Brasileiros ajudam a desvendar segredos de 'irmão' de Plutão
SALVADOR NOGUEIRA
Um grupo internacional de pesquisadores, com importante participação brasileira, encontrou algumas surpresas ao fazer observações de um dos "irmãos menores" de Plutão, um astro chamado Makemake. Os achados, por sua vez, podem ajudar a compreender melhor o que caracteriza essa classe de objetos localizados nos confins do Sistema Solar.
Descoberto em 2005, esse planeta anão é aproximadamente esférico (suavemente oval) e tem cerca de 1.450 km de diâmetro. Mas a grande surpresa do novo estudo é que, diferentemente de Plutão, Makemake não tem uma tênue atmosfera global.
A técnica usada nas observações depende tanto de perícia quanto de sorte. Como esses astros estão muito distantes e são muito pequenos -- os dois maiores conhecidos são Plutão e Éris, ambos com cerca de 2.300 km de diâmetro --, os astrônomos usam um truque para descobrir mais sobre eles. Entra em cena o fenômeno das ocultações estelares.
Funciona assim: observando cuidadosamente a trajetória desses planetas anões pelo céu, eles calculam se e quando eles vão passar à frente de uma estrela mais distante, com relação aos telescópios na Terra. Um grupo de pesquisadores do Observatório Nacional, liderado por Roberto Vieira Martins, produz esses cálculos, com base em observações feitas no ESO (Observatório Europeu do Sul).
Nick Risinger/ESO/L. Calçada/skysurvey.org
Concepção artística do planeta anão Makemake
Então, uma vez feita a previsão de quando o objeto irá passar à frente da estrela, astrônomos do mundo inteiro ficam de prontidão em seu telescópio para observar o fenômeno.
Nem todos conseguem observá-lo (assim como ocorre com um eclipse, nem todo mundo no planeta está precisamente posicionado para vê-lo direito), mas quem tentou participa do estudo. Por isso são 56 os autores do trabalho sobre o Makemake, que ganhou as páginas da última edição da revista "Nature".
Ao analisar a luz da estrela que passou por trás do objeto, é possível inferir uma porção de coisas sobre ele, como o diâmetro quase exato e a presença de uma atmosfera (quando não há, a luz da estrela "some" num piscar de olhos na ocultação; quando há, essa transição é mais suave, conforme as camadas atmosféricas vão gradualmente bloqueando a luz).
Após as observações, que incluem dados de qualidade coletados no Observatório Pico dos Dias, em Itajubá (MG), ficou patente que Makemake entra na categoria dos que não têm atmosfera global -- embora os pesquisadores não descartem que, em algumas regiões, ainda exista uma suave camada gasosa sobre a superfície.
Foi uma surpresa. "Ele era um dos melhores candidatos a apresentar uma tênue atmosfera", afirma Felipe Braga Ribas, do Observatório Nacional, um dos autores do estudo. "A não detecção é uma informação preciosa para entendermos os processos físicos aos quais esses corpos são submetidos."
Comparando os dados de ocultações obtidos com Plutão, Éris e Makemake, os pesquisadores apresentam a hipótese de que, entre os objetos da população que existe logo além da órbita de Netuno, aqueles que estão mais próximos do Sol devem ter uma leve atmosfera. Já os mais distantes provavelmente estão submetidos a tamanho frio que a atmosfera "colapsa" sobre a superfície, solidificando-se.
Isso explicaria, por exemplo, porque Éris (o mais distante dos três), além de não ter atmosfera detectável, é tão mais brilhante que Plutão. Provavelmente sua antiga atmosfera colapsou, produzindo uma camada nova de gelo "limpo" sobre a superfície.
Folha de S. Paulo
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