segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O declínio dos lençóis freáticos na China poderá elevar os preços dos alimentos no mundo



Análise de um texto de Lester Brown (World Watch Institute): http://www.wwiuma.org.br/

“O declínio dos lençóis freáticos na China poderá elevar os preços dos alimentos no mundo”.


Hidrologicamente, existem duas Chinas, a úmida no Sul (700 milhões de habitantes) e a seca no Norte (550 milhões de habitantes). O Sul possui um terço da área agrícola e quatro quintos de sua água. O norte possui dois terços da área agrícola e um quinto da água. A água por hectare de terra agrícola no norte é um oitavo da água do sul.

A região norte está secando pois nela a demanda hídrica ultrapassa a oferta. Os lençóis caem, os poços ficam secos, os cursos d'água se exaurem e os rios e os lagos desaparecem. Na região que se estende do norte de Xangai até o norte de Beijing e que produz 40 % dos grãos, o lençol freático cai 1,5 m/ano (em Beijing está a –59 metros!).

Os agricultores do norte enfrentam perdas de água de irrigação tanto pela exaustão dos aqüíferos quanto pelo desvio da água para cidades e indústrias. De hoje a 2010, a população da China crescerá em 126 milhões que demandarão 30 bilhões de metros cúbicos. A demanda industrial, entretanto, está projetada para tomar 127 bilhões de metros cúbicos dessa água!.

Tudo que acontece com a água de irrigação afeta diretamente as perspectivas agrícolas da China. Enquanto menos de 15% da produção americana de grãos provém de terras irrigadas, na China isto chega a 62 %. Na região norte, essa demanda poderia ser atendida desviando 70% da água. Na disputa pela água entre cidades, indústrias e agricultura, a análise econômica não favorece a agricultura. Na China, mil toneladas de água produzem uma tonelada de trigo, que vale US$ 200. A mesma quantidade de água usada na indústria gera produtos com valor de US$ 14.000 (70 vezes mais). Num país que busca desesperadamente o crescimento econômico, o ganho no desvio da água da agricultura para a indústria é óbvio. Restará a agricultura usar apenas a água da chuva produzindo menos biomassa por hectare anualmente.

O Rio Amarelo após fluir ininterruptamente por milhares de anos, em 1972 deixou de chegar ao mar por 15 dias. Desde 1997, ele chega de forma interrupta à Província de Shandong, a última que atravessa no seu percurso rumo ao mar e que é a mais importante região agrícola do país. Ela produz um quinto do milho e um sétimo do trigo chinês. Metade da água de irrigação vinha do Rio Amarelo, e metade de um aqüífero (fóssil) que cai 1,5 metro por ano!

Enquanto mais é desviada a montante, menos resta a jusante. Beijing está permitindo que as províncias assoladas pela pobreza rio acima desviem água para seu desenvolvimento em detrimento da agricultura nas partes baixas da bacia. Entre centenas de projetos para desviar água do Rio Amarelo, há na cabeceira um canal que leva água para Hohhot, a capital da Mongólia Central, a desde 2003 para atender às necessidades urbanas crescentes e a importante indústria da lã, suprida pelo imenso rebanho ovino da região. Outro canal desviará água para Taiyuan, capital da província de Xangai, uma cidade de 4 milhões de habitantes que hoje é forçada a racionar água.




A pressão crescente sobre o Rio Amarelo significa que um dia ele não mais chegará à Shandong privando-a de metade da sua água de irrigação.

A perspectiva de uma importação maciça de grãos e uma crescente dependência do grão norte-americano, causa grande inquietação aos líderes políticos. Porém trata-se apenas de uma de suas preocupações, pois a economia do país se expande a uma taxa anual de 7%, a população cresce 12 milhões de pessoas por ano e a população se acostumou a comer carne e ovos de animais alimentados com rações, o consumo de grãos tende a crescer. A queda na produção de grãos nas regiões produtoras devido a escassez de água, transformará a China no principal importador mundial de grãos, ultrapassando o Japão.

Poderia promover-se um uso mais racional por meio da elevação do preço da água. Esta opção é considerada de grande risco político pois a reação pública contraria seria enorme. Situação atual: (a) o país abandonou sua política de auto-suficiência em grãos; os líderes políticos deixaram cair o preço dos grãos aos níveis do mercado internacional; (b) o governo anunciou que na competição pela água, as cidades e as indústrias têm prioridade.

A escassez da água leva a vários países a importar grãos (Índia, Paquistão, Irã, Egito, México, etc), porém, apenas a China (1,3 bilhões de habitantes), com uma economia em crescimento e um superávit comercial de US$ 40 bilhões com os Estados Unidos, tem o potencial de perturbar os mercados mundiais de grãos.

Em resumo, a queda dos lençóis freáticos na China poderá significar, entre outras coisas, no curto prazo, a elevação mundial dos preços dos alimentos. 
 http://www.unicamp.br/fea/ortega/ecologia/desafio-15.htm
 Unicamp

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