

“Uma mudança climática reduz a barreira de entrada (dos invasores)”, explica, em comunicado, Peter Convey, especialista do Instituto de Pesquisa British Antarctic Survey e coautor da pesquisa. A estimativa é de que mais de 100 tipos de espécies invasoras estejam na região. Um tipo de grama chamado Poa annua já fincou raízes em algumas ilhas, assim como duas espécies de mosca levadas pelo homem. “O ponto principal é que os humanos trazem 99% das espécies invasora”, frisa Convey. 

Segundo o cientista, milhares de pesquisadores e 50 mil turistas visitam o continente remoto a cada ano. No caso das mudanças climáticas, a estimativa é de que, mantido o atual nível de aquecimento global, uma área de terra que já está sem gelo na península Antártica, no oeste, aumente seu tamanho em 300% no próximo século. “Isso significa que qualquer espécie invasora terá muito mais terras para colonizar”, ressalta o cientista. 

Com mais terra e água disponível, também é provável que se intensifique a competição por recursos entre espécies. Para os investigadores, é necessário repensar as atividades humanas na região urgentemente. “A exploração marinha histórica, a mudança no uso da terra e as invasões biológicas vão, provavelmente, continuar gerando impactos imediatos muito maiores nos ecossistemas antárticos do que as mudanças climáticas em si”, justifica Peter Convey. 
Impactos também locais Os impactos locais da relação entre os incêndios na Amazônia e o derretimento de geleiras nos Andes também são lembrados pelos pesquisadores. “Sabemos dos danos da fumaça para quem mora próximo a essas áreas. Além disso, o derretimento das geleiras pode causar uma crise hídrica. Temos uma população vivendo nessa área que depende dessa reserva de água, que pode ser perdida”, explica Newton de Magalhães Neto, autor principal do estudo.

A equipe tem a intenção de dar continuidade ao trabalho. “Queremos analisar outras regiões, entender o impacto desses elementos em outros locais e revelar as possíveis consequências para poder criar alternativas que possam evitar possíveis prejuízos. Mas, para isso, precisamos de financiamento”, diz o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Para José Francisco Gonçalves, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa brasileira revela dados interessantes e reforça a necessidade de preservação das matas. “Esse estudo mostra uma análise extremamente inovadora, altamente qualificada e que ajuda a entender ainda mais os efeitos que as mudanças climáticas podem causar. Nesse caso, principalmente por causa das queimadas”, diz. “Fica muito claro que os efeitos não são só regionais, eles se expandem e chegam até os Andes. Vemos que não é só a Amazônia que sofre com os incêndios.”

O professor da UnB também ressalta que os danos causados pelo derretimento das geleiras podem ser extremamente cruéis. “Os efeitos podem ser catastróficos, a presença desse carbono preto e da poeira pode fazer com que surjam inundações e também resulta na diminuição da reserva de água nessas regiões. Isso pode provocar um grande desequilíbrio e prejudicar a população”, relata.

Para José Francisco Gonçalves, mais pesquisas sobre o tema são necessárias, pois fortalecem os alertas feitos constantemente pela comunidade científica quanto à importância da preservação do meio ambiente. “Esses dados são um reforço ainda maior para algo que repetimos sempre e que precisa ser levado a sério: é muito importante evitar os danos causados pelas mudanças climáticas, pois eles podem acarretar em enormes prejuízos para o mundo inteiro”, frisa.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Como a inteligência artificial poderia acabar com a Humanidade - por acidente




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Um especialista em inteligência artificial diz que robôs 'bem-intencionados' ainda podem se voltar contra nós

De Stephen Hawking a Elon Musk, algumas das principais mentes do mundo levantaram preocupações de que a inteligência artificial represente uma ameaça aos seres humanos.

Mas, de acordo com um novo livro sobre o tema, não devemos temer a possibilidade de uma revolta de robôs autoconscientes contra seus "mestres" humanos.

E sim com o fato de as máquinas se tornarem tão boas em alcançar os objetivos que estabelecemos para elas que podemos acabar aniquilados por ordenarmos, sem perceber, as tarefas erradas.

O professor Stuart Russell, da Universidade da Califórnia, é autor de Compatibilidade Humana: Inteligência Artificial e o Problema de Controle (sem versão no Brasil) e especialista nos avanços possibilitados pelo aprendizado das máquinas.

"O mote dos filmes de Hollywood é sempre que a máquina espontaneamente se torna consciente. Depois, decide que odeia seres humanos e quer matar a todos nós", disse ele à BBC.



