Análise - Ambição baixa de conferência reflete
indefinição global
CLAUDIA ANTUNES
A Rio+20 evitou detalhar agora o conteúdo do que seria uma
"economia verde inclusiva". Era irrealista esperar mais do que isso,
quando há crise nos países ricos, campanha eleitoral nos EUA e transição na
ordem global -os emergentes têm maior força econômica, mas bolsões de
subdesenvolvimento.
Sinal do momento é que a que a delegação dos EUA, ainda a
superpotência, evitou exposição pública no Rio. Nos bastidores, trabalhou para
aguar o acordo.
Desenvolvimento sustentável pode ser um termo surrado, mas
não é um desafio corriqueiro. Como disse o chefe do programa ambiental da ONU,
Achim Steiner, ele exige dos ricos que descasem desenvolvimento e consumo e dos
demais que cresçam de modo "verde".
O barulho midiático das ONGs cumpre o papel de pressionar os
poderes. Mas o fato de que acreditem ter soluções não significa que podem
substituir decisões de governos, em especial os eleitos democraticamente.
Se coubesse aos ambientalistas definir metas obrigatórias
para o mundo, é improvável que houvesse acordo. Para citar uma divergência, só
parte deles aceita mecanismos de mercado para compensar emissões de carbono.
O governo Dilma chegou à Rio+20 desgastado com ativistas,
por causa do Código Florestal e de Belo Monte. Diante da cacofonia de
protestos, quis reduzir os danos num ambiente muito menos controlável que o
Planalto.
Enquadrou as críticas do secretário-geral da ONU e antes fez
questão de um acordo antes da chegada dos chefes de Estado. Acabou dando às
ONGs mais tempo para expressar descontentamento. Há quem argumente que
megaconferências são ineficazes. Mas são reuniões como esta que dão
legitimidade a instâncias mais restritas.
Folha de S. Paulo
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