Por: Prof.a Dra. Marianne Zwilling Stampe e Prof.a Dra. Thais Waideman Niquito
A mudança demográfica é um fenômeno que ocorre no mundo e também no Brasil. As quedas das taxas de fecundidade e de mortalidade infantil, junto ao aumento da expectativa de vida da população, tiveram como consequência a diminuição da taxa de crescimento populacional. Com isso, ocorre uma mudança na estrutura etária da população. As regiões que passam por esse fenômeno apresentam uma mudança na estrutura etária, observando, num primeiro momento, a existência de menos jovens e mais pessoas em idade ativa e, posteriormente, mais idosos.
Figura 1 – Pirâmide etária Brasil e SC – 2016
Figura 2 – Pirâmide etária Brasil e SC – 2030
Fonte: IBGE.
Em 2016, a população idosa corresponde a 8% da população brasileira, enquanto em 2030 espera-se que o percentual suba para 15% da população brasileira. Ou seja, em 14 anos a proporção de idosos praticamente será o dobro.
Estudamos na teoria do crescimento econômico clássico que o mesmo (em termos per capita) depende de capital, trabalho e tecnologia, e que este último fator seria exógeno (resíduo de Solow). Contudo, com a evolução da teoria, surgiram os chamados modelos endógenos de crescimento, que buscam explicar o desempenho econômico com base em fatores como educação e inovação. Outra motivação para explicar o crescimento da renda per capita é a mudança demográfica – ou razão de dependência (RD) –, isto é, a quantidade de pessoas dependentes (crianças e jovens – 0 a 14 anos – e idosos –65 anos ou mais) em relação às pessoas potencialmente ativas (15 a 64 anos)¹.
Essa taxa pode ainda ser desmembrada em mudança demográfica infantil e de idosos, o que é bastante útil para a análise econômica. Isso porque um aumento da razão de dependência advinda de grande aumento da população infantil causa impactos bastante diversos daqueles observados quando a causa é o aumento da proporção de idosos na sociedade.
Observamos para o Brasil (cujas estimativas populacionais vão até 2060) que o bônus demográfico – período em que a menor RD total é registrada – se dará em 2022 (43,4%). O desmembramento da RD também mostra que o aumento da mesma se dará exclusivamente por um crescimento da proporção de idosos na população. Em 2060, para cada 100 pessoas potencialmente ativas teremos 66 pessoas dependentes. Em Santa Catarina (cujas estimativas populacionais vão apenas até 2030) o quadro é ainda mais alarmante: já estamos no bônus demográfico. Os anos de 2016 e 2017 são os que registram as menores razões de dependência (39,9%).
Figura 3 – Razão de Dependência BR (%)
Figura 4 – Razão de Dependência SC (%)
Fonte: IBGE
E por que a demografia afeta o crescimento econômico? As razões encontram-se no fato de que os incentivos das pessoas mudam. Por exemplo, jovens e idosos possuem preferências distintas, gerando demandas de consumo distintas. Com isso, mudam os bens que serão produzidos, ou seja, afeta a produção de bens e serviços na economia. Além disso, os gastos do governo com idosos são mais elevados do que com crianças. Se as pessoas têm vida mais longínqua e continuam trabalhando por 30 ou 35 anos (se mulher ou homem, respectivamente) o impacto sobre a previdência deverá ser mais elevado, influenciando também nos gastos do governo. A previdência, já bastante deficitária, sofrerá ainda mais impactos negativos no médio prazo. Em 1991, os gastos do governo federal com INSS representavam 3,4% do PIB, atualmente já representam quase 8%². Teremos cada vez menos pessoas contribuindo e cada vez mais pessoas recebendo aposentadorias. A conta não fecha. Como solucionar essa equação? Mais impostos? Aumento do tempo de contribuição?
A oferta de trabalho também sofre alterações. No período em que a sociedade conta com maior proporção de pessoas potencialmente ativas a mesma deve aumentar, influenciando os salários e, com as políticas públicas certas, a produtividade. Posteriormente, à medida que as pessoas envelhecem, deverá diminuir a oferta de trabalho, pois temos um limite físico que podemos trabalhar. Assim, para que a renda per capita continue crescendo, precisaremos que a sociedade seja cada vez mais produtiva.
À medida que o bônus demográfico se aproxima, esse se torna um dos principais desafios para o Brasil e, como vimos, o mesmo é ainda maior em alguns estados, como Santa Catarina. Agravando este cenário, estamos entre os países mais improdutivos do mundo. Precisamos de 4,2 brasileiros para desenvolver o mesmo trabalho de um americano; 3,5 para um australiano; 3,2 para um alemão; 3,1 para um inglês. Ficamos atrás também de países em desenvolvimento: são necessários 1,7 para obter-se o mesmo produto de um argentino; 1,6 brasileiros para um mexicano ou uruguaio³. Fica claro que os desafios impostos pela demografia são inúmeros para a economia brasileira. Corremos o risco de ficarmos velhos antes de ficarmos ricos.
¹Idades definidas pelo IBGE.
²Dados contidos no texto “O Ajuste Inevitável”, de Mansueto Almeida Jr., Marcos de Barros Lisboa e Samuel Pessôa.
³Fonte: Conference Board.
http://observatorioeconomicodaesag.esy.es
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