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Os robôs estão se tornando cada vez melhores na conclusão das tarefas que estabelecemos para eles

Segundo eles, os robôs não terão sentimentos humanos, então, "esse é um motivo errado para se preocupar".

"Não há realmente (nas máquinas) uma consciência ruim. Há sim uma competência com a qual temos de nos preocupar, a competência para atingir um objetivo que nós especificamos mal".

Ou seja, segundo ele, digamos que uma máquina com inteligência artificial tenha de cumprir uma tarefa que damos a ela. Porém, atingir essa meta pode necessitar tomada de decisões extremas.

Então, provavelmente a máquina não terá condições de fazer um julgamento moral sobre suas ações: vai apenas tentar atingir o objetivo final, como se fosse qualquer outro.



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A vitória do computador Deep Blue sobre Garry Kasparov, em 1997, foi um marco para o desenvolvimento da inteligência artificial
'Muito competente'

Em uma entrevista ao programa de rádio Today, da BBC, Russell deu um exemplo hipotético da ameaça real que ele acha que a inteligência artificial poderia representar.

Imagine que tenhamos um poderoso sistema de inteligência artificial capaz de controlar o clima do planeta. Nós queremos usá-lo para diminuir os níveis de dióxido de carbono em nossa atmosfera a taxas pré-industriais.

"O sistema então descobre que a maneira mais fácil de fazer isso é se livrar de todos os seres humanos, porque são eles que estão produzindo todo esse dióxido de carbono. Você pode pensar: bom, faça o que você quiser, mas não se livre dos seres humanos. O que a máquina vai fazer?", diz Russell.

Esse exemplo extremo, segundo o professor, serve para destacar os riscos associados à inteligência artificial que age sob instruções que os seres humanos ainda não pensaram.


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Russell diz que os seres humanos precisam recuperar o controle da inteligência artificial ​​antes que seja tarde demais
Superinteligência

A maioria dos sistemas atuais de inteligência artificial são "restritos", projetados especificamente para resolver um problema bem específico em uma área, de acordo com o Centro de Estudos de Riscos Existenciais, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Um momento marcante nesse campo aconteceu em 1997, quando o computador Deep Blue derrotou o então campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, em uma disputa de seis jogos.

Mas, apesar do feito, o Deep Blue foi projetado especificamente por humanos para jogar xadrez e ficaria perdido em um simples jogo de damas.

Os avanços posteriores na inteligência artificial, porém, são diferentes. O software AlphaGo Zero, por exemplo, alcançou um nível excepcional de desempenho depois de apenas três dias jogando Go contra ele mesmo.

Usando o aprendizado profundo, um método de aprendizado de máquinas que usa redes neurais artificiais, o AlphaGo Zero exigia muito menos programação humana. O dispositivo acabou se tornando um excelente jogador de Go, de xadrez e de Shogi.

O mais alarmante, talvez, foi que o computador agiu de forma totalmente autodidata.

"À medida que um sistema de inteligência artificial se torna mais poderoso e mais geral, ele pode se tornar superinteligente, algo superior ao desempenho humano em muitos ou quase todos os domínios", diz o centro de pesquisas britânico.

E é por isso que, segundo o professor Russell, os humanos precisam retomar o controle.


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Em '2001: Uma Odisseia no Espaço' (1968), de Stanley Kubrick, um computador altamente capaz se rebela contra os planos de desativá-lo
'Não sabemos o que queremos'

Russell argumenta que dar à inteligência artificial objetivos mais definidos não é a solução para esse dilema, porque os próprios humanos não têm certeza de quais são esses objetivos.

"Não sabemos que não gostamos de uma coisa até que ela aconteça", diz ele.

"Devemos mudar toda a base sobre a qual construímos sistemas de inteligência artificial", diz ele, afastando-se da noção de dar aos robôs objetivos fixos para eles concluírem. "Em vez disso, o sistema precisa entender que não sabe qual é o objetivo final da tarefa", explica.

"E quando você tem sistemas que funcionam dessa maneira, eles realmente se valem dos seres humanos. Eles começarão a pedir permissão antes de fazer as coisas, porque não têm certeza sobre o que a pessoa deseja."

Fundamentalmente, diz o professor Russell, os computadores ficariam "felizes em se deixarem desligar porque querem evitar fazer coisas de que seu controlador não gosta".
O 'gênio da lâmpada'

"A maneira como construímos a inteligência artificial é um pouco como enxergamos um gênio da lâmpada. Você esfrega a lâmpada, o gênio sai e você diz: 'Gostaria que isso acontecesse'", diz Russell.

