Populações se deslocam todos os dias
Ronaldo Decicino*
As migrações em território brasileiro - ou seja, os deslocamentos populacionais - podem ocorrer de forma permanente ou temporária, e estão associadas, desde o tempo da colonização, a fatores econômicos. Por exemplo, quando terminou o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste e teve início o ciclo do ouro, em Minas Gerais, houve um grande deslocamento de pessoas e um intenso processo de urbanização no novo centro econômico do país.
Na verdade, qualquer região que receba investimentos produtivos, públicos ou privados, que aumentem a oferta de emprego, receberá também pessoas dispostas a preencherem os novos postos de trabalho.
Surgimento das metrópoles
Um outro exemplo pode ser encontrado no período que vai de meados da década de 1950 até o final dos anos 70, quando se acelerou o processo de industrialização nas grandes cidades e houve intensa concentração de terras no campo, nas mãos de poucos proprietários. Durante aqueles anos o Brasil sofreu um intenso êxodo rural, ou seja, a saída de pessoas do campo em direção às cidades.
Como essas cidades não receberam investimentos públicos em obras de infra-estrutura urbana - como habitação, saneamento básico, saúde, educação, transportes coletivos, lazer, etc. -, elas passaram a crescer desordenadamente, sobretudo ao redor dos bairros industriais, criando grandes bairros periféricos, bolsões de pobreza onde eram erguidas favelas e apareciam loteamentos clandestinos.
Esse processo levou ao surgimento das metrópoles - como, por exemplo, a Grande São Paulo: conjuntos de cidades interligadas, onde ocorre um deslocamento diário de pessoas entre os municípios.
Deslocamentos pendulares
Assim, o aparecimento desses conglomerados de cidades deu origem a um novo tipo de movimento migratório: um movimento diário, que podemos chamar de deslocamentos pendulares: pessoas que residem em um município e trabalham ou estudam em outro, deslocando-se diariamente.
Esses deslocamentos se ampliam e tornam-se mais complexos a cada dia, devido ao surgimento e à consolidação de novos pólos secundários de atração populacional. A incorporação de novas áreas residenciais, a busca por emprego ou serviços e a oferta de transportes mais eficientes em alguns pontos das metrópoles: todos esses elementos favorecem a consolidação desse fenômeno.
No Brasil, com base nos resultados do Censo de 2000, tínhamos 7,4 milhões de pessoas trabalhando ou estudando fora do município de residência.
Essas migrações diárias ou pendulares não se caracterizam, contudo, como verdadeiras migrações (no sentido clássico do termo), pois não são realizadas com o intuito de uma mudança definitiva.
Exemplos de migrações pendulares
1. Deslocamento de pessoas que deixam o interior nordestino nos períodos de seca para trabalhar no litoral, regressando ao local de origem após terminar o problema climático ou o trabalho sazonal.
2. Viagens de residentes em cidades-dormitório, realizadas por pessoas que moram em uma determinada cidade e trabalham em outra.
3. Deslocamentos de fins de semana e de férias, com objetivos de lazer e descanso. Esse fluxo é conhecido como commuting e é o principal fator de congestionamentos nas estradas que partem das grandes metrópoles em direção às praias ou às regiões campestres.
4. Deslocamentos de bóias-frias, ou seja, de trabalhadores que se deslocam, diariamente, de suas residências em direção às fazendas onde trabalham, e, à tarde, regressam às suas casas. Há também o chamado movimento sazonal, em que os bóias-frias podem atuar nas diferentes áreas do país, nas diversas épocas de colheita, transformando-se assim nos chamados trabalhadores volantes.
Como podemos ver, as migrações pendulares diferenciam-se do conceito puro de migração, pois não há, nesse fenômeno, uma mudança permanente. Mas são fluxos populacionais significativos em determinadas áreas e ocorrem sob diferentes formas, tornando-se cada vez mais comuns nas grandes cidades.
