Amazônia deve sofrer grande extinção de espécies
Pesquisadores britânicos e americanos defendem que aumento
das unidades de conservação e restauração de áreas degradadas têm potencial de
evitar os danos
AE
As piores consequências do desmatamento sofrido pela
Amazônia ao longo de 30 anos ainda estão por vir. Até 2050, podem ocorrer de 80%
a 90% das extinções de espécies de mamíferos, aves e anfíbios esperadas nos
locais onde já foi perdida a vegetação. A boa notícia é que temos tempo para
agir e evitar que elas de fato desapareçam. Essa é a conclusão de uma pesquisa
publicada na edição desta semana da revista Science.
Um trio de pesquisadores da Grã-Bretanha e dos Estados
Unidos considerou as taxas de desmate na região de 1978 a 2008 e levou em conta
a relação entre espécies e área - se o hábitat diminui, é de se esperar que o
total de espécies que ali vivem diminua, ao menos localmente.
Acontece que os animais têm mobilidade, podem migrar para
locais vizinhos ao degradado. Lá vão tentar sobreviver, competindo por recursos
com animais que já estavam no local, de modo que o desaparecimento não é
imediato, podendo levar décadas para se concretizar.
É essa diferença, que os pesquisadores chamam de
"débito de extinção", que foi calculada no trabalho. Grosso modo, é
uma dívida que teria de ser "paga" - em espécies animais - pelo
desmatamento do passado. A ideia por trás do termo é tanto mostrar o que
poderia acontecer se simplesmente o processo de extinção seguisse o seu rumo,
quanto estimar qual pode ser o destino dessas espécies que dependem da
floresta, considerando outros cenários de ações.
Mas em vez de calcular para toda a Amazônia - o que seria
problemático, porque há uma diferença de riqueza de biodiversidade no bioma -,
os autores mapearam os nove Estados em quadros de 50 quilômetros quadrados, a
fim de estimar os impactos locais. Uma espécie pode deixar de ocorrer em uma
dada área, mas isso não significa que ela desapareceu por completo.
Tanto que a literatura ainda não aponta a extinção de
nenhuma espécie na Amazônia, explica o ecólogo Robert Ewers, do Imperial
College, de Londres, que liderou o estudo. "Uma razão para isso é que o
desmatamento se concentrou no sul e no leste na Amazônia, enquanto a mais alta
diversidade de espécies se encontra no oeste da região. Mas não há dúvida de
que muitas estão localmente extintas onde o desmatamento foi mais pesado."
Dois cenários
Na pior hipótese, a do "business as usual",
considera-se a continuidade do modelo da expansão da agricultura; na melhor,
que o desmatamento zere até 2020. Os pesquisadores propõem, no entanto, que o
cenário mais realista é o que considera a permanência da governança, ou seja,
das ações governamentais que levaram à queda do desmatamento nos últimos anos.
Mas mesmo nessa situação é de se esperar que espécies sumam.
Em 2050, os pesquisadores estimam que localmente (nos quadros de 50 km²) podem
desaparecer de 6 a 12 espécies de mamíferos, aves e anfíbios em média; enquanto
de 12 a 19 podem entrar na conta do que pode ser extinto nos anos seguintes.
Eles reforçam que isso ainda não aconteceu e defendem que
ações que aumentem as unidades de conservação e promovam a restauração de áreas
degradadas têm potencial de evitar os danos. Os mapas mostram em quais áreas
esse esforço poderia promover mais benefícios.
Em outro artigo na Science que comenta o trabalho, Thiago
Rangel, da Universidade Federal de Goiás, pondera que a conjuntura atual é
incerta. "O governo vai investir pesado em infraestrutura, estão previstas
22 hidrelétricas de grande porte, estão sendo reduzidas as unidades de
conservação e o Código Florestal vai ficar mais frouxo. A trajetória dos dez anos
que passaram dava uma sinalização otimista, mas são os próximos dez anos que
vão dizer o que vai acontecer."
Revista Isto é
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