Por que o enorme número de planetas na Via Láctea ainda não resultou em um contato com civilizações alienígenas? Uma análise de cientistas ingleses tenta responder à questão
É uma pergunta habitual: se há pelo menos 100 bilhões de planetas na nossa galáxia, a Via Láctea, por que nenhuma civilização alienígena se apresentou a nós? O astrônomo americano Seth Shostak, do projeto de busca por inteligência extraterrestre (Seti, na sigla em inglês), voltou ao tema em julho ao abordar um artigo recente de três pesquisadores da Universidade de Oxford (Inglaterra).
O artigo analisa o Paradoxo de Fermi, um quebra-cabeça baseado em um questionamento do físico italiano Enrico Fermi sobre “onde está todo mundo”. Fermi calculou quanto tempo uma sociedade com foco em erguer um império levaria para dominar a Via Láctea e chegou a algumas dezenas de milhões de anos – número quase mil vezes menor do que a idade da galáxia. Ou seja: há tempo mais do que suficiente, mas até agora ninguém deu o ar da graça.
Os pesquisadores pensam que a explicação para isso está nos números inflados com que especulamos quantas sociedades alienígenas existem na galáxia. Os cálculos se baseiam na Equação de Drake, criada pelo astrônomo americano Frank Drake (fundador do Seti) em 1961. Ela estima a frequência com que espécies inteligentes surgem multiplicando a probabilidade de que a vida apareça pela probabilidade de que ela se capacite a desenvolver ciência e tecnologia.
Segundo os ingleses, os valores da equação constituem basicamente suposições. Um exemplo é a probabilidade – entre 1% e 10%, diz a fórmula – de que micróbios saiam da sopa primordial de um planeta aquático. O índice seria bem menor, avaliam os pesquisadores.
Shostak reconhece que sabemos muito pouco sobre esses números. Se, por exemplo, micróbios forem descobertos em uma lua de Saturno, isso aumentaria muito a possibilidade de encontrar vida em outros cantos da galáxia, o que exigiria rever o conceito dos ingleses. Para Shostak, a única forma de melhorar as estimativas é seguir investigando o tema. Ele lembra que, antes da descoberta da Antártida, a possibilidade de haver um continente austral era de 10 para 1. “Isso demonstra que você não faz descobertas calculando probabilidades, apenas investigando – no caso da Antártida, isso significava enviar navios para o sul”, diz. E conclui: “Sempre vale a pena calcular as chances de sucesso em nossa busca por confrades cósmicos. Mas tais exercícios não devem nos impedir de uma busca real.”
Revista Planeta
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