*Ronaldo Decicino é professor de geografia do ensino fundamental e médio da rede privada.
http://educacao.uol.com.br/
Ronaldo Decicino*
As migrações em território brasileiro - ou seja, os deslocamentos populacionais - podem ocorrer de forma permanente ou temporária, e estão associadas, desde o tempo da colonização, a fatores econômicos. Por exemplo, quando terminou o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste e teve início o ciclo do ouro, em Minas Gerais, houve um grande deslocamento de pessoas e um intenso processo de urbanização no novo centro econômico do país.
Na verdade, qualquer região que receba investimentos produtivos, públicos ou privados, que aumentem a oferta de emprego, receberá também pessoas dispostas a preencherem os novos postos de trabalho.
Surgimento das metrópoles
Um outro exemplo pode ser encontrado no período que vai de meados da década de 1950 até o final dos anos 70, quando se acelerou o processo de industrialização nas grandes cidades e houve intensa concentração de terras no campo, nas mãos de poucos proprietários. Durante aqueles anos o Brasil sofreu um intenso êxodo rural, ou seja, a saída de pessoas do campo em direção às cidades.
Como essas cidades não receberam investimentos públicos em obras de infra-estrutura urbana - como habitação, saneamento básico, saúde, educação, transportes coletivos, lazer, etc. -, elas passaram a crescer desordenadamente, sobretudo ao redor dos bairros industriais, criando grandes bairros periféricos, bolsões de pobreza onde eram erguidas favelas e apareciam loteamentos clandestinos.
Esse processo levou ao surgimento das metrópoles - como, por exemplo, a Grande São Paulo: conjuntos de cidades interligadas, onde ocorre um deslocamento diário de pessoas entre os municípios.
Deslocamentos pendulares
Assim, o aparecimento desses conglomerados de cidades deu origem a um novo tipo de movimento migratório: um movimento diário, que podemos chamar de deslocamentos pendulares: pessoas que residem em um município e trabalham ou estudam em outro, deslocando-se diariamente.
Esses deslocamentos se ampliam e tornam-se mais complexos a cada dia, devido ao surgimento e à consolidação de novos pólos secundários de atração populacional. A incorporação de novas áreas residenciais, a busca por emprego ou serviços e a oferta de transportes mais eficientes em alguns pontos das metrópoles: todos esses elementos favorecem a consolidação desse fenômeno.
No Brasil, com base nos resultados do Censo de 2000, tínhamos 7,4 milhões de pessoas trabalhando ou estudando fora do município de residência.
Essas migrações diárias ou pendulares não se caracterizam, contudo, como verdadeiras migrações (no sentido clássico do termo), pois não são realizadas com o intuito de uma mudança definitiva.
Exemplos de migrações pendulares
1. Deslocamento de pessoas que deixam o interior nordestino nos períodos de seca para trabalhar no litoral, regressando ao local de origem após terminar o problema climático ou o trabalho sazonal.
2. Viagens de residentes em cidades-dormitório, realizadas por pessoas que moram em uma determinada cidade e trabalham em outra.
3. Deslocamentos de fins de semana e de férias, com objetivos de lazer e descanso. Esse fluxo é conhecido como commuting e é o principal fator de congestionamentos nas estradas que partem das grandes metrópoles em direção às praias ou às regiões campestres.
4. Deslocamentos de bóias-frias, ou seja, de trabalhadores que se deslocam, diariamente, de suas residências em direção às fazendas onde trabalham, e, à tarde, regressam às suas casas. Há também o chamado movimento sazonal, em que os bóias-frias podem atuar nas diferentes áreas do país, nas diversas épocas de colheita, transformando-se assim nos chamados trabalhadores volantes.
Como podemos ver, as migrações pendulares diferenciam-se do conceito puro de migração, pois não há, nesse fenômeno, uma mudança permanente. Mas são fluxos populacionais significativos em determinadas áreas e ocorrem sob diferentes formas, tornando-se cada vez mais comuns nas grandes cidades.
*Ronaldo Decicino é professor de geografia do ensino fundamental e médio da rede privada.
http://educacao.uol.com.br/
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