Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos encontraram formas de colaborar com a União Soviética em missões espaciais. Deveriam fazer o mesmo com a China?
por John Matson
Getty Images
Decolagem: a nave espacial Shenzhou-8, da China, que ajudou a lançar as bases para missões tripuladas este ano.
A próxima vez que o homem pisar na Lua, é provável que fixe na superfície do satélite uma bandeira vermelha com cinco estrelas. O programa espacial chinês se desenvolve rapidamente e mais progresso virá neste ano, quando os taikonautas, termo coloquial para os astronautas chineses, visitarem o módulo espacial Tiangong-1 (ver Scientific American Bras il, “O grande salto espacial da China”, James Oberg,edição especial 45 sobre astronáutica, disponível nas bancas).
John Holdren, principal assessor científico do presidente americano Barack Obama, avalia que os Estados Unidos se beneficiariam da cooperação com a China. Os dois países poderiam lidar com o problema do lixo espacial e, possivelmente, lançar as bases para uma missão conjunta a Marte. Sua posição se ajusta com o assim chamado pivô asiático da administração Obama, uma mudança de foco do Oriente Médio para a crescente influência da China; a ideia é que a cooperação científica e tecnológica poderia ser um instrumento útil em negociações.
Mas a atual legislação federal proíbe a agência espacial americana (Nasa) de participar dessas colaborações. A cláusula relevante surgiu em abril passado, em um projeto de lei de financiamento temporário, e em novembro reapareceu na legislação de financiamento da agência para este ano. O autor da cláusula é o representante Frank Wolf, de Virgínia, que cita o histórico de direitos humanos da China e a ameaça de espionagem. A “cláusula de Wolf” já teve um efeito visível: jornalistas da agência estatal de notícias Xinhua foram barrados no lançamento do ônibus espacial no ano passado.
Uma preocupação é quem estaria por trás dos chineses em uma missão tripulada hipotética. É claro que o Exército de Libertação Popular desempenha um papel importante nas missões espaciais da China, segundo Dean Cheng, pesquisador da Heritage Foundation, em Washington, D.C. “Isso levanta a questão de saber se existe um programa espacial tripulado civil em qualquer sentido significativo da palavra”, questiona ele.
Muitos acreditam que a colaboração limitada, como em missões não tripuladas, seria construtiva. “Descobrimos maneiras de cooperar com a União Soviética durante a Guerra Fria”, diz Scott Pace, diretor do Space Policy Institute da George Washington University. “Não vejo por que não poderíamos fazer algo similar com a China.”
Assim, a Casa Branca está pressionando, trocando memorandos legais com os investigadores do Congresso sobre a constitucionalidade da cláusula de Wolf, que também envolve o setor de Holdren na Science and Technology Policy. Apesar de uma batalha judicial parecer improvável, um porta-voz diz que Wolf planeja manter um olhar atento sobre Holdren e seus colegas e “contê-los com rédea curta” para assegurar o cumprimento das restrições.
John Matson é repórter on-line para a SCIENTIFIC AMERICAN, especializado em espaço, física e matemática.
Scientific American Brasil
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