terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Astrônomos detetaram vapor de água num planeta potencialmente habitável



O fenômeno agora descoberto pode parecer “insignificante”, até porque a água é comum no universo. Contudo, detetar este elemento a 110 anos-luz pode ser um passo muito importante. Nesse sentido, astrônomos encontraram vapor de água no exoplaneta K2-18 b, numa zona habitável da sua estrela.

A descoberta foi levada a cabo por duas equipes e publicada no repositório de artigos científicos Nature Astronomy.



Exoplanetas podem ter vida

Com mais de 4000 exoplanetas pode parecer que estamos prestes a descobrir se estamos sozinhos no universo. No entanto, infelizmente, não sabemos muito sobre esses planetas – na maioria dos casos apenas temos uma ideia da sua massa e do seu raio. Assim, entender se um planeta pode hospedar vida requer muito mais informação.

No momento, uma informação extremamente importante que está a faltar é a presença, composição e estrutura das suas atmosferas. Sinais de água atmosférica, oxigénio e metano seriam sinais de que um planeta pode suportar vida. Agora, pela primeira vez, conseguiu-se detetar o vapor de água na atmosfera de um exoplaneta potencialmente habitável.


Como se consegue perceber se há vapor de água no planeta tão distante?

A atmosfera de um planeta desempenha um papel vital em moldar as condições dentro dele ou na sua superfície. Dessa forma, a sua composição, estabilidade e estrutura fornecem pistas importantes sobre como é estar lá. Assim, é através de estudos atmosféricos que se consegue aprender sobre a história do planeta. Posteriormente, é possível investigar a sua habitabilidade e, em última análise, descobrir sinais de vida.

O principal método que é utilizado ao examinarmos exoplanetas é a espectroscopia de trânsito. Por outras palavras, é uma técnica que os astrónomos usam que envolve olhar para a luz das estrelas à medida que um planeta passa em frente à sua estrela hospedeira.

Conforme ela transita, a luz estelar é filtrada através da atmosfera do planeta – com a luz a ser absorvida ou desviada com base em quais compostos a atmosfera consiste.

Portanto, a atmosfera deixa uma pegada característica na luz estelar que tentamos observar. Uma análise mais aprofundada pode, então, ajudar a combinar essa pegada com elementos e moléculas conhecidas, como água ou metano.


K2-18 b, que orbita uma estrela anã-vermelha, foi descoberto em 2015

Surpreendentemente, assinaturas moleculares de água foram encontradas nas atmosferas de planetas gasosos, semelhantes a Júpiter ou Neptuno. Nunca antes foi visto em planetas menores, até agora.

O K2-18 b foi descoberto em 2015, e encontra-se a 34 parsec da Terra — qualquer coisa como mil biliões de quilómetros. Este é apenas um entre centenas de planetas “super-terras”. Esta classificação é para planetas com uma massa entre a Terra e Neptuno encontrados pelo Kepler da NASA. No entanto, o K2-18 b é um planeta com oito vezes a massa da Terra que orbita uma estrela “anã vermelha”, que é muito mais fria que o sol.

Apesar disso, o K2-18 b está localizado na “zona habitável” da sua estrela. Quer isso dizer que tem a temperatura certa para suportar água líquida. Dada a sua massa e raio, o K2-18 b não é um planeta gasoso, mas tem uma alta probabilidade de ter uma superfície rochosa.

Além disso, o planeta está a “apenas” 21 milhões de quilómetros da sua estrela e tem uma temperatura estimada entre -73,15 e 46,85 graus Celsius.


Mas o que é necessário para um planeta acolher vida?

Para que um exoplaneta seja definido como habitável, existe uma longa lista de requisitos que precisam ser satisfeitos. Um deles é que o planeta precisa estar na zona habitável onde a água pode existir na forma líquida. É também necessário que o planeta tenha uma atmosfera para proteger o planeta de qualquer radiação nociva proveniente da sua estrela hospedeira.

Outro elemento importante é a presença de água, vital para a vida tal como a conhecemos. Embora existam muitos outros critérios para a habitabilidade, como a presença de oxigénio na atmosfera, a nova investigação fez do K2-18 b o melhor candidato até à data. É o único exoplaneta que cumpre três requisitos de habitabilidade: as temperaturas certas, uma atmosfera e a presença de água.

No entanto, não se pode dizer, com dados atuais, de que forma o planeta tem probabilidade de sustentar a vida. Os dados são limitados a uma área do espectro – isto mostra como a luz é partida pelo comprimento de onda – onde a água domina. Nesse sentido, não é possível determinar a existência de outras moléculas.


O primeiro de muitos?

Com a próxima geração de telescópios, como o Telescópio Espacial James Webb e a missão espacial ARIEL, serão dados passos muito importantes. Com este nível tecnológico será possível determinar a composição química, cobertura de nuvens e estrutura da atmosfera do K2-18 b.

Estas missões também podem facilitar a realização de deteções semelhantes para outros corpos rochosos nas zonas habitáveis das suas estrelas-mãe. Com o K2-18 b a 110 anos-luz de distância, não é realmente um planeta que poderíamos visitar – mesmo com pequenas sondas robóticas – no futuro previsível.

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