E se o sistema de inteligência for suficientemente poderoso, ele fará exatamente o que você solicitar.

"Agora, o problema com os gênios nas lâmpadas é que o terceiro desejo (nesse caso) é sempre: 'Desfaça os dois primeiros desejos, porque não conseguimos especificar os objetivos corretamente'."

"Portanto, uma máquina que busca um objetivo que não é o correto se torna, na verdade, um inimigo da raça humana, um inimigo que é muito mais poderoso que nós mesmos", diz Russell.
BBC Brasil

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Humanos jamais vão migrar para outros planetas, diz Nobel de Física


Laureado nesta semana, físico suíço declarou que humanidade não deve considerar ideia de colonizar outros mundos como plano B caso a Terra seja arruinada.
A. J. Oliveira

(gremlin/Getty Images)


Michel Mayor acaba de ser reconhecido com um Nobel graças aos trabalhos realizados em 1995 que culminaram na descoberta do primeiro planeta em outro sistema solar (um exoplaneta). Utilizando instrumentos feitos sob medida em seu observatório no sul da França, ele e seu aluno de doutorado Didier Queloz deram início a um campo de estudos que já revelou mais de 4 mil exoplanetas — que provavelmente ficarão para sempre fora de nosso alcance migratório.

Foi o que Mayor declarou esta semana, logo após aceitar as láureas. Ele disse que os humanos precisam abandonar a perspectiva de se mudar para outro planeta no caso de a vida se tornar impossível na Terra. “É completamente louco”, afirmou a AFP o astrônomo suíço de 77 anos, então professor da Universidade de Genebra. De lá para cá, os milhares de exoplanetas descobertos marcaram uma revolução na astronomia moderna.

Junto de seu colega Queloz, Mayor trouxe para o universo da astrofísica um estudo antes restrito às discussões dos filósofos: a possível existência de outros mundos no universo. Mas o cientista faz questão de deixar claro que pesquisa teórica é uma coisa, já o sonho de colonização, é outra. “Se estamos falando sobre exoplanetas, sejamos claros: não vamos migrar para lá.”

Na entrevista, o laureado frisou a importância de repensar o discurso de que podemos conviver com a alternativa de juntar as tralhas e partir de vez para outro sistema planetário, no caso de as coisas derem errado aqui na Terra. “Estamos falando de uma viagem centenas de milhões de dias usando os meios disponíveis hoje. Devemos cuidar de nosso planeta, que é bonito e continua absolutamente vivível”, disse. Vai ao contrário de certas visões bem atuais.

Tem ganhado popularidade o argumento de que devemos nos tornar uma civilização multiplanetária se quisermos sobreviver no longo prazo. Antes de morrer, em 2017, Stephen Hawking ressaltou a urgência de colonizarmos a Lua ou Marte em um período de 100 anos para evitar potenciais ameaças fatais para a civilização, como as mudanças climáticas, os asteroides, possíveis epidemias e o excesso de população. Elon Musk também reforça isso.


Sua empresa SpaceX atua com o objetivo maior de viabilizar a colonização humana em Marte, com o intuito maior de tornar a vida multiplanetária e evitar a extinção. Mas o fato é que não dispomos hoje da tecnologia necessária para desenvolver uma grande civilização em outros mundos quiçá no Sistema Solar, que dirá em estrelas distantes. E os métodos de propulsão disponíveis atualmente são muito lerdos para percorrer distâncias interestelares.

Há propostas teóricas para contornar o problema, como as naves geracionais: grandes “cruzeiros” em que só os descendentes distantes dos ancestrais que partiram alcançam o destino final. Mas são projetos ainda muito abstratos e mais restritos ao domínio da ficção científica. Vale salientar que Mayor não se refere aos planetas do Sistema Solar.

Em tese, o que ele rechaçou foram as ambições de habitar um eventual planeta habitável localizado nas redondezas da nossa galáxia, a algumas dezenas de anos-luz da Terra. Não especificamente sobre os planos de instituir colônias ou terraformar planetas menos amigáveis na vizinhança. Mais do que diminuir a importância de ir além da Terra, a intenção de Mayor era enaltecer a urgência de cuidar melhor do nosso planeta — o único no Universo que podemos chamar de casa.
Revista Superinteressante

Geografia e a Arte

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