Foto de João Marcos Rosa
A mineira Maria Lúcia Bessa lava as roupas da família no tanque e as seca ao sol. Sem carro, a família desloca-se de ônibus e bicicleta por Belo Horizonte.
Antes mesmo que o mundo ficasse alerta contra as emissões perigosas de CO2 e discutisse formas de consumo inteligente de energia, muitos brasileiros já haviam decidido economizar. Não foi exatamente uma opção. Com o temor de grandes blecautes, como os que ocorreram em 1999, o governo federal passou a organizar campanhas de racionamento de energia elétrica. Assim, aos poucos, as pessoas adotaram lâmpadas fluorescentes e reduziram o tempo no banho.
Hoje essas atitudes individuais, aliadas a fatores como clima ameno ou tamanho reduzido das residências, fazem com que o consumo energético do brasileiro gere um impacto ambiental bem menor que o dos países desenvolvidos. Em 2005, o Brasil despejou 1,1 bilhão de toneladas de CO2 na atmosfera - número que, por si, coloca o país em quinto lugar na lista dos maiores emissores globais de gases do efeito estufa. Mas cerca de 70% das emissões são oriundas do desmatamento da Amazônia. Não fosse por isso, cada brasileiro seria responsável por 4 toneladas de CO2 por ano - número abaixo que o casal Peter Miller e PJ tentou atingir em sua "dieta" de carbono nos Estados Unidos, sendo considerado o povo de hábitos mais sustentáveis do planeta, como atesta o índice Greendex, elaborado em 2008 pela National Geographic Society em parceria com a empresa de sondagens GlobeScan. A inédita pesquisa, que mediu o comportamento de mil pessoas em 14 países, considerou elementos como habitação, transporte, alimentação e uso de bens de consumo.
De fato, em relação a outros países, o consumo per capita de energia no Brasil é baixo. Um quarto de toda a eletricidade gerada segue para uso residencial - 48% vai para a indústria e o restante é distribuído entre os setores comercial, público e rural. Uma família típica de classe média com cinco pessoas, por exemplo, usa energia elétrica no dia a dia com iluminação, aquecimento de água, refrigeração e força motriz para equipamentos eletrodomésticos. Tudo isso requer um consumo mínimo de 220 quilowatts-hora por mês - cujo baixo valor é favorecido pela matriz energética brasileira.
Graças à geografia rica em bacias hidrográficas, 85% do território nacional é abastecido por hidrelétricas. Se comparada com as fontes predominantes no mundo - termelétrica e nuclear -, a taxa de emissão em geral é baixa, de apenas 6 gramas de CO2 por quilowatt-hora consumido. Embora também, dependendo da localização da usina, o metano, outro gás do efeito estufa aindamais potente que o dióxido de carbono, pode ser liberado. Mas a maior ameaça ao equilibrado uso de energia é a expansão do número de consumidores segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Hoje, 100 milhões de pessoas são consideradas de classe média - 52% da população (contra 44% em 2002) com renda mensal familiar entre 1 065 e 4 591 reais. Esse grupo aumentou a procura por eletrodomésticos e automóveis, cujas vendas são garantidas pela grande oferta de crédito.
Ainda assim, grande parte da população brasileira parece agora estar mais consciente do problema de aquecimento global e se dispõe a fazer algo - 84% das pessoas ouvidas por um estudo recente do Instituto Akatu para Consumo Consciente. "Mas tudo isso só será possível se houver uma mudança no estilo de vida da sociedade", avalia Helio Mattar, diretor-presidente do instituto. "Em um cenário ideal, o consumo deve ser apenas um instrumento de bem-estar, e não indicador de status."
National Geographic Brasil
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