quarta-feira, 25 de julho de 2012

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Armas do bem
Os mesmos laboratórios que no passado desenvolveram armamentos nucleares de destruição em massa hoje produzem dados que ajudam a salvar o planeta e quem vive nele
Larissa Veloso

NOVOS TEMPOS
Criado para desenvolver armas nucleares, hoje o laboratório Lawrence Livermore,
nos EUA, usa seus supercomputadores para estudar as mudanças climáticas

As bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial mataram diretamente mais de 150 mil pessoas. Depois que a nuvem em forma de cogumelo se dissipou, nunca mais as pessoas viram os testes atômicos como instrumento para gerar algo positivo. Mas um historiador da Universidade de Michigan, nos EUA, mostra como a indústria de armas nucleares migrou da destruição em massa para a proteção do planeta. Em artigo no “Bulletin of the Atomic Scientists”, Paul Edwards afirma que, se não fossem os estudos para o desenvolvimento de armas, a ciência climática estaria engatinhando. 

Nos primeiros testes de grande magnitude nos anos 1950, contaminações provocadas pela dispersão de material radioativo levantaram o alerta, e os cientistas começaram a vigiar os ventos. “Esses eventos levaram à criação de redes de monitoramento. Uma das redes estabelecidas pelo Laboratório de Segurança e Saúde da Comissão de Energia Atômica em 1951 foi depois ampliada para cerca de 200 estações de monitoramento climático da Força Aérea americana ao redor do mundo”, explica Edwards. Com o crescimento das instalações, o homem passou a entender cada vez mais a dinâmica da atmosfera, o que é crucial para monitorar o clima.


OBSOLETO
Desde os anos 1990, os russos tentam comprar supercomputadores.
Sem as máquinas, os laboratórios do país estão de fora da onda verde

Rede montada para garantir que os países não façam testes com bombas nucleares, a CTBTO (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Organization, na sigla em inglês) ajudou a amenizar uma catástrofe ambiental. A organização previu a dispersão de material radioativo provocada pelo acidente na usina Fukushima, no Japão, em março do ano passado. Os dados coletados pela CTBTO nas mais de 280 estações de monitoramento ao redor do mundo ajudam a aumentar o volume de material usado nos modelos climáticos. “Todo processo que permite coletar dados reais do comportamento do material na atmosfera é útil. E todo modelo matemático (como os usados para estudar o clima) precisa de dados para ser validado”, afirma Luiz Fernando Conti, assessor da diretoria de pesquisa e desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Há um benefício extra por conta do redirecionamento desses laboratórios. Com o fim da Guerra Fria, caso continuassem apenas a desenvolver armas, os cientistas e as máquinas estariam sem emprego. “Nossos computadores foram originalmente desenvolvidos para testar armas nucleares. Agora são usados para estudar a ciência da mudança climática” reforça a porta-voz do Laboratório Nacional de Lawrence Livermore, na Califórnia, Anne Stark. A transição manteve o quadro de funcionários inalterado.


DESASTRE
Agentes em Fukushima ajudam a analisar o vazamento da usina. Equipamentos
usados para prevenir uma guerra nuclear ajudaram na contenção da catástrofe

Sobre essa troca de função, Edwards deixa um recado nas palavras finais de seu artigo. “Hoje, os laboratórios construídos para criar o mais temível arsenal em toda a história estão fazendo o que podem para impedir outra catástrofe – não uma causada por governos em guerra, mas por bilhões de indivíduos normais vivendo vidas comuns dentro de uma economia energética que precisamos reinventar.” Transformar um sistema de destruição em massa em ferramenta para melhorar nossas condições de vida é um promissor primeiro passo. 
Revista Isto é

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